Cardozo: ele deveria pegar o paletó e ir embora; em vez disso, opera para ser ministro do Supremo |
Reinaldo Azevedo
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, voltou a ser notícia.
Seu nome aparece em mais um caso escabroso. Num país em que o Poder Executivo
respeitasse a democracia, o homem deveria ter sido SUMARIAMENTE
DEMITIDO — e não é a primeira vez que dá motivos para isso. OCORRE
QUE ELE É AUXILIAR DAQUELA PRESIDENTE QUE QUER DIALOGAR COM TERRORISTAS QUE DEGOLAM
PESSOAS. E, se Dilma é presidente, então tudo é permitido. Qual é o
busílis? Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça e braço-direito de
Cardozo, foi pessoalmente à PF, fora de horário de expediente, para
escarafunchar um inquérito resguardado pelo segredo de Justiça e que tinha como
alvo Marina Silva. Explico. Reportagem da mais recente edição da VEJA informa
que, no dia 5 deste mês, A MANDO DE CARDOZO, Abrão se encontrou com o delegado
Leandro Daiello, superintendente da Polícia Federal, para colher informações
sobre o Inquérito 1209/2012 que apurou suspeitas de corrupção no Ministério do
Meio Ambiente, quando Marina era ministra, em benefícios que teriam sido
concedidos à empresa Natural Source International. Entre os investigados,
estava o empresário Guilherme Leal, que apoia a candidata do PSB à Presidência.
ATENÇÃO! O INQUÉRITO JÁ
TINHA SIDO ARQUIVADO POR FALTA DE PROVAS, A PEDIDO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Abrão
dá uma desculpa esfarrapada. Já chego lá. Antes, algumas lembranças relevantes.
Algum tempo depois do mensalão, como esquecer?, Cardozo chegou a esboçar a
intenção de abandonar a política. Estaria decepcionado e enojado com a
atividade. Gente que o conhecia desde a gestão da prefeita Luíza Erundina na
capital (1989-1992), quando estourou o chamado “Caso Lubeca” (pesquisem a
respeito), jurou que ele não cumpriria a promessa porque não seria o tipo de
homem que sente nojo com facilidade. Ele tem, me asseguraram, estômago de
avestruz. Um meu amigo, que trabalhou com ele naquele período, ironizou: “O ZÉ
EDUARDO DEIXAR A POLÍTICA PORQUE ESTARIA ENOJADO? BESTEIRA! É MAIS FÁCIL A
POLÍTICA DEIXAR O ZÉ EDUARDO…”. De fato, a gente nota que o
homem não vomita com facilidade. É claro que se trata de um absurdo. Abrão
disse que estava apenas querendo saber em que pé estava a coisa porque “UMA
REVISTA” — ??? — estaria fazendo uma reportagem a respeito e o havia procurado. REVISTA???
Abrão trabalha para a publicação? É “FOCA” do
veículo? Está na folha de pagamentos? Se apenas quisesse informações, POR
QUE FOI PESSOALMENTE À SEDE DA PF? NÃO BASTAVA UM OFÍCIO? Teve
de manter um encontro que nem estava na agenda do superintendente da PF? Paulo
Abrão, Paulo Abrão… Este rapaz fez carreira na Comissão da Anistia e é
considerado um especialista em direitos humanos. Imaginem se não fosse… É claro
que isso é coisa típica de estado policial. Não é a primeira vez que a máquina
é mobilizada pelos petistas contra adversários. Em novembro do ano passado,
Cardozo protagonizou outro caso rumoroso. Era o ministro quem estava por trás
do surgimento de um DOCUMENTO APÓCRIFO que
acusava políticos de três partidos de oposição — PSDB, DEM e PPS — de
envolvimento com um cartel de trens. Na primeira versão oficial, o Cade teria
fornecido o papelucho à Polícia Federal. Não colou. O ministro teve de vir a
público para assumir a autoria do ato. COMO DE HÁBITO, BATEU NO
PEITO E DISSE QUE ESTAVA APENAS CUMPRINDO O SEU DEVER. UMA OVA! IMAGINEM SE,
AGORA, UM MINISTRO DA JUSTIÇA DEVE PEDIR À PF QUE ABRA INQUÉRITOS PARA APURAR
TODA DENÚNCIA ANÔNIMA QUE LHE CHEGUE ÀS MÃOS. A SER ASSIM, NA PRÁTICA, ELE MANDA INVESTIGAR QUEM LHE DER NA
TELHA. BASTA ALEGAR QUE TEM UM DOCUMENTO… APÓCRIFO! Já
fiz um levantamento no blog demonstrando como Cardozo colaborou, por atos e
omissões, pra que as jornadas de junho do ano passado degenerassem em
violência. Inicialmente, o governo federal apostava que a bomba dos protestos
explodiria no colo de Geraldo Alckmin. Deu tudo errado. Não só isso: no
Ministério da Justiça, Cardozo se comportou como um chefe de facção,
hostilizando permanentemente a polícia de São Paulo. Cardozo coroa, agora, no
fim do governo, a sua atuação com mais esta: seu braço-direito no Ministério
mobilizou a máquina federal para tentar prejudicar uma adversária de Dilma na eleição.
Atenção! Há uma possibilidade concreta de este senhor ser
indicado pela presidente para a cadeira vaga no Supremo, com a renúncia de
Joaquim Barbosa. Fiquem atentos: nos próximos quatro anos, nada menos de cinco
ministros vão se aposentar. Caso a petista se reeleja, dificilmente o país
escapará do acinte de ter Cardozo ocupando uma cadeira no Supremo. Com esse
currículo! (A manchete não
faz parte do texto original).
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