segunda-feira, 23 de maio de 2016

"Vô falá uma coisa pro cêis" -OU-- "Se assim não fosse, sê-lo-ia"...



Por Altamir Pinheiro

Do lulês & dilmês para o português... Esta foi a única mudança que a nação brasileira presenciou nesses últimos dez dias. Parece que pela primeira vez em 13 anos um presidente da república usou o plural... Pois bem, sereno e com modos civilizados, sem gritos e  sem atropelos à língua, sem suor, e muito menos com o dedo em riste. O presidente interino descendente de libanês,  Michel Miguel Elias Temer Lúlia, com um risinho contido, recorreu até a uma mesóclise(sê-lo-ia).

A gente pode até discordar de quem fala empolado(discurso com palavras incompreensíveis e sofisticadas). Mas é preciso reconhecer: quem fala empolado conhece a língua. Em seu primeiro discurso à nação, o presidente  abusou do verbo   no modo subjuntivo. Muitos desconhecem(inclusive Lula e Dilma), não sabem conjugá-lo, logo, não sabem empregá-lo. Aliás, o mesmo acontece com o modo imperativo e o futuro. Fazer o quê?

Independente das paixões político-partidárias, não ouvir a palavra "PRESIDENTA" é violino para os ouvidos!!! Finalmente vamos nos livrar do "vô falá uma coisa pro cêis"... Depois de longos e tenebrosos anos foi uma lufada de ar puro. Educação, respeito, leveza. Parece um sonho. Um homem elegante, com  postura, ciente da liturgia do cargo.  Discurso lógico, coerente, obedecendo a gramática e com   a concordância verbal e nominal impecáveis. O Português falado pelo nosso Presidente soa como música para as nossas "oiças".

Os dois presidentes anteriores continuam sofrendo de limitações intelectuais.  Definitivamente entramos numa nova era. Até que enfim um Presidente da República  que não ESPANCA e não SURRA a língua portuguesa. É para respirar aliviado ao poder ouvir um pronunciamento presidencial com frases completas, respeito à gramática e raciocínio lógico. Há treze anos, no tocante à língua pátria,  não se ouvia alguém com postura de ESTADISTA neste país. 

Se discursos antecipassem a qualidade do governo, o de Michel Temer  será excelente. A fala que marcou a sua posse foi serena, segura, propositiva, apelando sempre a um conteúdo que tem feito falta ao Brasil dos últimos  anos. Pela primeira vez neste tempo, não saíram da boca do chefe do Poder Executivo palavras que jogam brasileiros contra brasileiros, que opõem o “NÓS” a “ELES”. Ao contrário!!!


Além do Brasil está nas mãos de um exímio constitucionalista, o presidente também é um gentleman!!! Basta ver o recuo dele ao devolver à cultura o status de ministério. Sem dúvidas, um grande gesto de humildade e de bons modos do Temer. Agora, é fazer com que o Ministério da Cultura seja de todos. O recuo do Presidente foi muito inteligente. Cedeu para corrigir um erro. Afinal, o ministério traz uma carga simbólica: foi criado no governo do escritor Sarney, no pós-ditadura, como sinal de um país mais humano e mais gentil e de olho nas suas tradições culturais.

Por fim, desde o tempo de Dona   Ruth Cardoso não tínhamos esse privilégio. Como é revigorante ouvir um presidente que fala nosso idioma. Uma delícia ouvir o representante maior do nosso país que sabe falar e se fazer entender!!! Finalmente os intérpretes e dicionaristas vão ter um pouco de descanso... Na verdadeira acepção da palavra, o discurso foi impecável, insisto, repito,  na forma e no conteúdo. Que seja um bom pressentimento...



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