Nelson Motta
Janeiro é o terror dos cronistas (menos os de turismo), o país está
em férias, todo mundo viajando, tudo fica adiado para depois do carnaval, nada
acontece. Escrevi durante oito anos uma coluna diária no GLOBO e nunca reclamei
de falta de assunto, mas o principal motivo para jogar a toalha foram tantos
janeiros abrasadores atravessando desertos de notícias. Este não seria menos
modorrento, mas, com a volta do juiz Sérgio Moro às atividades, mais cinco
procuradores especiais trabalhando nas investigações do núcleo político do
petrolão, e fortes indicações da iminente prisão de eminentes parlamentares, a
Lava-Jato volta a pleno vapor e garante que no Brasil raros janeiros terão
tanto assunto. O PÚBLICO AGUARDA DIARIAMENTE UM NOVO CAPÍTULO DO MELHOR REALITY
SHOW DO MOMENTO. Certamente, em um futuro próximo a Lava-Jato será transformada em
uma série de televisão, com a realidade superando a ficção na sensacional
história de uma operação policial que mudou um pais, COMANDADA
POR UM JUIZ JUSTO E CORAJOSO E UMA BRIGADA DE JOVENS E BRAVOS PROCURADORES
UNIDOS A UMA POLÍCIA FEDERAL HONESTA E EFICIENTE, mas com seus traidores
e corruptos, desvendando a trajetória de heróis e vilões, de chefões e
delatores, de empresários poderosos e suas famílias, o drama de cada um, a
trama de uma organização criminosa no coração do Estado, a teia de interesses
que une políticos, partidos e corruptos profissionais para saquear um país e se
eternizar no poder. QUE TIME DE FICCIONISTAS CRIARIA UMA HISTÓRIA MELHOR E MAIS CHEIA
DE EMOÇÃO, SURPRESAS E MISTÉRIOS? Quando janeiro passar, a novela da crise seguirá com novas medidas
para reanimar a economia. O mistério é como um governo que não tem dinheiro
para pagar suas contas, suas dívidas crescentes e um colossal déficit público,
e gasta mais do que arrecada, vai investir em crescimento. Só aumentando
impostos, ou se endividando ainda mais, e a juros mais altos, depois de perder
grau de investimento, ou até torrando reservas internacionais duramente
conquistadas nos tempos da “velha matriz econômica”. Para jogar tudo numa
receita que não deu certo?
ENQUANTO ISSO, EM CURITIBA...
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