NOVAS LENTES
Marina Silva
Têm coisas que alimentam nossas esperanças e reafirmam as
utopias. Na semana passada, estive na Costa Rica para uma conferência sobre
projetos socioambientais. Em três dias, tive a oportunidade de conhecer várias
lideranças sociais da América Latina e suas experiências inovadoras, de
expressivo resultado cultural, social, econômico e ambiental. Foi muito
animador transitar nesse ambiente. É o tipo de experiência que amplia a visão e
deixa mais perceptível como é limitador restringir-se ao espaço da política
institucional. VENHO DIZENDO QUE AS SEMENTES DE PROFUNDAS MUDANÇAS ESTÃO
ESPALHADAS POR TODOS OS LUGARES DO MUNDO. PARA PERCEBÊ-LAS, É PRECISO COLOCAR
AS LENTES DO SÉCULO 21. Edgar Morin diz que, no começo, a mudança é apenas um
pequeno desvio e que devemos estar atentos para apoiar aqueles que devem e
precisam prosperar. Vi muitas iniciativas com potencial de atualizar políticas
públicas e impulsionar a sociedade rumo à sustentabilidade: serviço de saúde de
excelência para populações de baixa renda, arte e esporte para inclusão social
e combate à violência, usos criativos e socialmente inclusivos dos resíduos
sólidos, acessibilidade... A lista é longa e variada. As novas iniciativas
criam uma espécie de superfície de sustentação social e econômica, mas também
conceitual, de valores e "MODUS OPERANDI". Superam a mesmice e projetam o sonho
de que um novo mundo é mesmo possível. Mostram que O MUNDO ATUAL É FRUTO
DE NOSSAS ESCOLHAS COTIDIANAS, QUE PODEMOS CRIAR OUTRAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO E
RELACIONAMENTO ENTRE NÓS E COM A NATUREZA. PODEMOS RESSIGNIFICAR NOSSA
EXPERIÊNCIA CIVILIZATÓRIA. PODEMOS IMAGINAR UM ESTADO MOBILIZADOR, QUE
INCENTIVE O POTENCIAL CRIATIVO DA SOCIEDADE E NELE SE APOIE PARA ATUALIZAR-SE,
DESENVOLVER-SE, RECRIAR-SE. UM MERCADO EM QUE EMPRESAS COM RESPONSABILIDADE
SOCIAL E AMBIENTAL PRODUZAM BENS E SERVIÇOS PARA NECESSIDADES REAIS, MUITO ALÉM
DO SUPÉRFLUO. PROJETOS CULTURAIS QUE HUMANIZEM AS CIDADES E A CONVIVÊNCIA ENTRE
AS GERAÇÕES QUE NELAS VIVEM. PROGRAMAS QUE VALORIZEM AS COMUNIDADES
TRADICIONAIS, DETENTORAS DE SABERES RAROS E DE ALTO VALOR CIVILIZATÓRIO,
ESTABELECENDO VÍNCULOS E TROCAS SAUDÁVEIS EM VEZ DA ASSIMILAÇÃO FORÇADA OU DO
ISOLAMENTO PRECONCEITUOSO. Esses e muitos outros sonhos são semeados em nossas cidades
e vilas, campos e florestas. Estão nas escolas, nas comunidades, no trabalho de
muita gente talentosa. São pequenos desvios que podem se transformar em grandes
caminhos. É preciso mudar o olhar sem perder o foco e a clareza da visão. Em
vez de enxergar no tecido social apenas NÚMEROS, VOTOS OU IMPOSTOS, podemos
fazer como os cientistas do biomimetismo, que olham para a natureza em busca de
boas ideias e soluções.
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