Segundo o texto, sem ter a perspectiva
permanecer no poder por meio de eleições, as forças políticas que deram o
“golpe” irão promover novos atentados contra a democracia para assegurar a
continuidade de seu “plano estratégico”. O manifesto diz que, dentre as armas
dos “golpistas”, estão a condenação de Lula, a instituição do
semiparlamentarismo (ou semipresidencialismo) e até mesmo o adiamento das
eleições.
O texto ainda sugere que apenas a
absolvição de Lula no TRF4 e sua eleição para a Presidência poderão impedir que
o Estado repressivo se instale no país: “O cenário de vitória consagradora de
Lula significaria o fracasso do golpe, possibilitaria a abertura de um novo
ciclo político”.
Discurso do medo foi usado contra Lula em
2002
A tática do temor, contida no manifesto em
favor de Lula, curiosamente foi usada contra o petista na eleição presidencial
de 2002. À época, seus adversários tentaram criar nos eleitores a sensação de
que conquistas como a estabilidade da inflação seriam perdidas com a eleição do
petista. Tudo isso foi sintetizado numa frase da atriz Regina Duarte usada na
propaganda política do então adversário do petista no segundo turno, José Serra
(PSDB). Ela disse: “Eu tenho medo [de Lula]”.
O petista, contudo, conseguiu neutralizar
esse discurso com o slogan “A esperança vai vencer o medo”. Lula lançou a Carta
aos Brasileiros, em que se comprometeu a manter as conquistas do país. Deu
certo e ele se elegeu presidente pela primeira vez.
Manifesto foi lançado em cinco línguas
O manifesto “Eleição sem Lula é fraude”
vem colhendo adesões por meio da plataforma online change.org, especializada em
abaixo-assinados. O texto foi lançado por intelectuais, artistas e ativistas
sociais ligados ao PT como o diplomata Celso Amorim, o cantor Chico Buarque, o
jurista Fábio Konder Comparato e os escritores Raduan Nassar e Milton Hatoum,
dentre outros.
O texto foi lançado em quatro línguas além
do português: inglês, espanhol, francês e árabe. O manifesto inclusive vem
conquistando adesões de fora do Brasil, como a de Noam Chomsky, linguista e
filósofo norte-americano.
Leia a íntegra do manifesto “Eleição sem
Lula é fraude”
A tentativa de marcar em tempo recorde
para o dia 24 de janeiro a data do julgamento em segunda instância do processo
de Lula nada tem de legalidade. Trata-se de um puro ato de perseguição da
liderança política mais popular do país. O recurso de recorrer ao expediente
espúrio de intervir no processo eleitoral sucede porque o golpe do Impeachment
de Dilma não gerou um regime político de estabilidade conservadora por longos
anos.
O plano estratégico em curso, depois de
afastar Dilma da Presidência da República, retira os direitos dos
trabalhadores, ameaça a previdência pública, privatiza a Petrobras, a
Eletrobras e os bancos públicos, além de abandonar a política externa ativa e
altiva.
A reforma trabalhista e o teto de gastos
não atraíram os investimentos externos prometidos, que poderiam sustentar a
campanha em 2018 de um governo alinhado ao neoliberalismo. Diante da
impopularidade, esses setores não conseguiram construir, até o momento, uma
candidatura viável à presidência.
Lula cresce nas pesquisas em todos os
cenários de primeiro e segundo turno e até pode ganhar em primeiro turno. O
cenário de vitória consagradora de Lula significaria o fracasso do golpe,
possibilitaria a abertura de um novo ciclo político.
Por isso, a trama de impedir a candidatura
do Lula vale tudo: condenação no tribunal de Porto Alegre, instituição do
semiparlamentarismo e até adiar as eleições. Nenhuma das ações elencadas está
fora de cogitação. Compõem o arsenal de maldades de forças políticas que não
prezam a democracia.
Uma perseguição totalmente política, que
só será derrotada no terreno da política. Mais que um problema tático ou
eleitoral, vitória ou derrota nessa luta terá consequências estratégicas e de
longo prazo.
O Brasil vive um momento de encruzilhada:
ou restauramos os direitos sociais e o Estado Democrático de Direito ou seremos
derrotados e assistiremos a definitiva implantação de uma sociedade de
capitalismo sem regulações, baseada na superexploração dos trabalhadores. Este
tipo de sociedade requer um Estado dotado de instrumentos de Exceção para
reprimir as universidades, os intelectuais, os trabalhadores, as mulheres, a
juventude, os pobres, os negros. Enfim, todos os explorados e oprimidos que se
levantarem contra o novo sistema.
Assim, a questão da perseguição a Lula não
diz respeito somente ao PT e à esquerda, mas a todos os cidadãos brasileiros.
Como nunca antes em nossa geração de lutadores, o que se encontra em jogo é o
futuro da democracia.
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