terça-feira, 31 de maio de 2016

Bumlai afirma que fez empréstimo de R$ 12 mi ao PT por medo de invasão de terra


Fernando Castro e Samuel Nunes
O pecuarista José Carlos Bumlai afirmou ao juiz Sérgio Moro em interrogatório nesta segunda-feira (30) que um dos motivos que o levou a ceder o nome para um empréstimo que tinha como destinatário o Partido dos Trabalhadores (PT) foi o medo de invasões de terra. Ele voltou a admitir que emprestou o nome para que R$ 12 milhões fossem repassados ao partido.
Os depoimentos de José Carlos Bumlai e do filho dele, Maurício Bumlai encerraram a fase de interrogatórios do processo. Após o prazo de cinco dias para as defesas fazerem pedido complementares, o juiz pode abrir o prazo para as alegações finais - a última etapa antes da sentença.
Conforme a acusação, a quitação do empréstimo feito no nome de Bumlai junto ao Banco Schahin foi feita através da assinatura de um contrato de US$ 1,6 bilhão entre o Grupo Schahin e aPetrobras para operação do navio sonda Vitória 10.000. O pecuarista também admitiu que a quitação foi fraudada com um contrato falso de venda de embriões de propriedade de Bumlai para o Grupo Schahin.
“Eu, na verdade, cometi um grande erro, levado, conforme disse em depoimento, pela minha situação. Eu era proprietário na época de 210 mil hectares de terra, tudo produtivo. Com o PTassumindo o governo federal, nós éramos um grande alvo para invasões. Eu não falei isso na época por uma questão de receio, mas também porque achei que o empréstimo não ia sair”, falou Bumlai ao juiz nesta segunda.
Ele disse que acredita ter sido procurado para receber o empréstimo por ser amigo de executivos do banco. Das reuniões, afirmou, também participou o então tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Segundo Bumlai, o negócio foi avalizado por Maurício Bumlai, filho dele, e o empréstimo foi concedido. Após o fechamento do negócio, executivos do Banco Schahin questionaram se ele não tinha uma empresa para colocar como intermediária no negócio, para que o dinheiro não fosse diretamente direcionado ao PT. Ele disse então ter indicado o frigorífico de um amigo, que ficou responsável por encaminhar o dinheiro aos destinatários indicados pelo PT.
Apesar de não saber exatamente quem recebeu os recursos, Bumlai disse foi mencionado que R$ 6 milhões seriam usados na campanha do PT para a Prefeitura de Campinas. Sobre o restante, segundo Bumlai, o pretexto era para suprir necessidade de caixa do partido. O PT vem negando essas afirmações desde que Bumlai admitiu o empréstimo, ressaltando que todas as doações recebidas foram estritamente dentro da legalidade e, posteriormente, declaradas à Justiça Eleitoral.
A promessa feita a Bumlai, relatou, era de que o PT cuidaria de quitar os valores com o Bancho Schahin, o que não aconteceu. O pecuarista disse que chegou a dar uma fazenda em garantia para que o banco hipotecasse, mas que a hipoteca não foi feita e a dívida continuou aumentando. “Eu não fiz conta de juros, queria ficar livre do problema”, disse.
Ainda assim, a dívida com o Banco Schahin permaneceu ativa. Ao questionar o Banco Schahim, Bumlai disse ter sido informado que o PT estava com problemas por conta do escândalo do Mensalão. Ele disse ter recebido, então, uma dica de Sandro Tordin, que havia participado na negociação do empréstimo, mas já havia saído do banco.
“Eles estão em negócios com o governo, inclusive Petrobras. O que vai dar eu não sei, mas é uma forma de você colocar o problema novamente”, disse Bumlai. Foi quando ele decidiu procurar João Vaccari Neto, que admitiu a dívida do PT e que iria buscar uma solução. Em uma reunião Vaccari chegou a mencionar a negociação de um navio com o Grupo Schahin.
O juiz perguntou se Bumlai sabia que o contrato serviria para quitar o empréstimo. Ele negou, mas relatou conversa que teve com Vaccari na ocasião. “Ele não me falou com isso quita o empréstimo. Mas como eu estava sendo procurado pra quitar o empréstimo, eu imaginei exatamente isso”, disse.
Segundo Bumlai, ele havia acabado de ser procurado pelo Banco Schahin para fazer o contrato falso de fornecimento de embriões, que, enfim liquidaria a dívida. “Quando foi feita a quitação, quando nós fizemos as contas no final de 2008, na época na verdade a quitação ocorreu em janeiro de 2009. Levamos em conta um preço de embrião bem abaixo daquilo que era nossa média” disse a Moro.
PRISÃO DOMICILIAR
Desde março deste ano, após ter sido diagnosticado com câncer na bexiga, Bumlai cumpre prisão domiciliar. No encerramento do interrogatório desta segunda, ele agradeceu ao juiz Sérgio Moro por ter lhe permitido ir para São Paulo fazer o tratamento contra a doença."Eu não estaria hoje, Excelência, não fosse esse seu ato humano", disse. Ele garantiu ainda ao juiz que falou a verdade no depoimento e pediu misericórida no julgamento.
"Se eu não falar a verdade para o senhor, e um dia o senhor descobrir a verdade,  o senhor vai atrás de mim. Então eu queria pedir de forma encarecida para o senhor: eu estou com uma série de problemas que não vêm ao caso, que não é motivo para eu estar falando isso, apenas estou relatando. Que o senhor seja misericordioso nesse julgamento meu, porque eu tenho muita coisa pela frente para enfrentar, entendeu? O que eu posso dizer para o senhor é o seguinte: o senhor vai estar sempre nas minhas orações", concluiu.
Além deste processo, ele também é investigado na Lava Jato pela reforma de um sítio em Atibaia que era frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Polícia Federal, parte da obra na propriedade foi paga pelo pecuarista.
"ABENÇOADO POR LULA" 

Bumlai negou afirmação de executivos do Grupo Schahin de que ele havia dito que o negócio envolvendo a operação do navio sonda da Petrobras estava "abençoada" por Lula. A afirmação foi feita em interrogatório por Fernando Schahin.

Segundo Schahin, o pecuarista disse a ele em um evento que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia “abençoado” a celebração de um contrato entre o Grupo Schahin e a Petrobras. Lula também já negou a história.
Fernando Schahin disse ao juiz Sérgio Moro que foi abordado por Bumlai em um evento social, e que o pecuarista o questionou sobre como estavam as negociações com a Petrobras para firmar o contrato. Schahin disse que Bumlai relatou saber do negócio porque tinha relacionamento com o grupo, e que respondeu a ele que tudo caminhava bem.
“Ele me disse que passasse um recado ao pessoal de que o presidente estava abençoando o negócio”, disse Fernando Schahin, ao ser questionado por Moro. Esse relato já havia sido feito por Salim Schahin, tio de Fernando, em acordo de delação premiada. Fernando Schahin afirmou que o empréstimo de R$ 12 milhões não foi abordado na conversa.
"Não, jamais, se o presidente está abenço... Porque eu não procuraria isso então há três, quatro anos atrás, se o presidente... Quem é o presidente pra abençoar? Esse termo abençoar é de religião, não é termo de negócio", respondeu Bumlai ao juiz Sérgio Moro.

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