Ricardo Noblat
Foi tudo pensado e discutido à exaustão com a
direção do partido, advogados de defesa de Lula e com o próprio Lula. Começou
quando na semana passada, por meio de um amigo comum, o desembargador Rogério
Favreto AVISOU ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS) QUE SERIA O RESPONSÁVEL NO FIM
DE SEMANA PELO PLANTÃO do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto
Alegre.
Favreto e Pimenta são amigos de longa data. O
desembargador foi filiado ao PT durante 19 anos e fez sua carreira à sombra do
partido. Conheceram-se em Porto Alegre, Favreto como advogado, Pimenta como
prefeito de Santa Maria e depois como deputado estadual. Voltaram a se
encontrar em Brasília – Favreto como assessor de Lula presidente, Pimenta como
deputado federal.
O aviso da Favreto para Pimenta embutia a
sugestão de que ele, como plantonista, acataria um pedido de habeas corpus para
soltar Lula. Pimenta, primeiro, conversou a respeito com o deputado Waldih
Damous (PT-RJ). Depois com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Os dois aprovaram
a ideia. A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do partido, foi consultada em
seguida e, de início, hesitou. Seria uma jogada arriscada.
De todo modo, segundo Gleisi, nada poderia ser
feito sem que antes fossem ouvidos alguns dos advogados que defendem Lula e naturalmente
o encarcerado. Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, seu genro, DERAM SEU AVAL À
TRAMA. Não se associariam a ela porque são autores de outras ações que pedem a
libertação de Lula e que tramitam em tribunais superiores. Pegaria mal para
eles. E duvidavam do sucesso da trama.
Submetido o assunto ao exame de Lula, primeiro
ele disse não. Achava impossível que um simples despacho de um desembargador de
plantão fosse capaz de tirá-lo da cadeia. Mas depois de horas de discussão com
Gleisi e com os advogados, acabou convencido de que pouco teria a perder. Se
ficasse solto por algumas horas, teria tempo para gravar vídeos a serem
divulgados quando voltasse a ser preso.
De resto, uma eventual soltura, mesmo que
revogada depois do fim do plantão de Favreto, SERVIRIA PARA DESGASTAR A IMAGEM
DA JUSTIÇA E REFORÇAR A DELE, de perseguido por ela. Como é possível que a
Justiça libere tantos condenados, mande para prisão domiciliar tantos outros, e
somente ele continue preso? – perguntou-se Lula. É um falso argumento, esse,
mas à história do golpe tentado pelo PT não importa.
Meia hora depois do início do plantão de
Favreto na última sexta-feira, Pimenta, Damous e Teixeira protocolaram no
tribunal o pedido de liberdade de Lula. No dia seguinte, ficaram sabendo que
Favreto aprontara seu despacho, mas que preferira só enviá-lo à Polícia Federal
no domingo de manhã cedo. Antes das 10h do domingo, uma cópia do despacho foi
levada em mãos para Lula.
A notícia de que Lula seria solto só se tornou
pública por volta do meio-dia. Àquela altura, O CONTRAGOLPE JÁ ESTAVA EM
MARCHA. De férias em Portugal, o juiz Sérgio Moro telefonou para o delegado da
Polícia Federal em Curitiba e disse que não era para soltar Lula. Acionou o
ministro Thompson Flores, presidente do tribunal, que por sua vez informou a
Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública, que Lula permaneceria preso. O
resto é história conhecida.
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