Eliane
Cantanhêde
Como a política brasileira chegou a esse fundo de poço? Uma das
origens está em 1994, quando o PT e o PSDB ficaram muito próximos e, depois,
não apenas se separaram como passaram a se odiar. E a se destruir, abrindo
espaço para legendas oportunistas, conchavos escandalosos no Congresso, toda
sorte de desmandos e corrupção. O resultado é o esfacelamento do PT, o imenso
desgaste do PSDB, uma indefinição preocupante para outubro e um exército de
“coxinhas” e “mortadelas” se atacando irracionalmente pela internet, incapazes
de entender que estão entregando o campeonato de bandeja para os reais
inimigos.
O grande líder e candidato do PT está preso, o mais poderoso
ex-presidente do partido acaba de voltar para a prisão com uma nova condenação,
de 30 anos, a atual presidente é alvo da PF e tem horizontes nebulosos no
Supremo. Sem candidato e sem comando, fica difícil fechar alianças e traçar
estratégias. E o tempo está correndo.
TUCANOS EM CRISE – No PSDB, o único candidato de
“centro” com alguma viabilidade não sai do lugar, os ex-candidatos enfrentam
processos graves na Justiça e na próxima terça-feira um de seus ex-presidentes
pode estar a caminho da prisão. E o partido se contorce no eterno dilema de ser
ou não ser qualquer coisa. Uma ala pragmática defende alianças. Seu maior líder
lança manifesto por alianças restritas.
A cada petista enroscado na Lava Jato, o PT reage com o mesmo
refrão: “Mas o PSDB….” A cada tucano enrolado, o PSDB reclama: “Não somos
iguais ao PT…”. O PT só pensa no PSDB, o PSDB só pensa no PT. Enquanto isso, o
inimigo comum Jair Bolsonaro é o segundo nas pesquisas, o ex-PDS Ciro Gomes se
lança como esquerda e cisca à direita e a ex-PT Marina Silva atrai os
perplexos.
VELHOS TEMPOS – Em 1993 e 1994, o PSDB admitia
abrir mão da cabeça de chapa para Lula, então considerado imbatível. Mas o PT,
que é o PT, não retribuiu na mesma moeda quando Fernando Henrique patrocinou o
Plano Real e o jogo se inverteu. O PT, que aceitava de bom grado a aliança a
seu favor, nem sequer considerou ser a favor dos velhos parceiros de combate à
ditadura.
Isso empurrou o governo Fernando Henrique para os braços do então
PFL, hoje DEM, para o PMDB, hoje MDB, e para o desgastante e perigoso jogo do
toma-lá-dá-cá no Congresso. Sem 308 votos na Câmara e 54 no Senado, nenhum
presidente aprova reforma e avanço nenhum. E, quando veio o PT, Lula mergulhou
alegremente nessa farra e ultrapassou todos os limites. Como pano de fundo, a
luta feroz entre petistas e tucanos e o vale tudo nas campanhas, com o
confronto direto entre eles em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, 2014.
ESTREBUCHANDO – O resultado é que PT e PSDB
estrebucham no fundo do poço da política brasileira, enquanto o inimigo comum
esfrega as mãos. O Centrão se prepara para, ou pular no barco vitorioso, ou até
lançar candidatura própria, mas com um objetivo: fazer do próximo governo um
novo refém no Congresso. Nada passa sem DEM, PP, PRB e Solidariedade, que ainda
negociam com PR, PSC e Avante. E eles só crescem…
Em algum momento, alguém precisa dizer ao PT e ao PSDB que um não
é mais o principal inimigo do outro, até porque nunca, jamais, em tempo algum,
os dois estiveram tão fracos e tão sem horizontes com neste 2018 cercado de
incertezas. E de temores. – A manchete não faz parte do texto original -
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