quinta-feira, 27 de agosto de 2009
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
ENTREVISTA CONCEDIDA AO JORNAL PASQUIM RIO DE JANEIRO, NOVEMBRO DE 1973
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O PASQUIM - Você surgiu publicamente com Ouro de Tolo. Mas nós queremos que você conte o seu início, desde o princípio mesmo.
RAUL - Vamos ver. Vamos voltar a 1959. Eu tinha um conjunto de rock, lá em Salvador. Eu morava perto de uns garotos do consulado, eles me apresentaram uns discos de rock...
O PASQUIM - Krig-Ha, onde fica?
RAUL - Krig-Ha seria um rótulo. É uma sociedade que existe hoje no mundo inteiro, com vários nomes. Aqui no Brasil nós batizamos com o nome de Krig-Ha, que é o grito de guerra do Tarzan. Você deve ter lido Tarzan, né? Khig-Ha significa "cuidado"!
O PASQUIM - Bandolo é inimigo, né?
RAUL - É. Aí vem o inimigo. Tinha o dicionário de Tarzan na primeira página. Você lia e tinha a tradução. Eu sabia aquilo decorado. Mas essa sociedade promove acontecimentos. O primeiro acontecimento que essa sociedade promoveu foi o disco, o LP Krig-Ha, Bandolo!
O PASQUIM - Voltando à sua biografia. Você poderia explicar sua formação literária, como você chegou a esse texto?
RAUL - Isso aí é uma coisa interessante. Antes de eu vir pro Rio eu pensava em ser escritor. Eu sempre escrevi. Antes de cantar, eu pensei em escrever. Eu tenho alguma coisa escrita guardada no baú , que penso em publicar algum dia. Eu sou muito dado à filosofia, eu estudei muito filosofia, principalmente a metafísica, ontologia, essa coisa toda. Sempre gostei muito, me interessei. Minha infância foi formada por, vamos dizer, um pessimismo incrível, de Augusto dos Anjos, de Kafka, Schopenhauer. Depois eu fui canalizando e divergindo, captando as outras coisas, abrindo mais e aceitando as outras coisas. Estudei literatura, comecei a ver a coisa sem verdades absolutas. Sempre aberto, abrindo portas para as verdades individuais. Assim, sabe? E escrevia muita poesia. Vim pra cá publicar.
O PASQUIM - E o Paulo Coelho, teu parceiro?
RAUL - Eu conheci o Paulo na Barra da Tijuca, num dia que tava lá. Às cinco horas da tarde eu tava lá meditando. Paulo também tava meditando, mas eu não o conhecia. Foi o dia que nós vimos um disco voador.
O PASQUIM - Qual foi o efeito disso em vocês?
RAUL - Ouro de Tolo, que pintou aí. Essa música.
O PASQUIM - Raul, os sinais, suas letras, está tudo ligado com um magicismo seu. Você brinca muito com isso não? Magicismo, ironia mágica, seja lá qual for. Pra botar isso bem curto: Qualé?
RAUL - Vamos citar o Apocalipse bíblico. Foi escrito numa época incrível, você tinha que falar uma linguagem simbólica, uma linguagem mágica. Mas o Apocalipse é uma coisa que se adapta a qualquer época.
O PASQUIM - Você faz isso mais para se entender ou pra que os outros te entendam?
RAUL - Pra que os outros me entendam. Pra que eu penetre em todas as estruturas, em todas as classes, em todas as faixas. Todo mundo tá cantando A Mosca na Sopa.
O PASQUIM - Use o magicismo.
RAUL - Peraí. Eu vou falar uma coisa aqui. Eu vou falar sobre os cabeludos. Eu li outro dia um negócio de Pasolini na Veja. Vocês leram? Achei fantástico. Você já não sabe mais quem é quem. Tá aquela coisa de cabeludo, tá todo mundo estereotipado. Por isso é que eu faço questão de dizer que eu não sou da turma pop, que eu não tô comendo alpiste pop. Eu sei lá, eu acho que tá todo mundo de cabeça baixa, tá todo mundo schopenhauer, todo mundo num pessimismo incrível. Essa geração audiovisual, e digo isso muito maldosamente, eu chamo eles de "audiovisuaizinhos". Minha mulher fala comigo que eu não devo fazer isso com eles, porque a garotada tá sabendo. Tá todo mundo de cabeça baixa, quieto, conformado. Eu sou um cara muito otimista nesse ponto. Sei lá, eu não sei se é a minha correspondência com o planeta, vejo a coisa em termos globais. E tá realmente acontecendo uma coisa fantástica, que é essa certeza e conscientização de que você deve ser um rato, transar de rato pra entrar no buraco de rato, vestir gravata e paletó para ser amigo do rato. E depois as coisas acontecem. Não ficar de fora fazendo bobagem, de calça Levis com tachinha. Esse tipo de protesto eu acho a coisa mais imbecil do mundo, já não se usa mais. Eles tão pensando como Jonh Lenon disse, "they think they're so classless and free". Mas não são coisa nenhuma, rapaz, tá todo mundo dentro de uma engrenagem sem controle.
O PASQUIM - Vamos falar do tempo em que você era produtor de discos na CBS. A sua posição profissional era praticamente ditatorial. Como é que era a tua transa pessoal com essa gente?
RAUL - Eu fazia aquela coisa porque sabia que era uma coisa inconseqüente. Eu fazendo ou não, outra pessoa ia fazer. Eu estava fazendo aquele trabalho, o diretor da CBS queria, e enquanto isso ia aprendendo a usar aquele mecanismo.
O PASQUIM - Você estava de rato?
RAUL - Exatamente. Eu estava de rato, vestido de rato. Foi quando surgiu a idéia de eu contratar Sérgio Sampaio e Edith Cooper, que é uma boneca lá da Bahia, um cara fantástico, muito amigo meu. Nós fizemos um disco chamado Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez. Mas o disco foi misteriosamente tirado do mercado porque não era a linha da CBS. Esse disco foi quando eu botei as manguinhas de fora, foi quando eu comecei a fazer o trabalho. Era um disco que mostrava o panorama atual, o que tava acontecendo, o caos todo daquela época. O caosinho bonitinho que tava acontecendo naquela época.
O PASQUIM - Aí você foi expulso da CBS.
RAUL - Fui expulso em função desse LP. E também porque fui no festival Internacional da Canção, cantar Let Me Sing.
O PASQUIM - Eles não queriam isso?
RAUL - Não. Eles disseram: "Ou você é produtor ou você é cantor." Eu tinha que optar.
O PASQUIM - Raul o que te levou ao hermetismo? O que você andou fazendo de coisas herméticas, e o que te deu a noção de equilíbrio?
RAUL - Foi o primeiro LP que gravei na Odeon. Foi um LP louco, rapaz. Um LP extremamente filosófico, metafísico, ontológico, que falavam em sete xícaras, ou seja, as sete perguntas aristotélicas. Ou seja, as fontes do conhecimento.
O PASQUIM - Como é que chamava o disco ?
RAUL - Raulzito e seus Panteras.
O PASQUIM - Raul, você tem filhos?
RAUL - Tenho uma filha.
O PASQUIM - Em 59, você fazia rock na Bahia. Você conheceu Caetano e Gil na Bahia?
RAUL - Conheci o Gil.
O PASQUIM - Isso foi antes do tempo de Gessy-Lever?
RAUL - Do tempo que eu fazia jingle também. Só que eu fazia jingle rock e ele fazia jingle bossa-nova. A gente se conhecia, 59, 60 por aí.
O PASQUIM - Depois desse contato, como é que foi ficando? Distante?
RAUL - Era uma coisa lá e outra aqui. Nós tínhamos um lugar, o cinema Roma, onde a gente promovia shows de rock.
O PASQUIM - Bossa-nova não?
RAUL - Bossa-nova era no teatro Vila Velha. Era uma coisa bem separada mesmo. Existia um conjunto lá, a Orquestra de Carlito, com Caetano e Gil. E existiam os Panteras. Duas coisas completamente diversas. Mas no fundo eu acho que estava todo mundo querendo chegar a mesma coisa, era só problema de linguagem.
O PASQUIM - Raul, o pessoal que viu o show em São Paulo diz que, além da crítica leve que você fez ao Roberto Carlos, tinha uma crítica ao Caetano também.
RAUL - Tinha não.
O PASQUIM - E a crítica ao Roberto?
RAUL - É uma brincadeira. Porque quando Ouro de Tolo saiu, tava saindo uma música do Roberto em que ele agradece ao Senhor pelas coisas recebidas. Ele disse que agradece, eu digo que eu devia agradecer. Foi isso que os caras pescaram.
O PASQUIM - Você falou sobre Caetano e Gil, falou sobre Jonh Lennon. E a sua influência do Bob Dylan?
RAUL - Isso é engraçado, todo mundo fala sobre esse negócio do Bob Dylan. Eu gosto de Dylan, mas não foi uma coisa marcante.
O PASQUIM - Ouro de Tolo tem uma influência.
RAUL - A letra de Ouro de Tolo saiu antes da música. Veio a letra primeiro. Eu só podia dizer aquela monstruosidade de letra quase só falando. Então calhou. Aquela coisa de Dylan, falada, calhou.
O PASQUIM - No ato de compor, o que vem primeiro na maioria dos casos, a letra ou a música?
RAUL - Geralmente vêm juntas.
O PASQUIM - Seu espetáculo é a aplaudido com um entusiasmo, digamos assim, com uma zorra total no teatro. Isso pode ser a força de seu recado. Um recado tão forte que o pessoal quer aplaudir, mas o recado ainda está um pouco na frente do momento. O que você acha?
RAUL - Eu não vou dizer por mim, mas Paulo Coelho acha isso. Ele acha que as pessoas ainda estão em dúvida, estão com um certo receio, assustam um pouco.
O PASQUIM - Raul, você falou sobre a sociedade. E outros planos para o futuro?
RAUL - Eu já tô com o meu segundo LP na cabeça. É como um degrau. Eu dividi o trabalho em quatro fases, simbólicas, é claro, dentro daquilo que nós já falamos, de magicismo. Fase Terra, Fase Fogo, Fase Água e Fase Ar. Somente com a identificação. Essa fase fogo vai ser diferente dessa, dentro do mesmo tipo de música, mas não exatamente iê-iê-iê. É outra coisa, eu prefiro que seja surpresa. Vejam depois de pronto. Eu tô seguindo uma orientação geral, em que eu recebo e dou informações. Em todos os quatro cantos do mundo, a gente tá sempre recebendo, tá tendo informações. Essa outra fase é uma fase de escada mesmo. Um lugar que você vai chegando gradativamente, sabendo aos poucos.
O PASQUIM - Basicamente que público você atinge?
RAUL - Todas as classes. Isso é que é bom. Sabe por quê? Eles assimilaram Ouro de Tolo dentro de níveis diferentes, mas no fundo era a mesma coisa. O intelectual recebia de uma maneira, o operário de outra. Lá em casa tá acontecendo uma coisa muito engraçada. Atrás do edifício estão construindo um outro enorme, então os operários cantam o dia inteiro Ouro de Tolo, com versos que eles adaptam para a realidade deles. Eles transformam os versos, dizem: "Eu devia estar feliz por que eu ganho vinte cruzeiros por dia e o engenheiro desgraçado aí..." Eu ouço o dia inteiro eles cantando isso aí. E as cartas que eu recebi da revista POP, que fez uma transação aí, negócio de "Diga o que você acha da música Ouro de Tolo." Veio do Brasil inteiro. Fantásticas aquelas cartas, eu guardo um monte. Eu li essas cartas todas. Todo mundo entendeu, dentro de uma conotação própria, dentro de um nível diferente. Eu achei fantástico isso. Quer dizer que tá funcionando.
O PASQUIM - Você tem algo a declarar para as novas gerações?
RAUL - Não, é uma juventude sadia, alegre, satisfeita, feliz e contente. Comendo alpiste. Amém.
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O PASQUIM - Você surgiu publicamente com Ouro de Tolo. Mas nós queremos que você conte o seu início, desde o princípio mesmo.
RAUL - Vamos ver. Vamos voltar a 1959. Eu tinha um conjunto de rock, lá em Salvador. Eu morava perto de uns garotos do consulado, eles me apresentaram uns discos de rock...
O PASQUIM - Krig-Ha, onde fica?
RAUL - Krig-Ha seria um rótulo. É uma sociedade que existe hoje no mundo inteiro, com vários nomes. Aqui no Brasil nós batizamos com o nome de Krig-Ha, que é o grito de guerra do Tarzan. Você deve ter lido Tarzan, né? Khig-Ha significa "cuidado"!
O PASQUIM - Bandolo é inimigo, né?
RAUL - É. Aí vem o inimigo. Tinha o dicionário de Tarzan na primeira página. Você lia e tinha a tradução. Eu sabia aquilo decorado. Mas essa sociedade promove acontecimentos. O primeiro acontecimento que essa sociedade promoveu foi o disco, o LP Krig-Ha, Bandolo!
O PASQUIM - Voltando à sua biografia. Você poderia explicar sua formação literária, como você chegou a esse texto?
RAUL - Isso aí é uma coisa interessante. Antes de eu vir pro Rio eu pensava em ser escritor. Eu sempre escrevi. Antes de cantar, eu pensei em escrever. Eu tenho alguma coisa escrita guardada no baú , que penso em publicar algum dia. Eu sou muito dado à filosofia, eu estudei muito filosofia, principalmente a metafísica, ontologia, essa coisa toda. Sempre gostei muito, me interessei. Minha infância foi formada por, vamos dizer, um pessimismo incrível, de Augusto dos Anjos, de Kafka, Schopenhauer. Depois eu fui canalizando e divergindo, captando as outras coisas, abrindo mais e aceitando as outras coisas. Estudei literatura, comecei a ver a coisa sem verdades absolutas. Sempre aberto, abrindo portas para as verdades individuais. Assim, sabe? E escrevia muita poesia. Vim pra cá publicar.
O PASQUIM - E o Paulo Coelho, teu parceiro?
RAUL - Eu conheci o Paulo na Barra da Tijuca, num dia que tava lá. Às cinco horas da tarde eu tava lá meditando. Paulo também tava meditando, mas eu não o conhecia. Foi o dia que nós vimos um disco voador.
O PASQUIM - Qual foi o efeito disso em vocês?
RAUL - Ouro de Tolo, que pintou aí. Essa música.
O PASQUIM - Raul, os sinais, suas letras, está tudo ligado com um magicismo seu. Você brinca muito com isso não? Magicismo, ironia mágica, seja lá qual for. Pra botar isso bem curto: Qualé?
RAUL - Vamos citar o Apocalipse bíblico. Foi escrito numa época incrível, você tinha que falar uma linguagem simbólica, uma linguagem mágica. Mas o Apocalipse é uma coisa que se adapta a qualquer época.
O PASQUIM - Você faz isso mais para se entender ou pra que os outros te entendam?
RAUL - Pra que os outros me entendam. Pra que eu penetre em todas as estruturas, em todas as classes, em todas as faixas. Todo mundo tá cantando A Mosca na Sopa.
O PASQUIM - Use o magicismo.
RAUL - Peraí. Eu vou falar uma coisa aqui. Eu vou falar sobre os cabeludos. Eu li outro dia um negócio de Pasolini na Veja. Vocês leram? Achei fantástico. Você já não sabe mais quem é quem. Tá aquela coisa de cabeludo, tá todo mundo estereotipado. Por isso é que eu faço questão de dizer que eu não sou da turma pop, que eu não tô comendo alpiste pop. Eu sei lá, eu acho que tá todo mundo de cabeça baixa, tá todo mundo schopenhauer, todo mundo num pessimismo incrível. Essa geração audiovisual, e digo isso muito maldosamente, eu chamo eles de "audiovisuaizinhos". Minha mulher fala comigo que eu não devo fazer isso com eles, porque a garotada tá sabendo. Tá todo mundo de cabeça baixa, quieto, conformado. Eu sou um cara muito otimista nesse ponto. Sei lá, eu não sei se é a minha correspondência com o planeta, vejo a coisa em termos globais. E tá realmente acontecendo uma coisa fantástica, que é essa certeza e conscientização de que você deve ser um rato, transar de rato pra entrar no buraco de rato, vestir gravata e paletó para ser amigo do rato. E depois as coisas acontecem. Não ficar de fora fazendo bobagem, de calça Levis com tachinha. Esse tipo de protesto eu acho a coisa mais imbecil do mundo, já não se usa mais. Eles tão pensando como Jonh Lenon disse, "they think they're so classless and free". Mas não são coisa nenhuma, rapaz, tá todo mundo dentro de uma engrenagem sem controle.
O PASQUIM - Vamos falar do tempo em que você era produtor de discos na CBS. A sua posição profissional era praticamente ditatorial. Como é que era a tua transa pessoal com essa gente?
RAUL - Eu fazia aquela coisa porque sabia que era uma coisa inconseqüente. Eu fazendo ou não, outra pessoa ia fazer. Eu estava fazendo aquele trabalho, o diretor da CBS queria, e enquanto isso ia aprendendo a usar aquele mecanismo.
O PASQUIM - Você estava de rato?
RAUL - Exatamente. Eu estava de rato, vestido de rato. Foi quando surgiu a idéia de eu contratar Sérgio Sampaio e Edith Cooper, que é uma boneca lá da Bahia, um cara fantástico, muito amigo meu. Nós fizemos um disco chamado Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez. Mas o disco foi misteriosamente tirado do mercado porque não era a linha da CBS. Esse disco foi quando eu botei as manguinhas de fora, foi quando eu comecei a fazer o trabalho. Era um disco que mostrava o panorama atual, o que tava acontecendo, o caos todo daquela época. O caosinho bonitinho que tava acontecendo naquela época.
O PASQUIM - Aí você foi expulso da CBS.
RAUL - Fui expulso em função desse LP. E também porque fui no festival Internacional da Canção, cantar Let Me Sing.
O PASQUIM - Eles não queriam isso?
RAUL - Não. Eles disseram: "Ou você é produtor ou você é cantor." Eu tinha que optar.
O PASQUIM - Raul o que te levou ao hermetismo? O que você andou fazendo de coisas herméticas, e o que te deu a noção de equilíbrio?
RAUL - Foi o primeiro LP que gravei na Odeon. Foi um LP louco, rapaz. Um LP extremamente filosófico, metafísico, ontológico, que falavam em sete xícaras, ou seja, as sete perguntas aristotélicas. Ou seja, as fontes do conhecimento.
O PASQUIM - Como é que chamava o disco ?
RAUL - Raulzito e seus Panteras.
O PASQUIM - Raul, você tem filhos?
RAUL - Tenho uma filha.
O PASQUIM - Em 59, você fazia rock na Bahia. Você conheceu Caetano e Gil na Bahia?
RAUL - Conheci o Gil.
O PASQUIM - Isso foi antes do tempo de Gessy-Lever?
RAUL - Do tempo que eu fazia jingle também. Só que eu fazia jingle rock e ele fazia jingle bossa-nova. A gente se conhecia, 59, 60 por aí.
O PASQUIM - Depois desse contato, como é que foi ficando? Distante?
RAUL - Era uma coisa lá e outra aqui. Nós tínhamos um lugar, o cinema Roma, onde a gente promovia shows de rock.
O PASQUIM - Bossa-nova não?
RAUL - Bossa-nova era no teatro Vila Velha. Era uma coisa bem separada mesmo. Existia um conjunto lá, a Orquestra de Carlito, com Caetano e Gil. E existiam os Panteras. Duas coisas completamente diversas. Mas no fundo eu acho que estava todo mundo querendo chegar a mesma coisa, era só problema de linguagem.
O PASQUIM - Raul, o pessoal que viu o show em São Paulo diz que, além da crítica leve que você fez ao Roberto Carlos, tinha uma crítica ao Caetano também.
RAUL - Tinha não.
O PASQUIM - E a crítica ao Roberto?
RAUL - É uma brincadeira. Porque quando Ouro de Tolo saiu, tava saindo uma música do Roberto em que ele agradece ao Senhor pelas coisas recebidas. Ele disse que agradece, eu digo que eu devia agradecer. Foi isso que os caras pescaram.
O PASQUIM - Você falou sobre Caetano e Gil, falou sobre Jonh Lennon. E a sua influência do Bob Dylan?
RAUL - Isso é engraçado, todo mundo fala sobre esse negócio do Bob Dylan. Eu gosto de Dylan, mas não foi uma coisa marcante.
O PASQUIM - Ouro de Tolo tem uma influência.
RAUL - A letra de Ouro de Tolo saiu antes da música. Veio a letra primeiro. Eu só podia dizer aquela monstruosidade de letra quase só falando. Então calhou. Aquela coisa de Dylan, falada, calhou.
O PASQUIM - No ato de compor, o que vem primeiro na maioria dos casos, a letra ou a música?
RAUL - Geralmente vêm juntas.
O PASQUIM - Seu espetáculo é a aplaudido com um entusiasmo, digamos assim, com uma zorra total no teatro. Isso pode ser a força de seu recado. Um recado tão forte que o pessoal quer aplaudir, mas o recado ainda está um pouco na frente do momento. O que você acha?
RAUL - Eu não vou dizer por mim, mas Paulo Coelho acha isso. Ele acha que as pessoas ainda estão em dúvida, estão com um certo receio, assustam um pouco.
O PASQUIM - Raul, você falou sobre a sociedade. E outros planos para o futuro?
RAUL - Eu já tô com o meu segundo LP na cabeça. É como um degrau. Eu dividi o trabalho em quatro fases, simbólicas, é claro, dentro daquilo que nós já falamos, de magicismo. Fase Terra, Fase Fogo, Fase Água e Fase Ar. Somente com a identificação. Essa fase fogo vai ser diferente dessa, dentro do mesmo tipo de música, mas não exatamente iê-iê-iê. É outra coisa, eu prefiro que seja surpresa. Vejam depois de pronto. Eu tô seguindo uma orientação geral, em que eu recebo e dou informações. Em todos os quatro cantos do mundo, a gente tá sempre recebendo, tá tendo informações. Essa outra fase é uma fase de escada mesmo. Um lugar que você vai chegando gradativamente, sabendo aos poucos.
O PASQUIM - Basicamente que público você atinge?
RAUL - Todas as classes. Isso é que é bom. Sabe por quê? Eles assimilaram Ouro de Tolo dentro de níveis diferentes, mas no fundo era a mesma coisa. O intelectual recebia de uma maneira, o operário de outra. Lá em casa tá acontecendo uma coisa muito engraçada. Atrás do edifício estão construindo um outro enorme, então os operários cantam o dia inteiro Ouro de Tolo, com versos que eles adaptam para a realidade deles. Eles transformam os versos, dizem: "Eu devia estar feliz por que eu ganho vinte cruzeiros por dia e o engenheiro desgraçado aí..." Eu ouço o dia inteiro eles cantando isso aí. E as cartas que eu recebi da revista POP, que fez uma transação aí, negócio de "Diga o que você acha da música Ouro de Tolo." Veio do Brasil inteiro. Fantásticas aquelas cartas, eu guardo um monte. Eu li essas cartas todas. Todo mundo entendeu, dentro de uma conotação própria, dentro de um nível diferente. Eu achei fantástico isso. Quer dizer que tá funcionando.
O PASQUIM - Você tem algo a declarar para as novas gerações?
RAUL - Não, é uma juventude sadia, alegre, satisfeita, feliz e contente. Comendo alpiste. Amém.
HISTÓRICO AMOROSO DE RAUL:
APESAR DE MALUCO, RAUL ERA BASTANTE ROMÂNTICO, PERCEBE-SE ATRAVÉS DE SUAS CANÇÕES , NÃO É À TOA QUE CASOU-SE DIVERSAS VEZES: A PRIMEIRA MULHER FOI EDITH WISNER COM QUEM TEVE SUA PRIMEIRA FILHA(SIMONE) E SEPAROU-SE DA MESMA EM 1974. NO ANO SEGUINTE 1975, CASA-SE COM GLORIA VAQUER EM 1976 E TEM SUA SEGUNDA FILHA, A "MENINA" SCARLET. EM 1978, COMEÇA TER PROBLEMAS DE SAÚDE POR CONTA DO ALCOOLISMO E NO MESMO ANO CONHECE TANIA MENNA BARRETO E PARTE PARA O TERCEIRO CASAMENTO. NO ANO DE 1979 SEPARA-SE DE TANIA E CONHECE ANGELA AFONSO COSTA, A KIKA SEIXAS, COM QUEM SE CASA. EM 1981, NASCE VIVIAN, QUE HOJE É DJ E VAI LANÇAR UM DISCO REVERENCIANDO SEU PAI. FRUTO DO CASAMENTO COM KIKA. JÁ EM 1985, SEPARA-SE DE KIKA. POR VOLTA DE 1987 CONHECE LENA COUTINHO, SUA ÚLTIMA COMPANHEIRA.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Se eu te amo e tu me amas
E um amor a dois profano
O amor de todos os mortais
Por que quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais
Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Infinita tua beleza
Como pode ficar presa
Que nem santa no altar
Infinita tua beleza
Como pode ficar presa
Que nem santa no altar
Quando eu te escolhi para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma, ser seu corpo
Tudo em fim
Mas compreendi que além de dois existem mais
O amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro mas eu vou te libertar
O que é que eu quero se eu te privo
Do que eu mais venero
Eu quis ser tua alma, ser seu corpo
Tudo em fim
Mas compreendi que além de dois existem mais
O amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro mas eu vou te libertar
O que é que eu quero se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar
“Se tem uma coisa que Raul não era, era maluco. Maluco só se for no sentido poético, porque isso de ser maluco virou um estigma. Associa-se a imagem do maluco a uma incoerência que não existe na obra dele. O comportamento que atraía os jovens da época do Raul, e que continua atraindo, propriciava a você reclamar, chocar, contradizer, poder assumir um papel de uma certa crueldadew necessária que é a antítese dessa gente humilde. Ele veio com uma coisa inconformada que teve uma ressonância enorme em toda uma geração. O Raul que passava imagem de rebelde, tinha uma estruturação musical bem ampla, tinha uma intimidade enorme com o coco, com o repente, com o maxixe e ouvia muito Luiz Gonzaga. Vem cá cintura fina, cintura de pilão, cintura.....
LOBÃO
músico
“Não tive contato com o Raul seixas. Sou amigo do Paulo Coelho. Gosto muito das músicas e das letras dele, ouço ainda de vez em quando. O que mais me toca é seu alto astral. Acho que ele foi um artista completo, não é à toa que tem tantos fãs. Ele agrada uma faixa muito ampla de pessoas, tem admiradores de todas as idades. Não vejo tanta influência política nas suas músicas, o que chama mesmo a atenção é o seu misticismo, o alto astral de suas letras.”
Boris Casoy
Jornalista, apresentador de televisão
Boris Casoy
Jornalista, apresentador de televisão
“A obra de Raul Seixas representa uma visão contestadora a estagnação social promovida pelo poder. Ele conversava com cada um de nós em suas músicas e oferecia uma possibilidade de encontrar outro caminho, um estilo de vida alternativo. Para mim, Raul Seixas foi uma grande figura. Não tinha medo de dizer o que sentia e era muito humano ao oferecer um caminho novo às pessoas que escutavam seu trabalho.”
Fernando Gabeira
Deputado Federal(PV-RJ)
Fernando Gabeira
Deputado Federal(PV-RJ)
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
CURIOSIDADES SOBRE RAUL
RAUL SEIXAS COMPÔS "METAMORFOSE AMBULANTE" AOS 12 ANOS;
RAUL TINHA HORROR A LÉSBICA E A VEADO. ELE FICAVA INCOMODADO COM BOIOLA;
ROCK DAS ARANHAS FOI UMA CRÍTICA BEM HUMORADA AO HOMOSSEXUALISMO;
RAUL PASSOU EM PRIMEIRO LUGAR NO VESTIBULAR DE DIREITO, PARA IMPRESSIONAR A FAMÍLIA DA NAMORADA EDITH, QUE VEIO A SER ENTÃO A SUA PRIMEIRA ESPOSA.
RAUL SEIXAS COMPÔS "METAMORFOSE AMBULANTE" AOS 12 ANOS;
RAUL TINHA HORROR A LÉSBICA E A VEADO. ELE FICAVA INCOMODADO COM BOIOLA;
ROCK DAS ARANHAS FOI UMA CRÍTICA BEM HUMORADA AO HOMOSSEXUALISMO;
RAUL PASSOU EM PRIMEIRO LUGAR NO VESTIBULAR DE DIREITO, PARA IMPRESSIONAR A FAMÍLIA DA NAMORADA EDITH, QUE VEIO A SER ENTÃO A SUA PRIMEIRA ESPOSA.
FESTIVAL DE BESTEIROL SOBRE RAUL SEIXAS
--Eu perdi o meu medo da chuva vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar!
Raul Seixas sobre seu antigo medo
--Eu nasci, há 10 mil anos atrás!
Raul Seixas sobre o seu nascimento em 8 950 antes de Cristo
--Plunct Plact Zum! Não vai a lugar nenhum!
Raul Seixas sobre Censura
--Fui eu que fiz o parto desse filho da puta seu filho da puta
Dercy Gonçalves sobre nascimento de Raul Seixas há 10.000 anos atrás
--Mamãe não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito, e alguém pode querer me assassinar...
Raul Seixas sobre terrorismo
--Raul Seixas me pediu um carona quando eu navegava pelos mares em minha arca!
Noé sobre Raul Seixas
--Meu amigo!
Paulo Coelho sobre Raul Seixas
--A sociedade alternativa...está nascendo aqui...pra vocês...viva a sociedade alternativa
Raul Seixas sobre este phuderoso blog Chumbo Grosso.
Raul Seixas sobre seu antigo medo
--Eu nasci, há 10 mil anos atrás!
Raul Seixas sobre o seu nascimento em 8 950 antes de Cristo
--Plunct Plact Zum! Não vai a lugar nenhum!
Raul Seixas sobre Censura
--Fui eu que fiz o parto desse filho da puta seu filho da puta
Dercy Gonçalves sobre nascimento de Raul Seixas há 10.000 anos atrás
--Mamãe não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito, e alguém pode querer me assassinar...
Raul Seixas sobre terrorismo
--Raul Seixas me pediu um carona quando eu navegava pelos mares em minha arca!
Noé sobre Raul Seixas
--Meu amigo!
Paulo Coelho sobre Raul Seixas
--A sociedade alternativa...está nascendo aqui...pra vocês...viva a sociedade alternativa
Raul Seixas sobre este phuderoso blog Chumbo Grosso.
sábado, 22 de agosto de 2009
DOIS PEQUENOS TRECHOS DE UMA CARTA DE PAULO COELHO PARA RAUL SEIXAS:
RIO DE JANEIRO, 16DE JUNHO DE 1976
Amigo querido,
São onze horas da manhã, estou esperando a hora do almoço para dar um pulo até o hospital. o seu "filho que ainda não veio" deve ter chegado, o meu ainda vai custar um pouco, mas certamente chegará também.
Meu amigo, louco, chato, às vezes irritante, mas sempre pespicaz e apto a perceber o que está acontecendo, eu faço votos para que você hoje tenha dado mais um paço em direção a sua felicidade. Um grande beijo do amigo que lhe quer tanto mal quanto bem.
Paulo Coelho
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