Sílvio Navarro e Laryssa Borges
Com
49 votos, o alagoano Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito neste domingo
presidente do Senado pela quarta vez. O peemedebista derrotou o
colega de bancada Luiz Henrique da Silveira (PMDB),
que concorria com o apoio formal de cinco partidos de oposição, além de parte
do PP e rebeldes do próprio PMDB. Governista de carteirinha, Renan chega
ao quarto mandato como presidente da Casa para cumprir o papel de fiador do
Palácio do Planalto em um ano difícil – pelo Congresso passarão medidas
cruciais do governo, como o pacote econômico e os desdobramentos do propinoduto
na Petrobras.
Reeleito, Renan fez um discurso de agradecimento
pelos 49 votos e disse que o PMDB, partido que vive às turras com o Planalto,
vai trabalhar em 2015 para garantir a estabilidade econômica do país. Caberá ao
peemedebista mobilizar o Congresso pela aprovação de temas como o endurecimento
das regras de concessão de direitos trabalhistas. “O PMDB, que garante a
estabilidade, também trabalhará pela estabilidade econômica”, disse.
A
despeito de ter tentado a todo custo impor seu nome como candidato único à
presidência do Senado, Renan disse que o PMDB “atua pelo equilíbrio de poder e
repele qualquer pendor hegemônico, onde quer que ele esteja camuflado”. Em um
aceno ao adversário Luiz Henrique, disse que “a disputa agora já é passado”. Na
próxima terça-feira serão eleitos os dois vice-presidentes – Jorge Viana
(PT-AC) e Romero Jucá (PMDB-RR) são os candidatos à 1ª e 2ª vice-presidências –
e os quatro secretários da Mesa Diretora.
Caberá
ao próprio Renan, também citado como beneficiário do assalto aos cofres da
Petrobras, gerenciar a pressão pela abertura de processos de cassação contra
parlamentares e de CPIs. Num cenário mais extremo, caberá a ele a função
de desarticular um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Como presidente do Senado pela quarta vez – a
segunda consecutiva – RENAN CALHEIROS SE
IGUALA A JOSÉ SARNEY, que se aposentou neste
ano, como o mais longevo a dirigir o Senado. Ficará na cadeira até janeiro de
2017. Renan obteve neste domingo sete votos a menos do que há dois anos, quando
chegou ao cargo com 56 votos.
Oposição — Azarão
na disputa pela presidência da Casa, o catarinense Luiz Henrique da Silveira
(PMDB-SC) obteve 31 votos – houve um voto nulo. Luiz Henrique é um
representante do antigo MDB e disse neste domingo que sua candidatura é uma
resposta a mudanças exigidas pela sociedade na onda de protestos que sacudiu o
Brasil em junho de 2013. “O povo nos convocou para fazer mudanças. Ou mudamos
ou seremos mudados”, resumiu ele ao pedir votos dos senadores. “Quando os
ventos da mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras outras constroem
moinhos. Derrubemos as barreiras e façamos os moinhos produzirem o futuro”,
completou.
Autointitulado
candidato da “independência”, Luiz Henrique defendeu a votação de reformas
consideradas prioritárias, como a política e a fiscal. “Nós estamos recebendo
mensagens veementes e aflitas para mudar os rumos do Senado e do Congresso
Nacional. A nossa candidatura acendeu a partir desta Casa a chama popular de
uma nova esperança e de uma nova confiança. Foi esse clamor que me trouxe para
esta tribuna”, afirmou ao justificar sua candidatura. Em 2013, quando Renan
Calheiros derrotou o pedetista Pedro Taques (PDT-MT) na eleição para a
Presidência do Senado, Luiz Henrique chegou a se lançar candidato, mas retirou
seu nome em detrimento do correligionário. Luiz Henrique tinha o apoio do PSDB,
DEM, PPS, PSB e PSOL, PDT e de parte do PP e do PMDB, mas a votação secreta,
que estimula traições, lhe deu apenas uma pequena parcela dos votos prometidos.
RENAN – Renan iniciou a fala justificando porque pretendia
exercer seu quarto mandato. Citou nominalmente o adversário e disse que sua
candidatura era um “direito conquistado nas urnas” pelo PMDB – a tradição da
Casa é que o partido que elege mais senadores tem o direito de indicar o
presidente. “RENOVAR É UM VERBO, NÃO É UM NOME.”
A
exemplo de Luiz Henrique, Renan também evocou a onda de protestos que tomaram o
país em 2013. Mas, ao contrário do rival, afirmou que o Senado reagiu às
manifestações sob sua batuta. “As ruas sacudiram este país e foi o Senado quem
deu as respostas com a agenda que colocou para a população. Em 20 dias, mais de
40 projetos foram aprovados.”
Renan
ainda defendeu sua última gestão: disse ter “racionalizado as estruturas
administrativas” do Senado, com redução de custos, e ampliado a transparência.
“O Senado não se acovardou. Era tido como a caixa preta da República. Mais do
que uma meta, entendi que a transparência era um dever.”
O
peemedebista usou pelo menos cinco vezes a palavra crise – tão comum à sua
trajetória política – e disse que o país passará por dias difíceis. “Reitero
que o Brasil pode contar com o Congresso. Não seremos coadjuvantes neste
cenário.”
E
encerrou com uma frase autoexplicativa: “Sou um homem de equipe, jogo para o
time, não costumo jogar para a plateia”. A partir de hoje, jogará para o time
do Palácio do Planalto (A manchete e a imagem não fazem parte do texto
original).
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