RECÉM-CHEGADO AO CONGRESSO, O CANTOR-DEPUTADO SÉRGIO REIS TENTA SE ADAPTAR AOS COSTUMES DA CASA,
CRITICA O EXCESSO DE BUROCRACIA E ATACA O GOVERNO
Prestes a completar 75 anos, o cantor SÉRGIO REIS voltou a ser
um aprendiz. Há quatro meses batendo ponto em Brasília como deputado federal
por São Paulo, ele ainda está descobrindo como se comportar na Câmara. O
parlamentar do PRB, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, se
queixa do barulho do plenário mas aprova a experiência - tanto que já pensa em
reeleição. Em entrevista ao site de VEJA, Sérgio Reis critica o governo e diz
que o Congresso precisa ser mais produtivo.
COMO É A ROTINA DO
SENHOR? Eu chego a
Brasília sempre terça-feira no início da tarde. Vejo como está o plenário e
passo no meu apart-hotel para me organizar com roupa, essas coisas. Às vezes eu
venho vestido do jeito que eu estou. Dá menos trabalho. Na quinta, pego o avião
de volta.
O SENHOR CONTINUA FAZENDO SHOWS? Faço dois por
semanas, às vezes três. Chegando a dez por mês está bom demais. Está ótimo.
E NÃO SE CANSA? Não. Isso não é novidade. São 50 anos cantando, imagine.
Tem que ter paciência nos aeroportos, porque tem gente de todo o Brasil. Aí
conversam comigo, querem saber como foram as novelas que eu fiz. E é bom porque
o tempo passa e você não sente. O povo fica feliz. Tem artista que vai para a
sala vip, se esconde. Eu não sou tatu para me esconder.
O SENHOR HAVIA SIDO CONVIDADO
A SE CANDIDATAR JÁ ANTES DE 2014. POR QUE SÓ AGORA ACEITOU? Eu pensei melhor e fiz um balanço da minha vida como artista: só
recebi coisas boas. Cinquenta e tantos anos cantando, o povo só me deu carinho.
Falei: "Puxa, está na hora de devolver alguma coisa para esse povo, não é
só cantar bonito para eles". Resolvi dedicar quatro anos da minha vida a
ajudar os parlamentares a criar leis boas, fazer coisas boas para o povo. Então
eu vim para devolver um pouquinho de tudo isso que o povo fez comigo. Está na
hora de eles terem um representante digno, um cara sério como eu, porque comigo
eles sabem que não tem malandragem.
O SENHOR NÃO FOI
CRITICADO POR ESSA ESCOLHA? Toda hora que eu encontro alguém a pessoa diz: "Você é
louco, vai no meio daquele bando de ladrão". E não é assim. Eu ainda falo:
"Não pensa que é moleza lá, não. A gente entra às vezes 11 da manhã no
plenário e sai às duas da madrugada". É muito barulho. Os microfones são
fortíssimos. As vezes o presidente da Mesa não deixa alguém falar e os outros
ficam: "Oh, senhor presidente". Aí fica um daqui, um de lá, é uma
mulher que quer falar, mistura as vozes. Hoje de manhã estava uma loucura. É
estressante e exige muita responsabilidade. Mas eu estou muito feliz. O pessoal
é super carinhoso comigo. Ninguém me chama de Serjão. É "deputado". É
"vossa excelência". No começo eu estranhei. Até o Júlio Delgado, que
é meu amigo há 30 anos, diz: "E aí, deputado, está bom?". Eu me sinto
importante, rapaz. (risos)
O PLENÁRIO TAMBÉM TEM
A TURMA DO FUNDÃO? Tem. O pessoal
conversa, fica de conversa fiada. Eu não. Eu quero prestar atenção, gosto de
saber qual é o assunto. Quero saber por quê.
E A FAMA DE QUE TODOS
OS POLÍTICOS SÃO DESONESTOS INCOMODA? O povo de fora acha que quem está aqui em Brasília é ladrão. E
não é assim. Eu conheço o Alvaro Dias desde quando ele tinha 22 anos. Alvaro
Dias é um senador mas é uma pessoa hiperdecente. Ele é meu amigo. Quando ele
assumiu o governo do Paraná ele acabou com todas as licitações que ele viu que
estavam erradas e os caras foram lá para comprar ele. Eu vi ele pôr dois
advogados para fora na porrada da casa dele. Eu fui fazer um show em Curitiba e
depois fui jantar na casa dele. Quando chegamos no portão dentro do quintal da
casa dele ele estava dando porrada nos dois advogados: "Fora daqui,
bandidos! Vocês não me compram". Aí ele me disse: "Está tudo bem. Vai
lá tomar um uísque que eu já venho". Ele tomou um banho, estava todo
arranhado. Ele tinha rolado com os caras no meio das roseiras. Depois disse:
"Serjão, é brincadeira. O povo não tem vergonha na cara". Estavam
oferecendo 10 milhões de dólares para ele.
MUITOS PARLAMENTARES
ESTREANTES SE SENTEM FRUSTRADOS QUANDO VEEM QUE TÊM POUCO PODER SOZINHOS. O
SENHOR TAMBÉM? É assim mesmo, tem
que encarar. Eu crio alguns projetos para ver se passam. Eu entrei com um
projeto obrigando as empresas de ônibus e aviação a ter uma pessoa para cuidar
dos passageiros. É uma judiação deixar esses velhinhos aí. No aeroporto é muito
comum, às vezes não sabem nem onde é que entra. Outro dia estávamos lá
discutindo o problema do INSS na Comissão de Seguridade. Um deputado que é
médico contou: "Tem um rapaz que eu atendi, ele se enfiou embaixo de um
caminhão com o carro e teve que amputar as duas mãos. Ele pediu aposentadoria.
O INSS não aceitou, disse que ele tem capacidade para trabalhar". Tem
prótese, mas quanto custa uma prótese dessa? Custa 45 mil reais e o INSS não
dá. Então, tem que pegar esse diretor do INSS e falar: "Vem cá, vou cortar
suas mãos para ver o que você vai fazer".
EXISTE UM EXCESSO DE
BUROCRACIA EM BRASÍLIA? É a burrocracia .Tudo aqui é devagar. E eu, como sou muito
prático, não gosto de atraso. Então é duro: hoje estavam discutindo uma tese
que é de 1995. O que é isso? Onde nós estamos? Agora é que estão votando. Pelo
amor de Deus, põe fogo em tudo e começa tudo de novo. Tem que ser assim: entrou
o projeto, vota. Rejeita ou aceita, mas vota na hora.
A CÂMARA PRODUZ POUCO
CONSIDERANDO O CUSTO DE FUNCIONAMENTO? Deveria produzir mais, com certeza. Ou então ter dois plenários
desses de 500 deputados. Põe 1000, mas sai. Só que encarece tudo.
ALÉM DA
IMPRODUTIVIDADE, O QUE INCOMODA O SENHOR? O que mais cansa aqui é aquele pessoal que vem pedir:
"Sérgio, assina aqui". É um tal de assina aqui, assina lá. Eu digo
que a última vez que eu assinei sem ler, eu casei. (risos). Nós tivemos uma
reunião do nosso partido lá embaixo, onde é o nosso escritório central. O Celso
Russomanno disse: "Olha, vocês não votem nem impeachment da
Dilma e nem CPI da Petrobras". Eu peguei e falei: "Celso, acabei de
votar lá fora". Ele respondeu: "Você não podia fazer isso". Ele
continuou: "Você não devia". Eu finalizei: "Devo".
O SENHOR ESTÁ DIZENDO
QUE ASSINOU O REQUERIMENTO DE CRIAÇÃO DA CPI? É. Fui o primeiro da lista. Aí ele me chamou a atenção e eu
falei "Celso: vocês têm coligação com o PT, eu não tenho nada com isso. Eu
voto naquilo que eu achar bom para o meu povo. Eu quero saber onde está o meu
dinheiro. Esse dinheiro é meu, é teu, é de todos aqui. Tiraram aquela tia lá da
Petrobras, puseram o cara do Banco do Brasil que também tem a vida suja, e cadê
o dinheiro? Ninguém vai trazer o dinheiro de volta? Mas o Celso falou:
"Serjão, toda vez que vier para você assinar desses aí, fala: 'O meu líder
assinou?' O que eu não assinei você não assina'". Agora eu faço isso.
JÁ SABE QUANDO FARÁ O
PRIMEIRO DISCURSO EM PLENÁRIO? Não tenho previsão, não tenho pressa. O pessoal vai lá para o
plenário porque eles querem mostrar para o povo deles que eles estão
trabalhando. E eu estou cansado de trabalhar em televisão (risos). O povo já
sabe quem sou eu.
O QUE O SENHOR PENSA
SOBRE A PROPOSTA DE REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL? De forma geral, a lei é muito frouxa. Acho que nós deveríamos
olhar para os Estados Unidos e aproveitar alguma coisa deles. Lá, se o menor
matar vai para a cadeia, não tem conversa. Não tem negócio de idade. Se ele tem
força para puxar um gatilho vai para a cadeia. Aí entram os direitos humanos.
Mas na hora em que um bandido desses matar um filho de um senhor dos direitos
humanos, quero ver o que ele vai fazer. Vai ver como dói no coração. Vai ver se
é bom deixar bandidos soltos. Nós não vamos ter espaço para tanto preso, mas
tem que construir. Pode começar já. Não uma cadeia fechada, mas algo para eles
trabalharem e se recuperarem.
A CORRUPÇÃO AUMENTOU
NOS ÚLTIMOS ANOS OU É A PERCEPÇÃO DAS PESSOAS QUE MUDOU? É difícil medir.
Como a gente iria adivinhar que esse pessoal do esporte mundial mexia com tanto
dinheiro? O Ricardo Teixeira movimentou 464 milhões. É brincadeira, né amigo?
Ainda o Pelé vai lá e fala bem dele. Pô, Pelé, acorda! Ele está la dentro e não
sabe? Não pode ficar fazendo média com amigo. Se o amigo roubou vai pra a
cadeia. Como é que você vai apoiar um cara que rouba o próximo, do jeito que
está o país. É aí que eu não sei como é que o Lula dorme, a Dilma dorme, como é
que esse pessoal do PT que administra o país dorme. Eu estava vendo uma reportagem
sobre uma cidade lá no interior do Piauí que nunca viu luz elétrica. Não cabe
no século XXI ter o dinheiro que nós temos e a moça passando o ferro como minha
avó passava 80 anos atrás, com carvão. Não é um ser humano quem administra o
Brasil assim. Desculpem, mas um ser humano normal não deixaria acontecer uma
coisa dessas. E isso acontecia mesmo antes do PT.
O SENHOR VAI TENTAR A
REELEIÇÃO? De repente eu
busco a reeleição. Por que não? E venho morar aqui. A Ângela (mulher do
deputado) adora Brasília, eu estou gostando também. Aí mudo de vez, eu vendo o
que nós temos lá e venho para cá. Termino minha vida de velho aqui. Eu nunca
gostei de Brasília porque falava: "Aqui tem muito homem de preto para o
meu gosto". E agora eu estou de preto. Paguei a língua. – Revista
Veja.
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