quinta-feira, 23 de junho de 2016

É João Santana e Mônica Moura?! NÃO!!! Eduardo Cunha e Cláudia Cruz?! TAMBÉM NÃO!!! É O CASAL BANDIDO DO PT: Bernardo e Gleisi...




Augusto Nunes
Nesta quinta-feira, a ida para a gaiola do ex-ministro Paulo Bernardo e a permanência no Senado de sua mulher Gleisi Hoffmann, protegida pelo foro privilegiado, conseguiram o que parecia impossível: separar um dos casais mais unidos do planeta. Eles moram juntos, militam juntos no PT, trabalharam juntos no ministério de Dilma Rousseff, entraram juntos no pântano do Petrolão e estão juntos na fase mais recente da Operação Lava Jato. Ainda que acabe condenada pelo Supremo, Gleisi não ficará junto com o marido. Infelizmente para o casal, no sistema carcerário brasileiro não existem cadeias mistas nem celas para casal.
Pensar no jeitão de pároco agnóstico de Paulo e na pose de última vestal exibida por Gleisi me remete à madrugada em que o deputado federal Ulysses Guimarães descreveu o comportamento das mulheres dos políticos de antigamente. Vale a pena reprisar a conversa ocorrida em setembro, durante a campanha para as eleições municipais de 1974. Eu era um repórter novato. Ele comandava o MDB, que o fim do bipartidarismo transformaria em PMDB, e era uma lenda em seu começo.
Nada a ver com essa cara de faraó, pensei enquanto olhava de soslaio o chapéu de palha que Ulysses, à minha esquerda no banco traseiro do Opala, usava desde o fim da tarde daquele sábado. Ganhara o chapéu em Itaquaquecetuba, um cortejo de vogais e consoantes fincado na Grande São Paulo que hospedara o quinto comício do dia. Cinco horas e dois palanques depois, o presente do eleitor anônimo continuava no mesmo lugar. Por que será?, perguntei-me.
– Presente de eleitor é coisa séria – surpreendeu-me Ulysses com o aparte mediúnico. Fiquei espantado ao ouvir a voz grave e o timbre de cantor de cabaré. Aos 60 anos, ele cumpria o sétimo mandato na Câmara dos Deputados (e seria reeleito outras quatro vezes) e fazia coisas de que até Deus duvida. Mas nunca imaginei que adivinhava pensamento.
– O problema do político é a mulher do político – mudou de assunto enquanto abria os olhos profundamente azuis e ajeitava no banco o corpo magro e rijo. – O sujeito entra em casa no escuro, tira o sapato para não fazer barulho, mas não adianta: acaba ouvindo uma mulher sonolenta querendo saber como foi o dia. O sujeito conta que almoçou com fulano ou encontrou beltrano e lá vem algum comentário do tipo “sei, aquele que você disse que é cafajeste”, “sim, esse que vive dizendo que você não presta”. Elas têm uma memória tremenda. Vereador de distrito, presidente da República, nenhum político escapa da mulher.
Era difícil imaginar Mora Guimarães, muito risonha e pouco falante, protagonizando cobranças noturnas. Embora assumidamente apaixonado pelo poder (“Não existe nada mais afrodisíaco”, repetia), Ulysses jamais vendera a alma para consegui-lo. Fora sempre um homem honrado. E continuaria a sê-lo até 12 de outubro de 1992, quando desapareceu no mar depois da queda do helicóptero em que viajava com Mora e os amigos Severo e Henriqueta Gomes.
Como os políticos da linhagem a que Ulysses pertenceu, também sumiram as mulheres dos políticos orientadas por valores éticos ou morais. No Brasil envilecido pela Era da Canalhice, que institucionalizou a corrupção impune, quem se casa com um pai da pátria desce do altar convencida de que só é pecado perder a eleição e o poder. O resto pode, até vender a mãe a preço de custo. Já na lua-de-mel vira comparsa do marido, e comparsas não fazem perguntas. Já sabem as respostas e aprendem a ocultar as safadezas praticadas em parceria.
Que Bonnie e Clyde, que nada. Esses parecem amadores quando confrontados com João Santana e Mônica Moura, por exemplo. Ou com Eduardo Cunha e Cláudia Cruz. E agora com Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann. Antes do nascimento da República de Curitiba, todos dormiam o sono dos sem-culpa, uma graça só alcançada por gente que exonera o remorso, o pudor e a vergonha. Logo estarão tentando dormir em celas separadas.

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