Carlos Andreazza
Jair Bolsonaro é candidato a
presidente, tem cerca de 15% nas pesquisas e vem de alugar um partido para
concorrer. Nunca, porém, geriu algo que não a vida dos filhos. Precisa, pois,
ser tratado seriamente. Cabe ao jornalismo tirá-lo da bolha tuiteira em que
alguém como ele pode ser considerado solução para o Brasil e lhe franquear
microfones para que fale o que pensa sobre o país.
Urge ouvi-lo sobre o tamanho do
Estado, sobre reformas, sobre economia em geral — suas opiniões conhecidas a
respeito precisam de decodificação antes de poderem ser tidas por alarmantes.
Urge ouvi-lo sobre segurança pública, assunto que — com razão — define (é o
único a fazê-lo) como prioridade e que seu militarismo sugere ser sua
especialidade. Será?
É hora de investigar suas aptidões —
excluída a capacidade, comprovada, de se autopromover como zelador dos costumes
conservadores do brasileiro médio.
Deputado federal desde 1991, mas que
já DEFENDEU O
FECHAMENTO DO CONGRESSO, quer ser presidente (JÁ POSTULOU O FUZILAMENTO DE UM, FHC, POR TER PRIVATIZADO A VALE) empunhando as mesmas bandeiras — de
natureza legislativa — que agita há décadas, o que de prático só resultou em
fama para o agitador. Ou a agenda progressista não terá avançado livremente na
Câmara justo no período mais histérico de Bolsonaro?
Não tendo, pois, conseguido defender
a tradicional família brasileira no Parlamento, o lugar apropriado (onde, no
entanto, acabou ingenuamente emboscado pelo vitimismo de Maria do Rosário), ele
agora pretende levar sua causa ao Executivo, lá onde nada poderia fazer a
respeito — SENÃO POR MEIO DE UMA DITADURA. Como não lembrar, a propósito, que já
elogiou Fujimori por intervir militarmente no Judiciário e no Legislativo
peruanos?
Que eu escreva o óbvio: houvesse uma
direita no Brasil, e Bolsonaro seria nota de rodapé exótica na história. ELE É PRODUTO DA DOENÇA POLÍTICA
BRASILEIRA, indivíduo cujo protagonismo é tão decorrente da miséria cultural em que
se constitui a vida pública entre nós quanto simbólico de um país que se deixou
cuspir aos extremos sem haver cevado o equilíbrio, o dissenso, a própria
matéria com a qual se esculpe uma nação.
Que o militarista estatista Bolsonaro
seja confundido com um conservador é prova de que a esquerda venceu. Que alguém
com o histórico de indisciplina — de desafio à hierarquia — militar de
Bolsonaro, um oficial de carreira sofrível, SEJA TOMADO POR VOZ DAS FORÇAS ARMADAS É SIMBÓLICO
DAS TRÊS DÉCADAS DE SUCATEAMENTO A QUE EXÉRCITO, MARINHA E AERONÁUTICA foram impostos desde o fim do regime
militar.
O autocrata Bolsonaro é obra-prima do
plano de hegemonia esquerdista, aquele que, ao ocupar todos os espaços de
produção-divulgação do pensamento, empastelou a chance de que aqui houvesse um
partido conservador ao menos. O fato de o PSDB ser considerado de direita é
autoexplicativo do modo como as ideias liberais e conservadoras foram excluídas
do debate público brasileiro, deformadas a uma única existência — aceitável porque
útil: a do extremo.
Bolsonaro é útil. Mas não inocente.
Depende da inexistência da direita no Brasil tanto quanto da demonização da
política. CONSTRUIU A PRÓPRIA MITOLOGIA NESSE VÁCUO
DEMOCRÁTICO. Num país desprovido de representação conservadora, aceitou a ponta que
seria dada a qualquer um que não se constrangesse em encenar o papel de
extremista escrito pela narrativa da esquerda. Ele topou; intuiu que, sobretudo
a partir da ascensão do PT, haveria cristãos dispostos a embarcar na conversa
do político que incorporasse o antipetismo. Ele cresceu — cresce — com Lula. LULA TORCE PARA TÊ-LO COMO
ADVERSÁRIO. Um olhar de Geisel para a nação, aliás, une-os.
Da mesma forma que o PSDB é a direita
falsificada pelo establishment, a que faz o contraponto ao PT, a esquerda que
disputa o poder, Bolsonaro é a direita consentida, a extrema, o radical
desejado, necessário ao status quo, o ultrainofensivo, que interdita o
surgimento de uma direita democrática e que legitima a persistência da esquerda
que ainda ousa associar socialismo e liberdade.
Na última quarta, ele votou pela
aceitação da denúncia contra Temer. Sintomaticamente, votou como Jandira
Feghali e Jean Wyllys. Não houve cusparada dessa vez. Nem discurso. Bolsonaro
não homenageou o torturador Ustra nem o ex-deputado Cunha — como quando da
votação do impeachment de Dilma. Naquela ocasião, ele também se manifestara
pelo afastamento de um presidente.
Bolsonaro é assim. NÃO TEM BANDIDO DE ESTIMAÇÃO, embora tenha permanecido por dez
anos no mensaleiro PP. Ele é plano, direto: contra a corrupção; tipo
intolerante a nuances, como só possível a um ser desprovido de lastro
intelectual, incapaz de compreender sequer rudimentarmente o momento histórico.
Como todos aqueles erigidos no barro
do personalismo, é refém da vontade sanguínea dos que o idolatram, daí porque
ora atado à camisa de força do jacobinismo em curso — que a todos iguala com
método, como se entre os políticos criminosos não houvesse aqueles, maiores,
que assaltaram o Estado em prol de um projeto autoritário de poder.
Como todo inflexível em causa própria, ele só
transige — pulando de PP em PSC, de PSC em PEN — SE PARA CULTIVAR A MITOLOGIA SOBRE SI. O PARTIDO
SOU EU — DIRÁ. O HONESTO SOU EU — diz. Logo: e daí que seu voto seja presente aos esquerdistas que
propagandeia combater? É o preço que paga todo arrivista. E ELE SEMPRE
PODERÁ SE ESCUDAR NA CANALHICE SEGUNDO A QUAL VOTOU COMO JANDIRA E JEAN, mas por motivos diversos. É ASSIM, COM PUREZA, COM DISTINÇÃO,
QUE UM MITO PRESTA SERVIÇO AO PT. - A manchete
e a imagem não fazem parte do texto
original -
4 comentários:
EU VOTARIA NELE SIM, BOSTA MAIOR DO QUE JÁ EXISTE
E CIRCULA POR AÍ É IMPOSSÍVEL !!!!!!!!!!!!!!
ANÔNIMO, POR FAVOR!!! VÁ LER UMA GRAMÁTICA DE PORTUGUÊS, ANALFABETO DE PAI, MÃE E PARTEIRA...
JUISO ????????????????? (SIC) BEM SE VÊ QUE É PETISTA !!!!!!!!!
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