Apenas três meses e meio depois do
segundo turno, o país assiste à mais rápida e profunda deterioração política
desde o governo Collor. Segundo pesquisa Datafolha, a queda abrupta de
popularidade arrasta a presidente Dilma Rousseff (PT), e o prefeito da capital,
Fernando Haddad (PT), juntos, para a vala comum da rejeição. É como se o
sentimento de junho de 2013 tivesse voltado, mas em surdina, sem protestos de
rua.
A conjuntura sombria resulta da
confluência do ESCÂNDALO DA PETROBRAS com a acentuada piora das expectativas sobre a
economia. O pessimismo dos entrevistados se agrava pelo contraste entre a realidade
e a imagem rósea pintada nas campanhas eleitorais do ano passado e pela
possibilidade cada vez mais concreta de faltar água e energia.
A PRESIDENTE DA REPÚBLICA RECEBE O PIOR
GOLPE, com uma inversão total nas opiniões
sobre seu governo. Em dezembro passado, Dilma tinha 42% de ótimo/bom e 24% de
ruim/péssimo. Agora, marca respectivamente 23% e 44%. São as piores marcas de
seu governo e a mais baixa avaliação de um presidente da República desde
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em dezembro de 1999 (46% de ruim/péssimo).
NOTA
VERMELHA
SEGUNDO
O DATAFOLHA, DILMA OBTEVE A PRIMEIRA NOTA VERMELHA (4,8) APÓS QUATRO ANOS NO
GOVERNO E UMA CAMPANHA VITORIOSA PELA REELEIÇÃO. A
PERDA DE PRESTÍGIO DA PRESIDENTE SE VERIFICA MESMO NAS FAIXAS DE RENDA EM QUE
ENCONTRA MAIS ELEITORES. METADE DOS QUE GANHAM ATÉ DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS
CONSIDERAVAM SEU GOVERNO ÓTIMO OU BOM EM DEZEMBRO, E AGORA SÃO 27% -23 PONTOS
DE QUEDA EM DOIS MESES.
As más novas se acumulam em todas as
frentes: escândalo na Petrobras, piora das perspectivas da economia, aumento do
pessimismo na população, restrição de benefícios sociais e uma estiagem que
ameaça apagar as luzes e secar as torneiras. O tema da corrupção, impulsionado
pelo combustível do Petrolão, rivaliza com a saúde pública como principal
problema do país. Cravou 21% das preferências dos entrevistados pelo Datafolha,
contra 26% da saúde.
O mensalão vicejou no governo Luiz
Inácio Lula da Silva, mas em seus dois mandatos não mais que 9% dos brasileiros
apontavam o desvio de dinheiro público como mal maior. Agora, a corrupção se
avizinha do pódio. A presidente não se livra de responsabilidade perante a
população. Segundo o Datafolha, 77% dos entrevistados acreditam que ela tinha
conhecimento da corrupção na Petrobras. Para 52% ela sabia dos desvios e deixou
continuar; para outros 25%, sabia e nada pôde fazer.
QUASE METADE (47%) DOS BRASILEIROS A CONSIDERAM
DESONESTA, ALÉM DE FALSA (54%) E INDECISA (50%). A IMAGEM DETERIORADA ALCANÇA
CORRELIGIONÁRIOS. ENTRE PETISTAS, 15% FALAM EM DESONESTIDADE E 19%, EM
FALSIDADE.
MENTIRAS
Não há tanto o que estranhar, quando
se tem em mente que seis de cada dez entrevistados consideram que DILMA MENTIU
NA CAMPANHA ELEITORAL. Para 46%, falou mais mentiras que verdades (25% em
meio a petistas). Para 14%, só mentiras. Se na época do segundo turno só 6%
achavam que a situação econômica do próprio entrevistado iria piorar, hoje são
26%. Como 38% acreditam que ficarão na mesma, conclui-se que o desalento
contagia 2/3 da população. E isso num momento em que o tarifaço, o aumento do
desemprego e dos juros e a recessão nem se materializaram completamente (Jornal Folha de São Paulo. – As imagens e a
manchete não fazem parte do texto original).
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