Deu no Estadão
Delcídio Amaral, ex-líder do governo do PT no Senado, confirmou nesta segunda-feira, 21, ao juiz federal Sérgio Moro que existia uma “estrutura montada” no governo Luiz Inácio Lula da Silva para “bancar as estruturas partidárias” e que o ex-presidente “tinha um conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão da Petrobras”.
“O presidente não entrava nos detalhes, mas ele tinha um conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão da Petrobras e as diretorias e os partidos que apoiavam os diretores”, afirmou Delcídio, ao juiz da Lava Jato, em Curitiba, ao falar sobre o grau de ingerência de Lula no esquema de propinas na Petrobras.
Delcídio foi a primeira testemunha de acusação no processo contra Lula, dona Marisa Letícia e outros seis réus, no primeiro processo da Lava Jato, em Curitiba, contra o petista. Também são acusados o ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, funcionários da empreiteira e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
ESTRATÉGIA MONTADA – “Sem dúvida nenhuma existia uma estratégia montada para bancar as estruturas partidárias”, afirmou Delcídio, ao ser questionado pelo procurador da República Diogo Castor de Mattos, sobre a arrecadação de propinas por partidos via diretores indicados na Petrobras.
Citou os tesoureiros do PT como responsáveis por operar as propinas do partido, entre eles Delúbio Soares e João Vaccari Neto – ambos presos pela Lava Jato.
O ex-líder no Senado afirmou que nunca teve uma reunião com Lula sobre o esquema de arrecadação, mas afirmou que ele tinha “conhecimento absoluto” no esquema de loteamento político das diretorias da Petrobras, entre partidos da base aliada. O esquema rendia propinas de 1% a 3% para os agentes públicos indicados e políticos – um rombo de mais de R$ 40 bilhões entre 2004 e 2014.
A defesa de Lula questionou se ele tinha provas de que Lula estaria envolvido com propinas. Ele afirmou ter conhecimento, como líder do governo. “Eu sabia tudo o que acontecia no governo”.
VANTAGENS ILÍCITAS – As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira OAS por meio de um triplex no Guarujá, no litoral de São Paulo, e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantidos pela Granero de 2011 a 2016.
O petista é acusado corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema de cartel e propinas na Petrobras. A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que ele recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio – de um valor de R$ 87 milhões de corrupção – da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012.
MENSALÃO – Delcídio – preso em novembro de 2015 e colocado em prisão domiciliar em fevereiro – virou delator da Lava Jato. Ele foi ouvido pelos investigadores nos procedimentos preparatórios de denúncias contra Lula. Ele foi executivo da Petrobras, ministro de Minas e Energia do governo Itamar Franco e senador. Em 2006, ele foi candidato ao governo do Estado do Mato Grosso do Sul, pelo PT.
No depoimento, Delcídio contou sobre o esquema de distribuição de cargos no governo Lula e o papel decisivo do escândalo mensalão, a partir de 2005, para formação da sistemática descoberta pela Lava Jato – de loteamento de cargos estratégicos no governo entre partidos da base, para arrecadação de propinas e garantia da “governabilidade e base sólida” no Congresso.
Nos pós-mensalão, Delcídio afirmou que a Petrobras foi usada para composição de governo. Questionado pelo procurador da República Diogo Castor de Mattos sobre a indicação de Paulo Roberto Costa, o primeiro ex-executivo da estatal a fazer acordo de delação premiada, no esquema de corrupção descoberto na Lava Jato.
NOMEAÇÕES CERTAS – “Paulo Roberto Costa não foi diretor, quando começou o governo Lula, ele era diretor da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. a TBG, depois com o aumento da participação, da importância do PP dentro da base governamental, aí ele foi guindado a diretor de Abastecimento”, explicou o ex-senador.
Paulo Roberto Costa é também testemunha de acusação no processo contra Lula. Sua audiência está marcada para a quarta-feira, 23. No dia, serão ouvidos ainda outros três delatores, o ex-deputado Pedro Correa, e os ex-executivos da Petrobras Nestor Cerveró (Internacional) e Pedro Barusco (Engenharia).
HOMEM DE CONFIANÇA – Preso em novembro, tentando comprar o silêncio do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, Delcídio era homem de confiança do governo Dilma Rousseff e tinha vindo do governo Fernando Henrique Cardoso.
“Na época, a Diretoria de Abastecimento era ocupada por um indicado do governo anterior, o Rogério Manso. Quando sai e entra o Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP dentro dessa rearrumação do governo”, explicou o delator.
“Qual foi o motivo da saída de Rogério Manso”, perguntou o procurador. A resposta foi: “Aparentemente, havia uma identificação, ou o que se dizia à época, era que ele era muito identificado com o governo anterior, que ele era tucano e, consequentemente, precisava ser substituído. E assim foi feito.”
ACUSAÇÕES A LULA – O ex-presidente Lula é investigado pela Procuradoria ainda por receber como “benesses” das empreiteiras do cartel, que atuava na Petrobras, em reformas do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP) e por meio de doações ao Instituto Lula e pagamentos para a empresa de palestras do petistas, a LILS Palestras e Eventos.
O criminalista Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Lula, nega que o petista seja o dono do apartamento do Edifício Solaris. Ele nega qualquer envolvimento do cliente com esquema de corrupção ou lavagem de dinheiro.
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