Reinaldo Azevedo
Há coisas que viram, não tem jeito, retrato de uma época. Em si, não têm nenhuma implicação prática, mas acabam servindo como expressão de um tempo por seu simbolismo. Suetônio (70 d.C.-141 d.C.) não retratou a vida dos Doze Césares dando relevo a sua medidas administrativas. Os hábitos, manias, obsessões e temperamento é que compõem a riqueza da obra. O que se faz lá é narrar uma mentalidade.
O país foi, vamos dizer assim, sacudido nesta segunda-feira por uma série de fotografias que Milena Teixeira, mulher do novo ministro do Turismo, Alessandro Teixeira, postou em sua página no Facebook, onde ela ainda assina Milena Santos — não sei se nome artístico ou de registro —, com uma foto, já na abertura, em trajes sumários. As outras todas se destinam a expor o que uma antiga música chamaria sua “saúde civil”, com tecidos que aderem à pele com uma impressionante eloquência.
Antes de se casar com Alessandro Teixeira, petista que foi um dos coordenadores das duas campanhas de Dilma à Presidência e braço-direito de Fernando Pimentel no Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, Milena foi vencedora do concurso “Miss Bumbum Estados Unidos”, edição de 2013. As fotos que circulam, algumas tendo Brasília ao fundo, são de uma contundência que cala a boca de qualquer juiz.
Circula ainda nas redes um filmete sem inibições que ela fez para o site “XVideos”, intitulado “Milena Silva Making Of Sexy Premium 2007”.
Não pensem que estou aqui numa pegada, vamos dizer, moralista com a moça. Nada disso. Deve haver padres, coroinhas, pastores e, certamente, políticos que fizeram grande mal a terceiros e ao país. Até onde sei, a dita-cuja, se algum contratempo causou, foi só a si mesma. O meu ponto é outro. E vou chegar lá.
Nesta segunda, Milena publicou as fotos no gabinete no marido, com uma legenda, conforme está escrito lá: “Compartilhando com meus amigos meu primeiro dia de Primeira Dama do Ministério do Turismo do Brasil. Te amo meu amor, juntos somos mais fortes! Não é atoa (sic) que ao lado de um grande homem, existe sempre uma linda e poderosa mulher”.
Milena não tem receio de provocar inveja: “Sem dúvida, sou a primeira-dama mais bonita. Alguém duvida?” Ninguém ousaria, acho eu.
No Facebook, ela mostra que é mais do que um corpo eloquente. Também emite opiniões políticas a que não falta nem mesmo o sabor do enigma e uma pegada filosófica. Escreveu por exemplo: “Isso tudo está acontecendo porque quem não mama, chora. O povo entende bem o que quero dizer.” Acho que entende.
A Primeira-Dama do Turismo também gosta de pôr a pouca roupa a serviço de causas políticas. Mas ela censura os de má-fé e má vontade. Explicou (segue conforme o original): “Não estou tirando a roupa para aparecer, estou usando isso para chamar a atenção sobre o que tenho para dizer. O povo brasileiro dá mais atenção a uma bunda de fora do que para o que precisamos realmente dar atenção. A mudança para que possamos eleger bem nossos representantes, começa em tentar melhorar a cultura do país.”
Quem pode negar que Milena tem razão, não é mesmo?
E se mostrar o traseiro não é importante para fazer triunfar uma ideia, a gente fica mais aliviado. Imaginem se a moda pegasse em Brasília. Seria uma hecatombe estética — a ética já aconteceu faz tempo.
Milena até pode ser uma boa senhora, esposa apaixonada e extremosa. Mas aí me ocorre: como é mesmo que ficamos sabendo de sua existência? Ah… Quem a trouxe ao mundo da política e de Brasília foi o seu marido, o, o, o… Como é mesmo? Ah, o Alessandro Teixeira, cujo maior talento para ocupar uma vaga no Ministério de Dilma é ser petista, ter sido um dos coordenadores da campanha da presidente em 2010 e 2014 e ser aliado de… Fernando Pimentel — o governador petista de Minas que acabará impichado, anotem aí.
A devastação política nos quadros do petismo é tal; a desordem é de tal envergadura; o desarranjo é tão evidente que todas as fronteiras vão desaparecendo.
Mais o marido de Milena do que ela própria, com seu ar embevecido no gabinete, num ato de exibicionismo explícito, explica, por intermédio do símbolo, um governo que chegou ao fim; que se arrasta na penúria política, ética, moral, conceitual, jurídica e, bem, por que não destacar?, também estética.
Milena, coitada!, tudo indica, continua a perseguir a fama. E ser a “primeira-dama do Turismo” e a “primeira-dama mais bonita” lhe parece um galardão digno de ser exibido. O governo Dilma, nos seus estertores, lhe proporcionou e ao marido mais esses instantes de notoriedade. Antes que tudo acabe e só reste na rua o barulho dos que cospem no estado de direito.
Milena está de parabéns. Ilustrou esse tempo com raro talento. É o governo Dilma e do PT vivendo seus últimos dias. - As imagens e a manchete não fazem parte do texto original -