O PARTIDO-REDE
Por Merval
Pereira
O partido que a
ex-senadora Marina Silva começa a revelar amanhã na reunião plenária que
marcará seu lançamento oficial pretende ser um instrumento para desmontar as
velhas estruturas partidárias e estabelecer uma rede de relacionamento entre
diversos políticos, pertencentes ou não à nova sigla, unidos em torno de
princípios éticos e programáticos. Seus fundadores veem essa
“REDE” como um
instrumento estratégico para “DESSACRALIZAR” a imagem do partido tradicional,
promovendo a ajuda a quadros em uma pluralidade de partidos e na sociedade
civil que queiram trabalhar na mesma direção. A ideia de que o “PARTIDO” concentra
o jogo político, enquanto a “REDE” o dispersa acompanha a formação da nova agremiação, que
nasce com a intenção de “VIRAR PELO AVESSO, o avesso em que vivemos”, na
definição do deputado federal Alfredo Sirkis, que será um dos fundadores da
rede, que ele sugere estar ligada à questão central do meio ambiente, algo como
“REDE ECO” ou
“ECO BRASIL”. Junto
com ele devem ser fundadores os deputados Walter Feldman (PSDB-SP), Ricardo
Tripoli (PSDB-SP), Domingos Dutra (PT-MA) e Reguffe (PDT-DF). Marina está
conversando com o deputado federal petista Molon, que vai ajudar, mas ainda não
decidiu se oficialmente participa da fundação ou se vai esperar para inaugurar
o tipo de aliança informal que está prevista na própria formação do novo
partido-rede. Seus organizadores têm a esperança que outros deputados que estão
conversando se definam até amanhã, para que a “REDE”
comece com entre cinco e dez deputados federais. Os “SONHÁTICOS",
como se definem, esperam aproveitar a votação de quase 20% que a ex-senadora
Marina Silva obteve em 2010 para, com quase três anos de atraso, tentar
interferir na correlação de forças políticas existentes. O entendimento é que,
embora Marina não tenha aproveitado seu cacife eleitoral para obter acordos
políticos relevantes com os dois finalistas daquela campanha, os eleitores que
a viram como uma alternativa àquela época continuam sem perspectiva política e
podem ser atraídos outra vez pela nova tentativa de mobilização de jovens e
outras gentes ainda esperançosas de mudar o Brasil na direção da
sustentabilidade. Em vez de “PRETENSIOSA E INÚTIL INGENUIDADE”, os “SONHÁTICOS”
acham que a melhor opção é ainda sonhar com novas correlações de força, já que
a alternativa seria deixar tudo como está e entrar no jogo da maneira que ele
está estabelecido, não abrindo “um canal de participação política novo para
esses integrantes de nossa sociedade que anseiam por algo diferente”, como diz
Sirkis. É dentro desse conceito novo de fazer política que o PARTIDO-REDE pretende
aprovar na plenária de amanhã estatuto com diversas novidades: o limite de 16
anos no mesmo cargo eletivo, o que equivale a dois mandatos de senador
(justamente o tempo que Marina permaneceu como senadora em Brasília) ou quatro
mandatos de deputado federal, deputado estadual ou vereador. Para contrastar,
por exemplo, com os 11 mandatos de deputado federal do novo presidente da
Câmara Henrique Eduardo Alves. A ideia é evitar a criação de “PARLAMENTARES
PROFISSIONAIS”. Outro ponto destoante será a proibição de doações de campanha
oriundas dos setores de bebida alcoólica, cigarro, arma e agrotóxicos.
Estranhamente não há restrições ao financiamento de empreiteiras e bancos, setores
muito mais envolvidos em polêmicas de financiamento do que as escolhidas. Essas
limitações têm a vantagem de diferenciar o novo PARTIDO-REDE
dos demais em atuação, mesmo com suas
inconsistências internas. O que não está claro é como esse PARTIDO-REDE atuará,
por exemplo, na formação de coligações partidárias para a disputa presidencial
de 2014, quando a ex-senadora concorrerá novamente à Presidência da República.
Esses acordos “VIRTUAIS” podem até mesmo funcionar em votações suprapartidárias
no Congresso, mas não funcionam quando objetivamente se tem que conseguir o
maior tempo de propaganda no rádio e televisão numa campanha eleitoral.
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