sexta-feira, 13 de outubro de 2017

HÁ UM QUARTO DE SÉCULO MORRIA UYSSES GUIMARÃES



12 DE OUTUBRO DE 1992 O DEPUTADO ULYSSES GUIMARÃES MORRERIA A BORDO DO HELICÓPTERO QUE O TRANSPORTAVA DE UMA PRAIA DE ANGRA DOS REIS PARA SÃO PAULO. COM ELE, ESTAVAM DONA MORA, SUA MULHER, E O CASAL DE AMIGOS MARIETA E SEVERO GOMES, ALÉM DO COMANDANTE DA AERONAVE JORGE COMERATTO, TAMBÉM FALECIDOS. O PAÍS PERDIA UM DOS MAIS IMPORTANTES POLÍTICOS DE SUA HISTÓRIA.
Orlando  Brito
Sempre fiquei preocupado com o caráter premonitório de algumas fotos que fiz. Mas esta de Ulysses tirou-me o sono por várias noites. O dia 6 de outubro de 1992 foi daquelas terças feiras de pouco movimento no Congresso. No fim da tarde, quando eu voltava para a redação de Veja e descia a escada do Salão Verde da Câmara para o térreo, reparei que a luz do outono brasiliense estava como sempre majestosa. O sol, na altura do horizonte, invadia o andar térreo com uma réstia de raios cristalinos.

Minha saída coincidia com a surpreendente chegada do doutor Ulysses. Ele parou em frente do elevador privativo aos parlamentares para responder a uma pergunta do jornalista Ivanir Bortot, à época da Gazeta Mercantil. Do lugar onde eu estava, no contra-luz, vi a silhueta de Ulysses contornado pelos raios de luz. Quatro fotogramas. Embora naquela época não tivéssemos ainda o processo digital, eu sabia que tinha “acertado em cheio” na luz. Tinha certeza que o filme iria reproduzir exatamente o que comandei na câmara.

Confesso que a imagem me impressionou. Era forte, tinha algo de estranho e inquietante. Um pouco de serenidade e muito de incerteza. Seis dias depois, a trágica notícia do desaparecimento de Ulysses no fatídico voo de helicóptero no mar de Angra dos Reis.

Constatada sua morte, evidentemente, virou capa da revista. Falei com Mário Sérgio Conti, editor-chefe da Veja àquela época, recomendando que resgatasse, em São Paulo, o tal cromo, o filme que eu havia enviado horas depois de fazer aquela foto. Enfim, essa imagem que tanto me chamou a atenção foi para a capa da revista. Depois virou monumento em uma praça de Campinas.

Por força do convívio de anos na cobertura da política, assim como outros colegas acabei me aproximando bastante do doutor Ulysses Guimarães. Fiquei bastante entristecido, evidentemente. Mais que isso, caí em profunda reflexão. Recebi inúmeras cartas de leitores da revista. Uma delas trazia uma pergunta que até hoje não consegui resposta: como se sente um jornalista diante da dor dos outros. Incrível!



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