sábado, 6 de abril de 2019

A VELHA POLÍTICA



Maurício Assuero
O mercantilismo no Congresso Nacional nunca foi um objeto vivo e inanimado. Pelo contrário: sempre foi uma célula reprodutora, transcendente, aparentemente hereditária e imortal. A maior expressão desse mercantilismo foi o escândalo do mensalão. Naquele contexto a gente viu o quanto são venais nossos representantes, salvo raríssimas exceções. Imagino até que se não fosse o mensalão, o governo Lula não teria obtido determinadas conquistas porque ficou patente que havia uma base de apoio ao governo que era alimentada por recursos escusos e não por afinidade a ideologia do PT.
O desgaste do governo Dilma teve, também, sua grande parcela de negociatas. Por exemplo: o ministro bandido Henrique Alves não era um dos seus preferidos ao cargo, mas o MDB impôs o seu nome. Se assim não fosse causaria um desconforto muito grande na base. Temer teve uma denúncia arquivada pela Câmara porque distribui emendas e cargos. Os cargos, como se sabe, permitem que os deputados indiquem alguém se sua confiança para arrecadar dinheiro que fortaleça sua campanha e sua conta corrente. Maurício Marinho foi filmado embolsando R$ 3 mil e foi colocado nos Correios por Roberto Jefferson. Waldomiro Diniz teve uma atuação fundamental quando José Dirceu era ministro.
São questões dessa natureza que me levam a perder a crença em bom andamento da economia a partir desse ano. A prévia vista na presença de Paulo Guedes na Comissão de Cidadania e Justiça mostra o quanto é difícil tratar com pessoas com inteligência limitada. A oposição é oposição apenas porque não tem nada mais útil a fazer. Obviamente, que não estamos interessados em unanimidade. Acredito que o estado de direito democrático se lastreia no debate, ou seja, no contraditório, mas uma coisa é sermos contra pela convicção que temos e outra, totalmente diferente, é sermos contra porque assim nos orientaram.
As pessoas atacam propostas e não apresentam alternativas. A realidade é bem simples: o Brasil está se transformando num buraco negro (aquele que a massa gravitacional é tão grande que nem a luz consegue sair dele) e um dos caminhos a ser percorrido chama-se: aprovação da reforma da previdência. O sistema atual que temos chama-se é baseado na repartição, um sistema de gerações superpostas. Ou seja, a população economicamente ativa de hoje sustenta o pagamento do pessoal inativo e no futuro será sustentada pela PEA do seu tempo. Se a taxa de pessoas que se aposentam for maior do que a taxa das pessoas que entram no mercado de trabalho, nitidamente teremos problemas.
O sistema de capitalização, duramente criticado, consiste no fato de que cada trabalhador formará a sua poupança e ao deixar a vida laboral esta poupança vai se converter no seu benefício. Se formos olhar o que existe no mundo, a gente vai ver que muitas economias passaram a adotar um regime híbrido. Mas, quem se opõe não apresenta argumentos, mas prefere agir como “Maria vai com as outras”.
O conhecimento de Zeca Dirceu em previdência deve guardar uma relação de 1 para 1 com o nariz dele. O engraçado é que o cara está se sentido a bala que matou Kennedy. Certamente, não se deve culpar o filho pelos erros dos pais e vice-versa. No entanto, a realidade muda quando um se beneficia do mal feito do outro. Zeca Dirceu, segundo delatores da Odebrecht, recebeu R$ 250 mil do departamento de propina. Complicado é aceitar isso como um crime eleitoral.
Embora o governo Bolsonaro não tenha tantos medalhões com se viu desde FHC (contava com apoio de estudiosos com Pérsio Arida, Gustavo Franco, Edmar Bacha), cabe destacar o conhecimento dos ministros Sérgio Moro e Paulo Guedes. O segundo tem uma formação em economia invejável. O primeiro mostrou um vasto conhecimento com juiz em dois momentos: auxiliando Rosa Weber nos votos do mensalão e como juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba (será que por essa 13ª o PT não teria interesse em mudar de número/).
Moro condenou Lula em primeira instância e uma tese de Moro na ação do mensalão pode tirar Lula da cadeia. A defesa de Lula está usando a tese de Moro em não considerar, no mensalão, crime de lavagem de dinheiro. Os argumentos que ele utilizou foram bem aceito nos votos do julgamento. Será engraçado vermos a defesa de Lula citando Sérgio Moro nas suas alegações.

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