Josias
de Souza
Os políticos testam cotidianamente os limites de até onde podem
ir no desafio à paciência da opinião pública. É como se enxergassem a própria
desfaçatez como um teste de resistência para descobrir o ponto exato que
antecede a ruptura do saco nacional. Pois bem, o Datafolha sinaliza que, depois
da tempestade da Lava Jato, vem a cobrança. Quem não prestar atenção aos dados
se arrisca a descobrir o ponto do estouro apenas quando não adiantar mais nada.
Os brasileiros parecem rejeitar a ideia de que o político que
‘rouba, mas faz’ mereça algum tipo de condescendência. A maioria (62%) disse
acreditar que a corrupção é mais ruinosa para o país do que a incompetência.
Para 80%, a corrupção é inaceitável em qualquer circunstância. E 74% rejeitam a
tese segundo a qual ''se um governante administra bem o país, não importa se
ele é corrupto ou não.''
Fulanizando a sondagem, os pesquisadores descobriram que 89% dos
entrevistados declaram-se a favor de que a Câmara autorize a abertura de
processo contra Michel Temer por formação de organização criminosa e obstrução de
justiça. E 54% AVALIAM QUE
OS FATOS REVELADOS PELA LAVA JATO SÃO SUFICIENTES PARA JUSTIFICAR A PRISÃO DE
LULA, CONDENADO POR SERGIO MORO A NOVE ANOS E MEIO DE CADEIA.
Preocupados em salvar o próprio pescoço, os políticos demoram a
perceber que o sistema que os fabricou morreu. O comportamento de risco e a
tendência à autodesmoralização levaram o modelo ao suicídio. A morte poderia
ser um enorme despertar. Mas a plateia exala pessimismo.
A despeito de a maioria desejar a prisão de Lula, 66% acham que
o pajé do PT não será passado na tranca. Embora a corrupção desperte aversão
crescente, apenas 44% dos brasileitos acham que a roubalheira diminuirá. Para a
maioria (53%), o assalto ao bolso do contribuinte continuará do mesmo tamanho
(44%) ou maior (9%) nos próximos anos.
A sensação de que a política precisa de uma faxina cresce na
proporção direta da diminuição da disposição dos políticos de se
auto-higienizar. O sistema guerreia pela preservação dos seus valores mais
tradicionais: o suborno, o acobertamento, o compadrio, o patrimonialismo, o
fisiologismo. O BOM SENSO
RECOMENDA A INTERRUPÇÃO IMEDIATA DO TESTE DE PACIÊNCIA. O PONTO DE RUPTURA PODE
ESTAR PRÓXIMO. O DIABO É QUE CULPADOS E CÚMPLICES DEMORAM A PERCEBER QUE JÁ
ENCHERAM O BASTANTE.
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