Jorge Serrão
Nem o mais justo e perfeito idiota consegue acreditar que Paulo Roberto Costa e o a turma de doleiros conectada por Alberto Youssef sejam os líderes máximos de um esquema que lavava mais de R$ 10 bilhões em negociatas com empresas estatais (principalmente a Petrobras) e empreiteiras, envolvendo poderosos políticos, artistas famosos e até craques e dirigentes de futebol.
A pergunta que deveria ser respondida pelo processo da Operação Lava Jato é: Quem é o poderoso chefão acima de Paulo Roberto Costa (agora convertido em um temível delator premiado) e Alberto Youssef (que já foi um dedoduro beneficiado no escândalo do Banestado, que só pegou alguns doleiros como bodes expiatórios e poupou centenas de políticos que se beneficiavam de um grandioso esquema de corrupção)?
Dificilmente, tal pergunta fatal será respondida no Brasil da impunidade e da injustiça ampla, geral e irrestrita. Aqui é a terra onde o crime organizado compensa e muito para seus gestores públicos e privados. As denúncias, com provas, feitas por Paulo Roberto Costa ao Ministério Público Federal e ao juiz Sérgio Fernando Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, seriam suficientes para provocar uma compulsória revolução na República Sindicalista do Brazil, sob criminoso regime capimunista.
Infelizmente, deve acontecer o de (mau) costume: os bodes expiatórios serão punidos para poupar quem está acima deles. A Lava Jato comprovou que o Mensalão era roubo de galinha da vizinha faladeira. O esquema operado pela dupla dinâmica Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, pelo volume movimentado de grana, deveria ser batizado de “Diarião”.
Chamá-lo de “mensalão 2” é ingenuidade. Até porque o tal “mensalão” nunca deixou de operar, apesar do espetaculoso julgamento pelo Supremo Tribunal Federal que transformou Joaquim Barbosa em herói nacional apenas porque cumpriu o dever de julgar duro com políticos que davam mole para a corrupção. Na Ação Penal 470, quem efetivamente puxará cana por um bom tempo é Marcos Valério (que aparentemente continua quietinho na cadeia, com sua voz delatora providencialmente abafada, para não se tornar companheiro do Celso Daniel).
O “Diarião” do Paulo Roberto Costa e do Alberto Youssef é um sistema bilionário de lavagem de dinheiro que operava diariamente, envolvendo os nada santos nomes de mais de dois terços do senado, quase metade da câmara dos deputados, vários governadores e prefeitos. Sem falar nos empresários, artistas, boleiros e outras personalidades menos votadas cujos nomes podem emergir do oceano de lama investigado pela Lava Jato.
Por mexer com tanta gente graúda é que o caso tem elevado risco de acabar “travado” por “ordens superiores”. Alguém duvida do risco de impunidade? Será que todos os delatados, com provas, por Paulo Roberto Costa vão cair de quatro nesta dança dos famosos? Alguém descrê da chance de ocorrer mais um surto de rigor seletivo, punindo apenas as rêmoras para poupar os tubarões?
O juiz Sérgio Fernando Moro, conhecido nos bastidores da Justiça Federal pelo apelido de “Homem de Gelo”, não deseja uma reedição do Banestado... Mas será que o “sistema” permitirá que o magistrado consiga levar o escândalo até às últimas consequências judiciárias? Ou já tem “puderoso” de plantão derretendo o “Iceman” da mesma forma como fizeram com o Joaquim Barbosa – forçado a tirar o time de campo prematuramente?
O caldo e o rescaldo da Lava Jato comprovaram que o capimunismo brasileiro é um regime de esgoto a céu aberto, com improvável previsão de saneamento básico no curto prazo. A grana fácil do “diarião” continua circulando escancaradamente. Só isto justifica os milhões que surgem do nada, providencialmente lavado e esquentado por esquemas contábeis, para abastecer campanhas eleitorais milionárias. A cada dois anos, os diaristas ou mensaleiros se locupletam cada vez mais...
Se nada de mais sério, institucionalmente falando, acontecer nesta semana, pode anotar que pouco ou nada acontecerá no futuro menos próximo. Mesmo se borrando de medo, apertadinhos e com os deles na reta, os políticos agiram com o cinismo de sempre, diante das delações bombásticas do Paulo Roberto. Veja o que declarou a companheira dele nos tempos do Conselho de Administração da Petrobras. A Presidenta Dilma Rousseff, em campanha reeleitoral milionária, só faltou jurar ontem que precisa de mais informações para “tomar as providências cabíveis”:
“Asseguro que tomarei todas as providências cabíveis. Não com base em especulações. Acho que as informações são essenciais e são devidas ao governo. Caso contrário, a gente não pode tomar medidas efetivas”.
Traduzindo o Dilmês: quem está agora sob pressão e sob risco de acabar afastado do caso é o juiz Sérgio Moro e os membros do Ministério Público Federal que processam e investigam a Lava Jato.
O esquema defensivo da governança do crime organizado tentará jogar no magistrado e nos promotores a culpa pelos vazamentos midiáticos dos depoimentos sigilosos e dos dados criptografados dos processos da Lava Jato.
Em resumo: O Pinguim e o Charada, com o apoio político e institucional do Coringa, da Mulher Gato e da Hera Venenosa, pedirão a cabeça do Batman, do Robin e do mordomo Alfred...
A solução pela impunidade, invertendo-se o papel dos acusadores e acusados, parece a mais “pragmática”, já que não há vagas suficientes para centenas de políticos ladrões no presídio de Gotham City...
O clima ficou mais seco e pesado na corrupta cidadezinha do Planalto Central, onde todos os beneficiários de “diariões” e “mensalões” sabem de tudo, mas sempre se fingem de ignorantes...
Do jeito que a coisa se desenha preta no horizonte perdido, é melhor o Bruce Waine pedir socorro urgente para a velha amiga Águia – que tem inteligência e operacionalidade para esmigalhar as ratazanas...
O filme promete ser divertido... Mas o roteiro não está definido... Contrariando o primeiro teorema do Robin, no Brasil, o crime ainda compensa – e muito...
Enquanto isso, nos bastidores da batcaverna, ficam sem respostas as perguntas que não querem calar:
Onde está a galinha dos ovos de ouro negro?
Vão pegar o poderoso chefão do “Diarião” da Lava Jato, da Porto Seguro, do Mensalão e por aí vai?
Ou será que o super-bandido continuará impune, como de costume?