Ricardo Kotscho
Nas cambalhotas partidárias do circo eleitoral montado estes dias na Câmara dos Deputados para eleger seu novo presidente, a maior surpresa, quem diria, veio do PMDB.
Não entendi nada, como de costume. Contra a vontade do governo de Michel Temer, do PMDB, a maioria da bancada do partido decidiu lançar candidato próprio, e logo quem: Marcelo Castro, ex-ministro de Dilma que votou contra a abertura do processo de impeachment.
Assim, o partido do governo conseguiu, ao mesmo tempo, afrontar o Palácio do Planalto e jogar uma boia de salvação para o PT, mais perdido do que cachorro em dia de mudança, a ponto de discutir uma aliança com o DEM para derrotar o candidato do "centrão", Rogério Rosso, apoiado por Eduardo Cunha e pelo governo.
Dá para entender? Pela primeira vez desde que chegou ao poder, em 2003, o PT nem cogitou de lançar um nome ou negociar uma aliança na eleição marcada para começar às quatro da tarde desta quarta-feira. Assim que Marcelo Castro lançou sua candidatura, o PT correu para apoiá-lo, com Lula à frente, evitando correr o risco de virar gandula do DEM, que reúne a direita mais reacionária do Congresso Nacional.
Escolha natural seria que o PT apoiasse Luiza Erundina (PSOL), fundadora do partido e única candidatura de esquerda lançada até agora. Há tempos, porém, para o PT não existe mais esta história de esquerda e direita, muito menos escolhas naturais para lançar candidatos e fazer alianças.
Mais precisamente, desde a eleição municipal de 2012, quando o ex-presidente Lula levou o candidato Fernando Haddad para pedir o apoio de Paulo Maluf, barganhando fotos nos jardins da mansão do antigo inimigo mortal dos petistas por um minuto de tempo na propaganda de TV.
Quem foi pedir apoio a Maluf por que não poderia apoiar o candidato do DEM? O ex-governador gaúcho Tarso Genro foi o único líder de prestígio do que restou do antigo PT que protestou publicamente contra esta ofensa à história do partido e a seus militantes.
Rachada em vários grupos, sem rumo e sem liderança, a bancada petista foi obrigada a desistir das conversas com Rodrigo Maia, do DEM, das quais até Lula teria participado, o candidato do partido que abriga democratas como Agripino Maia, Ronaldo Caiado, Mendonça Filho e outros inimigos históricos do PT, eterna linha auxiliar do PSDB.
No momento em que escrevo, temos 14 candidatos inscritos para disputar o cargo deixado vago pelo renunciante Eduardo Cunha, mas este número pode variar para mais ou para menos como as pesquisas eleitorais. Só isso já dá uma ideia do picadeiro em que se transformou a Câmara numa eleição que lembra mais a de um clube de várzea.
Como o voto é secreto, não dá para prever o resultado nem quem irá para o inevitável segundo turno. Nem nunca saberemos quem traiu quem nesta história. Pode sair qualquer coisa. Certamente, só não sairá coisa boa. - A manchete e as imagens não fazem parte do texto original -
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