Jorge Oliveira
Li e reli algumas entrevistas de
Rodrigo Janot nos últimos dias. Confesso que nada do que ele disse me
tocou, me sensibilizou em relação ao seu trabalho na procuradoria. O
procurador-geral da República tem falado friamente sobre os fatos que
ocorreram na sua gestão à frente do órgão e em nenhum momento puxou para
si a responsabilidade de apurar os crimes da dupla Lula/Dilma. Fez-se
distante dos males que os dois causaram ao país, ao contrário do juiz
Sérgio Moro que condenou o ex-presidente a nove anos e meio de cadeia.
Janot falou do Temer, do Aécio e do procurador Ângelo Goulart, olheiro
dos irmãos Batista, preso. Recusou-se a se defender das insinuações que
Temer fez de que ele estaria na caixinha da JBS, acusação grave que
teria merecido dele uma resposta à altura de quem não tem culpa no
cartório. Mas o que se viu até agora foi um silêncio inexplicável de
Janot.
Na entrevista ao Estadão, o
procurador faz cara de paisagem para os malefícios que a dupla
Lula/Dilma causou ao país. Em nenhum momento isto o motivou a investigar
os petistas que saquearam os cofres públicos, pois para ele o país só
começou a ficar pervertido depois que o Temer assumiu o poder e o Aécio
pediu R$ 2 milhões de reais ao Joesley, da JBS. Ora, doutor Janot, o
senhor sabe muito bem que quase no final dos seus trabalhos houve uma
turbulência dentro do próprio Ministério Público. Muitos dos seus
auxiliares – que preferem o anonimato – não gostaram que Vossa Senhoria
tivesse dado um salvo conduto aos irmãos Batista em troca da delação
premiada.
Quando o senhor diz que uma das
condições dos Batista para delação era o perdão total dos crimes, que
eles não abriam mão dessa imunidade, está fazendo uma confissão de
leniência. Trocando em miúdos: o senhor quer dizer que nem a Polícia
Federal e nem os seus procuradores teriam condição de levar a fundo as
investigações? É isso? Ora, sabemos todos que a PF está aparelhada
tecnicamente para descobrir crimes financeiros como poucas polícias do
mundo. E os seus procuradores também estão na mesma condição de
eficiência. Portanto, as suas afirmações, doutor Janot, são frágeis, não
se sustentam.
O senhor esteve com a mão na
botija para chegar aos verdadeiros chefes da organização criminosa no
Brasil, sob a orientação dos irmãos Batista, e deixou escapar essa
grande oportunidade porque considerou que a gravação, a mala do assessor
do Temer, e a gorjeta milionária do Aécio eram revelações suficientes
para encerrar as investigações. Os irmãos Batista, senhor Janot,
enrolaram o senhor e seus auxiliares. Eles são hábeis negociantes. Não à
toa, em pouco mais de dez anos, deixaram seus açougues na periferia das
cidades de Goiás para se transformar em bilionários internacionais.
Com a conversa fiada de que o
Brasil precisaria de multinacionais no exterior, eles também enrolaram
os dirigentes do BNDES e de lá sacaram bilhões para comprar empresas com
o nosso dinheirinho e gerar renda e emprego lá fora. Os que não foram
iludidos passaram a receber propinas como intermediários das transações
para facilitar as negociatas dos irmãos Batista. Entendeu, doutor Janot?
Veja agora os fatos atuais: com a
prisão de Geddel, os brasileiros sabem agora que os irmãos Batista
fizeram da Caixa Econômica Federal um covil de bandidos. Do banco, eles
sacaram mais de 2 bilhões de reais para comprar a Alpargatas, aquelas
das sandálias havaianas. O Geddel era vice da CEF à época. Descobre-se,
agora, que ele facilitou o negócio ao preço de 20 milhões de reais de
propina, como denunciou o doleiro Lúcio Funaro em delação premiada. A
pergunta é: os Batista, quando fizeram a delação premiada, contaram essa
historinha para o senhor e seus procuradores? Claro que não, doutor
Janot.
Cercado por denúncias de todos
os lados, os Batista anunciaram agora a venda da Alpargatas para dois
grupos econômicos por R$ 3,5 bilhões. Que grande negócio, hein? Que
lucro fabuloso para quem apenas transferiu uma bolada de dinheiro de um
banco público para comprar uma nova empresa sem precisar mexer um tostão
das suas economia.
Pois é, doutor, outros crimes
dos irmãos Batista vão começar a aparecer. E serão tantos e tantos que o
senhor lá na frente vai ser chamado de ingênuo e os ministros do STF de
bobos da corte, pois foram induzidos a ratificar o acordo de delação
dos Batista que agora gozam de imunidade plena.
Doutor Janot, se Al Capone fosse
vivo, ele e a sua turma de mafiosos seriam estagiários nas empresas dos
Batista. Aprenderiam, na bíblia dos irmãos goianos, que o crime no
Brasil compensa, mesmo quando os delinquentes são flagrados com os
bilhões de reais dos cofres públicos nos bolsos.
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