DEZ ANOS DE PRESIDÊNCIA
PETISTA
Hoje, o PT
comemora em grande estilo dez anos de conquista da Presidência. Não é
pouco. A festa é mais do que justa. Foi um decênio marcado por alto grau de
continuidade. A junção do governo de Dilma ao de Lula foi sem costura. Em
contraste com o slogan
“CONTINUIDADE SEM CONTINUÍSMO”, com que José Serra pretendia
disfarçar seu discurso de oposição a FHC, na eleição de 2002, Dilma Rousseff
deixou claríssimo, na campanha de 2010, que seu governo teria a marca da
continuidade com continuísmo. Para grande orgulho do PT. Não poderia ter sido
diferente. Desde de 2005, quando foi alçada à Casa Civil, em meio ao
descabeçamento do partido que se seguiu ao mensalão, Dilma Rousseff atrelou seu
destino ao presidente Lula. Assumiu a administração do Planalto, transformou-se
na figura forte do governo e, sem experiência eleitoral prévia, foi ungida
candidata do PT. E, PARA ASSOMBRO DOS QUE
DUVIDAVAM DOS SUPERPODERES DE LULA, ACABOU ELEITA PRESIDENTE DA REPÚBLICA. UM
ALTO GRAU DE CONTINUIDADE ENTRE DOIS GOVERNOS TEM MUITAS VANTAGENS. MAS, AOS
POUCOS, O PLANALTO VEM SE DANDO CONTA DE QUE TAMBÉM TEM SUAS DESVANTAGENS.
QUANDO AS COISAS DÃO ERRADO, O GOVERNO SE VÊ SEM ESPAÇO PARA ATRIBUIR PARTE DOS
ERROS À ADMINISTRAÇÃO ANTERIOR. Não faltam bons exemplos. Alguns óbvios. Outros, nem tanto. A
presidente Dilma Rousseff tem plena consciência de que um quadro sério de falta
de energia elétrica lhe seria fatal, tendo em vista o papel central que vem
desempenhando, há exatos dez anos, nas intervenções do governo no setor. Não
teria com quem partilhar os custos de uma falha grave nessa área. A INTERMINÁVEL SEQUÊNCIA DE MÁS NOTÍCIAS SOBRE A PETROBRAS
TAMBÉM MERECE ATENÇÃO. Em
face do enorme desgaste político, o governo tem tentado conter os danos, dando
discreto alento à narrativa favorável que se vê em parte da mídia. Os problemas
da empresa vinham do governo anterior. E, só no ano passado, puderam ser
detectados e enfrentados pelo atual governo, com a nomeação da nova presidente
da Petrobras. É ATÉ UMA BOA HISTÓRIA. MAS
INCOMPLETA. O QUE AINDA FALTA EXPLICAR É QUE,
DURANTE SETE DOS OITO ANOS DO GOVERNO LULA, A PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF OCUPOU
NADA MENOS QUE A PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA PETROBRAS. E NÃO
SE PODE DIZER QUE ERA FUNÇÃO PURAMENTE FIGURATIVA. AFINAL, SE TRATAVA DA MAIOR
SOCIEDADE ANÔNIMA DO PAÍS. É MAIS DO QUE SABIDO QUE A PRESIDENTE SE DEDICOU À
FUNÇÃO COM SEU EMPENHO HABITUAL. E, TENDO CHEGADO À PRESIDÊNCIA DO CONSELHO
COMO MINISTRA DE MINAS E ENERGIA, FEZ QUESTÃO DE MANTER A POSIÇÃO QUANDO PASSOU
A RESPONDER PELA CASA CIVIL. É preciso também ter em mente que boa parte das dificuldades que
vêm sendo enfrentadas pela Petrobras decorre da sobrecarga que foi imposta à
empresa pelas impensadas regras de exploração do pré-sal. Todas elas concebidas
no governo passado, sob a estrita tutela de Dilma Rousseff. Outra narrativa
conveniente, e também incompleta, é a que vem pautando a racionalização do
emperramento do investimento público. A alegação é que, surpreendida com as
irregularidades detectadas nos programas de investimento de certas áreas, como
o Ministério dos Transportes, a presidente se viu obrigada a fazer uma “FAXINA”.
E levou muito tempo para conseguir remontar toda a estrutura burocrática
requerida para fazer o investimento acontecer. O
QUE FALTA EXPLICAR É COMO IRREGULARIDADES DESSE VULTO ESCAPARAM POR TANTOS ANOS,
NO GOVERNO LULA, à
eficiência com que Dilma Rousseff teria gerido os programas de investimento
público que compunham o PAC. Na condução da política econômica, o continuísmo
assumiu um contorno especialmente problemático. Havia até boas coisas a
preservar. Mas o que o atual governo decidiu manter, ao conservar intacta a
equipe do eixo Fazenda-BNDES, foi o vale-tudo da última fase do período Lula,
que contava com o apoio entusiástico da candidata Dilma Rousseff. A PRESIDENTE ESTÁ COLHENDO O QUE PLANTOU. NÃO PODE SE
QUEIXAR DA PERDA DE CREDIBILIDADE DA POLÍTICA ECONÔMICA QUE HOJE SE VÊ.
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