José Casado
Primeira
consequência das revelações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ao
Ministério Público Federal, na tentativa de garantir benefícios previstos na
lei de delação premiada extensivos aos familiares: o governo, o PT e a
presidente-candidata Dilma Rousseff perderam a bússola no planejamento da
campanha a 26 dias da eleição. Até a manhã de sexta-feira, no Palácio do
Planalto e no comando do PT debatia-se uma miríade de táticas regionais para
tentar levar Dilma imediatamente a outro patamar nas pesquisas. O objetivo era
reduzir a grande diferença (de sete pontos percentuais) que a separa de Marina
Silva (PSB) na preferência dos eleitores para a disputa em segundo turno. A
VANTAGEM DE MARINA NÃO É PEQUENA: EQUIVALE À SOMA DO ELEITORADO DOS ESTADOS DO
CENTRO-OESTE, OU SEJA, 10 MILHÕES DE VOTOS. Mudou tudo, a partir do
vazamento de informações sobre as denúncias do ex-diretor da Petrobras contra
políticos do PT, PMDB, PP, PR e PTB. De passagem por São Paulo, a candidata
dissimulou e prometeu tomar "PROVIDÊNCIAS CABÍVEIS" no dia em que
souber de alguma coisa. Para o Palácio do Planalto e o comando do PT, a
principal dificuldade agora é como conter danos à candidatura de Dilma, porque
o caso só tende a crescer às vésperas do pleito(o rito entre a Procuradoria e o
Supremo Tribunal Federal obedece a um calendário de 20 dias para formalização
de inquérito, coincidindo com a semana da eleição.) Sobram razões para temor.
Entre elas está uma irrefutável linha do tempo: Paulo Roberto Costa ocupou a
Diretoria de Abastecimento da Petrobras — em pelo menos duas dezenas de
ocasiões, foi presidente interino—, durante os nove anos nos quais Dilma
apareceu como a voz de comando na estatal, em sucessivos papéis de ministra das
Minas e Energia, presidente do Conselho de Administração, chefe da Casa Civil
de Lula e presidente da República. O enredo protagonizado por Costa e
associados começou no governo Lula, em 2003, quando o chefe da Casa Civil José
Dirceu se dedicava à construção da "MAIOR BASE POLÍTICA
DO OCIDENTE". Sob patrocínio do PP do então deputado José Janene, indiciado no
mensalão, ele transformou Abastecimento numa diretoria autônoma, com apoio do
então presidente Sérgio Gabrielli, o "EMBAIXADOR" de
Lula na estatal. Depois, Costa passou a representar um condomínio partidário
(PT-PMDB-PP-PTB-PR) cujo poder de influência nos negócios da Petrobras se
estende do Brasil à África. A Costa foi entregue, entre outros, o maior
empreendimento da empresa, a construção da refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco. Durante sete anos (de 2004 a 2012), ele e Gabrielli mantiveram sob
sigilo o orçamento de contratação de serviços e equipamentos para essa
refinaria, cujos custos subiram nove vezes e até novembro devem somar US$ 20,1
bilhões. Inúmeras vezes o Tribunal de Contas da União pediu planos e
estimativas de custos, mas só começou a recebê-los no ano passado. A estatal
ocultou até os estudos de viabilidade econômica, técnica e ambiental do
empreendimento. COSTA E GABRIELLI
SEMPRE CONTARAM COM RESPALDO GOVERNAMENTAL. NO CONGRESSO, COSTA SE TORNOU
CONHECIDO COMO CASO RARO DE DIRETOR DE ESTATAL COM BANCADA PRÓPRIA. SABE-SE,
AGORA, QUE ERAM PELO MENOS 25 PARLAMENTARES FEDERAIS — ENTRE ELES, CACIQUES DO
PMDB E DO PT FLUMINENSES. COINCIDÊNCIA OU NÃO, ALGUNS FIGURARAM EM EPISÓDIOS
INVESTIGADOS NA CPI DOS CORREIOS — inclusive em manobras
com fundos de pensão estatais —, mas, por variadas razões, ficaram à margem do
processo do mensalão. Se é imprevisível a dimensão do impacto das denúncias na
disputa presidencial, é certo que a presidente-candidata passa ao centro do
alvo dos adversários. Certa, também, é a tendência à rápida difusão do caso
pelo interior do país: há 7,3 mil candidatos a uma das vagas disponíveis na
Câmara e no Senado, e pelo menos 25 parlamentares federais estão na vitrine,
citados por Costa como beneficiários de propinas.
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