J.R.GUZZO
Houve um tempo em que o papa era infalível. Não se tratava de um “modo de dizer” ou de uma crença opcional – era doutrina católica, ou dogma, e se você não acreditasse nisso, estava sujeito a cometer pecado mortal e, se morresse de repente sem ter tido tempo de se confessar, poderia ir direto para o inferno.
Era, pelo menos, o que diziam os padres. Hoje em dia, nem a Igreja exige que os fiéis acreditem nisso.
Mais: o próprio papa é o primeiro a concordar que o mundo mudou. A “infalibilidade do papa” em questões religiosas deve ser vista, hoje, como um indicador, e não como uma verdade acima de discussão.
A benção do papa Francisco a Lula, assim, não vai servir para absolver o ex-presidente da sua situação de ladrão, estabelecida pela Justiça brasileira – condenado em dois processos seguidos, e no primeiro deles em três instâncias, por corrução e por lavagem de dinheiro.
Ninguém, nem o papa nem Lula, estava querendo uma absolvição de verdade; queriam apenas uma espécie de “nada consta” perante a opinião pública.
O problema é que cada vez menos gente presta atenção na opinião do papa – até porque há cada vez menos católicos e grande parte dos que permanecem fiéis criaram o hábito de pensar com a própria cabeça.
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