sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

SE 65 MILHÕES DE POBRES, PRETOS E PUTAS COGITAM MESMO VOTAR NO SEBOSO DE CAETÉS, ONDE FOI QUE ERRAMOS?!?!?!

 


Por Paulo Polzonoff


Só poderei entender o outro se a mim mesmo entender - Gustavo Corção - 


No texto que escrevi sobre a preocupação presidencial com o possível avanço de uma onda vermelha sobre o Brasil, convidei os leitores a uma conversa. Quem chegou ao quarto parágrafo leu o convite para puxar uma cadeira e participar do bate-papo, talvez até tomando uma cervejinha gelada. Nem todos, contudo, reagiram bem ao convite. Houve quem entrasse chutando a mesa e as cadeiras cuidadosamente dispostas e esbravejando: “Você está errado! Eu tenho razão!”.


Mas não aprendo. E, se não aprendo, é porque não quero aprender. Sei que há muita gente viciada em estar com a razão, mas não me vejo como traficante de certezas. Pelo contrário, se é para viciar as pessoas em algo, que seja na dúvida. Refletir dá uma barato que nem te conto!


Por isso, e a despeito de um ou outro malcriado, insisto no convite: chega mais. Puxe uma cadeira. Não, não essa. Essa é muito dura. Ô, Dani, onde é que tá aquela almofada? Não, não a verde; a amarela. O amigo aqui tá precisando. Melhor assim? Maravilha! Não liga, a Catota é desse jeito mesmo. Logo ela se acostuma com você. Ah, já já o café fica pronto. Vai querer? Daqueles bem fortes. Também tem cerveja na geladeira. Prefere uísque? É pra já! Quantas pedras de gelo? Seja sempre bem-vindo à nossa conversa diária.


PESQUISAS ELEITORAIS - Este texto se baseia nos dados de uma recente pesquisa eleitoral. E, sim, eu sei que as pesquisas eleitorais, não é de hoje, sofrem uma grave crise de credibilidade. Sucessivamente, os números das pesquisas insistem em contrariar a realidade que apreendemos intuitivamente. Acontece comigo também. Olho para os lados e não vejo 45% dos familiares e amigos afirmando que votarão em Lula. Por consequência, dou um passo atrás e digo para mim mesmo que, sei não, algo de estranho está estranho.


“Como assim um candidato ex-presidiário que não pode nem ir no barzinho da esquina bebericar sua cachacinha pode estar 20 pontos percentuais à frente do candidato e atual presidente que ainda atrai razoáveis multidões por onde passa?”, você e eu nos perguntamos. E, para essa e tantas outras perguntas, não tenho uma resposta. A lógica me faz crer que os institutos de pesquisa não teriam interesse em fraudar esse tipo de resultado. Afinal, o bem mais valioso para um instituto de pesquisa é, em teoria, sua credibilidade. Se ninguém acredita nas pesquisas de opinião, para que elas servem?


Feitas essas ressalvas necessárias (mas sempre insuficientes), o fato é que uma pesquisa recente mostra que Lula teria 45% dos votos dos brasileiros. Numa conta rápida, levando em consideração que o Brasil tem 147 milhões de pessoas aptas a votar, isso equivaleria a 66 milhões de eleitores. Arredondemos para 65, só para o título ficar bonitinho. Este é o número de brasileiros, nossos concidadãos, pessoas com as quais dividimos o escritório, o transporte público e o restaurante, e que, em teoria, a julgar pelos números de uma pesquisa, estariam dispostas a votar num ex-presidente que já passou 580 dias numa prisão de luxo.


As condenações pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro posteriormente foram malandramente anuladas pelos “guardiões da Constituição”. O que não quer dizer, em hipótese alguma, que Lula tenha sido inocentado.


IGNORÂNCIA TÃO PROFUNSA QUE NOS ESCAPA - Dito isso, chegou a hora daquele momento que incomoda tanta gente: o de olhar para dentro. A fim de tentar entender onde foi que erramos, enquanto sociedade, a ponto de termos entre nós 65 milhões de semelhantes que no mínimo cogitam votar em Lula – o que significa devolver o poder a um grupo político caracterizado pela corrupção, autoritarismo e mentira.


O que leva um caminhoneiro, por exemplo, a dizer que prefere a corrupção do PT a um governo “que cobra um preço desses pelo diesel”? O que leva um intelectual todo racional, iluminista e ateuzão a depositar todas as suas esperanças (fé) em Lula? O que leva jornalistas – olá, colegas! – a defenderem um partido que despreza a liberdade de expressão? O que leva um cristão a cogitar votar numa facção que já se mostrou antirreligiosa e que, pior, se baseia numa ideologia que tem como base a força, e não a misericórdia?


De todos os exemplos citados, os únicos que fazem algum sentido são o dos intelectuais e o dos jornalistas – grupos tradicionalmente cooptados pelo espírito coletivista que insiste em nos assombrar, mesmo depois de todas as tragédias totalitárias do século XX. Aliás, faz sentido que todas as pessoas que de alguma forma sucumbiram à tentação da engenharia social (incluindo aí médicos, arquitetos e escritores) vejam até com naturalidade a ideia de votar em Lula. Afinal, eles agem movidos pela ambição de um dia construir uma nova Torre de Babel.


Quanto aos demais exemplos e outros tantos que não me ocorrem, resta a dúvida: agem movidos por ignorância ou por uma má-fé disfarçada de “jeitinho brasileiro”? Ora, quem me lê com as devidas frequência & atenção sabe que prefiro sempre pressupor ignorância a cogitar que alguém aja de forma deliberadamente mal-intencionada.


É ela, a ignorância, o que leva uma pessoa honesta a não enxergar a relação entre a crise e, por exemplo, o intervencionismo econômico. É a ignorância o que faz certas pessoas darem de ombros para a liberdade, considerando-a um valor menor. É a ignorância, inclusive a ignorância de si mesmo (daí a frase de Gustavo Corção lá no alto), que impede alguns de entenderem que o outro às vezes age movido por sentimentos mesquinhos, como a inveja e a vaidade, mesmo que de sua boca saiam palavras a exaltar “o bem comum”.


HONESTIDADE, AUTONOMIA, AUTOSSACRIFÍCIO - Se há, portanto, algo de verdadeiro na pesquisa, e se de fato 66 milhões de brasileiros pensam em entronar Lula novamente, é porque, nas últimas duas décadas, não conseguimos, apesar de todos os textos e debates e memes e documentários e cultos e decisões judiciais, criar uma sociedade baseada em valores como a honestidade, a autonomia e o autossacrifício. Pelo contrário, fomentamos essa ignorância que agora nos ameaça com a volta de Lula, exaltando a preguiça sobre a honestidade, a dependência sobre a autonomia e os prazeres sobre o autossacrifício.


Mas me diga: ainda tá bom esse uísque? Não quer mais gelo, não? Acho que vou cortar um salaminho pra gente. Xi, olha que sujeirada! Limpa logo isso, cara. Se a Dani vir vai ficar furiosa! Ah, meu Deus, aí vem ela. Disfarça, disfarça. Oi, amor, tudo bem? Não, não. Eu tava me levantando agora mesmo pra cortar um salaminho pra gente. A Catota? Não tenho a menor ideia de onde essa gata se enfiou. Mas onde é que estávamos mesmo? Ah, sim. Eu falava dos brasileiros que, de acordo com uma pesquisa aí, cogitam votar em Lula. Em Lula! Não dá mesmo pra acreditar numa coisa dessas.

 



Todas as eleições presidenciais desde a redemocratização foram vitais e colocaram a sociedade diante de escolhas difíceis. Não será diferente agora. Mas, neste ano, há uma diferença importante. O próprio fundamento da Constituição estará em jogo. Se o atual presidente conseguir permanecer no posto, há o risco de que os seus ataques à democracia saiam fortalecidos. Desde que a reeleição foi introduzida, todos os presidentes conseguiram renovar seus mandatos, beneficiando-se da máquina pública. Apesar da baixa popularidade (a rejeição ronda os 60% dos eleitores nas principais pesquisas), Bolsonaro mantém o apoio de cerca de um quarto do eleitorado. Ele tem chances reais de se reeleger.


Até o momento seu ímpeto golpista foi contido pelo Supremo Tribunal Federal, por meio de inquéritos que investigam as milícias digitais bolsonaristas, os atos antidemocráticos e a interferência na Polícia Federal. O cerco judicial, até o momento, conseguiu limitar os ataques à democracia, freando o financiamento dos seus autores e bloqueando a monetização da indústria de fake news.


Mas isso não significa que a possibilidade de uma ruptura possa ser descartada. O presidente tem agido para minar as instituições, mesmo com os obstáculos que enfrentou. Pesquisadores da FGV, incluindo o professor da FGV-Direito Oscar Vilhena, apontam que o presidente usou em seu mandato expedientes para erodir a democracia e a institucionalidade. Entre eles, abusar do uso de normas infraconstitucionais, como decretos e medidas provisórias, além de minar por dentro órgãos de Estado. Faz parte dessa estratégia asfixiar entidades com cortes de verbas (como acontece na Educação) e subvertê-las por meio de dirigentes que se posicionem de forma oposta aos seus próprios princípios. Nesse último caso, os exemplos mais cabais são a indicação de Sérgio Camargo para a Fundação Palmares (que se volta contra a defesa dos negros e a luta por mais diversidade) e a de Ricardo Salles para o Ministério do Meio Ambiente (o ex-ministro desmontou os órgãos de fiscalização e é investigado até por favorecimento de quadrilhas de desmatamento ilegal). Isso pode se agravar num eventual segundo mandato.

A pandemia também serviu de pretexto para Bolsonaro tentar subtrair poder de prefeitos e governadores e para a ocupação militar do Ministério da Saúde, com consequências nefastas. Com a explosão dos casos da variante ômicron (não devidamente captados pelo apagão digital na pasta, mais um desmanche conveniente), o chefe do Executivo volta a usar o risco de lockdown como forma de atacar os gestores locais, a ciência e as autoridades sanitárias. Não aprendeu nada com a doença, continua investindo contra a vacinação e permanece ignorando a tragédia de mais de 620 mil mortos. “A ômicron não tem matado ninguém. Dizem até que seria um vírus vacinal. É bem-vinda”, declarou em mais uma frase repugnante, ao mesmo tempo em que criava obstáculos para a imunização das crianças. Se permanecer no Planalto, o combate à Covid e a novas ameaças globais à Saúde, já previstas pelos especialistas, será ainda mais difícil.


Além de não combater a doença, o presidente enxergou nela a oportunidade de debilitar a democracia. “A nova ditadura não é de uma hora pra outra, vem aos poucos. Vai tirando pedaços da sua liberdade aqui e acolá. E quando você vê, está até a cintura na areia movediça, não tem como sair mais”, afirmou na última segunda-feira, afrontando as medidas de restrição social para combater a doença que provavelmente serão novamente necessárias. Tentava reproduzir pela enésima vez a parábola orwelliana da ameaça representada pela implantação de um hipotético regime esquerdista, mas traiu suas próprias aspirações. Na prática, parecia descrever a sua própria tática para assaltar o Estado, que tem cada vez mais os órgãos de controle aparelhados e desvirtuados – o que ocorre até com a Polícia Federal, órgão vital que teve sua cúpula removida para seguir fielmente os interesses pessoais do presidente.


Acuado pela corrupção no governo, exposta especialmente pelas compras fraudulentas de vacinas no Ministério da Saúde, o presidente tem negado até que o combate à corrupção tenha sido sua bandeira para chegar ao poder: “Eu não apareci em 2018 e falei que sou a favor da Lava Jato e vou combater a corrupção. Não foi isso. Minha história começa há muito tempo”. É mais um embuste. Todos se lembram das cenas de Bolsonaro tentando assediar o então juiz Sergio Moro em um aeroporto em 2018. As manifestações anticorrupção turbinadas pela Lava Jato foram o principal laboratório para a cristalização do bolsonarismo. O atual presidente usou o movimento para se legitimar como candidato. Eleito, convidou o próprio Moro para seu ministério, para em seguida isolá-lo e operar na surdina para desmontar a operação. Com isso, conseguiu enredar os órgãos de controle para proteger os grupos fisiológicos capturados no Petrolão e no Mensalão que são sua principal base de sustentação no Congresso, além de impedir as investigações sobre os crimes de rachadinha no seu clã. O presidente não vai abrir mão dessa blindagem facilmente. E tem se esforçado para isso.


O maior movimento coordenado por ele até o momento para se perpetuar no poder e melar as eleições ocorreu no Sete de Setembro, quando mobilizou manifestações em Brasília e São Paulo e afirmou que não aceitaria mais as determinações do ministro Alexandre de Moraes – o juiz do STF está à frente dos principais inquéritos contra o mandatário e seus apoiadores. Desde então, Bolsonaro precisou recuar em suas investidas para não abrir espaço a um processo de impeachment e nem atiçar uma reação popular que seria fatal para ele. Um triunfo eleitoral em outubro, ao contrário, seria assumido imediatamente como uma revanche e um sinal verde para seu projeto autocrático.


Para isso acontecer, Bolsonaro tenta reverter sua impopularidade desesperadamente. Já faz isso por meio de programas eleitoreiros, feitos improvisadamente driblando o teto de gastos. É o caso do Auxílio Brasil, sucedâneo do Bolsa Família, empacotado para ele tentar aumentar sua penetração no Nordeste, região em que ainda é largamente rejeitado. Com a ajuda do Centrão, tenta também irrigar inúmeros projetos paroquiais e eleitoreiros espalhados pelo País por meio do orçamento secreto, uma aberração introduzida pelos aliados no Congresso para subverter a vontade popular, comprar apoios políticos e fortalecer os caciques que aderiram ao seu projeto de poder.


Mesmo assim, esse plano enfrenta percalços. A economia, que será vital para o pleito, é plenamente desfavorável ao mandatário. Pesarão contra ele em outubro uma inflação de dois dígitos, altos índices de desemprego e risco de estagflação. O Banco Mundial acaba de revisar sua previsão do crescimento do Brasil este ano, de 2,5% para 1,4%. Ainda assim, a instituição é bem mais otimista do que consultoras e bancos brasileiros, que já preveem estagnação ou mesmo um PIB negativo até o final do ano. Mesmo a previsão positiva do Banco Mundial reflete a menor taxa de crescimento entre os 18 países emergentes analisados. Considerando 28 economias da América Latina e Caribe, o Brasil deve superar apenas o Haiti. É um péssimo prognóstico para um governo que vem anunciando desde o início uma época de prosperidade, mas até agora só entregou resultados pífios e recessão. Nem no seio do governo esse malogro passa em branco. Em sua justificativa para o estouro da meta de inflação em 2021 (10,06%), o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, elencou o descontrole fiscal como uma das causas. Entre economistas, não restam dúvidas. A crise econômica no Brasil foi fabricada pela incompetência do próprio governo, apesar dos truques retóricos de Paulo Guedes, que são recebidos cada vez com mais tédio e impaciência por empresários e agentes econômicos. Se o mandatário continuar no poder, esse cenário não pode ser revertido —­­­ é o cálculo que todos começam a fazer.


Apesar disso, há chances reais de o mandatário garantir mais quatro anos no Planalto. Analistas apontam as particularidades do próximo pleito, em que o antipetismo ainda pode jogar um papel relevante, beneficiando o atual morador do Palácio do Alvorada. “Desde o período da redemocratização, a gente nunca teve um presidente que afrontasse tanto as instituições, mas é preciso levar em consideração outros fatores que podem impactar o atual cenário”, defende Bruno Soller, especialista em Comunicação Política pela George Washington University. Ele aponta que o líder atual nas pesquisas, o ex-presidente Lula, teve suas condenações anuladas por questões processuais, e não por ter sido isentado de corrupção. Isso pode pesar ao longo da corrida eleitoral. Esse é o cálculo que Bolsonaro fez ao facilitar a soltura e a reabilitação política de Lula. Mas pode ter errado na dose, criando um problema para si mesmo.


Mesmo com a eventual reeleição de Bolsonaro, cientistas políticos ponderam que as instituições já estão suficientemente maduras para suportar investidas autoritárias. “Não podemos esquecer que o País passou por dois impeachments nos últimos 30 anos, e foram respeitados todos os ritos do processo”, pontua Soller. “A eleição de um personagem político diferente de Bolsonaro não traz exatamente estabilidade política, econômica e social. Mas traria mais estabilidade do que o governo Bolsonaro. Ele alimenta crises com suas declarações e atitudes, defende o indefensável. Ele só para seus ataques quando se sente realmente ameaçado”, diz o cientista político Rubens Figueiredo. “O País passou nos últimos três anos pelo seu mais duro teste, com um governante que trabalha basicamente pela ruptura da democracia. Na outra ponta, ele tem um profundo desprezo por gestão. Tem sido um teste muito duro para nossa democracia. Espero que isso se encerre com o final do seu mandato”, acrescenta Felipe Santa Cruz, presidente da OAB.


As eleições são, de qualquer forma, a única chance de interromper o projeto autoritário de Bolsonaro. Por isso, até o processo eleitoral precisa ser protegido. O risco de subversão das eleições, com o questionamento das urnas eleitorais, pode aumentar à medida que o chefe do Executivo se sinta fragilizado ou veja as chances reeleitorais minguarem. Num primeiro momento, seu ataque às urnas, copiado de Donald Trump, foi superado pela “Declaração à Nação” escrita às pressas pelo ex-presidente Michel Temer após o Sete de Setembro. Mas isso não significa que as redes digitais, inclusive clandestinas e robotizadas, não serão sacadas durante a campanha, escapando à vigilância de Justiça Eleitoral. Para lembrar esse risco, o presidente fez novos ataques na última quarta-feira aos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes do STF, acusando-os de ameaçar e cassar “liberdade democráticas” com o objetivo, segundo ele, de beneficiar a candidatura de Lula (o que motivou essa nova explosão foram as investigações contra ele e seus aliados). “É possível que vivamos um Sete de Setembro permanente até as eleições. Haverá muito investimento de recursos públicos nas campanhas eleitorais deste ano”, alerta a cientista política Juliana Fratini. Para ela, esta será uma campanha cheia de estereótipos e raiva.



Em outubro, o País terá um encontro com seu destino. Em pleitos passados, o País rejeitou o populismo de esquerda, referendou o Plano Real e chancelou o PT apenas quando este partido se mostrou moderado. A estabilização monetária, implantada pelo governo FHC, é um pilar da sociedade até hoje. Esses valores precisam ser preservados, assim como o espírito da Constituição de 1988. A substituição de Bolsonaro não é apenas um salutar movimento de alternância no poder. Ela é necessária para evitar que o bolsonarismo se constitua em movimento perene de ameaça à ordem institucional. Ainda que o presidente não tenha a mesma habilidade de Trump, ele pode exercer uma influência nociva antidemocrática. Bolsonaro não precisa apenas ser derrotado eleitoralmente. O mal que representa precisa ser extirpado, para que o País retome o curso do desenvolvimento e do amadurecimento democrático, um ideal que segue ameaçado por aventureiros e extremistas.






domingo, 9 de janeiro de 2022

SE ELEITO, PT VAI VOLTAR À CENA DO CRIME PARA REEDITAR O MENSALÃO E O PETROLÃO, TENDO COMO PROTAGONISTAS OS MESMOS ESPERTALHÕES DA VELHA GUARDA, DO FILME DAS ANTIGAS A COMEÇAR POR LULA, DIRCEU, AMANTE, LINDINHO. MERCADANTE, GUIDO MANTEGA E ATÉ ROSEMARY NORONHA...



O ano eleitoral mal começou e o PT já reativou sua máquina de reescrever a história. Depois de disseminar a falsa narrativa da perseguição política para se esquivar das inúmeras – e robustas – denúncias de corrupção envolvendo seus principais quadros, o partido comandado por Luiz Inácio Lula da Silva dedica-se agora à estratégica tarefa de apagar da memória dos brasileiros os erros que ajudaram a afundar a economia nos últimos anos da era petista. A artimanha para tentar voltar ao poder ganhou forma nesta semana, com a publicação de um artigo que defende a velha cartilha do lulismo para “consertar” o país. O texto provocou enorme repercussão, não apenas pelo seu conteúdo desonesto, que omite o catastrófico apagar das luzes do governo Dilma Rousseff, mas também pela figura que Lula escolheu para assiná-lo: Guido Mantega.


Mais longevo ministro da Fazenda da era petista (comandou a pasta de 2006 a 2014), Mantega ressurgiu na cena política como porta-voz do petismo em uma série de artigos sobre economia que o jornal Folha de S. Paulo solicitou aos principais presidenciáveis. O texto ataca a “herança maldita” que será deixada pelos “governos Temer e Bolsonaro” e defende um modelo intervencionista, controlando os juros e estimulando “políticas industriais”. Nenhuma linha foi dedicada a explicar a pior recessão da história, iniciada ainda em 2014 e marcada pela grave retração do PIB sob Dilma Rousseff. Adversários de Lula na corrida ao Planalto, como Sergio Moro e Ciro Gomes, criticaram duramente o artigo e até lulistas de carteirinha caçoaram da peça de Mantega. “Oxalá seja apenas mal-assombração!”, escreveu o deputado Orlando Silva, do PCdoB, que também foi ministro nos governos de Lula e Dilma.


Lideranças petistas passaram os últimos dias explicando a opção por Mantega como porta-voz econômico da candidatura de Lula. Venderam como uma espécie de alento a tese de que, apesar de encarnar a ideologia desenvolvimentista do petismo, o ex-ministro foi escolhido porque já se sabe que ele não voltará à Esplanada dos Ministérios em um eventual novo governo do PT. “Qualquer outro nome geraria especulação de que poderia ser o ministro da Fazenda do Lula”, diz um dirigente petista. O fato é que a síntese do plano econômico de Lula, que visa a acabar com o teto de gastos públicos e revogar a reforma trabalhista, está presente no artigo de Mantega e é fruto de conversas semanais que o ex-ministro manteve durante a pandemia com os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Delfim Netto, dois outros conselheiros de Lula na área – às sextas-feiras, eles costumavam se falar por videoconferência na hora do almoço, para conversar sobre o cenário econômico e alinhavar ideias a serem oferecidas ao chefe petista.

Aliados afirmam que o ex-presidente deve buscar um perfil mais parecido com o de Antonio Palocci, que foi ministro da Fazenda em seu primeiro mandato. Um nome ligado ao PT, claro, mas palatável ao mercado. Palocci virou desafeto dos petistas depois que confessou seus crimes e delatou antigos companheiros de partido em um acordo de colaboração feito com a Polícia Federal. Entre os delatados está o próprio Mantega, seu sucessor no ministério, acusado de antecipar decisões do Banco Central para o banqueiro André Esteves, dono do BTG. Os relatos de Palocci e de outros delatores graúdos da Lava Jato, como Marcelo Odebrecht e Eike Batista, ajudam a explicar por que Guido Mantega ainda goza de tanto prestígio nas hostes lulistas.


Ao longo dos nove anos em que esteve à frente da Fazenda, Mantega foi o mais eficiente tesoureiro de campanha do PT. Os empresários acusaram o ex-ministro de cobrar repasses ilícitos ao partido como contrapartida para atender seus pedidos dentro do governo. O caso mais notório envolve o pagamento de 50 milhões de reais da Braskem, do grupo Odebrecht, à campanha de Dilma em 2010, referente à “compra” da medida provisória conhecida como Refis da crise, que abatia dívidas tributárias da empresa. O acerto rendeu a Mantega o apelido “Pós-Itália” na planilha do setor de propinas da empreiteira baiana. A denúncia apresentada à Justiça pela força-tarefa de Curitiba foi rejeitada e as provas foram anuladas depois que o Supremo Tribunal Federal determinou o envio da ação do Paraná para Brasília. Mantega chegou a ser detido por algumas horas pela PF, em 2016, e conseguiu se livrar da tornozeleira eletrônica graças ao STF.


O ex-ministro foi um dos assuntos políticos mais candentes da semana, mas não é só ele quem dá ares de filme antigo à pré-candidatura de Lula. Outros importantes personagens da era petista estão diretamente envolvidos na campanha presidencial. Três vezes ministro de Dilma entre 2011 e 2015, Aloizio Mercadante, por exemplo, é o responsável pela formulação do que será apresentado em alguns meses como o plano de governo lulista. Presidente da Fundação Perseu Abramo, bancada com o fundo partidário, Mercadante é quem organiza as reuniões de onde saem as teses que depois a militância passa a difundir nas redes. Foi na fundação que ele e Lula se reuniram com Belluzzo antes de turnê pela Europa, em novembro, onde o chefe petista se encontrou com líderes da centro-esquerda e com o presidente francês, Emmanuel Macron.

Mercadante terá neste ano tanta projeção quanto Gleisi Hoffmann, a presidente nacional do PT, que tem acompanhado Lula em todas as agendas eleitorais. Sem autonomia para negociar em nome do partido, a deputada, também beneficiada por decisões da Segunda Turma do STF contra a Lava Jato, atua como emissária de Lula nos encontros dos quais o chefe petista não consegue participar. Nos últimos meses, Gleisi passou a seguir também as diretrizes traçadas por outro ex-ministro que Lula trouxe para perto de si, de olho na disputa pelo Planalto: Franklin Martins, que foi chefe da Secretaria de Comunicação no segundo mandato do petista, entre 2007 e 2010. Franklin assumiu a coordenação das redes sociais de Lula e deve comandar a estratégia de comunicação da campanha. Aliados atribuem à chegada do ex-ministro à equipe as declarações de Lula no ano passado em defesa da regulação da mídia, um desejo antigo do petismo raiz. Franklin Martins foi o responsável por alimentar uma série de blogs petistas, depois do mensalão, especializados em tentar manchar a reputação de adversários políticos e jornalistas independentes.


O “acordão” do establishment político para sepultar a Lava Jato deu ao PT não apenas a condição de lançar Lula na corrida presidencial, mas também munição para que outros quadros históricos e igualmente enrolados com a Justiça voltassem a circular com desenvoltura nos bastidores. O caso mais emblemático é o do ex-ministro José Dirceu. Como mostrou Crusoé em dezembro, o chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula, condenado no mensalão e no petrolão, tem rodado o país para conversar com governadores, parlamentares e dirigentes partidários – a atuação é classificada por um interlocutor dele como “prospecção” eleitoral. Dirceu tem sido bastante elogiado dentro do partido, que para evitar danos de imagem o mantém estrategicamente afastado do círculo mais próximo de Lula.


Outro rosto conhecido que ganhou espaço nas hostes petistas nos últimos tempos é o do ex-deputado José Genoino, que também já presidiu o PT, como Dirceu, e foi igualmente condenado no processo do mensalão, em 2012. Hoje, Genoino vocaliza a ala mais radical do partido. Ele encampou um abaixo-assinado contra a ideia de lançar o ex-governador paulista Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula, defendida por Fernando Haddad. É no grupo de Genoino que flui o petismo mais ideológico, defensor das ditaduras de esquerda da América Latina, como a da Venezuela, e que responsabiliza a “hegemonia neoliberal” pelas agruras do país – um discurso que, vez ou outra, e a depender de quem está a ouvi-lo, o próprio Lula também adota. Embora seja muitas vezes engolida pelo pragmatismo lulista, essa ala exerce influência e forte pressão interna nas decisões partidárias. Foi assim, por exemplo, na constrangedora nota que celebrou em novembro passado a “vitória” do ditador Daniel Ortega nas eleições na Nicarágua e a polêmica ida de Gleisi à posse do ditador venezuelano Nicolás Maduro, em 2019.

A face mais moderada do grupo é a do deputado Rui Falcão, que antecedeu Gleisi no comando do PT e coordenou a campanha de Dilma em 2014, ápice do esquema de caixa 2 revelado pela Lava Jato – Marcelo Odebrecht, por exemplo, admitiu ter repassado 150 milhões de reais por fora para a reeleição da petista naquele ano. O parlamentar também é refratário à aliança com o ex-tucano Alckmin, mas nem por isso perdeu espaço no núcleo duro lulista. O ex-presidente já garantiu a participação de Falcão no grupo que coordenará sua campanha. Caberá a ele conter a ira dos mais fanáticos contra o pragmatismo eleitoral e a grita a favor de bandeiras antidemocráticas da esquerda xiita, que certamente serão exploradas pelos adversários.


Até o ex-tesoureiro Delúbio Soares, condenado ao lado de Genoino e Dirceu no mensalão, começou a dar pitacos nos grupos de WhatsApp da militância petista, cavando espaço. A mulher de Delúbio, Mônica Valente, ainda integra a Executiva Nacional do partido, na qual já comandou o departamento de relações internacionais, e é a principal representante da legenda no Foro de São Paulo, que reúne a esquerda latino-americana e costuma defender gente como os narcoguerrilheiros colombianos das Farc – recentemente, a agremiação se manifestou a favor da prisão de políticos opositores por Ortega na Nicarágua. Por ora, nas questões diplomáticas, Lula tem seguido mais os conselhos do ex-chanceler Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa. Integram ainda a tropa os ex-ministros Fernando Haddad e Jacques Wagner, que só não se dedicarão mais à campanha do chefe petista porque precisarão gastar sola de sapato para tentar vencer as eleições ao governo paulista e baiano, respectivamente.


Enquanto na base petista já tem gente sonhando em voltar a ocupar um cargo em Brasília, o discurso das principais lideranças do partido é de cautela, para conter o clima de “já ganhou” que começou a se espraiar pela militância diante da vantagem que Lula tem sobre os demais candidatos nas pesquisas. Os mais experientes lembram da campanha de 1994, quando ele tinha 40% das intenções de voto em maio, cinco meses antes do pleito, e perdeu para o tucano Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. “Naquela eleição, teve um jornal que publicou uma lista completa de quem seriam os ministros do Lula e deu no que deu”, recorda um dirigente.


É espantoso que, hoje, uma parte significativa dos eleitores brasileiros não tenha memória do filme antigo protagonizado pelo PT e o seu chefe. - Texto gentilmente roubado lá da Revista Crusoé -

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

NOSSAS CONDOLÊNCIAS AO MESTRE COM CARINHO, SIDNEY POITIER, QUE SE ENCANTOU AOS 94 ANOS



Por Altamir Pinheiro


No próximo mês,  fevereiro,  Sidney Poitier completaria 95 anos de idade.  Em 1963 fez história ao se tornar o PRIMEIRO ATOR NEGRO DA HISTÓRIA a receber o prêmio Oscar de melhor ator principal por sua performance no drama Uma Voz nas Sombras (Lilies of the Field) em 1963. Ao apresentar Sidney Poitier como ganhador da estatueta do Oscar, a consagrada atriz Ann Bancroft lhe deu um beijo na face, um gesto que causou escândalo entre o público mais conservador. Três anos depois, Poitier, contracenando com Katherine Houghton, protagonizaram uma das mais comentadas cenas, ao trocarem um ardente e prolongado beijo – o primeiro beijo inter-racial da tela cinematográfica – em Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967).


Morreu nesta sexta-feira(7), nas Bahamas, o cidadão bahamense-americano Sidney L. Poitier. A informação foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores das Bahamas, Fred Mitchell  aos sites internacionais. A causa e  da morte não foi informada.   Sua última aparição no Oscar foi em 2014, quando apresentou o prêmio de Melhor Diretor ao lado da atriz Angelina Jolie. Na ocasião, o ator foi ovacionado de pé pelos presentes.


O chamado BLACK WESTERN num país racista tipo os Estados Unidos era coisa impensável, na década de 60,  um negro protagonizar um filme de Cawboy... Como diz o pesquisador e cinéfilo de bang bang Darci Fonseca, Nos anos 60 os Estados Unidos viram crescer as manifestações políticas pelos direitos civis e o mundo assistiu constrangido à morte do líder negro Martin Luther King. Muitos avanços ocorreram na sociedade norte-americana como reflexo dessa turbulência social e na década de 70 ocorreu a explosão dos chamados BLACK MOVIES(filmes com negros). JOHN FORD havia sido o diretor que mais incisivamente focalizou um personagem negro em um faroeste em “Audazes e Malditos” (1960) e o cinema teve que esperar até 1972 para ver produzido um autêntico Black Western.


No mundo artístico ninguém mais que Harry Belafonte lutou pelos direitos dos afro americanos, que é como os negros de lá gostam de ser chamados.  Este consagrado cantor foi quem produziu, em 1972, “UM POR DEUS, OUTRO PELO DIABO”, contratando para estrelar esse western seu amigo de passeatas Sidney Poitier.  Esse primeiro verdadeiramente grande astro negro de Hollywood havia sido, em 1968, o campeão de bilheterias dos Estados Unidos estrelando os filmes “Adivinhe quem Vem para Jantar” e “Ao Mestre com Carinho nesses dois filmes Poitier personificou o negro digno e exemplar, produto tipicamente hollywoodiano.


O faroeste “Um Por Deus, Outro Pelo Diabo” tem história similar à do belíssimo “Caravana de Bravos”, de John Ford. Porém a saga das famílias negras atravessando desertos e toda sorte de perigos rumo ao desconhecido para fugir do terrível passado, dá lugar às aventuras da dupla Buck e o Reverendo. Aos poucos o filme de Sidney Poitier segue como modelo “Butch Cassidy e Sundance Kid”, o western que dois anos antes obteve o mais retumbante sucesso que um faroeste havia alcançado na história do cinema. Paul Newman e Robert Redford disputam a preferência entre  Poitier e Belafonte, não faltando nem mesmo o elemento feminino na figura de Ruth (Ruby Dee), perfazendo um inequívoco triângulo amoroso. “Um Por Deus, Outro Pelo Diabo”, até hoje um faroeste único e que merece ser revisto nem que seja para rir um pouco com Harry Belafonte e para saber que os heróis nem sempre eram brancos.


Por se recusar sistematicamente a representar papéis com chavões ou clichês a ele oferecido como ator negro, Poitier tornou-se um pioneiro para si mesmo e para outros atores negros. À época recebeu indicação de Melhor Ator por sua atuação em Acorrentados (1958). Seu trabalho em filmes como Sementes da Violência fez dele o primeiro astro cinematográfico negro de destaque. Entretanto, o filme que consagrou definitivamente Sidney Poitier foi AO MESTRE, COM CARINHO (1967). Um jovem professor, Mark Thackeray, enfrenta alunos indisciplinados neste filme clássico que refletiu alguns dos problemas e medos dos adolescentes dos anos 60. Sidney Poitier tem uma extraordinária performance como um engenheiro desempregado que resolve dar aulas, num conhecido  bairro operário em Londres.


Da última geração de mitos do cinema, ainda com os pés no clássico, Poitier via sempre  um tempo de transformações. As questões raciais eram levadas às telas. Nascido em Miami, ele logo sentiu os problemas da população negra nos Estados Unidos. Tentou ingressar no Teatro Americano Negro, ainda nos anos 40, só conseguindo na segunda tentativa. Eis os cinco filmes que tornaram Sidney Poitier o maior ator negro de todos os tempos: ACORRENTADOS, de Stanley Kramer; NO CALOR DA NOITE, de Norman Jewison; UMA VOZ NAS SOMBRAS, DE RALPH NELSON(Com a personagem Homer Smith, Poitier tornou-se o primeiro afro-americano a ganhar o Oscar na categoria principal); AO MESTRE, COM CARINHO, de James Clavell; ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR, de Stanley Kramer. O beijo entre a menina branca e seu noivo negro é visto pelo retrovisor do veículo, de forma distante. O impacto, na época, foi grande, ainda que hoje o filme pareça comportado demais.


Com o filme  Acorrentados, vem a primeira indicação ao Oscar. A estatueta chegaria pouco depois, pelo seu papel em UMA VOZ NAS SOMBRAS, de 1963, que marcou época. Um ator à altura de seus grandes filmes. Em 2002, a Academia Cinematográfica de Hollywood lhe conferiu o Prêmio Honorífico por sua obra, sempre representando a indústria do cinema com dignidade, estilo e inteligência. Possui uma estrela na Calçada da Fama, localizada em Hollywood Boulevard. Poitier foi embaixador das Bahamas no Japão e na Unesco, além de ter recebido em 2009, das mãos do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a Medalha Presidencial da Liberdade, a condecoração civil mais importante do país.


Clic no endereço abaixo para assistir ao TRAILER  e  entender o contexto histórico da época do filme ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR.   É um filme que funciona apenas quando você tem ideia do contexto histórico: Em 1967, 17 estados americanos ainda proibiam o "casamento inter-racial''.   Spencer Tracy e Katherine Hepburn (que foi premiada com o OSCAR por sua atuação) estão inesquecíveis como os atônitos pais, neste filme de 1967 que é um macro sobre as questões de miscigenação racial no casamento.

https://www.youtube.com/watch?v=cJa4zBgP-eU