André Gonçalves
Os deputados petistas Wadih Damous e Paulo Pimenta protocolaram cirurgicamente, às 19h32 de sexta-feira (6), o pedido de libertação de Lula. Duas horas e meia antes, o Brasil era eliminado da Copa do Mundo. Às 19 horas, começava o plantão do desembargador Rogério Favreto, um ex-filiado PT e ex-funcionário do segundo mandato da gestão Lula, responsável pela análise do caso.
A confluência de um país de ressaca moral com uma singular janela de oportunidade jurídica provocou um novo tsunami político no país. Neste domingo (8), às 9h05, Favreto acatou o pedido. E os protagonistas do cenário nacional dos últimos três anos voltaram à cena de uma hora para outra: Lula, Sergio Moro, João Pedro Gebran Neto, Cármen Lúcia, Movimento Brasil Livre e, secundariamente, todos os pré-candidatos a presidente (de Jair Bolsonaro a Marina Silva).
Moro foi o primeiro a reagir. De férias, emitiu um despacho que descreveu Favreto como “autoridade absolutamente incompetente” para soltar o ex-presidente. Na sequência, foi a vez do relator da Lava Jato no TRF-4 João Pedro Gebran Neto chamar o caso para si.
Só essas duas reações foram consideradas uma vitória por petistas. A tese oculta deles é que Moro e Gebran morderam a isca. Reforçaram a narrativa de que o ex-presidente é um perseguido e que, agora, o país tem um juiz para contrapor a dupla (e mais outros vários magistrados pelas cortes do Brasil afora).
O país voltou a falar sobre Lula, preso há três meses em Curitiba, e o argumento acatado por Favreto abraça especialmente o fato de o petista ser pré-candidato a presidente. O reforço à percepção positiva de que o circo voltou a pegar fogo é arriscada. Politicamente, o PT fala aos convertidos, estimula lulistas que vinham desanimados pelo baile que vinham levando dos últimos meses no Judiciário.
O outro lado da moeda é a fragilidade desses argumentos para aqueles que não engolem com farinha o oba-oba sobre Lula. A soma das ações concatenadas de petistas encerra uma equação que tem como resultado o cheiro e o gosto de uma coisa só: marmelada. Mesmo que a jogada acabasse com a soltura de Lula, a composição da história como um todo seria muito difícil de ser sustentada na campanha, que começa para valer no mês que vem.
Isso sem contar o fato de que seria muito provável que o próprio TRF-4 (ou tribunais superiores como STJ ou STF) desfizesse a libertação ainda nesta semana.
Se a marmelada saísse da panela, Lula continuaria inelegível pelos critérios da lei da Ficha Limpa. Se permanecesse solto até o dia 15 de agosto, começaria a campanha solto. Mas tudo isso sob um alto custo de ampliar a rejeição ao PT e ao ex-presidente.
O PT jogou pesado ao tirar do papel a tática do plantonista. Novas oportunidades mais “sérias” de tirar Lula da cadeia podem bater na trave por ações como essa em um conjunto da obra. Eleitoralmente, foi muito barulho por nada. - As imagens e a manchete não fazem parte do texto original -
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