Reinaldo Azevedo
Faz 20 dias que Dilma tomou posse; há
menos de três meses, reelegeu-se presidente. No dia em que o país passa por um BLACK
OUT, ordenado pelo Operador Nacional do Sistema, que atingiu 10 Estados, o
ministro da Fazenda, Joaquim Levy — que os petistas dizem ser um neoliberal —
vem a público para anunciar um PACOTE
FISCAL QUE, POR SI, CONFESSA A FALÊNCIA DO MODELO PETISTA. Então ficamos assim: o partido é um
desastre de hardware e de software. Não está equipado para entender o mundo, e
seu sistema operacional é ineficaz para lidar com a realidade. Este 19 de
janeiro entrará para a história como uma espécie de dia-síntese de uma era. O
governo decidiu levar R$ 20,6 bilhões da sociedade para seus cofres. Mirou as
importadoras, o setor de combustíveis e de cosméticos. E também o crédito da
pessoa física. O IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras) passa de 1,5% para
3%. O PLANALTO
RESSUSCITOU A CIDE, O IMPOSTO SOBRE COMBUSTÍVEIS, e aumentou o PIS/Cofins sobre
gasolina —R$ 0,22 por litro — e diesel R$ 0,15. Não se sabe quanto chegará ao
consumidor. Mas chegará. A alíquota desses impostos sobre importados também
será elevada, passando de 9,25% para 11,75%. Finalmente, equiparou, para
efeitos de cobrança de IPI, o atacadista e o produtor da área de cosméticos.
Ah, sim: o Comitê de Política Monetária do Banco Central deve anunciar nesta
quarta a ELEVAÇÃO
DA TAXA DE JUROS em
0,5 ponto percentual, passando a 12,25% ao ano. Como disse Guimarães Rosa, o SAPO PULA POR NECESSIDADE, NÃO POR
BONITEZA. Não
parto do princípio, como normalmente faria um petista se tais medidas fossem
anunciadas por tucanos, de que Dilma age assim por maldade. Mas isso não pode
nos impedir de constatar: AS CONTAS ESTAVAM EM PETIÇÃO DE MISÉRIA, não é mesmo?
A imprensa diz aos quatro ventos que são medidas para recuperar a
credibilidade. Tomara que sim! Uma coisa é certa: SÃO MEDIDAS RECESSIVAS, DE CONTENÇÃO DO
CONSUMO, NUMA ECONOMIA QUE JÁ CRESCEU PERTO DE ZERO NO ANO PASSADO E QUE TINHA
UM CRESCIMENTO PREVISTO NA CASA DE 1% ANTES DA MAJORAÇÃO DA TARIFA DE ENERGIA,
DO REAJUSTE DOS COMBUSTÍVEIS, DA ALTA DA TAXA SELIC, DA CONTENÇÃO DO CRÉDITO E
DA ELEVAÇÃO DOS JUROS DA CASA PRÓPRIA. O governo prometeu fazer um superávit de 1,2% do PIB em 2015 —
R$ 66,3 bilhões. Com o pacote de agora, espera conseguir quase um terço disso.
Já passou a faca em mais de R$ 22 bilhões no Orçamento e espera poupar R$ 18
bilhões com regras mais rígidas para a concessão de benefícios previdenciários
e trabalhistas. O busílis é que elevação de combustíveis e da taxação de
importados também pode pressionar a inflação — que, em tese ao menos, será
contida com juros mais altos e diminuição do consumo. Querem saber? HÁ UM FORTE
CHEIRO DE RECESSÃO NO AR NESTE 2015. Mas, consta, esse pode ser o preço a pagar
para recuperar a tal “confiança” na economia, o que prepararia o Brasil para
crescer. A ser assim, a gente tem uma noção do que o fez o PT, no período, com
essa tal “confiança”. Agora tente explicar, sei lá, a um estrangeiro que não
conheça direito as coisas do Brasil a seguinte equação: O GOVERNO DILMA ESTÁ PONDO EM PRÁTICA
TUDO O QUE JUROU SOLENEMENTE NÃO FAZER — EMBORA, RECONHEÇAMOS, ALGUMAS MEDIDAS
SEJAM NECESSÁRIAS. PIOR: ELA ESCONJUROU ESSAS ESCOLHAS E DISSE QUE ELAS FAZIAM
PARTE DO CARDÁPIO DE SEU ADVERSÁRIO, QUE ESTARIA DISPOSTO A ATENDER AOS
INTERESSES DE BANQUEIROS CÚPIDOS. O MINISTRO QUE ELA CHAMOU PARA IMPLEMENTAR
ESSAS AÇÕES ERA UM ALTO EXECUTIVO DO MAIOR BANCO DO PAÍS E FOI
SECRETÁRIO-ADJUNTO DE POLÍTICA ECONÔMICA E ECONOMISTA-CHEFE DO MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO DO GOVERNO FHC, QUE OS PETISTAS DIZEM SER A FONTE DE TODOS OS
MALES DO BRASIL. Não
pensem que isso é virtude, a síntese que resulta da tese e da antítese. É só a
consumação de um estelionato e mais uma evidência da picaretagem e do atraso da
política brasileira. Antes do apagão de energia, HÁ O APAGÃO DE VERGONHA NA CARA. Não serei refém intelectual de uma
falsa questão: saber se essas medidas são ou não necessárias. Digamos que
sejam. A presidente que venceu a eleição disse que não eram. E é preciso que se
cobre isso dela. (A
manchete e as imagens não fazem parte do texto original).
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