CINE TEATRO GUARANY DA CIDADE DE TRIUNFO ESTADO DE PERNAMBUCO |
Por Altamir
Pinheiro
Quando as luzes se
apagaram em milhares de cinemas por esse
“interiozão” afora no Brasil,
não era só um cineminha qualquer indo embora, ali se consignava ou estava junto e misturado
em uma crise maior, a do cinema de rua. Agoniado pela concorrência dos shopping centers ou
prédios sendo vendidos para construção
de condomínios nas metrópoles ou sendo alugados pelos templos evangélicos
no interior, entre tantos motivos havia
um que era de fundamental importância: SEGURANÇA. Haja vista que nas capitais
com sua promessa de garantia e comodidade, e da
grandiosidade impressa no número de salas e luxuosas poltronas, os enormes prédios de exibição com porta para a calçada das ruas
e avenidas dos grandes centros viviam um
momento difícil. “O cinema de rua tornou-se
um negócio em extinção”, afirmou Ricardo Difini, presidente da Federação
Nacional Das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec).
Segundo dados do
começo do ano de 2020 da Agência Nacional do Cinema (ANCINE), 92% dos
municípios não possuem cinemas, outro dado afirma que em 400 cidades do Brasil entre
50 a 100 mil habitantes também não possuem salas de projeções
cinematográficas comercialmente falando. Tudo isso concentra cerca de 30
milhões de pessoas. A título de comparação seria o equivalente à população do
Chile e Portugal juntas (18 e 10 milhões de habitantes respectivamente),
superando a população da Austrália (25 milhões de habitantes). O mercado
brasileiro conta presentemente (ano de 2020),
com 3.500 salas (centralizadas nas metrópoles), o que representa um
número de 60 mil habitantes por sala de
exibição. O índice brasileiro é inferior
ao dos Estados Unidos, França, Austrália, Espanha, Alemanha, Portugal, México,
Rússia, China, Japão, Argentina, Colômbia e Chile. Por exemplo, para alcançar o
índice francês seriam necessárias 20 mil novas salas. Para igualar ao índice
mexicano seria necessário a construção de 10 mil salas, ao passo que para
equiparar o índice argentino seriam necessárias 2 mil inaugurações de novas
salas.
Prendendo-se
exclusivamente à capital de Pernambuco, Recife, relatamos aqui o que nos
informam os historiadores do cinema pernambucano, André Santa Rosa, Mikhaela
Araújo e Samantha Oliveira, quando nos dizem que a cidade do Recife sempre foi
polo cultural e abriga diversas formas de expressão de arte. Não obstante, a
arte do cinema ganhou espaço em meados de 1920, quando produções regionais
caíram no gosto do público. Com o passar do tempo, o número de cinemas foi
aumentando e chegou a aproximadamente 55 unidades. Quem não se lembra da
“loucura” do público que assistiu aos filmes Spaghetti western, Faroeste
espaguete ou Faroeste Macarrônico
estrelados pelos ídolos Franco Nero (Django) e Giuliano Gemma (Ringo) no final
da década de 1970. Tubarão (1975), Apocalypse Now (1979) e as famosas
pornochanchadas, entre elas, o fenômeno de público A Dama do Lotação em cinemas como o Moderno
ou Veneza da capital. Todas essas películas ora citadas e mais outras também
foram sucesso de público nos cinemas Glória, Veneza, Eldorado e no Cine Theatro
Jardim da cidade de Garanhuns(PE).
Passa-se o tempo e
com a mudança de hábitos da classe média e da sociedade em geral, que se distanciaram
do centro, além do advento da televisão, os cinemas do centro do Recife
começaram a entrar em decadência. A qualidade da programação foi caindo, e a
pornochanchada invadiu as telas. Esses cinemas começaram a ser esvaziados no
mesmo período em que a vida pública na cidade começou a mudar. Além disso, os
cinemas eram controlados por empresas, que em certo momento, decidiram
vendê-los, fenômeno que aconteceu com muita velocidade. Depois desse boom de
vendas e fechamentos de cinemas, sobraram apenas três: o São Luiz, o Veneza e o
Moderno, todos localizados no centro. Um dos únicos que ainda sobrevivem é o
famoso e tradicional Cinema São Luiz. Quanto à cidade de Garanhuns, só resta
mesmo o Cine Eldorado.
Debruçando-me
somente sobre uma área territorial onde este escriba se esconde há bastante
tempo, não tem como não sentir saudades de doces lembranças que hoje transformo
em matéria-prima para um novo acalanto ou conforto ao me lembrar de monumentais
prédios feitos de tijolo, pedra e cal como aquele de nome pomposo que era o Cine Real da cidade de Cacimbinhas(AL),
como também o do cinema Rio Branco da cidade de Arcoverde(PE), Cine Theatro
Jardim de Garanhuns, Cine Brasília de Bom Conselho, Cine Teatro Guarany da cidade de Triunfo(PE)
- Que é uma elegância e perfume francês no ar -, Cine Teatro Apollo de
Palmares(PE) – o mais antigo do interior de Pernambuco - , Cine Palácio da
cidade de Palmeira dos Índios(AL), Cines Moderno, Trianon, Veneza e São Luiz de
Recife. Portanto, casas tradicionais como essas que se alimentavam da arte cinematográfica embalaram meus sonhos
e de minha geração inteira por esse Pernambuco, Nordeste e Brasil afora.
Dos antigos
cinemas interioranos sobraram apenas detalhes soltos e traços
vagos, resquícios de um aglomerado de pessoas
em que assistir às fitas de faroeste ou de Sansão, Hércules e Maciste era ao
mesmo tempo um entretenimento e por que não dizer, um cerimonioso
ritual... A história desses lugares hoje
se esconde embaixo de novas fachadas ou por trás de portas que não se abrem
mais. É uma pena que essas portas não mais se escancarem para as disputadas
matinês de outrora que nos faz viajar no tempo
e se alimentar dessa saudosa
relembrança, costumeiramente aos
domingos. Mas, tudo isso vem um certo conformismo com essa tal teoria da
evolução que sofrem suas devidas alterações pela ação do tempo que é
implacável. Fazer o quê?!?!?! E por
falar em matinês aos domingos, vem a
nossa memória a canção bem aprimorada
do poeta: Eu me lembro com saudade das Jovens tardes de domingo, Tantas
alegrias, Velhos tempos, Belos dias...
CINE RIO BRANCO - ARCOVERDE (PE) |
CINE TRIANON - RECIFE (PE) |
CINE TEATRO APOLLO - PALMARES (PE) |
Um comentário:
Aqui em Ribeirão Preto, cidade com mais de 700 mil habitantes, só há cinemas nos hediondos shoppings center, onde a principal atração nem é o filme, é a pipoca, são as cadeiras do cinema, são os óculos 3D, é a tela gigante e outras putarias.
Todos os antigos cinemas do centro viraram igrejas. Porque 92% dos municípios brasileiros não têm uma única sala de cinema, mas igreja tem uma em cada esquina.
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