Rosângela Bittar
O PT está dividido entre insistir na candidatura de Lula à Presidência, em 2018, para, quanto mais não seja, ao menos arrastar uns votos e eleger deputados, e apoiar um outro nome identificado com o partido. Considera o de Ciro Gomes, que acha corajoso para levar o PT nas costas, ou Marina Silva, mais equilibrada, que concilia o partido com a ética, porém mulher, gênero que depois do fiasco Dilma deve perder prestígio na política, especialmente nas primeiras eleições presidenciais pós impeachment.
As duas alternativas são discutidas para a eventualidade de Lula livrar-se, como espera o partido, da Lava-Jato. Caso contrário não há o que conjecturar, terá mesmo só a opção de buscar nome em outro partido porque, no PT, não tem mais nenhuma alternativa.
VOLTA OU NÃO VOLTA?
O PT está dividido, também, entre os que têm certeza que Dilma não conseguirá voltar ao cargo, ainda que o impeachment não seja aprovado, e os que acham que ela está virando votos à beça: já teria conquistado Romário e teria sido visitada umas quatro vezes por Cristovam, entre outros senadores menos visíveis.
Se Dilma voltar ao cargo, Lula se elegerá, nas contas dos que puxam para o otimismo, e não voltando, tudo fica mais difícil, inclusive para o candidato que o partido vier a escolher em outra legenda.
Como se vê, a luz no fim do túnel focaliza Lula e Lula e mais Lula. Esbarra o PT, neste momento, porém, para levar adiante qualquer esperança no futuro próximo, no comportamento do ex-presidente. Ele está, na maioria das vezes e ao longo do dia, sorumbático, casmurro. Lula não está doente, não é por aí o problema. Apenas resiste a retomar o velho viço, está abúlico.
UMA BAITA DEPRESSÃO
Lula não está doente, apenas sem viço e abúlico. O Instituto Lula o deprime. Quando lá está, só vê e ouve problemas. Dizem-lhe sobre prisões iminentes, delações abrangentes, é um deputado que telefona para falar do seu filho, outro que viu o avião para levá-lo preso.
Sua mulher, dona Marisa, não havia mais ido ao sítio de Atibaia depois do mandado de busca e apreensão. Dias atrás chamou o filho Fábio e um dos sócios, Fernando Bittar, para voltar à casa. Encontrou seus pertences espalhados, gavetas retiradas dos armários pelo chão, a casa revirada. Voltou enfurecida, e o ex-presidente não foi poupado de cenas dramáticas. A cada menção aos filhos, inclusive no discurso da mulher, ele engole mais seco.
NÃO SUPORTA O CLIMA
Parou de festejar a chegada de amigos ao Instituto, mostra-se apressado nos cumprimentos, quase formal. Antigos parceiros querem tirá-lo o máximo possível daquele ambiente de futricas e apreensão. Ele não teme ser preso, sabe que tanto ele, quanto Dilma, Antonio Palocci e Guido Mantega, para ficar em apenas quatro certezas, serão citados nas delações dos principais empreiteiros que doaram às campanhas políticas. Mas não suporta o clima, não consegue aceitar e levar vida normal. Acham os amigos que o Instituto Lula, antes um lugar em ebulição, tem agora a paz de cemitério, e não pode ser seu ambiente preferencial. Deve sair mais, fazer mais agendas pelo Brasil afora.
DILMA ESTÁ ATRASADA
Não se entusiasma nem quando lhe mostram que Dilma está viajando, falando às mulheres, reunindo-se com sindicatos, reagindo ao impeachment. Considera que ela está um ano e meio atrasada, e está comprovando na pele o que ele falava ao tentar emplacar no seu governo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e sua trupe.
Para Lula, é pela economia que o governo Michel Temer está fazendo a diferença, e nos últimos quatro anos Dilma recusou-se a aceitar sua sugestão para levar Meirelles à administração petista. Ontem mesmo, em almoço com a presidente afastada, analisou a performance da economia.
DISCURSO ANTIGO
A chama se acende, no entanto, quando Lula é colocado em contato com grandes plateias, com seu público sindical, com os artistas. O Lula da Lapa não é novo, é um momento de volta do discurso antigo, animado, da provocação do Lula de sempre, da recuperação da embocadura. Comparam-no ao vagalume, apagado no Instituto, aceso nas reuniões das plateias favoráveis.
Na primeira manifestação pública a que compareceu após o impeachment, anteontem, na Fundição Progresso, no Rio, o Lula da Lapa disse que “Temer cortou até o almoço da Dilma”. Uma frase que não serve à verdade dos fatos, mas ao marketing, no melhor do arsenal de estilo lulista. É essa verve que o PT quer levar o ex-presidente a retomar e não perder mais. Para isso, ele não pode frequentar o Instituto Lula. - A manchete e a imagem não fazem parte do texto original -
Nenhum comentário:
Postar um comentário