TEMER É UM POLÍTICO, NÃO UM POSTE QUE UM MESSIAS DECIDIU UNGIR À CONDIÇÃO DE “FILHA DE DEUS”, COMO LULA FEZ COM DILMA. DADAS AS CONDIÇÕES DO PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO, O PRESIDENTE SEMPRE SOUBE QUE MANTER A BASE DE APOIO CORRESPONDE A GARANTIR A GOVERNABILIDADE.
Reinaldo Azevedo
O clima de
denuncismo permanente, com ou sem motivos, com ou sem crime, com ou sem
criminosos, tem-nos impedido de ver com a devida justeza o trabalho que tem
feito o presidente da República. E observo de saída: não vou aqui atribuir a
Michel Temer características de super-homem, AQUELAS QUE LULA
GOSTAVA QUE LHE RECONHECESSEM E QUE VIA EM SI MESMO COM FREQUÊNCIA DIÁRIA. OU VÁRIAS VEZES
POR DIA. Como esquecer aqueles discursos em
que o petista parecia empenhado em despertar inveja até em si mesmo? Costumava
dizer aqui que o Lula de verdade chegava a ter ciúme do Lula de ficção, que ele
próprio havia criado e que setores da imprensa incensavam.
Não! A
especialidade de Temer está justamente em se portar como um homem comum e em se
deixar pautar, permanentemente, pela temperança. Falemos de outra ocupante
daquela cadeira. DILMA CAIU TAMBÉM PORQUE COMETEU CRIME
DE RESPONSABILIDADE, SIM! SEM ELE, DEUS DECIDIU NOS GUARDAR, ELA
TERIA CONTINUADO NO CARGO, E NÓS ESTARÍAMOS NA LONA. Tal transgressão
foi condição necessária de sua queda, mas não era condição, por si, suficiente.
ELA NÃO CONSEGUIU MANTER O APOIO DE
MÍSEROS 172 DEPUTADOS. Bastava isso.
Temer é um
político, não um poste que um Messias decidiu ungir à condição de “FILHA DE
DEUS”, como Lula fez com Dilma. Dadas as condições do presidencialismo de
coalizão, o presidente sempre soube que manter a base de apoio corresponde a
garantir a governabilidade. E, no caso, as articulações de bastidores são,
obviamente, importantes. Mais importante do que isso, no entanto, são as
qualidades subjetivas do líder: calma, temperança, lucidez, frieza, cálculo —
no sentido mais virtuoso que pode ter a palavra.
Ao ler isso,
jornalistas formados na escola do denuncismo petista e, nos últimos tempos,
embalados pela suposta pureza do PSOL — podem gargalhar — se agitam. E
perguntam cheios de indignação: “Como, Reinaldo Azevedo? Você está dizendo que
o presidente se livrou das duas denúncias em razão de suas virtudes, não porque
abriu as burras do governo e comprou o voto desse e daquele?” Acredito, sim, na
justa indignação. Mas é preciso tomar um cuidado danado com essa reação.
Costuma margear o ressentimento sem substância.
Venham cá: se um
presidente cai ou não cai em razão da compra de votos, seria o caso de
perguntar, então, por que Dilma foi impichada, não? ALGUÉM SE DISPÕE A DEFENDER A TESE DE QUE
ELA SÓ PERDEU O MANDATO PORQUE SE NEGOU A IR À FEIRA DE CONSCIÊNCIAS? Alguém se dispõe a demonstrar que, com ela,
vigorou na seguinte sentença moral: “Entre ceder à pressão dos senhores
parlamentares e perder a Presidência, fico com a segunda opção”. Ora, tenham a
santa paciência! RESPEITEM, UM TANTINHO AO MENOS, A
NOSSA INTELIGÊNCIA.
As duas
denúncias contra o presidente são PEÇAS PORCAS DO DIREITO. Qualquer pessoa
versada na área ou que se interesse pelo assunto lê os libelos acusatórios de
Rodrigo Janot constrangido pela chamada “VERGONHA ALHEIA”. É uma barbaridade
que aquilo tenha prosperado. Mais: abundam as provas — e, até agora, sem
consequências — das ilegalidades cometidas no âmbito da Procuradoria Geral da
República. Portanto, a recusa àquelas duas monstruosidades está em linha com o
melhor exercício do direito, sim.
Mas é evidente
que o presidente precisou negociar. Os que deram aos deputados a chance de
dizer se Temer ficava ou saía também lhes forneceram instrumentos para
pressionar o governo. E, SE QUEREM
SABER, ISSO É PARTE DO JOGO POLÍTICO. O diabo é que,
hoje em dia, a política ela-mesma virou alvo da pistolagem supostamente
moralizadora, que não passa de moralismo barato, tendente a agredir o próprio
regime democrático.
Temer segue no
cargo porque não se deixa mover pelo rancor. No dia seguinte àquele em que a segunda
denúncia seguiu para arquivo e em que o presidente passou algumas horas
internado, com a banda podre da imprensa a lhe preparar as exéquias, faz um
pronunciamento em que exalta a normalidade institucional e as boas notícias,
que são reais, na área econômica. Nesta quinta, já estava cuidando da reforma
da Previdência. Difícil? Difícil. MAS NÃO SERÁ POR
FALTA DE EMPENHO DO PRESIDENTE QUE ELA FICARÁ PELO CAMINHO.
Poucos
políticos, e não consigo pensar em nenhum outro, demonstrariam tal resiliência.
ATRAVESSOU O DESERTO. E isso basta para concluir que está mais forte do que
antes. Não! Ele não está na Presidência porque compra votos ainda que os
comprasse. Está na Presidência porque faz política e porque aposta no
fortalecimento das instituições, não na sua demolição.
Ao Ministério
Público Federal cumpria apresentar provas das denúncias que fez. Não
apresentou. Em vez disso, ficamos sabendo de todos os crimes que foram
cometidos para tentar derrubar o presidente. TEMER TEVE, SIM,
UMA VITÓRIA PESSOAL. MAS QUEM VENCEU MESMO FOI A DEMOCRACIA.
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