AS AGRURAS DE
MARINA
Vitor Hugo Soares
A antiga e simbólica história da política de Minas
Gerais, sobre as rápidas transformações das nuvens e a sua relação com a
realidade política, se repete mais uma vez no País. O fenômeno é mais nítido –
visível a olho nu -, principalmente quando se observa o espaço minado das
manobras, virações e acordos preliminares com vistas às eleições presidenciais
de 2014. O governador de Pernambuco Eduardo Campos, por exemplo, presidente
nacional do PSB, dá sinais de estafa precoce, segundo línguas mais ferinas de
adversários. No discurso confuso e vacilante de seus companheiros de partido e
possíveis aliados, o neto socialista de Miguel Arraes tenta uma manobra
arriscada de mudança brusca de rumos, em suas estratégias para conseguir uma
posição nacional de mais visibilidade e conforto na congestionada fila de
largada. Campos poderia suportar assim, com mais firmeza, “os trancos” de uma
refrega para valer pelo comando da República. Sem meias palavras e vacilações
desalentadoras demonstradas, em rede nacional, no recente programa eleitoral
gratuito no Rádio e na TV do partido que ele lidera. Sacolejos, diga-se de
passagem, apenas soprados aos quatro ventos pelo Palácio do Planalto, onde quem
manda é a presidente Dilma Rousseff, do PT. Esta sim, cada dia mais aferrada e
visivelmente decidida a permanecer mais quatro anos em sua cadeira de poder.
Com aprovação e apoio de seu padrinho, e mais poderoso cabo eleitoral, como
ficou cabalmente explícito esta semana no programa eleitoral, no qual Lula
apareceu quase como “um segundo presidente na reserva”. Mal comparando, tudo
muito parecido com a imagem que correu o mundo recentemente: o papa emérito
Bento XVI apareceu em uma sacada no Vaticano, ao lado do seu substituto, o
franciscano argentino, Papa Francisco. Cena perfeita para quem analisa os
signos da comunicação e do poder, praticamente repetida por Dilma e Lula no
programa do PT. Voltemos à historia da conformação das nuvens e o quadro atual
da política brasileira do começo destas linha. Até há poucos dias, quem olhava
para o céu, praticamente via apenas uma imagem destacada: o governador
pernambucano correndo em galope afoito para ocupar quase todos os espaços
nacionais e internacionais, que ele imaginava vazios à espera de suas palavras
sobre política e gestão publica: Recife, Serra Talhada (em palanque dividido
com a presidente Dilma, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Washington...
Vieram os trancos, os avisos cifrados de Brasília e, de repente, Eduardo Campos
estancou. O socialista anda agora recolhido ao Palácio das Princesas, cuidando
de sua aplaudida gestão no estado nordestino, grande celeiro de votos de Dilma
e Lula nas últimas eleições. Até o título de Cidadão Baiano que lhe foi
concedido pela Assembléia Legislativa da Bahia – a primeira data para entrega
foi suspensa de repente, sem uma explicação convincente do motivo. Quase nem se
fala mais quando Eduardo Campos receberá a honraria pessoalmente, como
prometido, no terreiro do governador petista Jaques Wagner e “grande
reservatório regional de votos de Lula e Dilma”. Virou um destes assuntos
estranhos da política brasileira jogados às calendas gregas. Diante do espaço
vazio, quem desembarcou quinta-feira em Salvador decidida a ocupá-lo foi a
ex-senadora Marina Silva, no comando da sua atual cruzada nacional, cheia de
agruras, segundo ela própria confessou, para criar o seu partido: Rede de
Sustentabilidade. Antes de desembarcar em Salvador (ontem ela foi também a
Feira de Santana), Marina jogou uma cartada crucial de sua nova peregrinação.
Teve uma audiência, em Brasília, com o ministro presidente do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa, a quem pediu socorro contra o projeto do governo que
inibe a criação de partidos. A proposta teve a tramitação suspensa no Congresso
por uma liminar do ministro Gilmar Mendes e será analisada pelo plenário da
Corte brevemente. Marina, entrevistada no programa radiofônico de Mario Kertész ( ele
se recupera de cirurgia e não teve condições de participar), deu informações de
sua cruzada em busca de assinaturas para viabilizar nacionalmente seu partido,
e fez desabafos no programa de maior audiência política no rádio da Bahia. Essa
atitude do governo de fazer “UMA LEI DE ENCOMENDA”, segundo a ex-senadora, visa
impedir a criação da Rede de Sustentabilidade, tirar o tempo de rádio e
televisão e o fundo partidário, mas também aumentou a solidariedade das pessoas
com ela e a sua luta. No País já foram conseguidas mais de 300 mil assinaturas
das 550 mil necessárias, revelou. “ELAS ENXERGAM QUE É UMA COISA DESMEDIDA E
INJUSTA. A PRESIDENTE DILMA TEM 13 MINUTOS DE TV, E ESTÃO FAZENDO UMA LEI,
MOVENDO CÉUS E TERRAS PARA NOS TIRAR 35 SEGUNDOS DE PROPAGANDA. POR QUE O PARTIDO
DO PREFEITO KASSAB (PSD), QUE FOI PARA A BASE DO GOVERNO TEVE O DIREITO DE SE
ORGANIZAR, DE CRIAR E NINGUÉM FEZ ISSO? POR QUE UM GRUPO QUE HÁ MAIS DE 30 ANOS
DEFENDE O MEIO AMBIENTE, O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A JUSTIÇA SOCIAL ESTÁ
DIANTE DA AGRURA DE LUTAR CONTRA UMA LEI DE ENCOMENDA PARA NOS TIRAR 35
SEGUNDOS NA TELEVISÃO?" Responda quem souber, enquanto a “nuvem” Marina
Silva segue adiante com fortes possibilidades de causar temporais. Ou seriam
meros chuviscos, a exemplo dos causados até aqui pelo governador Eduardo Campos
e o senador mineiro do PSDB, Aécio Neves? (As manchetes e imagens não pertencem ao
texto original).
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