Josias de Souza
Mesmo trancado numa cela de 15 m², o presidiário mais vistoso da Lava Jato continuou hospedado no mundo da fantasia.
O próprio Lula – ou a pessoa que redigiu o artigo em seu nome – cuidou de responder à interrogação do título. “Na verdade, o que eles temem é a organização do povo que se identifica com nosso projeto de país”. Temem ter de reconhecer as arbitrariedades para eleger um presidente incapaz e que nos enche de vergonha.
Quer dizer: Lula ainda não enxerga um culpado no espelho do banheirinho da cela especial de Curitiba. Antes do encarceramento, considerava-se um mito. Isolado do convívio social, acha que virou um mártir. E continua dando de ombros para os fatos que o transformaram no avesso de tudo o que imagina ser.
Aquilo que Lula chama de “nosso projeto de país” morreu no segundo mandato de Dilma, a “gerentona” que ele escolheu para pavimentar o caminho do petismo para o inferno. Arbitrária não foi a condenação, mas a decisão de ROMPER AS REGRAS DA MORALIDADE para fazer do PT um aparelho arrecadador de fundos, com o beneplácito e o proveito pessoal do grande líder.
Quem elegeu Bolsonaro, esse “presidente incapaz que nos enche de vergonha”, não foi Sérgio Moro e a Lava Jato.
O feito deve ser atribuído ao próprio Lula, autoconvertido em principal cabo eleitoral do capitão, e ao antipetismo, maior força política da sucessão de 2018. Deve-se à urna, não aos algozes de Lula, a decisão de negar ao PT um novo mandato presidencial.
Há um ano, horas antes de ser preso, Lula discursou defronte do sindicato de São Bernardo. Disse que a tranca não iria silencia-lo, pois sua imaculada figura transformara-se numa ideia e seus devotos fariam barulho por ele. “Vocês poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam. Poderão fazer as passeatas que tanto vocês queiram, fazer ocupações no campo e na cidade...”
Desde então Temer apodreceu no mandato que resultou do impeachment, o PT levou uma surra eleitoral. Dilma foi condenada pelo eleitorado mineiro à função de cuidadora perpétua dos netos. Bolsonaro subiu a rampa e a soma das condenações de Lula ultrapassou a marca de 20 anos. Tudo isso aconteceu sem pneus queimados, passeatas ou ocupações.
Lula planeja ganhar a liberdade e disputar a Presidência acuando juízes com a militância sindical do PT e o “exército” de João Pedro Stédile, do MST. Entretanto, secaram as fontes de dinheiro público para sindicatos e movimentos sociais. Sem a condução e o sanduíche, a solidariedade preferiu ficar em casa.
Hoje, ninguém tem medo do Lula livre. O que amedronta é a hipótese de que ele receba tratamento diferente do que é dispensado à bandidagem sem grife. O que assusta é a pose de vitima. O que apavora é a perspectiva de que o castigo talvez seja insuficiente para evitar a reencarnação do modelo corrupto que levou a cadeia o maior líder popular da história.
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