CELSO ARNALDO ARAÚJO
A corrupção no Brasil é o melhor negócio do mundo. Muito mais lucrativo do que TRÁFICO DE DROGAS, JOGO, CONTRABANDO — e com uma pequena fração do risco inerente a esses delitos. Não precisa da sombra, do subterrâneo, da clandestinidade, como todos esses. O negócio da corrupção é idealizado e patrocinado por agentes legítimos do governo e coonestado por políticos eleitos pelo povo — ou vice-versa. E malversa um dinheiro que está devidamente contabilizado e destinado a esse fim. Lá bem para trás, esse dinheiro foi aliviado de nosso bolso na forma de taxas e impostos — mas já nos habituamos à mão leve do estado e perdemos a noção desta cadeia alimentar: OS CORRUPTOS SE FARTAM COM O DINHEIRO QUE RECOLHEMOS COMPULSORIAMENTE AOS COFRES PÚBLICOS, FRUTO DE NOSSO TRABALHO. Claro que um esquema de corrupção sempre pode ser desbaratado, mas não por falhas intrínsecas do sistema, que é perfeito — o único flanco é o vazamento interno, como deve ter ocorrido agora no desmantelamento da quadrilha que não perdia viagem no Ministério do Turismo. A IMPLOSÃO DE UM MODELO DE ROUBALHEIRA PODE DAR ALGUM CONSTRANGIMENTO INICIAL AOS ENVOLVIDOS, ÀS VEZES UM PAR DE ALGEMAS UM TANTO APERTADAS, MAS CADEIA DE VERDADE NÃO DÁ – PODENDO-SE TAMBÉM MANTER O PRODUTO DO DESVIO QUANDO A ONDA PASSAR. BASTA DESENVOLVER UM MODUS OPERANDI BEM FECHADINHO – MESMO QUE BEM TOSCO. A criação de uma ONG fantasma no Amapá para TREINAR PESSOAS A DOBRAR GUARDANAPOS parecia mais segura do que fazer xixi, sem ser pego pela polícia ambiental islandesa, na borda do vulcão Eyjafjallajokull. Há oito anos, o PT municia com verbas vultosas um número incalculável de ONGUINHAS camaradas ligadas ao Ministério do Turismo e às outras pastas – mais uma, menos uma, não faria diferença nem chamaria a atenção. E se chamasse, sempre haveria Sarney, que aluga o estado e é tido como bom inquilino, pagando sempre em dia – apesar dos 80 anos, ainda é dono de uma técnica insuperável de limpeza de cenários de crimes, como o personagerm de Harvey Keitel em “Pulp Fiction”. A transferência de know-how é completa. A pequena mise-en-scène necessária à prática fluente do delito amapaense foi dirigida pelo próprio secretário executivo do Ministério, Frederico Silva Costa, que, numa daquelas piadas prontas que fazem o dia do José Simão, se encarregou de transmitir a instrução básica ao assecla fundador da ONG ladra: “O IMPORTANTE É A FACHADA”, disparou ele, em gravação autorizada pela Justiça. Não foi uma recomendação metafórica, alegórica – mas real. A fachada – no caso, a frente física da sede da ONG milionária incapaz de capacitar alguém a servir um copo de água –, é uma questão muito importante, como diria a presidente Dilma. Algo deu errado e a fachada caiu. Bom para nós. Mas e o dinheiro? O governo Lula criou a mulher e, justiça seja feita, não criou a corrupção. Apenas aperfeiçoou-a, com a decisiva contribuição dos profissionais dos partidos aliados. Em governos anteriores — e aqui mesmo em São Paulo há toda uma malha viária construída dentro desse parâmetro – partia-se de um projeto já definido, uma nova avenida, por exemplo, e a ele se agregava a corrupção, na forma clássica do superfaturamento de custos. Isto é, o projeto real sempre precedia o furto – e, bem ou mal, era concretizado, na forma de um viaduto, uma ponte, um recapeamento, um lote de merendas escolares. Hoje, ainda se desviam bilhões com esse modus roubandi clássico, em todos os ministérios. MAS O LULOPETISMO APERFEIÇOOU, NO NEGÓCIO DA CORRUPÇÃO, UMA MODALIDADE EXTRAORDINARIAMENTE MAIS FÁCIL, AINDA MAIS LUCRATIVA E MUITO MAIS CÍNICA E PERVERSA. Hoje, a ideia do roubo preexiste à concepcção do projeto – e este nem precisa se materializar, como no caso da ONG do Amapá que capacitou servidores públicos para o roubo de cofres públicos. Ou seja: é a corrupção ectoplasmática. Rouba-se o que não existe – além de dinheiro... E de Pedro Novais...
Augusto Nunes
O noticiário político-policial informa que os assaltantes de cofres públicos não se constrangem com nada. Espalhada por todas as ramificações da máquina administrativa, A BANDIDAGEM APADRINHADA PELA ALIANÇA GOVERNISTA transforma o clã em quadrilha, ensina o filho a roubar desde criancinha, reduz a mulher a comparsa, carrega pilhas de cédulas em malas, meias ou cuecas, desvia a verba dos flagelados ou o carregamento de remédios, tunga o dinheiro da merenda escolar, pendura o neto em cargos de confiança, passeia de jatinho com a mãe ou a sogra, inventa consultorias, estupra sigilo bancário, curra sigilo fiscal, cria empresas de fachada, usa o jardineiro como laranja, vende gado inexistente, mente compulsivamente e, se o perigo é muito, QUEIMA O ARQUIVO. Para viver como o diabo gosta, faz coisas de que até Deus duvida. A TURMA QUE TUDO SE PERMITE SÓ NÃO ADMITE SER ALGEMADA. Com os braços provisoriamente imobilizados, punguistas patológicos incorporam a figura do chefe de família respeitável: O QUE É QUE VOU DIZER LÁ EM CASA?, parece perguntar a expressão envergonhada. Não é possível tratar como criminoso comum um delinquente da classe executiva, berram advogados e padrinhos. NÃO HÁ LIMITES PARA A ROUBALHEIRA, MAS É PRECISO IMPOR LIMITES ÀS AÇÕES DA POLÍCIA FEDERAL. O berreiro dos culpados revela que eles só têm medo de algemas. Bom saber. Já que argolas de metal são a única coisa capaz de reavivar o sentimento da vergonha, já se sabe o que fazer para produzir os mesmos efeitos causados pelo velho e infalível “OLHA O RAPA!”. Basta que os brasileiros honestos, sempre que toparem com qualquer integrante da multidão de assaltantes, gritem a palavra-de-ordem medonha: ALGEMAS PARA TODOS!!!