quarta-feira, 1 de maio de 2019

HOMEM HONRADO NÃO É ESPÉCIE EXTINTA


Augusto Nunes
Sergio Moro encerrou prematuramente a vida de magistrado para comandar o Ministério da Justiça e da Segurança Pública por acreditar que, no novo cargo, disporia dos instrumentos legais necessários para intensificar o combate à corrupção cinco estrelas e, simultaneamente, desencadear a guerra inadiável às organizações criminosas que controlam o sistema penitenciário, o tráfico de drogas e o contrabando de armas. Amparado nas promessas de Jair Bolsonaro, avalizadas pelo ministro Paulo Guedes, Moro precisou de poucas semanas para redesenhar o perfil do ministério, montar uma equipe altamente qualificada e apresentar ao país a chamada Lei Anticrime.
A reação da bandidagem com foro privilegiado foi imediata. Deputados e senadores na mira da Lava Jato sempre tiveram seu grande Satã no juiz que personificava a mais bem-sucedida operação anticorrupção da história. O presidente da Câmara, por exemplo, adiou por prazo indeterminado o exame, nas comissões e no plenário, da Lei Anticorrupção. Ao pedir mais pressa, Moro foi qualificado por Rodrigo Maia de “funcionário de Jair Bolsonaro”. Ao tentar avançar pela rota do Senado, o ministro não demorou a perceber que está lidando com um bando também ansioso por desidratar o projeto.
É nesse quadro que se insere a tentativa de retirar do ministério de Moro o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ─ órgão cuja atuação ampliou notavelmente a eficácia da Lava Jato. Sem o apoio ostensivo do presidente da República e do governo, sob o olhar omisso de parlamentares que se elegeram incensando o condutor da Lava Jato, o ministro luta praticamente sozinho para manter hasteada uma das principais bandeiras eleitorais de Jair Bolsonaro.
Conheço suficientemente Sergio Moro para afirmar que ele deixará o ministério se o projeto que concebeu sofrer lesões profundas durante os trabalhos de parto. Tampouco será silenciado pela oferta de uma vaga no Supremo. Pouquíssimos habitantes do mundo político brasileiro acreditam na existência de homens honrados. Moro provará que a espécie não foi extinta.

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