Gabriel Garcia
Em
meio à seca causada pela falta de chuva e de um plano adequado de
investimentos, o Brasil vive ou não uma crise energética? Há ou não racionamento?
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor do Centro
Brasileiro de Infra Estrutura, ADRIANO PIRES,
é categórico: “O BRASIL PASSA PELA PIOR CRISE
ENERGÉTICA DA HISTÓRIA”. Enquanto o governo nega solenemente o
risco de racionamento, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pede para
as distribuidoras reduzirem o fornecimento de energia e uma constante onda de
apagão vem deixando o país à luz de velas. Segundo o especialista, a crise negada pelo governo
quebrou dois mitos relacionados à presidente Dilma Rousseff: DA CONHECEDORA DA ÁREA ENERGÉTICA E DA GESTORA
EFICIENTE. Ao
comentar sobre o aumento do preço de gasolina no Brasil, Adriano diz que o país
“CAMINHA NA CONTRAMÃO DO MUNDO”. Em entrevista, defendeu a demissão da diretoria e
do Conselho de Administração da Petrobras, que, segundo ele, estão
DESMORALIZADOS PERANTE O MERCADO, e criticou o modelo de partilha adotado para
exploração de petróleo no governo Dilma.
O BRASIL VIVE
OU NÃO UMA CRISE ENERGÉTICA?
O
Brasil passa pela pior crise energética da história. Uma crise energética que
traz dois problemas graves: o financeiro, criado quando o governo renovou as
concessões, obrigando as empresas a reduzirem tarifas em um momento em que o
custo estava crescendo no mundo inteiro, e o INCENTIVO EXAGERADO AO CONSUMO, causando
problemas de abastecimento.
QUAIS SÃO OS
MOTIVOS DA CRISE ENERGÉTICA?
Três
fatos explicam a crise. PRIMEIRO, o governo baixou a tarifa no momento em que o
custo crescia, incentivando o uso perdulário e criando um buraco enorme nas
distribuidoras, que tiveram que ser socorridas com dinheiro do Tesouro
Nacional. SEGUNDO, o governo atrasou as obras de geração e transmissão e
resolveu fazer leilões de energia, privilegiando preço baixo e não dando as
taxas de retorno que o mercado pedia. TERCEIRO, houve o imponderável, a falta
de chuva. O governo optou pelo populismo tarifário, pelo calendário eleitoral.
O QUE GOVERNO
PRECISA FAZER?
Ele
não deveria ter baixado a tarifa, deveria ter implantado o modelo de bandeira
tarifária há dois anos e feito um grande programa de uso eficiente de energia.
Reconhecendo que errou, deveria chamar os agentes do setor elétrico e
conversar. Não dá para tomar decisões de forma unilateral, como é o caso do
tarifaço. Aumentar tarifa é necessário, mas não resolve tudo. Isso vai
ocasionar inadimplência no setor e vai incentivar o furto de energia.
POR QUE NÃO
FUNCIONOU A POLÍTICA DE REDUÇÃO DE CUSTOS DE TARIFA DO PRIMEIRO GOVERNO DILMA?
Não
funcionou porque não se pode, por decreto, revogar a lei da oferta e da
procura. A lei da oferta e da procura na economia é igual à lei da gravidade na
física. Ela baixou a tarifa em um momento em que a demanda estava crescendo
mais do que a oferta. Dilma não acreditou no mercado, que agora está punindo o
país e o consumidor.
QUAL A
DIFERENÇA ENTRE A ATUAL CRISE ENERGÉTICA E A DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE?
AS
DUAS CRISES TÊM MUITA SEMELHANÇA, OCORRERAM POR FALTA DE planejamento. Não se
pode olhar para o setor de energia num país como o Brasil e planejar
simplesmente torcendo para que chova. Não se pode usar como um único
instrumento de planejamento a chuva. Foi um erro comum nos dois casos.
O OPERADOR
NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO PEDE AGORA QUE DISTRIBUIDORAS REDUZAM FORNECIMENTO
DE ENERGIA. ISSO AGRAVA A SITUAÇÃO?
Em
2001, o governo reconheceu que faltou planejamento, criando um comitê gestor da
crise. Chamou todo mundo para conversar e convocou a população para economizar
energia. Isso acabou refletindo na queda de demanda de energia. Não houve falta
de energia, apagão ou blecaute. O país está vivendo agora uma situação
idêntica, mas o governo não reconhece. Ao aumentar a tarifa, tenta reduzir o
consumo de energia. Outra vez, tenta, via aumento de preço, reduzir o consumo
para evitar o apagão físico. A presidente Dilma deveria ir para a televisão em
rede nacional, da mesma maneira que ela foi para falar que reduziria a tarifa
em 20%, e pedir à população para economizar energia.
A PETROBRAS
PERDE VALOR DE MERCADO E O MINISTÉRIO PÚBLICO DIZ QUE A CORRUPÇÃO NA ESTATAL
NÃO FOI ESTANCADA. É POSSÍVEL REESTABELECER A CREDIBILIDADE SEM TROCAR A
DIRETORIA?
A
diretoria da Petrobras já deveria ter sido trocada por ter atingido um nível de
desgaste muito grande. As ações dela vivem um efeito sanfona, aumentando e
caindo bruscamente. A empresa precisa de um choque, de ser refundada. É preciso
trocar a diretoria e o Conselho de Administração e contratar uma consultoria
que ponha em prática uma nova governança.
HÁ SALVAÇÃO PARA
A PETROBRAS?
Há
salvação. A Petrobras ainda é uma grande empresa. PRIMEIRO, tem um quadro de
funcionários de alta qualidade, que não pode ser confundido com o que está
acontecendo. SEGUNDO, a empresa tem a quarta reserva de petróleo do mundo. TERCEIRO,
detém alta tecnologia. Se o governo deixar de usá-la como instrumento para
ganhar eleição, a Petrobras voltará a ser a empresa orgulho dos brasileiros.
DE QUE FORMA O
PREÇO INTERNACIONAL DO BARRIL DE PETRÓLEO AFETA O PRÉ-SAL?
O
preço do barril baixo afeta o pré-sal e todos os investimentos que as empresas
fizeram no chamado petróleo não convencional. É o risco normal de uma
petroleira. O problema da Petrobras é a confusão que estamos vivendo. A gente
tem uma empresa que a auditoria não assina balanço, que está sendo julgada por
órgãos de controle dos Estados Unidos, que não consegue cumprir meta de
produção. O governo precisa mudar a política de petróleo no Brasil, revendo o
modelo da partilha. Temos que acabar com os 30% obrigatórios à Petrobras e com
o monopólio da Petrobras na exploração dos campos. É preciso ter uma regulação
célere. Tem que mudar a regulação para atrair investimentos.
POR QUE O PREÇO
DA GASOLINA CAI NO MERCADO INTERNACIONAL E NÃO CAI NO BRASIL?
Porque
o BRASIL SEMPRE CAMINHA NA CONTRAMÃO DO
MUNDO NA ÁREA DE ENERGIA. Quando
a energia estava subindo no mundo inteiro, no Brasil, por populismo, baixamos o
preço da energia. Agora que o mundo todo está baixando o preço da energia em
função da queda do barril de petróleo, estamos subindo o preço da energia. O
governo tenta ressarcir a Petrobras das perdas dos últimos quatro anos. Quem
paga a conta somos nós consumidores. No Brasil é assim. Quando o barril está
caro, a Petrobras subsidia o consumidor. Quando o barril está barato, é o
consumidor quem subsidia a Petrobras. A presidente Dilma quebrou dois mitos: O DE QUE ERA UMA BOA GERENTE E ENTENDIA DE ENERGIA.
AO MESMO TEMPO, ELA DERRUBOU DOIS ÍCONES DO SETOR DE ENERGIA BRASILEIRO: A
PETROBRAS E O ETANOL (A manchete não faz parte da
entrevista original).
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