quinta-feira, 28 de abril de 2011

"O CAPITALISMO é o GENOCIDA mais respeitado do mundo." –Che Guevara--

EX-FUNCIONÁRIA DA “KGB” DE CUBA CRIA BLOG E CRITICA REGIME NA WEB


APÓS ATUAR POR 18 ANOS COMO CENSORA DA CONTRAINTELIGÊNCIA, REGINA COYULA FEZ DE TUDO, MAS SÓ REENCONTROU-SE NA INTERNET
Leda Balbino
O líder cubano Fidel Castro não deve acreditar quando lhe contam. Mas, se souber acessar a internet no alto de seus 84 anos, poderá ler com seus próprios olhos. A dona de casa REGINA COYULA faz em um blog exatamente o oposto da função que tinha no Diretório de CONTRAINTELIGÊNCIA do Ministério do Interior de Cuba (serviço de segurança equivalente à soviética KGB). Ela, que por 18 anos foi uma das encarregadas de garantir os preceitos revolucionários na produção cultural feita em Cuba ou apresentada por companhias estrangeiras na Ilha, há dez meses publica sem censura e livremente na internet críticas ao caminho tomado pela Revolução Cubana. A atividade CONTRAREVOLUCIONÁRIA, como pensaria Fidel, começa no nome do blog. Para indicar que seu propósito não seria amável em relação ao governo, REGINA batizou sua liberdade de pensamento online de MALALETRA, cuja pronúncia, explica, soa como a expressão espanhola “MALA LECHE” – ou SEGUNDAS INTENÇÕES. Formada em história, REGINA trabalhou no serviço de segurança cubano de 1972 a 1989, quando se aclararam as dúvidas sobre um regime pelo qual havia militado no Partido Comunista. No ano da queda do Muro de Berlim, que desembocou no colapso da União Soviética dois anos depois, CUBA FUZILOU EM 13 DE JULHO O GENERAL ARNALDO OCHOA, HERÓI DA GUERRA DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA (1961-1974), E OUTROS TRÊS OFICIAIS SOB ACUSAÇÃO DE NARCOTRÁFICO E “ALTA TRAIÇÃO”. Além disso, membros do Ministério do Interior leais a Ochoa foram substituídos por oficiais das Forças Armadas. As medidas, segundo interpretações fora da Ilha e de alguns cubanos como REGINA, tinham o objetivo de limpar o ministério e garantir a FIDELIDADE A FIDEL, já que Ochoa seria visto como alguém capaz de desafiar o “GOVERNO DE UM HOMEM SÓ” de Castro.  REGINA então decidiu sair do serviço de segurança, num processo de ruptura com o regime que classifica como “DURO”. “GOSTAVA DO QUE A REVOLUÇÃO CUBANA REPRESENTAVA”, afirmou em um café iluminado por luz natural dentro de um hotel perto do Parque Central, em Havana Velha. Depois de deixar seu emprego, Regina, que é casada há 21 anos com o poeta cubano Rafael Alcides, foi professora, taxista particular, massagista, artesã e dona de uma loja de venda de roupas velhas e usadas. Mas o reencontro consigo mesma só foi possível com a internet. Questionada sobre o que faz, ela não titubeia em dizer: “SOY BLOGGER.”
A DESCOBERTA DO MUNDO ONLINE
Quando há quatro anos ouviu pela primeira vez relatos do que era a INTERNET, a blogueira, hoje com 54 anos, pensou que se tratasse de um balcão de reclamações. Tudo mudou, porém, quando teve seu primeiro contato com a rede mundial durante uma viagem à Espanha, no ano passado. Ao navegar, sentiu-se dentro daquele mundo, com a possibilidade de informações infinitas, principalmente por causa da velocidade da conexão. “FOI UM DESCOBRIMENTO”, afirmou, contando que viu na Espanha os BLOGS DE CUBANOS CUJO ACESSO É BLOQUEADO NA ILHA. Ao voltar a Cuba, um dos países menos conectados do mundo, sentiu um choque. “ERA COMO SE TIVESSE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO. ABRIR UM BLOG VIROU IDEIA FIXA.” Para pôr seu plano em prática, REGINA contou com a ajuda de YOANI SÁNCHEZ, QUE CONHECIA DESDE 2005. A BLOGUEIRA CUBANA MAIS FAMOSA FORA DA ILHA ABRIU NO WORDPRESS O MALALETRA. REGINA COMEÇOU A POSTAR E, DE OUTUBRO DE 2009 A ABRIL DESTE ANO, FOI UM DOS 32 ESTUDANTES DA ACADEMIA BLOGGER DE YOANI PARA APERFEIÇOAR O OFÍCIO. Desde então, o aprendizado vem sendo constante, principalmente porque sua geração não está habituada à web. “Antes estava vegetando. Agora tenho de estudar muito para usar a internet, e voltei a me interessar pela vida. Fiquei viciada em notícia”, disse. COMO O SOFTWARE DO WORDPRESS É PROIBIDO EM CUBA, ela alimenta o blog durante uma conexão de duas horas, uma vez por semana, por meio de um sistema de emails que permite enviar textos e fotos que entram automaticamente na página. Diferentemente de alguns dos 80 blogueiros alternativos - incluindo os da oposição - que há em Cuba, Regina diz que por enquanto não foi ameaçada diretamente pelas forças de segurança. No entanto, ela conta ter tido notícias pelos vizinhos de que membros do Comitê de Defesa da Revolução - considerado o guardião da Revolução - do quarteirão onde vive vêm dizendo que ela é uma DAMA DE BRANCO. A tentativa de vinculá-la ao grupo que luta pela libertação de parentes presos tem o objetivo de desacreditá-la, já que as Damas são vistas com suspeita dentro da Ilha por supostamente serem “FINANCIADAS PELO IMPERIALISMO”. Regina ri da fofoca, criticando o hábito de Cuba de sempre ver na dissidência “UM MOTIVO OCULTO”. “SOU BLOGGER PARA EXPRESSAR A MANEIRA QUE PENSO, PORQUE QUERO UM PAÍS PLURAL, COM A DISCUSSÃO LIVRE DE IDEIAS”, AFIRMOU. “MEU FILHO TEM 17 ANOS E NÃO TEM NENHUMA IDEIA DO QUE É A DEMOCRACIA, MAS SENTE QUE FALTA ALGUMA COISA. ME INTERESSO PORQUE É ESSE PAÍS QUE VOU DEIXAR PARA ELE.”

“Que a UNIVERSIDADE se pinte de negro, mulato e Camponês. Tanto no que se refere aos estudantes quanto aos professores. Que ela se pinte de Gente. Afinal, a UNIVERSIDADE não é de ninguém é PATRIMÔNIO DO POVO.” – Che Guevara –



Jornal oficial é retrato da inércia

e burocracia de Cuba

CRIADO EM 1965, "GRANMA" ENFRENTA CRISE, PERDE ESPAÇO PARA SITE CUBADEBATE E É CRITICADO ATÉ PELO GOVERNO
Ricardo Galhardo
A imprensa cubana produz matérias chatas, improvisadas e superficiais. A opinião não é de nenhum analista estrangeiro, dissidente ou blogueiro cubano. É de ninguém menos do que o presidente de Cuba, RAÚL CASTRO, que  fez duras críticas ao jornalismo praticado na ilha, não sem razão. Nenhum veículo representa melhor a inércia e burocracia da imprensa oficial cubana do que o “GRANMA”, órgão oficial do Partido Comunista de Cuba, criado em 1965, e cujo nome foi inspirado no barco que levou de volta Fidel Castro e seus 81 companheiros para a ilha em 1956, dando início à revolução. O jornal hoje vive uma crise. Como se não bastassem as críticas de Raúl, o “GRANMA” vem perdendo espaço em penetração e importância para o site CUBADEBATE, também oficial. Na segunda-feira, por exemplo, foi o SITE e não o jornal o veículo escolhido por Fidel para anunciar oficialmente sua renúncia ao cargo de primeiro secretário do Partido Comunista. Não raro o jornal é obrigado a citar a página da internet como fonte de seus textos. É o caso da edição de domingo, quando outra vez Fidel optou pela internet (cujo acesso é restrito a menos de 3% dos cubanos) para divulgar suas “REFLEXÕES”, reproduzidas pelo jornal. Em mirradas 16 páginas de formato tablóide, o “GRANMA” se limita a divulgar a programação da TV (também estatal), informes oficiais e propaganda castrista em formato noticioso com manchetes do tipo: “TEMOS A RESPONSABILIDADE DE PRESERVAR O FUTURO SOCIALISTA DA PÁTRIA” ou “ABRIL DE VITÓRIAS EM TODO O PAÍS”. O mais perto daquilo que se conhece como noticiário é a página de esportes. Segundo pessoas que conhecem o processo de feitura do jornal, a burocracia atrasa os fechamentos e impede a realização de edições mais alentadas. Todas as matérias são submetidas ao governo antes de serem publicadas. Até as de esportes (que sempre carregam no tom ufanista). Às vezes passam pela análise de comitês, um dos mecanismos do modelo democrático heterodoxo da ilha. “As pessoas compram o GRANMA para outras finalidades como, por exemplo, deixá-lo no banheiro”, disse o jornalista independente Dimas Castellano, autor do blogdedimas, dedicado à história cubana.
Não é um exagero. Como o papel (inclusive o higiênico) é um dos itens racionados em Cuba, é comum encontrar exemplares do veículo oficial do PC ao lado do vaso sanitário nas casas dos cubanos mais humildes. Em suas críticas à imprensa, RAÚL ressaltou o fato de que os jornalistas não tem acesso às fontes, mas não disse que políticos, economistas e administradores necessitam autorização do governo, que pode levar dias, para dar entrevistas. Alguns meses atrás o apresentador de um programa popular de entrevistas da TV perguntou Alfredo Guevara, um dos mais importantes intelectuais da ilha, o que os jornalistas cubanos precisam fazer para melhorar. A resposta de Guevara foi desconcertante: “EM PRIMEIRO LUGAR, SER JORNALISTAS”. Para Castellano, as críticas de RAÚL são um sinal de que novos ventos podem soprar na imprensa cubana mas, mesmo que haja vontade governamental, a tarefa de melhorar o nível do noticiário será difícil. “A ACOMODAÇÃO E A INÉRCIA VÃO ATRAPALHAR MUITO. ESSA IMPRENSA NÃO EXISTE. HÁ UM CONTROLE MUITO RESTRITO E OS JORNALISTAS ESTÃO ACOSTUMADOS A ISSO”, disse ele.
A BLOGUEIRA YOANI SANCHÉZ, DO BLOG GENERACION Y, aponta a contradição entre o discurso e a prática de Raúl. “É contraditório já que é ele próprio quem não permite a existência de uma imprensa livre”, afirmou. Segundo Castellano, mais do que uma crítica, a reclamação de RAÚL é um reconhecimento. “POIS FOI ESSE GOVERNO QUEM FORMOU UM GRUPO DE JORNALISTAS QUE NA VERDADE NÃO SÃO JORNALISTAS”.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

“Por incrível que pareça, o verdadeiro REVOLUCIONÁRIO é guiado por grandes sentimentos de GENEROSIDADE; é impossível imaginar um revolucionário autêntico sem esta QUALIDADE” --Che Guevara--


O FUNDAMENTALISMO DO ESTADO CUBANO
Eugênio Bucci

Ao final do sexto congresso do Partido Comunista Cubano (PCC),  revelou-se a verdadeira face da renovação prometida pela ditadura que há 52 anos manda na ilha. No lugar do velho comandante Fidel Castro, que agora saiu formalmente do poder, entra o irmão dele, Raúl Castro. Raúl é um pouquinho mais novo que Fidel: tem 79 anos de idade. COMO SEGUNDO HOMEM NA HIERARQUIA PARTIDÁRIA FOI NOMEADO JOSÉ RAMÓN MACHADO, QUE É UM POUQUINHO MAIS IDOSO QUE RAÚL: TEM 80. Nada contra a maturidade, que traz ensinamentos e até sabedoria. Em Cuba, no entanto, o Estado geriátrico é o reflexo do envelhecimento não das pessoas, mas do regime. Os sonhos de juventude viraram pesadelo. A RENOVAÇÃO ANUNCIADA NO CONGRESSO DOS COMUNISTAS CUBANOS É A ANTESSALA DA MORTE. Na década de 1950, Raúl e Ramón davam tiros em Sierra Maestra. Agora, são linha dura e não lançam sinais seguros de liberdades democráticas em Havana. No plano econômico, o capital deve conseguir seu visto de entrada nos domínios dos Castros, mas por ora vai mandar para lá apenas o seu lado selvagem: DESEMPREGO, ESPECULAÇÃO, INSEGURANÇA. O autoritarismo cubano avança na direção de juntar os dois mundos, o socialista e o capitalista, pelo que há de pior em cada um deles, e faz isso graças ao apoio dos que veem na decrepitude do PCC o farol e a tábua de salvação dos ideais de fraternidade socialista. Cuba só se converteu na tirania que é hoje - CAQUÉTICA, MAS DE PÉ - porque soube transformar a militância que a sustenta, dentro e fora da ilha, numa SEITA RELIGIOSA. Há décadas, amaldiçoou o pensamento crítico, baniu toda divergência, fez da imaginação um vício proscrito e, no vazio deixado pelo que havia de inquieto na revolução, instalou o dogma e a obediência cega. CRITICAR FIDEL VIROU PECADO MORTAL. O silêncio obsequioso diante do sofrimento e da humilhação que ele impôs e impõe ao povo cubano virou sacerdócio. Ser socialista virou sinônimo de crer na infalibilidade do ditador. Foi assim que a ditadura confinou sua gente, com a cumplicidade de muitos que se calaram, por medo de serem vistos como agentes do imperialismo. O imperialismo é a encarnação do demônio. QUE ATITUDE PODE SER MAIS RELIGIOSA, MAIS FUNDAMENTALISTA DO QUE ESSA? Não foi por acaso que o Estado cubano assumiu os contornos de um Estado fundamentalista. Na Constituição da República de Cuba, o poder não emana do povo - apenas parte do poder emana do povo. A parte mais importante vem do alto, vem do partido, que, atenção, não tem as portas abertas para qualquer cidadão: ela admite como integrantes apenas aqueles que são escolhidos não pelo povo, mas pelos que já são integrantes do próprio partido. Assim, em Cuba, quem dirige o Estado e a sociedade (ou os modos de viver) é o partido - não é o cidadão ou um representante direto do cidadão. O ARTIGO 5.º DA CONSTITUIÇÃO CUBANA NÃO DEIXA DÚVIDAS QUANTO A ISSO: “O Partido Comunista de Cuba, martiano (de José Martí) e marxista-leninista, vanguarda organizada da nação cubana, é a força dirigente superior da sociedade e do Estado, que organiza e orienta os esforços comuns na direção dos altos fins da construção do socialismo e do progresso na direção da sociedade comunista”. Tanto é assim que as decisões sobre os destinos do povo cubano não emergem de uma instância republicana, de Estado ou de governo, mas do partido, uma elite fechada, que é “A FORÇA DIRIGENTE SUPERIOR”. Em Cuba, o partido é a fonte da verdade, mais ou menos como - a comparação é inevitável - ocorre como na República Islâmica do Irã. Também no Irã a verdade superior reside numa instância que paira acima dos órgãos de Estado e de governo, integrada por sábios religiosos (a função que em Cuba cabe ao partido no Irã é exercida pelos sábios da fé). Esse princípio é explícito em diversos artigos da Constituição iraniana. O artigo 13 por exemplo, afirma que o presidente é a autoridade máxima no país, ficando abaixo, apenas, da autoridade religiosa. Ou seja: como em Cuba, também no Irã NÃO É TODO O PODER QUE EMANA DO POVO. APENAS UMA PARTE DO PODER EMANA DO POVO, E ESSA PARTE É HIERARQUICAMENTE INFERIOR À OUTRA, AQUELA QUE NÃO EMANA DO POVO. As semelhanças de estrutura entre as duas Constituições não são poucas nem pequenas. Registremos apenas outras duas: o princípio do expansionismo internacional da doutrina que professam e a identificação clara do inimigo, cuja figura maligna serve para justificar a supressão das liberdades internas. Na Constituição cubana, o artigo 12 consagra “OS PRINCÍPIOS INTERNACIONALISTAS E ANTI-IMPERIALISTAS”, pois, como se lê no preâmbulo, “SÓ O SOCIALISMO E O COMUNISMO” CONDUZEM “À INTEIRA DIGNIDADE DO SER HUMANO”. Na Constituição do Irã, fala-se na “completa eliminação do imperialismo” e em “expansão e fortalecimento da fraternidade islâmica” e na “cooperação pública entre todos os povos”, uma vez que, como se lê no artigo 11, “todos os muçulmanos formam uma só nação”. PARA OS TIRANOS, NINGUÉM É MAIS VALIOSO QUE O INIMIGO E NENHUM SENTIMENTO É MAIS CULTUADO QUE O MEDO DO INIMIGO. O povo deixa-se oprimir quando tem medo do tirano e do inimigo do tirano. Por isso, a ditadura em Cuba sempre adotou o discurso de país em guerra. Precisa da retórica de guerra para prender opositores. SEM INIMIGO, O DITADOR PERDE O EMPREGO. É verdade que, no encerramento do congresso do PCC, Raúl declarou que o principal inimigo do partido, agora, “SÃO NOSSAS PRÓPRIAS DEFICIÊNCIAS”. Como todo líder religioso, ele propõe um exame de consciência. Isso não significa, porém, que o imperialismo tenha perdido o posto de vilão oficial. SIGNIFICA APENAS QUE A DITADURA SE DEU CONTA DE QUE ENVELHECEU, MAS NÃO DESISTIU. Significa que mais perseguições internas, devidamente inquisitoriais, estão a caminho.

“Não nego a necessidade objetiva do ESTÍMULO MATERIAL, mas sou contrário a utilizá-lo como ALAVANCA IMPULSORA FUNDAMENTAL. Porque então ela termina por impor sua força às relações entre os HOMENS.” --Ernesto Che Guevara—


“Acabar com a  libreta  é cometer um genocídio”, diz cubana.

EXTINÇÃO DE CADERNETA DE ABASTECIMENTO - QUE FORA DISCUTIDA EM CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA – APAVORA A  POPULAÇÃO DA ILHA
Ricardo Galhardo
De todas as propostas que foram apreciadas nos  três dias pelos mil delegados do 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba, a extinção da “LIBRETA DE ABASTECIMENTO” é a que mais apavora os cubanos. Trata-se de uma caderneta com a qual todos os chefes de família do país têm direito a retirar gratuitamente em postos do governo uma cota pré-estabelecida de gêneros de primeira necessidade como pão, açúcar, arroz, óleo, leite em pó, absorventes íntimos e sabonete. A QUANTIDADE É INSUFICIENTE PARA SUPRIR AS NECESSIDADES BÁSICAS, MAS SERVE COMO COMPLEMENTO AOS SALÁRIOS MINGUADOS (ENTRE US$ 15 E US$25) E PARA AQUELES QUE NÃO FAZEM PARTE DOS VÁRIOS RAMOS DE MERCADO INFORMAL SIGNIFICA O LIMITE ENTRE A POBREZA E A FOME. “Demitir trabalhadores ociosos, fechar empresas, criar novos impostos, incentivar o trabalho por conta própria, tudo isso é discutível. Pode ser bom ou pode ser ruim. Ninguém sabe. Agora, se o governo realmente acabar com a “LIBRETA” estará cometendo um genocídio, disse  a médica Ivany Valdés, de 52 anos, enquanto aguardava sua vez na fila de uma padaria estatal no bairro Vedado, próximo ao centro de Havana. “Infelizmente a “LIBRETA” é para a maioria das pessoas a única garantia de comida na mesa. Sem ela muita gente, principalmente os velhos, vão morrer de fome”, completou Ivany. No item 162, página 21, o documento “PROJETO DE DIRETRIZES DA POLÍTICA ECONÔMICA E SOCIAL”, em avaliação pelos delegados do 6º Congresso do Partido Comunista Cubano, sugere “implementar a eliminação ordenada da LIBRETA de abastecimento como forma de distribuição normatizada, igualitária e a preços subsidiados, que favorece tanto ao cidadão necessitado como ao não necessitado, induz as pessoas a práticas de troca e revenda e propicia um mercado subterrâneo”. Se aprovado, o documento vai nortear toda a política econômica de Cuba para os próximos anos. “O governo está correto. A culpa de todos os males de Cuba é da “LIBRETA”, não é dos políticos”, ironizou o agricultor aposentado José Escobedo, 82 anos, enquanto caminhava a passos lentos rumo à fila com um saco de plástico vazio em uma mão e a “LIBRETA” na outra.

terça-feira, 26 de abril de 2011

“Nossos filhos devem possuir as mesmas coisas que as outras crianças, mas eles devem também ser PRIVADOS daquilo que FALTA às outras crianças.” --Che Guevara—


Congresso do partido comunista discute reformas econômicas em Cuba

Cristina Azevedo

"CAMBIO", mudança em português, parece ser a palavra que mais se diz, ouve-se, anseia-se ou teme-se em Cuba nos últimos dias. Para os delegados que abriram  o 6º Congresso do Partido Comunista Cubano, em Havana, ela se traduz na discussão das modificações econômicas para tirar o país da crise. Para a população, gera um frio na espinha, já que assuntos como demissões nas empresas estatais e o fim de produtos subsidiados estão em pauta. JÁ PARA OS DISSIDENTES, SIGNIFICA ALGO QUE FICARÁ DE FORA DA AGENDA, POIS AS MUDANÇAS NAS LIBERDADES CIVIS NÃO ESTÃO PREVISTAS NESSES  DIAS DE DISCUSSÃO.  A expectativa é justificada. Este é o primeiro congresso desde 1997, e o presidente Raúl Castro o considera vital para "ATUALIZAR" os rumos do país. É também o primeiro sem a presença de Fidel, que renunciou ao cargo de primeiro secretário devido a problemas de saúde. A abertura coincide com o 50 aniversário da vitória na Baía dos Porcos, quando o país repeliu a invasão de exilados apoiados pelos Estados Unidos. " OU MUDAMOS O CURSO OU AFUNDAMOS " - disse o presidente, ao anunciar a reunião dos membros do PCC.  Algumas das cerca de 300 propostas de mudanças que serão discutidas pelos mil delegados foram anunciadas no ano passado e já começaram a ser implementadas. Talvez a mais polêmica seja a demissão de 500 mil empregados estatais, como forma de reduzir os custos. Embora esteja sendo implementada, ela segue em passo lento e muitos apostam que a meta possa ser reduzida.  " O GOVERNO NÃO CONSEGUIU GERAR POSTOS DE TRABALHO SUFICIENTES " - O governo não conseguiu gerar postos de trabalho suficientes. Os impostos para trabalhar por conta própria são altos, e as profissões que permitem isso, limitadas - explica, por telefone, Oscar Espinosa Chepe, um economista e ex-diplomata do governo que passou a dissidente e hoje vive em liberdade condicional. - Querem negócios bonsais, que possam ser controlados.  DE OUTUBRO DE 2010 A MARÇO DESTE ANO, O GOVERNO EMITIU 180 MIL LICENÇAS PARA TRABALHADORES INDEPENDENTES. COM ISSO, O PAÍS CONTA HOJE COM 295 MIL MIL LICENÇAS, CERCA DE 6% DA FORÇA DE TRABALHO. A distribuição de terras para agricultores e cooperativas independentes também começou, numa tentativa de aumentar empregos e a produção de alimentos, num país que importa de 60% a 70% do que consome. Mas críticos reclamam que faltam recursos aos agricultores, de equipamentos a sementes. Cuba acaba esbarrando na própria falta de recursos para cumprir uma das metas a serem discutidas: fazer com que o setor não estatal chegue a 35% da força de trabalho, comparados aos atuais 15%.  A LIBRETA - ou a caderneta de racionamento, criada em 1963 - é outra fonte de preocupação. Com ela caminhando para a extinção, produtos começam a ser retirados da lista que permitia a compra por preços subsidiados. A caderneta permite comprar a cesta básica cubana por cerca de US$ 1 e, embora os alimentos não cheguem para o mês inteiro, seu fim é visto com apreensão pela população, assim como o dos bandejões que começam a fechar. Artigos de higiene pessoal, por exemplo, foram retirados da caderneta em janeiro. Um tubo de pasta de dentes, que custava 20 centavos de peso, passou para oito pesos, segundo moradores.  " HÁ MUITO NERVOSISMO ENTRE A POPULAÇÃO " - Há muito nervosismo entre a população. Talvez, vendo o que acontece nos países árabes, o governo decida deixar tudo como está - observa Elizardo Sánchez, presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, referindo-se à onda de protestos no Norte da África e no Oriente Médio.  - Não vão querer aumentar o descontentamento social.
UMA CHANCE DE NOVOS LÍDERES SURGIREM
Os dissidentes reclamam do fato de o destino do país ser discutido por um só partido - o único legalizado em Cuba. E lamentam que questões como abertura política e direitos humanos não façam parte do programa, embora o congresso aconteça depois de o governo soltar 116 presos políticos desde o ano passado, muitos deles enviados à Espanha, como parte de um acordo intermediado pela Igreja Católica. Mas opositores não chegam a ver a medida como um sinal de distensão.  Segundo Elizardo, ainda há 48 dissidentes atrás das grades, além de pessoas submetidas a detenções curtas: são presas por algumas horas ou dias e, depois, soltas - o que para ele significa que "A MÁQUINA DE PRISÕES CONTINUA AGINDO".  A alegria de Félix Navarro Rodríguez com sua liberdade durou poucas horas. Preso na Primavera Negra, em março de 2003, foi um dos últimos presos de consciência a serem liberados, por se recusar a seguir para a Espanha. Solto no dia 11, organizou uma reunião em sua casa em Perico, na região de Matanzas. Mas, junto com outros ativistas, foi agredido e algemado. Levado para duas delegacias, foi solto algumas horas depois. Desde então, sabe que é vigiado.  - AONDE QUER QUE EU VÁ, "ELES" ESTÃO LÁ - CONTA. Ex-professor de Física e Astronomia que perdeu a chance de lecionar por discordar do regime, Navarro acha que o país se tornou mais pobre nesses "oito anos e quatro dias" em que ficou preso. Ele pretende retomar o emprego como operário numa cooperativa de cana de açúcar, o mesmo que ocupava na época da prisão. Mas não vê o congresso com esperanças.  Espinosa Chepe, por outro lado, vê a reunião do PCC como a chance de surgirem novas lideranças no partido. O próprio Raúl admitiu que este deve ser o último congresso para parte das pessoas que lutaram na Revolução Cubana e hoje ocupam postos de destaque.  - ESSE SURGIMENTO JÁ ESTÁ ACONTECENDO E VEM DO EXÉRCITO - ANALISA.  - Não creio que Raúl seja um democrata, mas ele se preocupou que os oficiais militares se preparassem bem, construiu um Estado dentro de um Estado. Creio que jovens militares irão ocupar postos no Bureau Político.  Segundo ele, a discussão por mudanças econômicas acaba levando o debate para outro tipo de abertura, como maior permissão para viagens. E EMBORA DESTAQUE AS MUDANÇAS COMO POUCAS, LIMITADAS E TARDIAS, Chepe Espinosa destaca a importância do congresso para os cubanos, dissidentes ou não.



“PREFIRO MORRER DE PÉ QUE VIVER SEMPRE AJOELHADO” – Che Guevara –



“Aqui  o  sistema é corrupto. Somos uma pequena máfia”, diz cubano
VENDEDOR DE CHARUTOS ROUBADOS ATUA NO MERCADO NEGRO E EXEMPLIFICA FRACASSO DO MODELO DE CUBA EM GARANTIR SUSTENTO DE POPULAÇÃO
Leda Balbino,
O cubano Lázaro, de 36 anos, caminha pelo centro turístico da capital de Cuba, Havana, em busca de turistas para quem possa oferecer supostos charutos legítimos por valores bem abaixo dos cobrados nas lojas oficiais do Estado. Enquanto o preço nos estabelecimentos estatais é de mais de US$ 400 pela caixa com 25 charutos Esplendido, famosos por serem os preferidos do líder Fidel Castro (que parou de fumar depois de ficar doente, em 2006), em uma sala dentro de um prédio carcomido da capital cubana a suposta mesma caixa pode custar US$ 60. E, se o turista hesitar, os donos do negócio não titubeiam em baixar a cifra, dizendo “para você, faço um preço especial”. Lázaro justifica a atuação no mercado negro dizendo não ser possível a um cubano viver com o salário que o Estado paga. Ele ganha 600 pesos cubanos (25 pesos conversíveis, ou US$ 25), que não chegam ao fim do mês. “Não faz sentido trabalhar. Se me pagam um peso para enrolar um charuto e o vendem por 10, estão me explorando. AQUI EM CUBA AS PESSOAS VIVEM BUSCANDO FORMAS DE COMER”, afirmou.
Questionado se não se preocupa com a polícia, a resposta é rápida: “São dois turnos, e damos um dinheiro para cada um dos policiais para que não nos incomodem. Em Cuba, o sistema é corrupto. Somos uma pequena máfia”, disse. Com a venda dos charutos, ele ganha em média US$ 20 por cada caixa vendida, pois divide o dinheiro com quem rouba as caixas dos armazéns e com aqueles que o ajudam a tocar o negócio ilícito abertamente nas ruas, recitando para os turistas as marcas que estão à venda: “MONTECRISTO”, "ROMEU E JULIETA", "COHIBA". Enquanto anunciam os produtos de tabaco, alguns deles também se oferecem às turistas, dizendo, entre beijos, que elas não podem sair de Cuba sem viver a “EXPERIÊNCIA CUBANA”. Além de atuar no mercado negro para aumentar sua renda, Lázaro tirou uma licença para ter um negócio próprio e ganhar mais do que o salário pago na fábrica de tabaco, onde enrola os charutos. Para poder ser um "REPARADOR DE ÓCULOS", ele paga US$ 4 DÓLARES MENSAIS de imposto e mais US$ 10 ANUAIS pelo uso do espaço em que trabalha. Ele diz que teve a ideia de tirar a licença porque há meses havia sinais em Cuba de que o governo poderia demitir parte dos funcionários, como anunciado oficialmente em 13 de setembro DE 2010.
SONHO DE PARTIR
Não é só o desejo de aumentar sua renda que faz Lázaro abordar estrangeiros nas ruas de Havana, cuja deterioração parece refletir o cansaço da população com o sistema. Ele caminha com a esperança de encontrar turistas dispostos a lhe pagar nem que seja um mojito ou um prato de comida por sua amabilidade e simpatia ou uma mulher estrangeira que o leve de Cuba. Seu tio, conta, encontrou uma espanhola, “enamorou-se”, casou-se e agora vive com ela na Espanha. “QUEM CONSEGUE SAIR TAMBÉM PODE AJUDAR SUA FAMÍLIA QUE FICOU”, disse. No entanto, também há outro motivo para que ele tente sair da ilha casado, e não numa balsa ou pelo convite de algum amigo no exterior. O cubano que se casa mantém o direito de ser cubano. Não há represálias. Ele pode sair e não correr o risco, por exemplo, de perder sua casa, sendo possível voltar e visitar a Ilha mais facilmente.
O mesmo não ocorre com aqueles que partem com a chamada “CARTA DE INVITACIÓN”. O prazo limite para ficar no estrangeiro são 11 meses e, enquanto se está fora, é preciso pagar ao Estado uma permissão de saída. Quem não volta é visto como traidor e pode ter confiscados todos os bens. Além das dificuldades econômicas e da impossibilidade de deixar facilmente o país, Lázaro se ressente com as pressões dentro de Cuba, onde há um delito chamado “ASSÉDIO AO TURISTA”. A designação surgiu para tentar coibir a abordagem dos estrangeiros pelos cubanos que, com dificuldades econômicas, os procuram para pedir desde fraldas para seus netos, leite em pó ou maços de cigarro. Muitos também se dispõem a mostrar a cidade com a esperança de ganhar um refresco como pagamento. O “ASSÉDIO AO TURISTA” rende alguns dias de detenção, algumas cartas de advertência e até pode acabar em um tempo na prisão. “Tenho 15 cartas de advertência. Mas em que país do mundo é proibido falar com o outro, é proibido abordar um estrangeiro? Como eles podem determinar o que eu quero?”, indagou.
Lázaro se descreve como opositor ao regime dos irmãos Castro. Ao mesmo tempo, porém, não acredita que a população se rebelará para mudar a situação social causada pelo fracasso da política do Estado. “ELES FECHARAM ESSE SISTEMA MUITO BEM. AS PESSOAS TÊM MEDO.”

"SE AVANÇO, SIGA-ME; SE ME DETENHO, EMPURRE-ME; SE RETROCEDO, MATA-ME." – Che Guevara –





Escolha de Ramón Ventura para direção do PC decepciona cubanos

RESULTADO DO 6º CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA INDICA QUE REFORMAS FICARÃO RESTRITAS AO ÂMBITO ECONÔMICO
Ricardo Galhardo
Aos 80 anos e com apoio de Fidel Castro, 84, Ramón Machado Ventura foi escolhido para ocupar a SEGUNDA SECRETARIA DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA. O anúncio foi feito por um constrangido Raúl Castro no encerramento do 6º Congresso do PC, na manhã desta terça-feira, em Havana.  O resultado do congresso mostra que as REFORMAS em curso ficarão restritas ao âmbito econômico e que as esperadas mudanças nos campos políticos, social e das liberdades individuais estão fora dos planos, ao menos por hora. “As escolhas mostram que as importantes reformas econômicas são apenas um instrumento para a manutenção do status quo”, disse uma fonte com trânsito no governo.  NAS RUAS DE HAVANA, A ESCOLHA PROVOCOU DECEPÇÃO. A maioria das pessoas esperava a escolha de um jovem como MARINO MURILLO, ex-ministro das Finanças e mentor do plano de mudanças econômicas aprovado pelo congresso, ou Lázaro Esposito, primeiro secretário do PC na província de Santiago. “MACHADO VENTURA? NÃO ACREDITO. ESTAVA CERTA DE QUE SERIA MURILLO. Os revolucionários já fizeram sua parte. Eles precisam se desapegar do poder e passar o bastão para a nova geração. É preciso gente nova para acompanhar politicamente as modernizações propostas no plano de reformas”, reagiu surpresa a enfermeira Y., de 39 anos, ao ser informada pela reportagem do  sobre o escolhido.  NASCIDO EM 26 DE OUTUBRO DE 1930, O MÉDICO JOSÉ RAMÓN MACHADO VENTURA COMBATEU AO LADO DE FIDEL, RAÚL E ERNESTO “CHE” GUEVARA NA REVOLUÇÃO QUE DERRUBOU O DITADOR FULGÊNCIO BATISTA NO RÉVEILLON DE 1959. INTEGRANTE DO ESCRITÓRIO POLÍTICO DO PC DESDE A FUNDAÇÃO DO PARTIDO, EM 1962, JÁ OCUPOU DIVERSOS CARGOS DE DESTAQUE NA HIERARQUIA CUBANA, ENTRE ELES O DE MINISTRO DA SAÚDE. Raúl, que durante a abertura do congresso no sábado havia criticado o processo de renovação dos quadros partidários do PC, chegou a se desculpar pela escolha, dizendo que o nome de Ventura foi a alternativa possível no momento. “Mantivemos vários veteranos da geração histórica e é lógico que isso aconteça, como consequência das deficiências cometidas neste âmbito (da formação de novas lideranças) e criticadas no informe central  que nos impedem de contar hoje com uma reserva de substitutos maduros e com experiência”, disse Raúl. Segundo uma resolução aprovada  pelo PC, o atual quadro dirigente do partido é temporário. Em janeiro de 2012 a Convenção Nacional do partido vai escolher um novo Comitê Central que por sua vez escolherá entre os integrantes um novo Escritório Político (responsável pelas decisões executivas). O comitê decidiu reduzir de 19 para 15 o número de integrantes do escritório. Entre os escolhidos há apenas três nomes novos. OS OUTROS 12 SÃO OS MESMOS QUE TOMARAM POSSE NO ÚLTIMO CONGRESSO DO PC, HÁ 14 ANOS. Em ARTIGO publicado  em um site oficial, Fidel admite que defendeu a manutenção dos históricos no comando do partido. “HAVIA ALGUNS COMPANHEIROS QUE, JÁ POR SEUS ANOS E SUA SAÚDE, NÃO PODERIAM PRESTAR MUITOS SERVIÇOS AO PARTIDO, MAS RAÚL PENSAVA QUE SERIA MUITO DURO PARA ELES SEREM EXCLUÍDOS DA LISTA DE CANDIDATOS. NÃO VACILEI EM SUGERIR-LHE QUE NÃO SE EXCLUA COMPANHEIROS DE TAL HONRA E GARANTI QUE O MAIS IMPORTANTE É QUE O MEU NOME NÃO APAREÇA NESTA LISTA. PENSO JÁ TER RECEBIDO DEMASIADAS HONRAS”, DISSE FIDEL NO ARTIGO EM QUE AFIRMA TAMBÉM TER SIDO “QUASE OBRIGADO” A ASSUMIR O COMANDO DA ILHA APÓS A REVOLUÇÃO DE 1959, CONDIÇÃO NA QUAL SE MANTEVE POR 50 ANOS. Fidel compareceu pessoalmente ao encerramento do congresso. Vestindo agasalho esportivo azul, ele caminhou com dificuldade e causou comoção. Alguns delegados choravam copiosamente diante da presença do “COMANDANTE EM CHEFE”. Fidel não falou. A sessão de encerramento foi aberta com a leitura de uma longa carta enviada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, convertido em pilar do regime castrista graças aos aportes financeiros destinados à ilha na última década.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

“OS PODEROSOS PODEM MATAR UMA, DUAS OU ATÉ TRÊS ROSAS, MAS NUNCA DETERÃO A PRIMAVERA.” - Che Guevara –

Herói da Baía dos Porcos vive como mendigo nas ruas de Havana


EM MEIO AO DEBATE SOBRE REFORMAS LIDERADOS PELO PARTIDO COMUNISTA, CUBA COMEMORA 50 ANOS DE SUA MAIOR CONQUISTA MILITAR
Ricardo Galhardo
Hoje a única batalha à qual Carlos, 72 anos, se dedica é a de convencer os turistas que passeiam pelo bairro de Havana Velha a lhe pagarem uma bebida. “Meu dinheiro só dá para a comida e sempre tive um lema. Primeiro a comida, depois a bebida”, diz ele estendendo a mão com três níqueis de 10 centavos de CUC, a moeda dos cubanos. Quem passa por ele não imagina que aquele velho com roupas esgarçadas, hálito de rum barato e aparência de mendigo é um dos HERÓIS DA MAIOR CONQUISTA MILITAR DE CUBA, A BATALHA DA BAÍA DOS PORCOS, QUE  COMPLETOU 50 ANOS. Visivelmente embriagado às 15 horas, quando foi localizado pela reportagem, CARLOS não conteve as lágrimas ao lembrar dos três dias de luta que resultaram na expulsão de um batalhão de 1.297 exilados cubanos treinados e armados pelo governo dos Estados Unidos com a missão de derrubar o governo revolucionário e matar Fidel Castro. “Lutávamos por amor a Cuba e à revolução. Naqueles dias não me preocupava em morrer em combate. Talvez tivesse sido melhor. Hoje seria um mártir em vez de mendigo”, disse Carlos. NO DIA 17 DE ABRIL DE 1961, quando começou a invasão, o então primeiro-tenente do Exército Revolucionário estava aquartelado em Havana quando soou o alarme, por volta das 3 horas. “Houve uma excitação muito grande. Não sabíamos o que estava acontecendo. Só tivemos clareza da situação quando já estávamos nos caminhões rumo à Baía dos Porcos”, recorda.  “No primeiro momento pensei: estamos mortos. Não temos a menor chance contra o exército mais bem armado do mundo. Então Fidel chegou à frente de batalha e sua presença nos deu confiança. No segundo dia, já sabíamos com certeza que ganharíamos a batalha.” Depois disso ele ainda combateu em Angola e passou mais 10 anos nas Forças Armadas, até ser dispensado por invalidez devido a um acidente de carro. Hoje vive como aposentado e recebe um salário de US$ 15. Perguntado se participaria do desfile militar em comemoração aos 50 anos da batalha, Carlos disse que não. “A FESTA É PARA O GOVERNO, NÃO É PARA AS PESSOAS QUE ARRISCARAM A VIDA”. E mudou de assunto.
COMEMORAÇÃO
A efeméride foi comemorada  com um grandioso desfile militar e popular, do qual participaram o presidente Raúl Castro, convidados, e milhares de pessoas que tomaram a avenida em frente à Praça da Revolução aos gritos de “VIVA FIDEL”. AS COMEMORAÇÕES OCORRERAM PARALELAMENTE AO 6º CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA, no qual foram debatidas reformas sem precedentes na economia da ilha. O desfile contou com a narração ao vivo de um casal de apresentadores que lembrava as transmissões dos desfiles de Carnaval. Nem todos os participantes estavam lá por vontade própria. É o caso de Madalena, garçonete em um restaurante sofisticado em Havana Velha. “SOMOS OBRIGADOS A PARTICIPAR PARA NÃO PERDERMOS O EMPREGO”, DISSE. O desfile foi transmitido pela TV estatal com direito a reprise na manhã de domingo. A única forma de ver o desfile ao vivo era participando da caminhada. Os poucos lugares na plateia foram reservados para as autoridades e convidados do governo. Na verdade, a ênfase maior da festa foi no aniversário de 50 anos da proclamação do caráter socialista de Cuba feita no dia 16 de abril de 1961, véspera do ataque. Na edição de sexta-feira o jornal Juventude Rebelde publicou um encarte especial de 16 páginas com a primeira parte das “REFLEXÕES DE FIDEL CASTRO” sobre o episódio. O texto foi lido em um programa de debates da TV estatal.
A INVASÃO
No dia 17 de abril de 1961, 1.297 cubanos exilados nos Estados Unidos armados e treinados desembarcaram na praia Girón, localizada na Baía dos Porcos, ao norte de Havana. O desembarque foi precedido de um bombardeio ao aeroporto civil do local. Três dias depois, os invasores foram derrotados. O saldo, segundo o governo cubano, foi de 176 mortes. À primeira vista o episódio parece irrelevante, mas suas consequências foram nefastas, levando no ano seguinte as duas superpotências da época, EUA e União Soviética, ao ponto mais próximo de uma guerra nuclear. No dia 18 de abril, o presidente União Soviética, Nikita Kruschev, enviou uma carta ao norte-americano John Kennedy nos seguintes termos: “SENHOR PRESIDENTE, DIRIJO A VOSSA EXCELÊNCIA UM URGENTE APELO PARA QUE PONHA FIM À AGRESSÃO CONTRA  CUBA. OS ARMAMENTOS MILITARES E A SITUAÇÃO POLÍTICA MUNDIAL HOJE EM DIA É TAL QUE QUALQUER UMA DAS ASSIM CHAMADAS ‘PEQUENAS GUERRAS’ PODE DEFLAGRAR UMA REAÇÃO EM CADEIA EM TODAS PARTES DO MUNDO (...) NO QUE CONCERNE À UNIÃO SOVIÉTICA NÃO DEVE HAVER ENGANO SOBRE NOSSA POSIÇÃO: FORNECEREMOS AO POVO CUBANO E A SEU GOVERNO TODO APOIO NECESSÁRIO PARA REPELIR O ATAQUE”. Anos depois do ataque foi revelado um documento secreto assinado pelo então secretário-assistente de Estado dos EUA, Lester Mallory, sobre a existência de um conjunto de medidas chamado “Programa de Ação Encoberta Contra o Regime de Castro”. O documento mostra que o antecessor de Kennedy, Dwight Eisenhower, iniciara um ano antes o programa de treinamento de exilados cubanos, pela CIA, com o objetivo de derrubar e matar Fidel. O ataque acabou acontecendo no terceiro mês de governo de Kennedy, que segundo historiadores ficou sabendo do plano apenas na véspera de sua posse e, contrariado, impediu o uso de aviões da Força Aérea dos EUA na invasão, o que facilitou a defesa das tropas cubanas. Em retaliação, a União Soviética instalou bases de lançamentos de mísseis nucleares na ilha, a apenas 170 quilômetros de Key West, na Florida. A descoberta das bases levou as duas superpotências à chamada Crise dos Mísseis, em 1962, marcando o ápice da Guerra Fria.
DO PONTO DE VISTA POLÍTICO, A INVASÃO EMPURROU FIDEL, QUE NOS PRIMEIROS ANOS DA REVOLUÇÃO SE DECLARAVA INDEPENDENTE DA INFLUÊNCIA SOVIÉTICA, DIRETAMENTE PARA O COLO DE MOSCOU. EM 1998 O GOVERNO DOS EUA ADMITIU OFICIALMENTE QUE A INVASÃO DA BAÍA DOS PORCOS FOI UMA ATITUDE “RIDÍCULA, TRÁGICA OU AMBAS AS COISAS”.