SÓ ERROS NOVOS
Por Merval Pereira
O novo partido que se está formando, sob a liderança da
ex-senadora Marina Silva, com o nome de REDE, tem recebido críticas à direita e
à esquerda, principalmente porque a fundadora simplificou sua definição
doutrinária, aproximando a REDE do novo PSD do ex-prefeito paulista Gilberto
Kassab: “NÃO SERÁ UM PARTIDO NEM DE DIREITA NEM DE ESQUERDA, NEM DO GOVERNO
NEM DE OPOSIÇÃO”, disse Marina sobre a nova legenda que quer criar. A
propósito, recebi do cientista político e antropólogo Luiz Eduardo Soares,
ex-secretário nacional de Segurança Pública e ex-secretário de Segurança do
Rio, que está envolvido na criação do novo partido de Marina, uma série de comentários
sobre os objetivos da nova legenda, que, ele garante, nada tem a ver com “MOVIMENTOS QUE
PRETENDAM MUDAR A POLÍTICA ASSUMINDO IDENTIDADES E PRÁTICAS ANTIPOLÍTICAS”, que costumam perder-se
em um “VOLUNTARISMO ESTÉRIL”. Soares entende que
movimentos antipolíticos acabam por reforçar “A DINÂMICA QUE CORRÓI A
LEGITIMIDADE DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS, O ESVAZIAMENTO DA CONFIANÇA
POPULAR, O ESGARÇAMENTO DO INSTITUTO DA REPRESENTAÇÃO E, PORTANTO, O
AGRAVAMENTO DA DEGRADAÇÃO INSTITUCIONAL QUE SE DESEJARIA REVERTER”. Ao contrário, a REDE
dispõe-se a jogar o jogo democrático, parlamentar e eleitoral com absoluta
fidelidade aos marcos legais, garante. “DISTANTE
DAS CRENÇAS DOUTRINÁRIAS E DOGMÁTICAS, DISTANTE DOS MESSIANISMOS SECTÁRIOS E
INSURRECIONAIS, A REDE CONFIA NA VIA DEMOCRÁTICA PARA QUALQUER TRANSFORMAÇÃO DA
SOCIEDADE E QUER SER LEAL AO PACTO CONSTITUCIONAL”, analisa Luiz Eduardo
Soares. Se, eventualmente, a REDE obtiver vitórias eleitorais e alcançar o
poder, ver-se-á obrigada a repetir o roteiro lamentável das negociatas entre o
Executivo e o Legislativo? Não há espaço para negociações mais democráticas,
transparentes, programaticamente concebidas, decentemente articuladas?,
pergunta o cientista político, para em seguida afirmar enfaticamente: “CLARO
QUE HÁ”. Para começar, “A
POSTURA NÃO PODE SER O DESPREZO PELO CONGRESSO, CUJO PAPEL É INDISPENSÁVEL PARA
A DEMOCRACIA, POR MAIORES QUE SEJAM SUAS DEFICIÊNCIAS”. Para que a REDE tenha
densidade suficiente para resistir “À
FORÇA GRAVITACIONAL DA ANTIPOLÍTICA, HOJE VIGENTE NAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS”, ela precisa fazer, diz
Soares, o que os partidos deixaram de fazer: constituir-se em conexão profunda
e permanente com a pulsação criativa da sociedade, com a participação social,
não para reduzir-se a sua extensão — o que negaria a autonomia relativa da
política, que envolve múltiplas mediações —, mas para municiar-se de anticorpos
à antipolítica. “POR ISSO, A REDE PRETENDE EXPERIMENTAR NOVAS REGRAS DE
FUNCIONAMENTO, ANTECIPANDO-SE A EVENTUAIS REFORMAS INSTITUCIONAIS E AS
SUSCITANDO. DAÍ A LIMITAÇÃO DAS REELEIÇÕES, AS RESTRIÇÕES NO ACESSO A APOIOS
FINANCEIROS, A DETERMINAÇÃO DE QUE SE DIVULGUEM AS DOAÇÕES ON-LINE EM TEMPO
REAL — E MUITAS OUTRAS NOVIDADES”. Essas novas normas, talvez excessivas
em alguns casos, admite ele, “FUNCIONARÃO COMO CONTRAPONTO
DESTINADO A PROVOCAR REFLEXÕES, REVISÕES E DEBATE PÚBLICO. ELAS AJUDARÃO A
MOSTRAR QUE A POLÍTICA PODE SER DIFERENTE E QUE HÁ UM CAMPO DE EXPERIMENTAÇÃO
POSSÍVEL, PERFEITAMENTE LEGAL, LEGÍTIMO E RESPONSÁVEL”. As instituições não
brotaram da natureza, lembra Luiz Eduardo Soares, foram inventadas pelo engenho
humano. “Talvez a REDE possa produzir uma
dinâmica de mudanças significativas, não para arruinar a democracia ou a
política democrática, mas para restituir-lhes vitalidade e fidelidade aos
princípios que inspiraram sua origem”. A REDE não foi criada para servir de
trampolim a uma candidatura presidencial, garante Soares. “MAS ME PARECE SAUDÁVEL QUE HAJA QUEM SE DISPONHA A ARRISCAR-SE
A COMETER ERROS NOVOS. BEM-VINDOS OS NOVOS ERROS, POIS OS ANTIGOS SÃO
CONHECIDOS E TÊM SIDO DEVASTADORES”.
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