segunda-feira, 14 de outubro de 2013

MARINA SILVA DEU UMA ENTREVISTA LÚCIDA, INTELIGENTE E DE MUITA SUSTENTABILIDADE AO JORNAL VALOR ECONÔMICO




VALOR ECONÔMICO: HÁ ALGUMA CONTRADIÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE E O IDEÁRIO ECONÔMICO QUE A SENHORA DEFENDE?

MARINA: Não há contradição. Sustentabilidade e o desenvolvimento econômico devem estar integrados. Estas coisas caminharam separadas durante séculos, como se a nossa ação para prover os meios materiais para a nossa existência tivesse uma fonte infinita de provimento. Depois veio o discurso de tentar compatibilizar. E agora a crise ambiental global se agrava a tal ponto que já não se trata mais de negar a realidade desse esgotamento dos recursos naturais, mas também já não se trata mais de pensar em como compatibilizar, como se uma coisa fosse em oposição à outra. Agora é como integrar. Nosso desafio, nesse início de século, é integrar ECONOMIA e ECOLOGIA em uma mesma equação.

VALOR: O QUE SIGNIFICA ISSO?

MARINA: Ao fazer essa integração, a gente sai da lógica de uso dos recursos de milhares de anos, tendo o lucro de apenas algumas décadas, para a ideia de como esses recursos possam perdurar de forma sustentável ao longo do processo civilizatório.

VALOR: COMO SE FAZ ISSO?

MARINA: Para encarar esse desafio, da integração, é fundamental termos na ciência, na tecnologia e na inovação uma base de suporte para estas mudanças. É preciso termos, nas prioridades dos investimentos, os meios para alavancar novas formas de produção, de produtos e de materiais. E também como isso se realiza do ponto de vista da sustentabilidade política, porque tudo isso se constitui em políticas de médio e longo prazo. Vamos ter que "RESSIGNIFICAR" a experiência econômica, social e cultural que temos, a partir delas mesmas. É uma espécie de mutação.

VALOR: MUTAÇÃO?

MARINA: Não há como fazer uma transição demorada ou uma ruptura abrupta. É o próprio tecido econômico-social que vai se transformando à luz dessa necessidade que está colocada. Isso é válido para todos os setores, para a indústria, a agricultura, o consumo, a ciência, até para a nossa maneira de ser. SUSTENTABILIDADE É UMA VISÃO DE MUNDO, UM IDEAL DE VIDA. Esse ideal vai se realizar na forma de novos projetos identificatórios. Quais são eles, nesse começo de século? Com certeza não são aqueles do passado, carvão-petróleo-gás. Isso ainda não temos como substituir de forma abrupta, mas temos que transitar para o uso de fontes renováveis. Como vamos dar conta de alimentar 9 bilhões de pessoas? Não é aumentando a pressão sobre as florestas, sobre os recursos hídricos, sobre as áreas agricultáveis. É aumentando a produção por ganho de produtividade. São novas lógicas que vão se estabelecendo a partir do ideal de uma cultura de sustentabilidade.

VALOR: QUAL A PROPOSTA DE GOVERNABILIDADE? ALIANÇAS MAIS ESTREITAS? COMO SE GOVERNA ASSIM?

MARINA: Não dá para governar com bases nestas alianças que estão aí. Não dá para continuar. Não consigo imaginar como se pode dar um cheque em branco para mais quatro anos de governabilidade, em cima de distribuição de pedaços de Estado. Isso está completamente frágil. Mesmo com essa distribuição de cargos, esta base é completamente flácida, não dá sustentação para aquilo que é essencial e quando o governo mais precisa. Não tem como continuar essa governabilidade com base no pragmatismo que não é feito a partir do compromisso com um programa. Se você parte do princípio de que é apenas uma aliança eleitoral - ganha a eleição e depois decide o que vai fazer - aí, para compor a base para este presidencialismo de coalizão, é preciso ficar DISTRIBUINDO PEDAÇOS DO ESTADO E VIVER A CHANTAGEM DE MAIS ESPAÇO. Mas se você está aberto dentro de um programa, discutindo com as forças políticas o que é importante nessa agenda, e faz uma composição programática, é outra qualidade de base de sustentação. É este círculo virtuoso que tem que surgir, e este círculo vicioso tem que ser interrompido. A sociedade não tem mais como aguentar a ameaça de ver as conquistas serem perdidas por esse atraso na política. Não tem como suportar ver o futuro ameaçado porque só conseguem perceber o resultado da próxima eleição sem ter visão de futuro.

VALOR: QUAIS SÃO ESTES DESAFIOS?

MARINA: Educação, inovação, ciência, tecnologia, infraestrutura para o desenvolvimento sustentável com geração de energia renovável, segura e diversificada. Com uma infraestrutura que dialogue com as dinâmicas de desenvolvimento que vão se colocando, à luz das novas realidades econômica que estão surgindo no mundo e no Brasil.

VALOR: VOLTANDO À QUESTÃO DAS ALIANÇAS, QUEM DEVE SER VETADO?

MARINA: A velha política, a continuidade desta forma que temos e que está nos levando à estagnação. O veto não é a essa ou àquela sigla. É a essa visão de política, de Estado, de composição. Nenhum partido terá maioria para governar sozinho, mas nenhum partido fará diferença se a forma de buscar apoio para o programa de quem ganhou for com base, pura e simplesmente, na distribuição de cargos e em vantagens para que os políticos se formem cada vez mais em um grupo de interesse de si mesmos.

VALOR: VOCÊS FALAM EM RENOVAÇÃO DA POLÍTICA. O QUE ISSO QUER DIZER?

MARINA: Uma coisa que eu e Eduardo estamos fazendo é ter uma atitude de muita tranquilidade. Começamos este processo há uma semana. Não podemos ter a ansiedade de apresentarmos uma lista de projetos contemplando as questões da sustentabilidade como se fosse uma peça literária. É algo que tem que ser pactuado com os diferentes setores da sociedade. Queremos fazer isso com a sociedade e quebrando a lógica da polarização.

VALOR: COMO ASSIM?

MARINA: Há três grandes conquistas que reconhecemos a autoria: a democracia, conquistada e estabilizada por todos os partidos de tradição democrática e todos os movimentos. A estabilidade econômica referenciada no governo do PSDB, a inclusão social referenciada no governo do presidente Lula. E, a partir desses ganhos, como a gente pode transitar para uma agenda que não mude porque mudou o governo.

VALOR: O QUE A SENHORA QUER DIZER COM "DISRUPTURA"?


MARINA: Uma coisa importante é a necessidade desse realinhamento histórico. Essa polarização criou uma cristalização PT e PSDB que acaba fazendo um mal muito grande para o pais. Cada um exclusivo em relação ao outro, ainda que para manter essa sua exclusividade tenha que ser tutelado pelas forças mais atrasadas da política brasileira. E como eu e Eduardo reconhecemos tanto as coisas boas do governo do PT e do PSDB, talvez sejamos a esperança de provocar uma "DISRUPTURA". Só uma outra concepção política não baseada na oposição pela oposição, mas que sabe reconhecer os ganhos e se dispõe ao diálogo, seria capaz de ajudar a promover este realinhamento. Em lugar de cada um querer ser exclusivo na lógica de política de curto prazo para aumentar o seu prazo na política, A GENTE PRECISA TER AGENDA ESTRATÉGICA DE LONGO PRAZO EM NOSSOS CURTOS PRAZOS. ISSO SÓ É POSSÍVEL DENTRO DE UMA LÓGICA DE PROJETO DE PAÍS E NÃO DE PROJETO DE PODER.

sábado, 12 de outubro de 2013

MARCOS FREIRE, MIGUEL ARRAES, E AGORA, EDUARDO CAMPOS: COMO SEMPRE, PERNAMBUCO, IMORTAL!!! IMORTAL!!!

 






A ALTERNATIVA CAMPOS

 

 

REFORÇADO PELA ALIANÇA COM MARINA, O GOVERNADOR DE PERNAMBUCO CONSOLIDA SUA CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA E ALTERA OS RUMOS DA CAMPANHA. CONHEÇA SEUS PLANOS, A ESTRATÉGIA ELEITORAL E OS BASTIDORES DA ARTICULAÇÃO QUE LEVOU A EX-MINISTRA DO MEIO AMBIENTE AO PSB.

Claudio Dantas Sequeira e Adriano Machado (fotos), enviados especiais a Recife

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SURGE UM CANDIDATO

Na quarta-feira 9, em sua residência em Recife, Eduardo Campos assiste ao 
programa eleitoral do PSB com o filho José Henrique no colo. A peça publicitária,
que foi exibida no dia seguinte, precisou ser refeita para incluir Marina Silva
 
"Bota uma camisa, Zé, para tirar um retrato.” Curiosíssimo e tímido, o pequeno José Henrique, usando camiseta vermelha e bermuda estampada xadrez, não desgruda do pai, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, nem um minuto sequer. Levanta do sofá da sala, corre até o quarto e retorna esbaforido. O pai lhe entrega um DVD, que o garoto coloca para rodar no home teather. “Vou antecipar para vocês como vai ser o novo programa do PSB”, diz Campos com o filho no colo. Um sol forte despontava no horizonte da capital pernambucana, quando na quarta-feira 9 o mais badalado candidato à Presidência do momento – desde que sacramentou há duas semanas a aliança com Marina Silva – abriu sua residência para a reportagem de ISTOÉ. Despojado, vestindo calça jeans e camisa social branca, Campos abandonou as gravatas Hermès que costumava usar. Já o relógio Cartier ele diz que foi presente dos funcionários do gabinete. A nova imagem é fruto do novo momento político, e de quem olha para as eleições de 2014. Em quase quatro horas de conversa, o governador de Pernambuco falou abertamente sobre seu projeto político, detalhou parte da estratégia de campanha ao Planalto e contou os bastidores da articulação que levou a ex-senadora Marina Silva para o PSB, num surpreendente movimento que pegou o mundo político no contrapé, a começar por seus aliados e, principalmente, adversários.


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Enquanto exibia o programa político do PSB, que só foi ao ar no dia seguinte, Campos contou que a nova peça publicitária do partido precisou ser refeita e reeditada. “Cortamos o final para incluir o ato da aliança com a Marina em Brasília”, justificou o candidato, antes de conferir a inserção pela última vez, na presença de ISTOÉ.
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As alterações de última hora demonstram que a aliança entre os dois foi uma operação espontânea e mesmo improvisada, ao contrário do que se costuma acreditar num país onde a crônica política dedica um culto anormal às teorias conspiratórias. A intenção de Marina foi comunicada a Eduardo Campos na sexta-feira 4, através de vários amigos comuns. Eles relatam que, ao menos inicialmente, o anfitrião não deixou de manifestar uma imensa surpresa diante da possibilidade de hospedar uma aliada tão vigorosa – com 28% de intenções de voto no último DataFolha, contra 8% para ele próprio. Para Marina, interessada em desempenhar um papel ativo em 2014, o PSB surgiu como opção natural, pois sendo um partido com 60 anos de existência não seria encarado como uma legenda de aluguel, a exemplo do PROS e do Solidariedade, criados às vésperas.
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 Agora, porém, Eduardo Campos tem consciência de que a improvisação e a espontaneidade que marcaram a negociação para a aliança com Marina precisam ser deixadas para trás se quiserem obter êxito eleitoral em 2014. Por isso, PSB e Rede criaram, na semana passada, um grupo de trabalho que já começou a discutir estratégias de campanha. O primeiro desafio envolve uma situação eleitoral exótica. Consiste em manter, como cabeça de chapa, um candidato a presidente que exibe, na melhor das hipóteses, um terço das intenções de voto da possível candidata a vice. A situação é delicada para as duas partes. Mesmo pressionada por seus militantes, que sonham com uma mudança de posição entre os dois, Marina sabe que não pode fazer nenhum gesto que possa ser interpretado como uma traição a Eduardo Campos. Ela não está em sua casa política. Ingressou no PSB a pedido, e não por convite, filiando-se a uma sigla que o governador herdou de seu avô, o lendário Miguel Arraes, e lidera com energia e controle. Candidato ao Planalto desde 2010, pelo menos, Eduardo Campos trouxe este projeto para 2014, quando poderia, se quisesse, esperar por 2018, quando teria a promessa de apoio de Lula para concorrer à sucessão de Dilma. Em função de tantas circunstâncias somadas, o sonho dos aliados de Marina de conseguir a cabeça de chapa equivalia, na semana passada, a uma utopia do tamanho do Amazonas. Com o objetivo de desfazer previsíveis ruídos surgidos nessa convivência, Marina Silva passou a semana ao telefone, esclarecendo com o parceiro qualquer confusão que pudesse sugerir um avanço de sinal. “Ela chegou a me enviar o áudio da entrevista a um jornal para provar que suas declarações saíram distorcidas”, disse Campos à ISTOÉ.
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No esforço para encaixar o discurso estridente de Marina na campanha de Eduardo, a ideia é imitar o comportamento de Lula que viabilizou Dilma em 2010. Não faltarão pretextos para exibir os dois, lado a lado, sempre que possível. Para evitar qualquer artificialismo, eles deverão alimentar declarações políticas que se harmonizam e complementam, evitando temas que possam afastá-los. A tentativa de garantir a transferência de milhões de votos potenciais de Marina envolve uma operação cuidadosa. As pesquisas mostram que, deixada por sua própria conta, parte dos eleitores de Marina Silva tem uma tendência natural para escolher Dilma Rousseff como segunda opção. O plano do PSB é deixar claro, através de um trabalho permanente de imagem, que a própria Marina faria outra escolha e, assim, convencê-los a mudar de rumo. Lembrando que a nova aliada recebeu 19,6 milhões de votos em 2010, Eduardo Campos aposta que não faltarão cidadãos que, cansados da polarização PT x PSDB, poderão votar em seu nome. “Há um novo cenário eleitoral menos pulverizado e ainda mais polarizado. Nós podemos ser a alternativa”, afirma, referindo-se ao mundo político descortinado pelos protestos de junho que, não por coincidência, ajudaram a engordar as intenções de voto de sua parceira.
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A estratégia do partido inclui dar exposição não apenas à dupla Eduardo-Marina, mas a outros parceiros, como Luiza Erundina (SP), Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos, a se­rem apresentados como políticos que simbolizam a ética na política. A campanha vai buscar ainda o apoio de personalidades e setores da sociedade civil. “Podemos expressar esses valores que estão sendo reclamados na vida pública em torno de ideais que vão juntar as pessoas”, diz Campos. Em termos práticos, a chapa PSB-Rede investirá pesado nas mídias sociais para compensar o menor tempo de tevê e rádio. Pretende-se, aí, apresentar contradições de uma sociedade que avançou em termos de democracia, estabilidade econômica e inclusão social, mas que “corre o risco de perder essas conquistas”. Numa postura que diferencia Eduardo Campos de Marina, a decisão é que não haverá citações a Lula, tampouco ataques diretos à presidenta Dilma. Ao menos na fase inicial da campanha. A julgar pelo ímpeto eleitoral da nova dupla que abalou a política nos últimos dias, esse armistício não deve durar muito.  

LEIA ENTREVISTA COMPLETA COM O PRESIDENCIÁVEL EDUARDO CAMPOS:


"PSDB E PT JÁ TIVERAM SUA CHANCE": Candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos recebeu a reportagem de ISTOÉ em sua residência, situada num bairro da zona rural de Recife, onde vive com os quatro filhos. Durante quatro horas de entrevista, o socialista falou sobre seus projetos.

Claudio Dantas Sequeira e Adriano Machado (fotos) - enviados especiais a Recife

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“Não quero ser a contestação da contestação, quero 
ser o caminho para melhorar a vida das pessoas”
Às 10h14, da quarta-feira 9, a reportagem de ISTOÉ chegou à residência do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para uma entrevista exclusiva. Desde que decidiu reformar o Palácio das Princesas, sede do governo, Campos se divide entre o gabinete provisório, instalado num centro de convenções, e sua casa – que, na verdade, pertence à família de sua mulher, Renata, há 40 anos. É lá que ele vive com os quatro filhos e os sogros. Localizada num bairro da zona rural de Recife, a residência é decorada por uma grande variedade de obras de artesanato regional. A preferida de Campos é uma imagem de São Francisco em tamanho natural. “A política brasileira tem que entrar na era do Papa Francisco”, diz o candidato do PSB à Presidência da República. “E não adianta quererem me colocar contra a Marina”, brinca, referindo-se à nova aliada, que é evangélica fervorosa. A primeira-dama dá boas-vindas da varanda, em companhia da filha Maria Eduarda, de 21 anos. Ela exibe a gravidez de Miguel, o quinto filho do casal, que chegará ao mundo em fevereiro. Eduardo Campos despacha com um de seus secretários na mesa da sala, e o pequeno José Henrique, de 8 anos, corre de um lado a outro com o smartphone do pai. Os outros dois filhos, João (19) e Pedro (17), estavam fora, estudando. “Tem político que gosta de criar bois. Outros preferem cavalos. Eu gosto de criar gente.” 

 

 

ISTOÉ – POR QUE O SR. ACREDITA QUE PODE SER UM BOM PRESIDENTE?
EDUARDO CAMPOS – Porque somos capazes de mudar a qualidade da política no País. A política se degradou. Vivemos uma encruzilhada. Não podemos colocar em risco o que acumulamos nas últimas três décadas, especialmente em termos de democracia, estabilidade econômica e inclusão social. Quero resgatar o bom debate, a utopia, a leveza e o respeito da sociedade. Representamos milhões de brasileiros que acreditam em democracia, que é possível um padrão sustentável de desenvolvimento econômico, que é preciso aumentar a participação da sociedade na governança pública. Minha aliança com Marina é a primeira resposta à crise de representatividade que o País está vivendo. O PSDB e o PT já tiveram sua chance de liderar o processo político. Agora é a nossa vez.

ISTOÉ – O SR. ACREDITA MESMO EM POSSIBILIDADE DE RETROCESSO NAS CONQUISTAS SOCIAIS?
CAMPOS – Enquanto a nova agenda for negligenciada, sim. As pessoas não têm acesso a serviços públicos de qualidade. Quem passa quatro horas num ônibus, quem espera oito meses para fazer um exame, com risco até de perder a vida pela demora no atendimento, quer mudança. As respostas para essas questões não serão dadas com velhas práticas políticas.

ISTOÉ – O QUE SÃO AS VELHAS PRÁTICAS?
CAMPOS – Achar que basta juntar uns partidos para ter tempo de TV, contratar um bom marqueteiro e depois contar os parlamentares, distribuir ministérios entre partidos, sem discutir conteúdo de nada. O que está posto na sociedade? Quer ter uma telefonia decente, transporte público de qualidade, energia sustentável para iniciarmos um novo ciclo de crescimento. Quem entendeu o que aconteceu nas ruas em junho entende a aliança que estamos fazendo agora e a pauta que estamos colocando.

ISTOÉ – ESSAS QUESTÕES SÃO ANTIGAS E NINGUÉM MUDOU. 
CAMPOS – São questões que estão postas há duas décadas, ao menos. É o que ocorre, por exemplo, com as reformas política e tributária. O presidente Lula tentou fazer. Só que político pensa no imediato e, se aquilo vai prejudicá-lo, ele não apoia. A saída é propor reformas escalonadas, com previsão de entrar em vigor em oito, 12 ou 16 anos. Na reforma política, por exemplo, poderíamos terminar, de saída, com a coligação proporcional, com a cláusula de barreira e a coincidência de mandatos. Isso já dá uma primeira arrumada.

ISTOÉ – SE LULA NÃO FEZ AS REFORMAS COM A POPULARIDADE E A BASE DE APOIO QUE TINHA, POR QUE O SR. ACHA QUE CONSEGUIRÁ?
CAMPOS – Porque o Brasil que sairá das urnas em 2014 será outro. Foi por isso que alguns setores tentaram reduzir as chances de debate, polarizando a disputa. Em 2014 teremos uma eleição de posturas. Precisamos usar mais mecanismos de democracia direta, usar o potencial de 108 milhões de brasileiros com smartphones ligados à internet. Os governos precisam ser digitais. Com isso, dá para governar com uma base menor, mas que tenha qualidade.


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ISTOÉ – NÃO É UM SONHO GOVERNAR COM UMA BASE MENOR?
CAMPOS – É preciso testar. Não dá para ficar alimentando um ciclo que não está sendo bom para a política brasileira. Estamos há dois anos lutando contra essa inflação renitente, empurrando para cima da meta prudencial. Tem muita gente que subiu degraus, deu entrada na casa própria, comprou máquina de lavar, televisão de tela plana, assumiu vários compromissos financeiros. Se a economia não melhorar, essas pessoas podem ser obrigadas a descer esses degraus.

ISTOÉ – E O QUE O SR. FARÁ PARA MELHORAR A ECONOMIA?
CAMPOS – A tarefa de conter a inflação não é só taxa de juros. É preciso encarar a economia como você enfrenta outros problemas. No caso da segurança pública, o que você faz? Não é só colocar polícia na rua, tem que ter escola, assistência social, uma Justiça mais ágil, combater a impunidade. Na economia, é fundamental compatibilizar a política fiscal com a monetária, e passar segurança aos agentes econômicos.
ISTOÉ – COMO PASSAR ESSA SEGURANÇA? QUAL É O SEU PLANO ECONÔMICO?
 CAMPOS – Não quero antecipar um debate que estou começando. Mas o País precisa de um rumo estratégico, como o que Lula fez na “Carta aos Brasileiros”, em 2002. A eleição dele gerou na ocasião mais ansiedade no mercado, mais sobressaltos, que qualquer outra crise, levando o dólar na casa dos R$ 4. Há hoje uma crise de confiança que precisa ser neutralizada. Tem que fazer o dever de casa, alavancar os investimentos, combater a corrupção, implementar uma gestão pública mais eficiente, baseada na transparência, no controle social e na meritocracia, e não no apadrinhamento. Eu fiz isso em Pernambuco. Todos concordam que é preciso reduzir o número de ministérios. É uma questão simbólica.
ISTOÉ – O SR. VAI SE APRESENTAR COMO UMA TERCEIRA VIA?
CAMPOS – Não é uma terceira via, mas é “a via”. Não gosto do clichê de terceira, porque parece que há uma primeira e uma segunda. Não quero ser a contestação da contestação, quero ser o caminho para melhorar a vida das pessoas.

ISTOÉ – APESAR DO DESEMPENHO COMO GOVERNADOR, O CANDIDATO EDUARDO CAMPOS AINDA É DESCONHECIDO DOS BRASILEIROS. COMO PRETENDE MUDAR ISSO?
CAMPOS – É verdade que o Brasil ainda não me conhece. Mas não fiz até agora nenhum esforço sistemático para mudar isso. Recentemente, temos falado na TV, mas apenas dez minutos a cada seis meses.

ISTOÉ – E COMO VIRAR O JOGO?
CAMPOS – Vamos andar juntos pelo Brasil, eu e Marina. Vamos ter o apoio desse maravilhoso mundo da internet, participar de fóruns e atividades País afora. Os espaços vão surgindo naturalmente, é um processo em construção. Não pode ser um processo ansioso, mas tranquilo, como estamos. Quem não está tranquilo são os outros!

 

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ISTOÉ – QUAL É A ESTRATÉGIA DE SUA CAMPANHA?
CAMPOS – Vamos correr o País. Estamos fechando uma agenda de debates e atividades, de agitação de ideias e participação em eventos públicos. Nos próximos dias já vamos começar a aparecer juntos. Haverá também atividades internas direcionadas à militância do PSB e da Rede, que devem estar coesas. Queremos o apoio de personalidades e de diversos setores da sociedade civil. Mostrar que temos um campo que inclui outras lideranças políticas, como Luiza Erundina, Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos. A campanha será a expressão política do desejo de mudanças que alimenta protestos e manifestações País afora. Podemos expressar esses valores que estão sendo reclamados na vida pública em torno de ideais que vão juntar as pessoas.

ISTOÉ – E OS PALANQUES REGIONAIS? VOCÊS VÃO COBRAR FIDELIDADE E EXPULSAR O PT DAS COLIGAÇÕES?
CAMPOS – Não vamos expulsar ninguém. Sai quem quiser. Os Estados estão livres para fazer os arranjos necessários, desde que garantam o palanque para nossa candidatura.


ISTOÉ – MAS A DILMA TAMBÉM VAI QUERER O PALANQUE. VOCÊS VÃO DIVIDIR?
CAMPOS – Pode ser, não vejo problema.

ISTOÉ – A MARINA VAI AJUDAR A PROJETAR SUA IMAGEM?
CAMPOS – Acho que a aliança vai ajudar a difundir ideias que são novas, simples, mas de grande impacto e com grande sinergia com as pessoas que não são candidatas e que não são partidárias. Pessoas que militam por um Brasil melhor. Não podemos ser encarados como ofensa, só por oferecer um caminho alternativo.


@@@A primeira manchete como também a imagem não fazem partes do texto original da Revista ISTOÉ

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

LISTA ATUALIZADA DO TEMPO DE TV DOS PARTIDOS PARA A ELEIÇÃO DE 2014


MARINA SILVA ADVERTE: “NEM SITUAÇÃO, NEM OPOSIÇÃO, MAS TER POSIÇÃO”.



OUTROS TEMPOS

Por Marina Silva 


Nos últimos anos, o exagero numa disputa política bipolar, em que cada lado se considera o bem absoluto na luta contra o mal absoluto, contaminou toda a sociedade brasileira e gerou um ambiente de discórdia no qual a mais simples divergência é julgada e condenada como uma grave traição. O debate político tornou-se estéril, pois todos gritam e ninguém escuta. Qualquer atitude, decisão ou proposta é imediatamente vista como uma reação emocional, de ataque e defesa. Se alguém tem um projeto, uma ideia, um questionamento, é porque está atacando um dos lados, "ROMPEU" com o outro, está se vingando. É grave quando essa bipolaridade penetra em serviços e procedimentos que deveriam ser públicos e isentos e os fazem sucumbir ao antigo preceito antirrepublicano: aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. Dessa forma, o regime democrático é enfraquecido por dentro. Mas, como diz o poeta, "amanhã há de ser outro dia". Podemos recuperar a política como atividade idealista, meio de realizar utopias, ambiente de disputas leais na busca de novos consensos capazes de unir (sem ter que fundir) os ideais da nação. É necessário que cada um, principalmente as forças que se forjaram na bipolaridade, busque um realinhamento interno e uma revisão de seus princípios. Vale o que foi dito, nos últimos dias, por uma importante liderança do PT, o governador Tarso Genro: A DISPUTA NÃO É EM TORNO DO PASSADO, MAS VOLTADA PARA O FUTURO. É necessário, também, compreender que lutar pela democracia sob uma ditadura é bem diferente de defender a democracia na democracia. Pensemos em pessoas com histórico de luta pela democracia, como a presidente Dilma. Não seria ofensivo pedir-lhe que proceda de modo democrático? A democracia, nesse caso, é pressuposto básico, não temos que agir temendo que ela nos seja negada. Da mesma forma, talvez seja inútil esperar atitude democrática de quem depende do autoritarismo e das decisões autocráticas, pois só nesse ambiente pode prosperar sua política ou seus negócios. Porém, mesmo a estes deve-se dar o benefício da dúvida e a margem para uma mudança que é sempre possível pois, como temos visto tantas vezes, o tempo e a vida são bons professores. De todo modo, o Brasil fez nas ruas e faz todos os dias um apelo que precisa ser escutado: RECOLHER AS ARMAS. O tempo mudou. De nada adianta soltar os cachorros, comer o fígado e outras expressões de uma política feita com ódio. QUANTO A BEIJAR E ABRAÇAR, É BOM QUANDO É SINCERO. Houve um tempo em que vivíamos insultados sob a ditadura. É hora de nos sentirmos respeitados em nossa democracia.

O GALEGUINHO DOS “ZOI AZUL” É O NOVO JUSCELINO KUBITSCHEK PARA O NORDESTE.





MALDADE DE LULA, MENOSPREZO DE DILMA E ARROGÂNCIA DO PT,  PODEM LEVAR EDUARDO CAMPOS E MARINA SILVA A SE TRANSFORMAREM NA SALVAÇÃO DOS NORDESTINOS



Josias de Souza


A propaganda partidária que o PSB levou ao ar na noite desta quinta-feira (10) escancara o discurso de terceira via. Na peça, o presidenciável Eduardo Campos enaltece os avanços obtidos “nos últimos 30 anos”. Sem citar nomes, ele reconhece os feitos de FHC —“conquistou a estabilidade”— e de Lula —“melhorou na justiça social”. E acomoda Dilma Rousseff na posição de alvo: “JÁ DEU!” Até 20 dias atrás, Eduardo Campos era um “aliado” de Dilma. Agora, ele troca de calçada e grita: “CADÊ AQUELE PAÍS QUE HÁ ALGUNS ANOS DESPERTOU A ADMIRAÇÃO DO MUNDO […] E QUE AGORA VOLTOU A TER RECEIO DA INFLAÇÃO?” CADÊ AQUELE BRASIL “QUE UM DIA LEVOU UM HOMEM DO POVO AO PODER E QUE AGORA SENTE QUE O PODER NÃO FALA A LÍNGUA DO POVO? SERÁ QUE ESTAMOS NO CAMINHO ERRADO?”, Campos indaga, antes de levar Dilma à alça de mira: “ESTAMOS NO CAMINHO QUE JÁ DEU O QUE TINHA QUE DAR”. O programa exibe brasileiros bem ensaiados declamando frases cunhadas com o propósito de apresentar o Brasil como um país rendido à lógica do “por outro lado”. No meu país, milhões de pessoas saíram da miséria, diz uma moça. Por outro lado, milhões não têm qualificação para trabalhar, afirma um rapaz. Toda criança tem escola para estudar, diz outra moça. Mas 24% dos alunos não concluem o ensino fundamental, realça outro rapaz. Eduardo Campos irrompe em cena. “CHEGA DE GOVERNAR SE CONTENTANDO EM DIZER QUE NO PASSADO FOI PIOR”, diz ele, afastando-se da lógica petista do “NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESSE PAÍS.” O programa empilha outros paradoxos: no meu país, mais médicos estão chegando a lugares onde antes eles não tinham chegado. Por outro lado, ainda faltam remédios, equipamentos e as filas de exames e consultas não param de crescer. A democracia está cada vez mais forte e o cidadão cada vez mais consciente. No entanto, muitos ainda governam sem ouvir, sem olhar, sem levar em conta o cidadão. Ao expor os contrastes, o marketing a serviço de Eduardo Campos valoriza o bordão do candidato: É POSSÍVEL FAZER MAIS E MELHOR. TROCANDO A POLÍTICA IMEDIATISTA DO CURTO PRAZO PELO PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO, diz o candidato, é possível criar soluções simples para problemas complicados. “EU SEI QUE DÁ PRA FAZER”, ele afirma. A peça evolui para a exposição de “REALIZAÇÕES” de Campos no governo de Pernambuco. Do meio para o final, a propaganda vai migrando para a grande novidade da fase pré-eleitoral. Amiga de Marina Silva, a deputada Luíza Erundina (PSB-SP) faz a transição. Num partido que negociava com o PDT dos desvios ongueiros e com o PTB do mensalão, ela fala de “ética”. Numa legenda que acaba de filiar egressos do DEM, ela fala de “coerência”. Referência moral, Erundina reconhece que todos os partidos têm problemas. Porém, munida de autocritério, diz que “o PSB tem procurado respeitar esses princípios” da ética e da coerência. A peça atinge o seu ápice com a exibição de um apanhado de cenas do ato político que formalizou a parceria da Rede de Marina com o PSB de Campos. Quem vê a sintonia não enxerga as contradições expostas nos cinco dias que se seguiram ao foguetório: a chapa de duas cabeças, a rejeição de Marina aos acordos políticos que Campos negociava, o incômodo que afastou o agrodeputado Caiado das franjas do projeto… No universo do marketing, a tentativa de junção da boa imagem que Campos construiu junto ao PIB com o prestígio dos quase 20 milhões de votos amealhados por Marina em 2010 é um prato cheio. No mundo real, a “NOVA POLÍTICA” que se dispõe a sepultar a “VELHA REPÚBLICA” é um empreendimento por fazer. De diferente, por ora, apenas a evidência de que MARINA ABRIU PARA A CANDIDATURA DE CAMPOS A TRILHA DA TERCEIRA VIA (A frase da manchete foi atribuída ao governador do Piauí Wilson Martins).




PITACO DO BLOG CHUMBO GROSSO: -  MARINA SILVA, A MUSA DA CAATINGA NORDESTINA E FLORESTA AMAZÔNICA,  COM ESSE SEU JEITINHO PECULIAR DE UMA LAGARTIXA, É DE FATO, UMA SUCURI QUE ACABA DE ENGOLIR LULA, DILMA E O PT...