Pedro Luiz Rodrigues
Os resultados das últimas eleições parecem confirmar a hipótese que levantei em recente série de artigos no DIARIO DO PODER, de que o Partido dos Trabalhadores parece fadado a perder relevância no cenário político nacional. Não se trata, evidentemente, de um processo instantâneo, essa retração ocorrerá de forma gradual, mas já iniciada: o PT praticamente deixou de ser um partido nacional para assumir características de uma agremiação regional, nordestina.
Enquanto os militantes mais entusiasmados encontram razões de júbilo nos 44,87% dos votos válidos obtidos, os analistas mais sóbrios do próprio partido sabem que cerca de um terço dos votos obtidos não foram propriamente de petistas, mas de gente que deixou de lado sua repugnância pelo PT pelo horror ao nome de Bolsonaro. Os camisas-vermelhas autênticos, os petistas da gema, que seguem às cegas o que lhes determinarem os comandantes, estes se resumiriam a cerca de 29% do eleitorado (este número não é cabalístico, mas reflete a votação obtida pelo PT no primeiro turno).
As mídias sociais mostram claramente, desde o dia seguinte às eleições, que os adeptos mais fervorosos do Partido dos Trabalhadores foram tomados de dor e indignação com a derrota de Fernando Haddad. Não sabem ainda em quem botar a culpa, mas o fato é que se sentem traídos, não por aliados duvidosos, de fora de suas fileiras, mas por sua própria gente.
Estão esses seguidores divididos quanto às razões do insucesso e sobre o que fazer doravante. A unidade que os adeptos e militantes do PT haviam demonstrado durante a campanha dissipou-se de imediato. Depois da derrota, passaram a se digladiar abertamente, buscando culpados para suas desventuras.
Esses dedos apontados em busca de culpados não poupa sequer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não poucos petistas registram sua indignação contra ele, por seu egoísmo e insensibilidade, razões do desastre partidário. Não vi, contudo, nenhuma manifestação recomendando que o partido emitisse gestos de arrependimento ou se penitenciasse por toda a roubalheira patrocinada por gente graúda de seus quadros, nos treze anos em que foi governo.
Na visão desses críticos, por interesses estritamente pessoais, Lula forçou a barra até o final, na busca de dobrar a sentença que o mantém na cadeia, para dela sair e disputar as eleições. Depois, tarde demais, indicou um novo poste como candidato, de difícil deglutição por parte do partido. As bases, que no passado já haviam engolido a Dilma, decidiram engolir o novo poste, com fios e tudo, e ainda achando bom. Agora chegou a hora da regurgitação.
Outra vítima da ira das fileiras petistas nas mídias sociais tem sido a presidente do próprio PT, Gleisi Lula (este, acreditem, é o nome que a senadora Hoffmann escolheu em sua candidatura a deputada federal). Muita gente no partido percebe-a incompetente para a função, e há quem recomende que ela cumpra a promessa que fez durante a campanha, de que se Haddad perdesse ela se mudaria para Cuba.
Outros dirigentes tradicionais do partido, diante da perspectiva de que sua autoridade se dissipe, esforçam-se para reorganizar as fileiras. Um destes é Ruy Falcão – eleito deputado federal nas últimas eleições –, que está atento, e pretende lançar mão de sua experiência e autoridade como ex-presidente da agremiação, para tentar manter unida a bancada do partido na Câmara.
Mas os dirigentes com base no Nordeste, em particular os governadores, não estão dispostos a serem conduzidos de cabresto pelos caciques paulistas, que apontam como responsáveis pelo enfraquecimento doacabar partido no resto do país. Os baianos Rui Costa, Jacques Wagner (é carioca de nascimento, mas baiano por opção) e Sérgio Gabrielli acham-se, em particular, no direito de deter uma parcela maior de influência nos destinos do PT.
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