quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

SEM LEI E SEM ALMA

 


Por  Altamir Pinheiro


Eis uma grande película cinematográfica do conhecido diretor de cinema John Sturges, protagonizados pelos estupendos Burt Lancaster e Kirk Douglas. Trata-se do  filme SEM LEI E SEM ALMA, que ainda nos proporciona uma bela canja com a participação da lindíssima ruiva Rhonda Fleming, uma das atrizes mais bonitas de seu tempo, que coestrelou vários western roubando cenas apenas com sua beleza encantadora que morreu em agosto de 2020 com 97 anos de idade. Quanto ao diretor John Sturges, este faleceu no ano de 1992 aos 82 anos. SEM LEI E SEM ALMA é mais um clássico de Sturges, que já nos dera Punido Pelo Próprio Sangue, antes deste e após, Joe Kid, com Clint Eastwood, Duelo de Titãs, Sete Homens e Um Destino, dentre outros. No filme em tela também temos a presença de ótimos atores coadjuvantes que não deixa de ser um deleite ver grandes figuras como Lee Van Cleef, DeForrest Kelley e Dennis Hopper em início de carreira!!!


A  sinopse do filme nos conta que, Wyatt Earp (Burt Lancaster), lendário homem da lei, aposenta-se e vai visitar a família no Arizona. Lá ele se une a Doc Holliday (Kirk Douglas) - um dentista de formação, famoso pela rapidez no gatilho, gravemente doente e viciado em jogo, que também acaba de chegar na cidade para combater o temido bando de Ike Clanton (Lyle Bettger). Esta obra relata uma versão romanceada de um fato real ocorrido no Velho Oeste dos Estados Unidos da América: o famoso tiroteio do O.K. Corral em Tombstone, ocorrido de 26 de outubro de 1881. Este famoso duelo, que colocou Wyatt Earp e Doc Holliday frente a frente com a quadrilha dos Clanton, foi refilmado várias vezes pelo cinema, mas não de forma tão espetacular como neste clássico nomeado ao Oscar.


Na projeção há dois momentos com Wyatt(Lancaster) e Doc(Douglas) enfrentando bandidos não chegam a emocionar o espectador ávido por ação. No primeiro deles o enorme bando de desordeiros liderado por Shangai Pierce  é facilmente dominado por Wyatt e Doc. Os bandidos são encarcerados na pequena cadeia de Dodge City e não se ouve mais falar deles. O confronto seguinte passa-se à noite quando três bandidos atacam Doc e Wyatt acreditando que ambos estão dormindo e o trio é morto pelo marshal e pelo jogador-pistoleiro. O assassinato de James, o mais novo dos irmãos Earp abrevia o clímax de “Sem Lei e Sem Alma” com o confronto marcado para o amanhecer no OK Corral. É quando o western de Sturges se torna eletrizante com os três Earps e mais Doc Holliday liquidando os cinco temíveis oponentes.


SEM LEI E SEM ALMA é um dos maiores clássicos do cinema, uma fita quase que imortal, sem falar nas atuações de Burt Lancaster e Kirk Douglas  ambos no melhor de suas formas. Perfeito, bem dirigido, bem interpretado, mas com falhas no roteiro, segundo o que o próprio Earp deixou escrito. De qualquer forma o melhor de todos feito sobre o tema.  a fotografia é simplesmente espetacular. O  enredo é  baseado em fatos reais da famosa veracidade dos acontecimentos ocorridos no O.K.CORRAL. Vale destacar a ótima direção de John Sturges e a trilha sonora de Dimitri Tiomkin que são simplesmente maravilhosas.  Cena marcante é quando presenciamos um desolado Xerife  Wyatt Earp(Burt Lancaster), com a morte do seu  irmão,  ao retirar o distintivo jogando-o ao chão, repetindo o gesto de Will Kane (Gary Cooper) em “Matar ou Morrer”. 


Conforme nos conta o estudioso de cinema bang bang, Darci Fonseca, “Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight at The OK Corral) foi um grande sucesso quando de seu lançamento. E não poderia ser de outra forma já que o elenco era encabeçado por Burt Lancaster (Wyatt Earp) e Kirk Douglas (Doc Holliday), ambos no auge de suas respectivas carreiras. Mas não foi fácil para o produtor Hall B. Wallis convencer Lancaster a fazer este filme. Como o ator de “Apache” havia a princípio se recusado a atuar nesse western, Wallis chegou a oferecer o papel de Wyatt Earp para Richard Widmark, Jack Palance e Van Heflin. Porém Hall B. Wallis sabia que a dupla Lancaster-Douglas atrairia muito mais público, o que significaria maior lucro para ele. Afinal de contas era Wallis quem estava bancando o filme que seria distribuído pela Paramount. Na verdade, Sem Lei e Sem Alma é um  Western de raiz em questão presentes todos os elementos caros ao gênero como honra, lealdade e acerto de contas naquele tiroteio final, no O.K.CORRAL. Um baita filme!!!


Assista na íntegra ao filme que tem duração de  2 horas.

https://pt-br.facebook.com/tubodeimagem80/videos/sem-lei-e-sem-alma-filme-completo/124690339614555/






segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

...ERA UMA VEZ NO OESTE, JÁ É UM FILME CINQUENTÃO

 


Por Altamir Pinheiro

Um anos antes e outro depois de 1968(aliás, muitos afirmam que 1968  foi um ano que nunca terminou). Enquanto o mundo vivia em efervescência com o movimento estudantil de maio/68  em Paris; também acontecia o festival de música de Woodstock em Nova Iorque; o clima apreensivo pela morte do  guerrilheiro Che Guevara na Bolívia, alheio a todos esses movimentos em curso,  numa  vasta área arenosa do Monument Valley, o cineasta Sergio Leone comandava uma tropa de atores  formada por Charles Bronson,  Woody Strode, Henry Fonda,  Jack Elam, Jason Robards e tantos outros,  além da divina e maravilhosa Claudia Cardinale. 


Estamos falando das filmagens da película ERA UMA VEZ NO OESTE, donde,  todo cenário se passa no Monument Valley, no Arizona(palco  do lendário ator  John Wayne e do baita diretor John Ford). Pois bem, o filme em tela que se tornou num divisor de águas entre Hollywood e a cinematografia italiana, caracteriza-se pela  modalidade conhecida como faroeste spaghetti, adequadamente dirigido por Sergio Leone e com a trilha sonora empolgante e extremamente melancólica do também italiano, o  excepcional maestro Ennio Morricone que faleceu no ano de 2020 aos 91 anos  de idade. 


O interessante que àqueles personagens que compõem o elenco não são heroicos, bonitos, com topetes e pele clara,  de jeito nenhum!!!  Seus respectivos protagonistas são sujos, suados, com aspectos grudentos e maltrapilhos, afinal, estamos no Velho Oeste, e o diretor Leone dá características únicas para cada um de seus personagens, desde a mosca na cena inicial a gaita de Charles Bronson, passando pelas muletas de snaky e o ranger  dos dentes de Frank...


Há quem diga que, na década de 1960, os westerns estavam atravessando uma nova linha, já que o formato norte-americano de se observar o cotidiano cansativo  das coisas já estava consumindo os  amantes do bang bang. Como  relatado acima, nesta época, muitas mudanças culturais estavam ingressando na sociedade. Pareciam que os westerns americanos já eram clichês passados, se não fosse a interferência da Itália em realizar também suas próprias produções.  Na verdade,  o  gênero estritamente americano por excelência, mas que conseguiu adeptos de fãs no mundo inteiro, o cinema norte americano levou para todos os costumes dos velhos pioneiros na conquista da terra bravia, caravanas, diligências, salons, homens da lei e bandidos ou mocinhos.


O que se via era  herói salvando a mocinha e beijando-a no final, e principalmente, a característica do herói, sempre limpinho, arrumadinho e barbeado, que nas brigas nunca caía o chapéu  de cowboy? Sim, isto era o contraste dos verdadeiros homens do oeste, que em sua grande parte eram sujos e desalinhados.  Quando víamos cowboys alinhados como Randolph Scott, Audie Murphy, Gary Cooper, John Wayne, George Montgomery, Jock Mahoney, e tantos outros, analisamos o quanto é contrastante para com a realidade do que foi o Velho Oeste e seus contemporâneos.


O cinéfilo de muita  grandeza e  especialista em filmes faroestes, o carioca  Paulo Telles, faz uma pergunta bastante interessante aos aficionados desta modalidade de cinema,  mas por que um país da Europa se interessaria em realizar westerns se este é um gênero somente americano?!?!?! Ele mesmo responde,  simples: somente um cineasta italiano, que era um fã dos westerns americanos, queria apresentar ao mundo o que os americanos nunca ousaram mostrar nas telas, e este cineasta era Sergio Leone que lamentavelmente morreu em 1989 com apenas 60 anos de idade.


Leone queria mostrar ao público o que era, na realidade, o velho oeste americano, retratando seus “mocinhos e bandidos” sujos, suados, poeirentos, e com barba por fazer, e tramas nada românticas, afastando definitivamente toda legenda áurea que Hollywood mostrou ao longo de quase 50 anos. Doravante, surgia uma nova etapa no gênero, o “WESTERN SPAGHETTI”, como era definido o gênero além mar, produzido por cineastas italianos e rodados em alguns lugares na própria Itália, mas precisamente também na Espanha, na região de Alméria, lembrava também alguns lugares do deserto do Oeste dos Estados Unidos, como o Monument Valley, no Arizona (Estado de Utha), que é tida como a “Terra de John Ford”, pelo fato do grande Mestre ter dirigido muitas de suas películas westerns neste local.


O enredo do  filme propriamente dito começa  com Jill McBain (Claudia Cardinale)  que é uma ex-prostituta de New Orleans que chega à cidade de Flagstone, no Arizona, para conhecer seu marido, o irlandês Brett McBain (Frank Wolff), com quem se casara um mês antes em New Orleans. McBain é proprietário de terras por onde passará a estrada de ferro pertencente a Morton (Gabriele Ferzetti). Este quer as terras de McBain e contrata o pistoleiro Frank (Henry Fonda) para intimidar o irlandês, mas Frank assassina friamente McBain e seus três filhos. A princípio Jill pensa em se desfazer da propriedade chamada Sweetwater, porém após conhecer o bandido mexicano Manuel ‘Cheyenne’ Gutierrez (Jason Robards) e ainda um estranho apelidado ‘Harmônica’ (Charles Bronson), Jill muda de ideia. A mulher passa então a acalentar o sonho do marido de transformar Sweetwater não apenas em uma mera estação, mas em uma pequena cidade. 


Esta história relativamente simples, escrita por Dario Argento, Bernardo Bertolucci e pelo próprio Sergio Leone rendeu um roteiro de 420 páginas das quais somente 14 eram de diálogos. Leone costumava citar uma frase de John Ford na qual o Mestre das Pradarias afirmara que “um bom filme de ação não pode ter muitos diálogos”. Contraditoriamente, “Era Uma Vez no Oeste” não foi concebido por seu diretor para ser um filme de ação, mas sim uma espécie de ópera onde pudesse exercitar sua criatividade cinematográfica. Assim como em muitas óperas, cada personagem é caracterizado por um tema musical e disso se encarregou magistralmente Ennio Morricone. Além  da música Leone contou com um bom diretor de arte para construir os impressionantes cenários para a magna ópera-western que o delirante diretor imaginou. Não se canta em “Era Uma Vez no Oeste”, mas este monumental e compassado western é um espetáculo que bem poderia ser encenado no Scala de Milão ou no Metropolitan Opera de Nova York.


O cinéfilo paulista Darci  Fonseca nos afirma com grande precisão que, Leone pretendeu mostrar a chegada da civilização ao Velho Oeste realizando um filme majestoso e deslumbrante. Atingiu seu objetivo pois nenhum outro western se compara a “Era Uma Vez no Oeste” quanto a impressionar pelo lirismo de suas imagens. Reconhecido tanto por sua criatividade quanto por seus excessos, Leone não dosou seu estilo e concebeu uma grande ópera-western, a suprema teatralização do gênero que mais justo seria ser creditada como um filme de Sergio Leone e Ennio Morricone.  

https://www.youtube.com/watch?v=hVL2gc_CRTY