Patrícia Campos Melo
Em Cuba, matar e vender uma vaca pode dar até 18 anos de prisão. Segundo o código penal, trata-se de “SACRIFÍCIO ILEGAL DE
GADO E VENDA DE SUAS CARNES”. O cubano que matar uma vaca sem autorização do
governo, mesmo que o animal pertença a ele (50% das cabeças de gado da ilha são
particulares ou de cooperativas), fica entre 4 e 10 anos atrás das grades. Se
vender essa carne diretamente ao consumidor, no mercado negro, em vez de
repassar ao Estado por preços irrisórios, fica mais 3 a 8 anos preso. Ou seja, QUEM MATA E VENDE UMA VACA EM CUBA PODE FICAR MAIS TEMPO PRESO
DO QUE ALGUÉM QUE COMETE HOMICÍDIO SIMPLES, QUE PASSA ATÉ 15 ANOS NA PRISÃO. Resultado: muitos
cubanos são “criativos”. Alguns amarram suas vacas nos trilhos do trem para que
elas sofram “acidentes” (ainda que possam ser multados por isso). Outros fingem
que o gado foi roubado para poder vender a carne. De qualquer modo, CARNE É ARTIGO DE LUXO. Só turistas, gente que recebe
remessas de parentes ou ganha em dólares consegue comprar. O produto não faz
parte da cesta básica disponível em pesos cubanos. Quem precisa de proteína,
come frango, quando tem, ou apela para salsicha ou um arroz “picadillo” feito
de soja, gordura e miúdos. Até existe carne à venda nas lojas dolarizadas, que
vendem em CUCs, o peso conversível. MAS O PREÇO É PROIBITIVO. O salário médio
em Cuba é de 30 CUC (US$ 33) e o quilo da carne de vaca sai a 12 CUC (US$ 13).
O único jeito é comprar no mercado negro, a 2 CUC o quilo. ISSO IMPLICA MUITAS
VEZES COMPRAR DO PESSOAL QUE CHEGA COM BIFES ESCONDIDOS DEBAIXO DO CASACO, DE
PROCEDÊNCIA DUVIDOSA. “Segurança, educação e saúde aqui em Cuba são
ótimos”, diz o guia turístico cubano Alberto Rodríguez. “Mas não podemos passar
a vida inteira comendo salsicha e picadinho de soja; as coisas precisam mudar.”
A REVOLUÇÃO
ESTÁ RUINDO PELO ESTÔMAGO. E com seu principal patrocinador, a Venezuela,
à beira de um colapso econômico, o governo cubano sabe que não tem tempo a
perder. O timing é perfeito para a reaproximação com os EUA, após cinco décadas
de hostilidades entre os dois países. A
ESPERADA INJEÇÃO DE INVESTIMENTOS NORTE-AMERICANOS É A ÚLTIMA ESPERANÇA DE
SOBREVIVÊNCIA DO REGIME CASTRISTA. Mas o começo do fim do
isolamento de Cuba tem efeitos colaterais: pode adiar ainda mais a abertura
política em Cuba, ao dar um oxigênio extra para o ditador Raúl Castro (As imagens e a manchete não fazem parte do texto original).
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