quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A REDE DE MARINA NÃO É DIREITA NEM ESQUERDA. NEM MUITO MENOS UM SANDUÍCHE DE PÃO COM PÃO. SOMOS DIFERENTES, ESTAMOS À FRENTE. AFINAL DE CONTA, QUEM É BOM NÃO SE MISTURA...



SÓ ERROS NOVOS

Por Merval Pereira

O novo partido que se está formando, sob a liderança da ex-senadora Marina Silva, com o nome de REDE, tem recebido críticas à direita e à esquerda, principalmente porque a fundadora simplificou sua definição doutrinária, aproximando a REDE do novo PSD do ex-prefeito paulista Gilberto Kassab: “NÃO SERÁ UM PARTIDO NEM DE DIREITA NEM DE ESQUERDA, NEM DO GOVERNO NEM DE OPOSIÇÃO”, disse Marina sobre a nova legenda que quer criar. A propósito, recebi do cientista político e antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública e ex-secretário de Segurança do Rio, que está envolvido na criação do novo partido de Marina, uma série de comentários sobre os objetivos da nova legenda, que, ele garante, nada tem a ver com “MOVIMENTOS QUE PRETENDAM MUDAR A POLÍTICA ASSUMINDO IDENTIDADES E PRÁTICAS ANTIPOLÍTICAS”, que costumam perder-se em um “VOLUNTARISMO ESTÉRIL”. Soares entende que movimentos antipolíticos acabam por reforçar “A DINÂMICA QUE CORRÓI A LEGITIMIDADE DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS, O ESVAZIAMENTO DA CONFIANÇA POPULAR, O ESGARÇAMENTO DO INSTITUTO DA REPRESENTAÇÃO E, PORTANTO, O AGRAVAMENTO DA DEGRADAÇÃO INSTITUCIONAL QUE SE DESEJARIA REVERTER”. Ao contrário, a REDE dispõe-se a jogar o jogo democrático, parlamentar e eleitoral com absoluta fidelidade aos marcos legais, garante. “DISTANTE DAS CRENÇAS DOUTRINÁRIAS E DOGMÁTICAS, DISTANTE DOS MESSIANISMOS SECTÁRIOS E INSURRECIONAIS, A REDE CONFIA NA VIA DEMOCRÁTICA PARA QUALQUER TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE E QUER SER LEAL AO PACTO CONSTITUCIONAL”, analisa Luiz Eduardo Soares. Se, eventualmente, a REDE obtiver vitórias eleitorais e alcançar o poder, ver-se-á obrigada a repetir o roteiro lamentável das negociatas entre o Executivo e o Legislativo? Não há espaço para negociações mais democráticas, transparentes, programaticamente concebidas, decentemente articuladas?, pergunta o cientista político, para em seguida afirmar enfaticamente: “CLARO QUE HÁ”. Para começar, “A POSTURA NÃO PODE SER O DESPREZO PELO CONGRESSO, CUJO PAPEL É INDISPENSÁVEL PARA A DEMOCRACIA, POR MAIORES QUE SEJAM SUAS DEFICIÊNCIAS”. Para que a REDE tenha densidade suficiente para resistir “À FORÇA GRAVITACIONAL DA ANTIPOLÍTICA, HOJE VIGENTE NAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS”, ela precisa fazer, diz Soares, o que os partidos deixaram de fazer: constituir-se em conexão profunda e permanente com a pulsação criativa da sociedade, com a participação social, não para reduzir-se a sua extensão — o que negaria a autonomia relativa da política, que envolve múltiplas mediações —, mas para municiar-se de anticorpos à antipolítica. “POR ISSO, A REDE PRETENDE EXPERIMENTAR NOVAS REGRAS DE FUNCIONAMENTO, ANTECIPANDO-SE A EVENTUAIS REFORMAS INSTITUCIONAIS E AS SUSCITANDO. DAÍ A LIMITAÇÃO DAS REELEIÇÕES, AS RESTRIÇÕES NO ACESSO A APOIOS FINANCEIROS, A DETERMINAÇÃO DE QUE SE DIVULGUEM AS DOAÇÕES ON-LINE EM TEMPO REAL — E MUITAS OUTRAS NOVIDADES”. Essas novas normas, talvez excessivas em alguns casos, admite ele, “FUNCIONARÃO COMO CONTRAPONTO DESTINADO A PROVOCAR REFLEXÕES, REVISÕES E DEBATE PÚBLICO. ELAS AJUDARÃO A MOSTRAR QUE A POLÍTICA PODE SER DIFERENTE E QUE HÁ UM CAMPO DE EXPERIMENTAÇÃO POSSÍVEL, PERFEITAMENTE LEGAL, LEGÍTIMO E RESPONSÁVEL”. As instituições não brotaram da natureza, lembra Luiz Eduardo Soares, foram inventadas pelo engenho humano. “Talvez a REDE possa produzir uma dinâmica de mudanças significativas, não para arruinar a democracia ou a política democrática, mas para restituir-lhes vitalidade e fidelidade aos princípios que inspiraram sua origem”. A REDE não foi criada para servir de trampolim a uma candidatura presidencial, garante Soares. “MAS ME PARECE SAUDÁVEL QUE HAJA QUEM SE DISPONHA A ARRISCAR-SE A COMETER ERROS NOVOS. BEM-VINDOS OS NOVOS ERROS, POIS OS ANTIGOS SÃO CONHECIDOS E TÊM SIDO DEVASTADORES”.

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