Guilherme Fiuza
Como a campanha presidencial no
Brasil ainda não começou e não tem hora para começar (possivelmente isso se
dará uns 15 dias antes da eleição, quem sabe), trazemos notícias quentes da
corrida eleitoral no Mundo da Lua – esta, sim, pegando fogo.
Você não vai acreditar: lá tem
candidato a presidente que está preso por provocar O MAIOR ECLIPSE DE DINHEIRO PÚBLICO DA HISTÓRIA, e os lunáticos (eleitores do Mundo da Lua) discutem
normalmente suas chances de voltar ao governo. O pessoal de lá não tem
preconceito contra GRADES.
O principal combustível do
presidenciável em situação de xadrez é a concorrência de um candidato caricato
de direita (ser “de direita” já é uma caricatura em si, assim como ser “de
esquerda” – dicotomia muito eficiente para esconder quem você é, ou quem você
nem chega a ser). O tal brucutu caricato, facilmente rotulável como filhote da
ditadura, ressuscita o delinquente preso como salvação “de esquerda” contra o
autoritarismo.
Não é incrível a novela eleitoral
lunar?
Pois bem: com todas aquelas crateras
administrativas para resolver, a Lua está há mais de um ano debatendo, ou
melhor, se debatendo entre essas caricaturas – que dominam AS PESQUISAS ELEITORAIS FEITAS SOB MEDIDA PARA CULTIVAR A MIRAGEM.
Aqui na Terra não tem nada disso.
Onde não existe campanha eleitoral, não existe ilusão de ótica.
Continuemos então com a efervescente
corrida dos lunáticos. Em sabatinas emocionantes, entrevistadores encurralam os
candidatos para saber se seus penteados são de direita ou de esquerda, se eles
têm preconceito contra gordos e feias, se o fake é trans ou o trans é fake. Não
tem para onde correr. O desassombro dessa gente desafia até tabus históricos,
como o segredo milenar sobre se o messias era ou não era um refugiado.
Você pode imaginar que o candidato
que passa por uma sabatina dessas sai do estúdio pronto para governar o Império
Romano.
A festa eleitoral na Lua tem tipos
impagáveis. O mais ousado roteirista de Hollywood não seria capaz de inventar
um debate político dominado em boa parte do tempo por um mitômano. É ou não é
excitante? Pois no Mundo da Lua isso é real e esse personagem existe em carne,
osso e sotaque sertanejo (o sertão lunar é similar ao nosso, e seus salvadores
também vivem à beira-mar).
Como todo falsário intelectual, o tal
mitômano conta com plateias dóceis para fazer sentido com seus disparates
altamente lógicos. Ele explica por exemplo que a Previdência lunar não tem
déficit – a única do Sistema Solar que não se desequilibrou com o envelhecimento
populacional.
Pode parecer estranho, mas na
matemática poética do catedrático de mesa de bar todas as contas fecham.
A vantagem de ser candidato no Mundo
da Lua é que não interessa o que você já fez na vida (o que significaria um
risco real de dar a conhecer quem você é, de quem se cerca e o que de fato
representa). Nada disso. O Mundo da Lua se interessa pelo que você fala – e aí
basta ter uma razoável milonga para ir longe, e até disputar sucessivas
eleições presidenciais sem ser interditado por plagiar o seu próprio truque.
A fanfarra eleitoral do Mundo da Lua
não discrimina ninguém – tanto que esses repentistas surrados convivem numa boa
com os novíssimos paraquedistas de Marte.
Os marcianos paraquedistas são
personagens fresquinhos que acabaram de chegar, de banho tomado e cabelo
molhado, com nojo da política e de tudo aquilo que precede a chegada deles
anteontem. Se um milagre da natureza se consumar na sua frente, eles virarão a
cara, explicarão que a natureza é velha e a realidade vai ter que comer muito
arroz com feijão para estar à altura da sua cartilha.
E TEM CANDIDATA QUE NÃO É DE MARTE,
MAS TAMBÉM É VERDE, E SEMPRE RESSURGE COMO VELHA NOVIDADE. MANEJA CONCEITOS
PERFEITOS PARA O MUNDO DA LUA – QUE VENERA A ELOQUÊNCIA DO VÁCUO – COMO
“DEMOCRACIA DE ALTA INTENSIDADE” E OUTROS QUE FARÃO QUALQUER GOVERNO DECOLAR.
Por trás desses 50 tons de verde
(incluindo oliva) estão economistas conceituados – no fundo, as figuras mais
exóticas de lá – que mergulham nesses saraus poéticos fantasiados de gurus
políticos. Eleição na Lua é como Carnaval – você pode se travestir como quiser
e se atracar com quem bem entender, que nas cinzas te perdoam tudo.
Todo mundo se dá bem nessa roda de
samba lunar: candidatos fanfarrões ganham aura de seriedade com a etiqueta de
economistas solenes, que ganham publicidade pegando carona na fanfarra dos
candidatos. E, como se sabe, lavou, tá novo.
O país, ou melhor, o satélite que se
dane. Quem mandou confundir palanque com picadeiro? Veja como o eleitor do
Mundo da Lua é trouxa: candidatos que pregam a segurança e a
ordem insuflaram uma paralisação geral da sociedade, transformando-a em
Venezuela por duas semanas – com barricadas, desabastecimento, perda de
liberdade, sofrimento, empobrecimento e colapso – e foram saudados como arautos de uma revolução
moralizadora!
Só mesmo no Mundo da Lua.
Aqui da Terra, onde um escárnio
desses jamais ocorreria, só podemos ser solidários e bradar aos irmãos em
órbita: Lua livre!
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