domingo, 6 de agosto de 2017

SENTENÇA QUE CONDENOU LULA ENTRA PARA A HISTÓRIA



Thompson Flores compara a decisão de Moro com a do caso Herzog: "É tecnicamente irrepreensível"



O Estado de S. Paulo - Luiz Maklouf Carvalho

 O presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, disse, em entrevista ao Estado, que a sentença em que o juiz Sérgio Moro condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e seis meses de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, “é tecnicamente irrepreensível, fez exame minucioso e irretocável da prova dos autos e vai entrar para a história do Brasil”.

Ele comparou a decisão de Sérgio Moro à sentença que o juiz Márcio Moraes proferiu no caso Vladimir Herzog - em outubro de 1978, quando condenou a União pela prisão, tortura e morte do jornalista. “Tal como aquela, não tem erudição e faz um exame irrepreensível da prova dos autos”, disse. O TRF-4 é a segunda instância de julgamento dos recursos da operação Lava Jato. Até a última quinta-feira, em três anos e cinco meses de Lava Jato, 741 processos já haviam chegado lá, 635 dos quais baixados. Entre os que estão na iminência de dar entrada está a apelação da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a sentença de Sérgio Moro, a ser julgada pela Oitava Turma, composta por três desembargadores.

O presidente do TRF-4 recebeu o Estado na tarde da última segunda-feira, 31, em seu amplo gabinete no nono andar da sede do Tribunal, um imponente conjunto de dois prédios interligados no bairro Praia de Belas, região central de Porto Alegre, com vista para a orla do rio Guaíba. Ali trabalham 27 desembargadores e 970 funcionários. O orçamento para este ano é de R$ 5 bilhões. É o Tribunal mais informatizado do país: 93,8% (893.573) dos processos que lá tramitam são eletrônicos,apenas 6,92% (66.423) ainda estão no papel.

“É grande a honra e pesada e tarefa”, disse Thompson Flores ao assumir a presidência, com 54 anos, ainda solteiro (“mas não perdi as esperanças”), no recente 23 de junho. Cercado de livros por todos os lados – são cinco mil deles, para onde se olhe, fora os 25 mil que guarda em casa – o desembargador carrega, feliz, o peso da história familiar.

Teve coronel trisavô que matou e morreu em Canudos – está em “Os Sertões” -, conviveu com o avô quase homônimo que foi ministro do Supremo Tribunal Federal, indicado pelo general-presidente Costa e Silva nos idos pesados de 1968. O avô já se foi, em 2001, mas tem a presença garantida quando se conversa com o neto (que também almeja o Supremo, por que não?) – seja em citações frequentes, seja nas pinturas que adornam as paredes, três dezenas delas, do avô e de muitos outros personagens históricos.

É um hobby do desembargador – como o são a leitura (três obras por vez), os sete idiomas em que fala e lê (incluindo o latim), o tênis assíduo, e a combinação da gravata com o lenço no bolso do terno. São tantos livros, e tantas pinturas, que ele sequer pôde mudar-se para as instalações próprias da presidência. O Tribunal concordou que ficasse onde sempre esteve – poupando a todos da maçada que seria a mudança. Os livros, a maioria jurídicos, merecem que se registre a excelência, com um exemplo só: a coleção completa da Harvad Law Review, desde o primeiro volume, de 1887-1888. Ou dois exemplos, que seja: a mesa pequena em que o desembargador trabalha exibe uma trincheira compacta de 82 volumes de obras clássicas e ou raras, todas elas estrangeiras. Ele quase desaparece atrás das lombadas.

Na entrevista, além de avaliar tecnicamente a sentença do juiz Sérgio Moro que condenou o ex-presidente Lula, o desembargador discorreu sobre todas as possibilidades que podem ocorrer no julgamento da apelação da defesa: não só confirmação ou reforma da sentença, mas sua anulação, seja pela Oitava Turma do Tribunal, seja pelos tribunais superiores (STF e STJ), em relação à segunda instância. “Será um julgamento isento, discreto, com a imparcialidade que requer”, disse. “A justiça não pode e não deve estar a serviço de ideologias políticas, de paixões partidárias, e, inclusive, de paixões populares”. Sobre a operação Lava Jato, disse: “Ela mostrou que O Brasil chegou a um nível inaceitável de corrupção. Mas não cabe ao Poder Judiciário regenerar moralmente uma nação”.

  

ESTADO – TÃO LOGO SAIU A SENTENÇA EM QUE O JUIZ SÉRGIO MORO CONDENOU O EX-PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA A NOVE ANOS E SEIS MESES DE PRISÃO O SR. DISSE QUE ERA UMA SENTENÇA “BEM PREPARADA”...

E, acrescento agora, tecnicamente irrepreensível. Pode-se gostar dela, ou não. Aqueles que não gostarem e por ela se sentiram atingidos tem os recursos próprios para se insurgir.

O Sr. GOSTOU?

Gostei. Isso eu não vou negar.

SE O Sr. FOSSE DA OITAVA TURMA – A QUE VAI JULGAR A APELAÇÃO DO EX-PRESIDENTE – CONFIRMARIA A SENTENÇA?

Isso eu não poderia dizer, porque não li a prova dos autos. Mas o juiz Moro fez exame minucioso e irretocável da prova dos autos. Eu comparo a importância dessa sentença para a história do Brasil à sentença que o juiz Márcio Moraes proferiu no caso Herzog, sem nenhuma comparação com o momento político. É uma sentença que vai entrar para a história do Brasil. E não quero fazer nenhuma conotação de apologia. Estou fazendo um exame objetivo.

POR QUE A COMPARAÇÃO?

É uma sentença que não se preocupou com a erudição – como a sentença do juiz Márcio Moraes, lá atrás, também não se preocupou. É um exame irrepreensível da prova dos autos.  É uma sentença que ninguém passa indiferente por ela.

NÃO É UMA FORMA DE DIZER QUE O Sr. A CONFIRMARIA, SE FOSSE DA OITAVA TURMA?

Eu digo, em tese: se eu fosse integrante da Oitava Turma, e se estivesse, depois do exame dos autos, convencido de que a sentença foi justa, eu teria muita tranquilidade em confirmar.

E SE TIVESSE QUE DECIDIR SÓ EM CIMA DAS 218 PÁGINAS QUE A SENTENÇA TEM, CONFIRMARIA OU NÃO.

É muito difícil eu responder assim. Eu teria que ver os autos, os argumentos da apelação. Mas as questões preliminares, por exemplo, a suspeição do magistrado, as nulidades, ele respondeu muito bem.

O QUE VAI ESTAR EM DISCUSSÃO NO JULGAMENTO DA APELAÇÃO É, ESSENCIALMENTE, A QUESTÃO DA QUALIDADE DA PROVA...

Mais do que isso, a idoneidade da prova.

OU SEJA: ATÉ QUE PONTO OS INDÍCIOS E A PROVA INDIRETA VALEM COMO PROVA EFETIVAMENTE.

Volta e meia eu vejo declarações, inclusive de renomados juristas, dizendo algo como “nós só temos indícios, não temos provas”. Começa que é um equívoco, porque indícios são provas. O ministro Paulo Brossard, de saudosa memória, tem um acórdão no Supremo Tribunal Federal, em que diz exatamente isso: a prova indiciária é tão prova quanto as outras. Então, essa distinção não existe.

A QUESTÃO É, NO MÍNIMO, POLÊMICA.

É polêmica, sem dúvida. Eu sou fascinado pela prova indiciária que, insisto, é tão prova quanto as demais. Tem uma boa doutrina nesse sentido, além de julgados do Supremo Tribunal Federal. A questão doutrinária, de fundo, é se prova indiciária autoriza a conclusão condenatória.  Em tese, eu não tenho a menor dúvida. Lembro uma frase que dizia o meu saudoso avô, ministro [do Supremo] Thompson Flores: “Carlos Eduardo, você jamais poderá condenar no processo penal por presunção, mas poderá fazê-lo por indícios, por prova indiciária”.

O QUE É QUE O TRIBUNAL EXAMINA, NO ESSENCIAL, QUANDO JULGA APELAÇÕES COMO ESSA?

O Tribunal não vai fazer nova instrução, mas vai reexaminar toda a prova. A importância desse julgamento é que o que nós decidirmos aqui em matéria de fato é instância final. O Supremo e o Superior Tribunal de Justiça, em eventuais recursos lá interpostos, não vão examinar fatos, só matéria de direito. Ele podem reexaminar, por exemplo, a idoneidade da prova.

EM QUE SENTIDO?

Se determinada escuta telefônica foi válida ou não, por exemplo. Ou se a prova indireta é suficiente para a condenação. Isso é matéria de direito. Mas o conteúdo probatório, esse vai ser decidido aqui. Por isso a importância desse julgamento, seja para a defesa, seja para a acusação. 

UMA DAS DISCUSSÕES NO CASO DA SENTENÇA QUE CONDENOU O EX-PRESIDENTE LULA É ATÉ QUE PONTO PESA NA BALANÇA ELE NÃO SER PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL.

Proprietário é o que está no registro de imóveis...

O JUIZ SÉRGIO MORO RECONHECE, NA SENTENÇA, QUE ELE NÃO É PROPRIETÁRIO – MAS ENTENDE QUE ESSE FATO NÃO TEM IMPORTÂNCIA PARA A QUALIFICAÇÃO DO CRIME DE CORRUPÇÃO PASSIVA.

Esta é uma das grandes questões jurídicas com que o Tribunal irá se debater. Se a prova indiciária é suficiente para embasar um conteúdo condenatório. À acusação incumbe demonstrar a culpa do réu. É este o principio da presunção da inocência. Esse ônus é da acusação – o ministro Celso de Mello tem preciosos julgados nesse sentido – mas isso não estabelece uma imunidade à defesa dos réus.

O Sr. É FAVORÁVEL A UMA FLEXIBILIZAÇÃO DESSE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA – COMO DEFENDE, POR EXEMPLO, O JUIZ SÉRGIO MORO? NÃO É UMA COISA PERIGOSA?

Eu concordo. Isso eu não defendo. Eu acho que isso é uma garantia da humanidade. Eu não iria até esse ponto. Há vários méritos, por exemplo, nas propostas da sociedade civil contra a corrupção, aquelas encampadas pelo Ministério Público. Agora, é um absurdo, por exemplo, admitir-se a validade de prova ilícita. Eu não iria até aí. Se nós formos a esse ponto, nós teríamos que admitir escutas ilícitas, e a própria tortura.

OUTRA QUESTÃO POLÊMICA DA SENTENÇA QUE CONDENOU O EX-PRESIDENTE LULA É SE DEVE OU NÃO DEVE HAVER VÍNCULO DIRETO ENTRE AS DESPESAS DA REFORMA DO APARTAMENTO TRÍPLEX E OS RECURSOS QUE A EMPREITEIRA OAS RECEBEU DA PETROBRAS. O JUIZ SÉRGIO MORO DEFENDE, POR EXEMPLO, QUE NÃO HÁ NECESSIDADE DE ESPECIFICAR O VÍNCULO.

Essa é outra grande questão com a qual o Tribunal irá se deparar.  O delito de corrupção passiva, e isso o Supremo decidiu desde o caso Collor, diz que precisa haver um ato de ofício que justifique a conduta praticada e o benefício recebido. Eu diria, e até já escrevi sobre isso, e por isso falo à vontade, que este ato de ofício, a meu juízo, precisa ser provado. Essa vai ser a grande questão. Comprovar o elo entre esse dinheiro supostamente mal havido e o apartamento e outros benefícios. Para a configuração desse crime de corrupção passiva essa ligação certamente terá que ser examinada. É a jurisprudência do STF.

EXISTE UMA TENSÃO EXPOSTA, NO DIA A DIA, ENTRE O JUIZ SÉRGIO MORO E A DEFESA DO EX-PRESIDENTE LULA. VOLTA E MEIA TERÇAM ARMAS, ATIRAM FARPAS. ISSO É BOM?

Da parte do juiz eu não notei agressividade, pelo contrário. Ele foi muito cordato quando interrogou o ex-presidente, até na abertura, quando disse que não cogitava da prisão dele, como se poderia pensar. Deixou o ex-presidente bem à vontade, foi cordial, com um outro momento mais tenso, o que faz parte. Agora, o advogado tem mais liberdade do que o juiz. O juiz tem que dosar, até a sua resposta, para, aí sim, não perder a imparcialidade. Se perder, ele perde a condição de julgar, e eu não vejo isso até agora.

NÃO ACHA QUE PODE VIRAR UMA QUESTÃO PESSOAL?

A defesa foi exaltada, em algumas situações, mas o juiz Moro se comportou, a meu juízo, de forma exemplar. Eu não vejo esse perigo.  Ele é juiz há muito tempo, muito experiente.

O Sr. O CONHECE BEM?

Não. Eu o conheço muito pouco.  Nos encontramos em solenidades do Tribunal, umas duas ou três vezes.

O Sr. TEM UMA OPINIÃO SOBRE ELE?

É um juiz muito preparado, estudioso, íntegro, honesto, cujo trabalho já está tendo um reconhecimento, inclusive internacional. É um homem que está cumprindo a sua missão.




PITACO DO BLOG CHUMBO GROSSO - Como é do conhecimento de toda nação brasileira, Lula tem um ROSÁRIO de denúncias(JÁ É HEXA), como têm Dilma, Temer, Aécio, Renan, Jucá e muitos outros. Moro, Valisney, Bredas e outros juízes só cumprem mesmo a lei, aplicando da melhor forma o Direito. Aliás, os juízes Bredas, Moro e Valisney são os nossos três mosqueteiros que irão impedir a proliferação da bandidagem da extrema-esquerda golpista e ladrona. Para se ter ideia da integridade moral  do juiz Sérgio Moro, eis o que disse ainda mais, o presidente do TRF-4(RS), desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, ao avaliá-lo, hoje, no jornal O ESTADÃO:  "É um juiz muito preparado, estudioso, íntegro, honesto, cujo trabalho já está tendo um reconhecimento, até mesmo internacional. É um homem que está cumprindo a sua missão.". É por essas e outras, creio eu, que todos os 11 inquéritos que ainda faltam as sentenças por parte de Moro  serão históricas. No sentido do que  reza a lei e, muito  bem fundamentadas(para se ter ideia,  só o veredicto do hexa teve 286 páginas) . Sérgio Moro já está na história do país, daqui a 100 anos saberão quem ele foi...


P.S. : - A propósito, será um dos maiores espetáculos da terra com transmissão ao vivo até mesmo para marte e lua. Lula sendo conduzido pelo JAPA até a viatura da PF sob os apupos do povo que foi roubado e espoliado, milhões de estouros de rojões e pipocar de champanhes. A petezada bandida  se contorcendo e esperneando por tudo quanto é canto. Vai haver muito choro e ranger de dentes no chiqueiro da porcalhada petralha...


2 comentários:

Waltão disse...

QUAL SERÁ A OPINIÃO DO CACHACEIRO DE SÃO BERNARDO,
À RESPEITO DESSE PRONUNCIAMENTO ?

Anônimo disse...
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