sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

EIS O EXCELENTE DISCURSO DO SENADOR PEDRO TAQUES(PDT-MT) QUE PERDEU A ELEIÇÃO PARA RENAN BANDALHEIROS(PMDB-AL), PELO PLACAR DE 56 X 18



EU DETESTARIA ESTAR NO LUGAR DE QUEM ME VENCEU...

Sr. Presidente, senhoras senadoras, senhores senadores. Cidadãos que nos acompanham pela TV e Rádio Senado. Amigos das redes sociais, É COMO UM PERDEDOR QUE OCUPO HOJE ESTA TRIBUNA. Venho como alguém a quem a derrota corteja: certeira, transparente, inevitável, aritmética. Sou o titular da perda anunciada, do que não acontecerá. Mas o bom povo de Mato Grosso não me deu voz nesta Casa para só disputar os certames que posso ganhar, mas para lutar, com todas as minhas forças, as batalhas que forem justas. Sigo o exemplo do apóstolo Paulo, também um perdedor, degolado em Roma por levar a mensagem do Cristo: quero poder dizer a todas as pessoas que combati o bom combate. As palavras dos vitoriosos são lembradas. Seus feitos, realçados. Sua versão, tende a se perenizar. O sorriso do orgulho lhes estampa a face, tantas vezes, antes mesmo de vencerem. E nem sempre se pergunta que vitória foi esta que obtiveram. Será a vitória do Rei Pirro, que bateu os romanos na Batalha de Heracleia (280 A.C.) e olhando desconsolado para suas tropas destroçadas, disse que “OUTRA VITÓRIA COMO AQUELA O ARRUINARIA”? Será a vitória do Marechal Pétain, que ocupou o poder numa França emasculada pelos nazistas, traindo o melhor de sua gente? Será a vitória sem honra dos alemães diante do levante de Varsóvia? POIS EXISTEM VITORIAS QUE ELEVAM O GÊNERO HUMANO E OUTRAS QUE O REBAIXAM. Vitórias da esperança e vitórias do desalento. E, tantas vezes, é entre os derrotados, os que perderam, os que não conseguiram, que o espírito humano mais se mostra elevado, que a política renasce, que a sociedade progride. MINHA VOZ NÃO É A DA VITORIOSA DERRAMA DE EL-REY DE PORTUGAL, MAS A DOS DERROTADOS INCONFIDENTES QUE FIZERAM GERMINAR O SONHO DA NOSSA INDEPENDÊNCIA. O GRANDE HERÓI BRASILEIRO, SENADOR AÉCIO, – TIRADENTES – É UM PERDEDOR, POIS A CONJURAÇÃO MINEIRA NÃO VENCEU, NAQUELE MOMENTO, MAS NEM AS PARTES DE SEU CORPO PREGADAS NA VIA PÚBLICA, AO LONGO DO CAMINHO DE VILA RICA, O IMPEDIRAM DE SER UM BRASILEIRO IMORTAL. Valho-me da memória de outro grande brasileiro, Ulisses Guimarães, anticandidato, lançado em 1973 pelo então MDB, MDB Jarbas Vasconcelos, MDB Pedro Simon, MDB Requião, tendo como vice-anticandidato Barbosa Lima Sobrinho. “VOU PERCORRER O PAÍS COMO ANTICANDIDATO”, disse Ulysses, para denunciar a “ANTI-ELEIÇÃO”, do regime militar. Ulysses Guimarães, este grande perdedor, este grande brasileiro. Pois aqui estou, emulando o espírito daqueles grandes homens: Eu me anticandidato à Presidência deste Senado da República. Apresento-me para combater o bom combate. QUERO SER PRESIDENTE DA CASA DA FEDERAÇÃO. QUERO QUE A SOCIEDADE BRASILEIRA OBSERVE QUE AS COISAS PODEM SER DIFERENTES, QUE O PASSADO NÃO PRECISA NECESSARIAMENTE VOLTAR, QUE HÁ MODOS NOVOS E MELHORES DE FAZER POLÍTICA, QUE ESTA CASA NÃO É UM APÊNDICE, UM “PUXADINHO” DO PODER EXECUTIVO, MAS QUE ESTAMOS AQUI TAMBÉM PELO VOTO DIRETO QUE NOS DERAM O BOM POVO DE NOSSOS ESTADOS. CHEGA DO SENADO-PERDIGUEIRO! CHEGA DO SENADO-SABUJO! SOMOS SENADORES, NÃO LEVA-E-TRAZES DO PODER EXECUTIVO! NÃO PODEMOS RESPEITAR OS DEMAIS PODERES, O EXECUTIVO OU O JUDICIÁRIO, SE NÃO NOS RESPEITAMOS A NÓS PRÓPRIOS. Não ajudamos a boa governança constitucional, se nos olvidamos de nossos deveres, de nosso papel e nossas prerrogativas. Nossa omissão alimenta o agigantamento dos outros poderes, o que a Constituição repele. É como derrotado que posso dizer francamente que a sociedade brasileira clama por mudança, por dignidade, por esperança, por novos costumes políticos, por uma nova compreensão de nosso papel como senadores. Anticandidato-me à Presidência do Senado, para combater o mau vezo do Poder Executivo de despejar suas medidas provisórias, ainda que fora de situações de urgência e relevância, em continuado desprestígio de nossas prerrogativas legislativas. Lanço-me para que façamos valer a Constituição e seu artigo 48, II, segundo o qual devemos velar pelas prerrogativas de nossa Casa Legislativa. ALMEJO APLICAR SEVERA E SERENAMENTE, O ARTIGO 48, XI, DO REGIMENTO INTERNO DO SENADO, SEGUNDO O QUAL O PRESIDENTE TEM O DEVER DE IMPUGNAR PROPOSIÇÕES QUE LHE PAREÇAM CONTRÁRIAS À CONSTITUIÇÃO, ÀS LEIS E AO PRÓPRIO REGIMENTO”. Eu, anunciado perdedor, comprometo-me perante meus pares e perante todo o país a impugnar estes exageros do Poder Executivo. SERÁ QUE O ANUNCIADO VENCEDOR PODE FAZER IDÊNTICA PROMESSA? Vou aplicar o mesmo rigor aos “contrabandos legislativos”, impedindo que o oportunismo de alguns acrescente às já abusivas Medidas Provisórias as emendas de interesses duvidosos que nada têm a ver com o objeto original da medida que se supõe urgente e relevante. Prometo desconcentrar o meu poder como Presidente, distribuindo a relatoria dos projetos por sorteio. COMO AGIRÁ O VENCEDOR? DISTRIBUIRÁ APENAS ENTRE OS SEUS? Vou criar uma agenda pública e transparente, a ser informada a toda a sociedade brasileira, para a apreciação dos vetos presidenciais, estas centenas de esqueletos que deixamos por aqui. Vou designar as comissões e convocar as sessões do Congresso Nacional que se façam necessárias. COMO FARÃO OS VENCEDORES? Vou além: toda a agenda legislativa tem de ser democratizada. Comprometo-me a construir mecanismo pelo qual os cidadãos possam formular diretamente requerimentos de urgência para votação de matérias, nas mesmas condições que a Constituição exige para a iniciativa popular de projetos de lei. Farei ainda com que o Senado invista no desenvolvimento de mecanismos seguros de petição digital, para facilitar a mobilização dos cidadãos em torno das iniciativas populares já previstas na nossa Carta Magna. Mobilizarei também toda a Casa para promover a atualização dos textos dos Regimentos Internos do Senado e do Congresso Nacional, documentos originários de resoluções dos anos 70, aprovadas durante o período escuro de nosso país e anteriores até mesmo à nossa Constituição democrática. Aos servidores do Senado faço o compromisso de dar o que eles, profissionais dedicados, mais querem: organização, estruturação administrativa eficiente, seriedade, probidade. É também o que espera a sociedade brasileira. Não serão tolerados abusos de qualquer ordem. Funcionários públicos, representantes do povo, estamos aqui para servir a Sociedade e o Estado e não para nos servimos deles! COMO FARÃO OS VENCEDORES? O que farão aqueles que já venceram antes e nada fizeram? Como esteve o Senado, quando ocupado pelos presumidos vencedores de hoje? Posso ser um perdedor, mas para mim, a lisura, a transparência, o comportamento austero são predicados inegociáveis de um Presidente do Senado. SERÁ QUE OS VENCEDORES TAMBÉM PODERÃO DIZÊ-LO? Os que hão de vencer dialogarão com a classe média, com os trabalhadores, as organizações da sociedade civil, com a Câmara dos Deputados, com estudantes e donas-de-casa? Os vencedores darão continuidade a reformas como a do Código Penal, a Administrativa e o Pacto Federativo, ou preferirão deixar as coisas como estão? A ética estará com os vencedores ou com os perdedores, Senhores Senadores? Quais de nós serão mais bem acolhidos, não nesta Casa, mas pela sociedade brasileira. Os vencedores ou os perdedores? Queremos o melhor para nós ou o melhor para a nação? Existem voltas ainda hoje esperadas, como a de Dom Sebastião, que se perdeu nas batalhas africanas. A volta do Messias, esperado por judeus e cristãos. Os desaparecidos na época do regime militar, senador Aluísio, que hão de aparecer, ainda que para a dignidade de serem enterrados pela família. Mas existem voltas que criam receios, de continuísmo, de letargia, de erros ressurgentes. SOU O ANTICANDIDATO, O QUE PERDERÁ. NÃO SOU ESPECIAL. NÃO TENHO QUALIDADES QUE CADA CIDADÃO BRASILEIRO, TRABALHADOR E HONESTO, NÃO TENHA TAMBÉM. A ÉTICA QUE PROCLAMO É AQUELA QUE QUASE TODOS OS BRASILEIROS SE ORGULHAM DE CULTIVAR. EU NÃO TEMO O PRÓPRIO PASSADO E, PORTANTO, NÃO TENHO MEDO DO FUTURO. FALO PELOS DERROTADOS DESTE PAÍS, TODOS OS QUE AINDA NÃO CONSEGUIRAM SEUS DIREITOS BÁSICOS: AS MULHERES, SENADORA LÍDICE DA MATA; OS ÍNDIOS, SENADOR WELLINGTON DIAS; AS CRIANÇAS, SENADORA ANA RITA; OS NEGROS, SENADOR PAULO PAIM; OS ASSALARIADOS, SENADOR JAIME CAMPOS; OS SEM CASA, SENADOR RODRIGO ROLEMBERG; OS SEM ESCOLA, AMIGO CRISTOVAM BUARQUE. FALO PELOS SEM VOTO, AQUELES QUE, EMBORA TITULARES DA SOBERANIA POPULAR – O CIDADÃO – SE VÊEM ALIJADOS DA DISPUTA PELA PRESIDÊNCIA DESTA CASA, PORQUE O TERRENO DA DISPUTA SE CIRCUNSCREVEU AOS PARTIDOS DA MAIORIA. Essa não é mais a candidatura do Pedro Taques, e sim do PDT, do PSOL, do PSB, do DEM, do PSDB e de corajosos senadores de outras legendas, que não se submetem. Por que, como diz o poeta cuiabano Manoel de Barros, “QUEM ANDA NO TRILHO É TREM DE FERRO, LIBERDADE CAÇA JEITO”. ESSA CANDIDATURA É DAQUELES QUE NUNCA TIVERAM VOZ NESTA CASA, É DOS MAIS DE 300 MIL BRASILEIROS QUE ASSINARAM A PETIÇÃO ONLINE “FICHA LIMPA NO SENADO: RENAN NÃO”, PROMOVIDA PELO PORTAL INTERNACIONAL AVAAZ. Sei que nossa derrota é certeira, transparente, inevitável, aritmética. Mas faço minha a fala do inesquecível Senador Darcy Ribeiro: “FRACASSEI EM TUDO O QUE TENTEI NA VIDA. TENTEI ALFABETIZAR AS CRIANÇAS BRASILEIRAS, NÃO CONSEGUI. TENTEI SALVAR OS ÍNDIOS, NÃO CONSEGUI. TENTEI FAZER UMA UNIVERSIDADE SÉRIA E FRACASSEI. TENTEI FAZER O BRASIL DESENVOLVER-SE AUTONOMAMENTE E FRACASSEI, MAS OS FRACASSOS SÃO MINHAS VITÓRIAS. EU DETESTARIA ESTAR NO LUGAR DE QUEM ME VENCEU”. Nas andanças do tempo, vencedores podem ser efêmeros; os derrotados de um dia, vencem noutro. Maiorias se tornam minorias. Mas a dignidade, Senhores Senadores, jamais esmorece. Nós, os que vamos perder, saudamos a todos, com a dignidade intacta e o coração efusivo de esperança.
 

MARINA SILVA É UMA POLÍTICA AUTÊNTICA QUE NUNCA FOI DE DIREITA NEM DE ESQUERDA, SEMPRE ESTEVE À FRENTE


MARINA DEFENDE O “ATIVISMO AUTORAL”


MARINA: “O GRANDE IDEAL INTEGRADOR DA SOCIEDADE HOJE É O DESCONFORTO DAS PESSOAS COM O PROCESSO ESTAGNADO NA POLÍTICA E NA ECONOMIA. HÁ ALGO MAIOR, OCEÂNICO” FUNDAR OU NÃO UM PARTIDO? NO INÍCIO DE FEVEREIRO, POSSIVELMENTE EM BRASÍLIA, JOVENS, EMPRESÁRIOS, INTELECTUAIS, POLÍTICOS, LÍDERES RELIGIOSOS E AMBIENTALISTAS SE REUNIRÃO PARA DECIDIR O DESDOBRAMENTO INSTITUCIONAL DO MOVIMENTO POR UMA NOVA POLÍTICA, A FRENTE SUPRAPARTIDÁRIA LANÇADA EM 2011 PELA EX-MINISTRA DE MEIO AMBIENTE DO GOVERNO LULA E EX-SENADORA MARINA SILVA. TRATA-SE DO COROAMENTO DE DOIS ANOS DE DISCUSSÕES DESTE GRUPO. A MAIORIA É A FAVOR DE UMA NOVA SIGLA, MAS HÁ RESISTÊNCIA À IDEIA, PRINCIPALMENTE ENTRE OS JOVENS. SE A DECISÃO FOR POR UM PARTIDO PURO-SANGUE, QUE DISPUTE AS ELEIÇÕES EM 2014, TERÁ QUE SER DIFERENTE. É ESTA IDEIA QUE FEZ MARINA SILVA MUDAR DE OPINIÃO. QUANDO SAIU DO PARTIDO VERDE, ELA SE OPÔS À CRIAÇÃO DE ALGO FEITO ÀS PRESSAS, PARA DISPUTAR AS ELEIÇÕES EM 2012. AGORA DIZ QUE VIU O MOVIMENTO AMADURECER, DECANTAR, ESTAR EM SINTONIA COM UM ATIVISMO MODERNO E ESPONTÂNEO, QUE RECONHECE NO MUNDO TODO E BATIZA DE “ATIVISMO AUTORAL”. É FORMADO POR PESSOAS DESCONTENTES COM A ESTAGNAÇÃO POLÍTICA, ECONÔMICA E DE VALORES E QUE NÃO CONSEGUE FAZER FRENTE À PROFUNDA E COMPLEXA “CRISE CIVILIZATÓRIA” ATUAL. ESTE NOVO PARTIDO, SE CONFIRMADO, PODE TER NOVIDADES EM SEU ESTATUTO E A SUSTENTABILIDADE COMO VÉRTICE. PODERÁ ABRIGAR CANDIDATURAS LIVRES, TER PRESIDÊNCIA DE CURTO PRAZO E ROTATÓRIA E ATÉ UM PACTO DE NÃO AGRESSÃO A RIVAIS  NAS DISPUTAS ELEITORAIS. A SEGUIR, OS PRINCIPAIS TRECHOS DA ENTREVISTA AO JORNAL VALOR:

VALOR: A SENHORA IRÁ FORMAR UM NOVO PARTIDO?

MARINA SILVA: É importante antes resgatar o processo político daquele grupo que viveu a experiência das eleições presidenciais de 2010, nestes últimos dois anos, desde que saímos do PV. Uma parte do grupo achava que se deveria criar imediatamente um partido. Eu era contra esta proposta.

VALOR: POR QUÊ?

MARINA: Argumentava que não se cria partido por causa de eleição. Naquela época a avaliação era de se fazer um partido já para concorrer em 2012. Dizíamos que deveríamos apostar em uma articulação mais ampla, transpartidária, com a proposta da sustentabilidade e de uma nova forma de fazer política. E se, no futuro, uma parte deste movimento – que é muito maior do que a dos que querem fazer um partido -, quisesse decantar um grupo para ver se havia profundidade e identidade política para criar algo que não seja apenas mais um partido, com foco apenas em mais uma eleição, que era legítimo que estas pessoas fizessem isso. Eu só iria fazer esta discussão depois das eleições de 2012.

VALOR: COMO A SENHORA PARTICIPOU DAS ELEIÇÕES DE 2012?

MARINA: Apoiando candidaturas de forma exclusivamente programática. Engraçado como as pessoas se esquecem disso. Se fosse uma perspectiva puramente eleitoreira, eu teria me envolvido com muitas campanhas e com aquelas que poderiam estar comigo no futuro. Eu me envolvi com candidaturas que nunca vão se descolar dos seus partidos de origem.

VALOR: QUAIS, POR EXEMPLO?

MARINA: Apoiei a candidatura de Durval Ângelo [candidato derrotado à Prefeitura de Contagem], que é uma pessoa orgânica do PT de Minas, não vai sair do PT, mas tem compromisso com esta agenda. O próprio Serafim [Corrêa, candidato derrotado à Prefeitura de Manaus], ligado ao PSB. O Edmilson [Rodrigues, candidato derrotado à Prefeitura de Belém], que nunca vi questionar sair do PSOL. O Heitor [Ferrer, candidato à Prefeitura em Fortaleza], que não está cogitando sair do PDT. São mais do que indícios de que se está discutindo uma proposta de visão de mundo e de país. Aquela ideia de que o importante é formar uma comunidade de pensamento que pode ser de pessoas de diferentes partidos ou que não são de partidos, da academia, de movimento sociais, mas todos refletindo sobre a crise do modelo que estamos vivendo. Esta crise civilizatória que se expressa na política, na questão ambiental, na economia, em valores, em graves problemas sociais. É apostar em um movimento oceânico.

VALOR: COMO ASSIM, OCEÂNICO?

MARINA: Hoje uma parte da sociedade se movimenta de uma forma meio oceânica, integrada pelo forte questionamento do que está acontecendo no Brasil e no mundo, em relação à crise civilizatória. Me impressiona muito o reducionismo que se faz da discussão de tudo isso. A eleição faz parte de um processo, dá uma forte contribuição para a mudança da cultura política, mas não é um fim em si mesmo e não é a única forma de dar essa contribuição. Tem que existir um caldo de cultura transformador. Nestes dois anos tenho participado do processo político, mas não nesta agenda do poder pelo poder. Não fiquei na cadeira cativa de candidata à Presidência da República, mas no lugar de militante socioambiental. Queremos discutir a partir de novos patamares.

VALOR: HÁ QUEM FALE NA FALTA DE VISIBILIDADE SUA NESTES DOIS ANOS.

MARINA: Continuei fazendo o que sempre fiz. Tive uma agenda intensa, para mim política é um processo vivo. E agora estou diante de um movimento que, pode ter certeza, não partiu de mim. Existem inúmeras pessoas, parlamentares, lideranças, grupos sociais que têm cobrado de mim uma posição. E eu, que segurei este processo até o fim das eleições de 2012, por uma questão de respeito ao legado que eu e Guilherme Leal [empresário da Natura e vice na chapa em 2010] suscitamos, tenho que me colocar. Não poderia me omitir diante do legado consistente que temos e que está propondo algo que, se não é um novo caminho, pelo menos é uma nova maneira de caminhar na política. No Brasil, como não há candidaturas avulsas, ou você está dentro das estruturas, ou não existe

VALOR: MAS A MANEIRA DE INTERFERIR NA POLÍTICA É ATRAVÉS DE UM PARTIDO. A SENHORA ESTÁ CONSIDERANDO…

MARINA: É também através de um partido. O problema é que os partidos começaram a ter o monopólio da ação política. No Brasil, infelizmente, como não existem candidaturas livres, avulsas, como há nos Estados Unidos e na Itália, ou você está dentro destas estruturas, em seus moldes tradicionais, ou você não existe. Mas não tivemos a reforma política e é preciso cumprir os processos legais se quisermos participar da política tradicional.

VALOR: O QUE ESTÁ SENDO FEITO?

MARINA: Lideranças políticas da sociedade, que querem partido ou não, mas que querem participar da política e não ser espectadoras mas protagonistas, têm me procurado para conversar. Tenho sugerido que, no início de fevereiro, se faça uma reunião para que este movimento tome a decisão. Vai continuar como movimento da sociedade? Vai ter uma participação na política institucional?

VALOR: JÁ TEM DATA E LUGAR?

MARINA: A ideia é que aconteça antes do Carnaval, possivelmente em Brasília. Estes movimentos estão antecipando discussões, fazendo manifestos, propostas de estatuto. Isso está sendo feito independentemente da minha vontade, mas acho legítimo. Durante estes dois anos houve, de fato, um adensamento, uma decantação para evitar que fosse apenas mais um partido com apenas uma perspectiva eleitoral.

VALOR: A MILITÂNCIA POLÍTICA ESTÁ MUDANDO?

MARINA: Acho que está mudando significativamente no mundo e no Brasil também. Hoje não é mais aquele ativismo dirigido pelos partidos, pelos sindicatos, pelas organizações clássicas que tínhamos. É um ativismo diferente, que chamo de ativismo autoral. Boa parte das pessoas que integram as causas do século 21 fazem isso porque estão alinhadas com os mesmos princípios mas também pelo prazer de experimentar uma ação política produtiva, criativa e livre. Muitos sentem desconforto com a política separada da ética, a economia separada da ecologia.

VALOR: QUAIS SÃO ESTES CANAIS?

MARINA: Pode-se identificá-lo, por exemplo, nas manifestações recentes contra a corrupção, que não foram convocadas por nenhum partido político. A menina que fez aquele movimento para melhorar a escola dela é caso típico deste ativismo autoral. Os movimentos “Ocupem Wall Street”. A própria campanha de 2010 foi assim, porque o PV não tinha estrutura, não tinha tempo de televisão, as pesquisas diziam que eu estava estagnada em 8%. E mesmo assim, as pessoas, autoralmente, fizeram um processo político. Isto é uma tendência no mundo. Eu estou dialogando com isso. Talvez esteja mesmo no ostracismo para o velho ativismo, de movimentos a serviço de um partido.

VALOR: PODE EXPLICAR MELHOR?

MARINA: É como se tivéssemos uma grelha com brasas: as brasas juntas produzem calor para aquecer uma pessoa, mas se estiverem separadas, irão se apagar. O que agrega as pessoas são os ideais e um dos fortes ideais hoje é a sustentabilidade. Mas entendendo a sustentabilidade não só como uma maneira de fazer, mas como uma maneira de ser, uma visão de mundo, um ideal de vida que deve perpassar a economia, a ciência, a tecnologia, a relação do homem com a natureza e consigo mesmo.

VALOR: E COMO PODERIA SE TRADUZIR ISSO NA REALIDADE DE UM PARTIDO?

Marina: Se a decisão for por um partido, no meu entendimento tem que ser com esta visão antecipatória. Não dá para ser a favor da reforma política e não agregar neste novo instrumento institucional os elementos da reforma política que queremos que aconteça.

VALOR: COMO O QUÊ, POR EXEMPLO?

MARINA: O PT foi capaz de antecipar várias coisas no seu tempo. Naquela época os partidos se constituíam e as decisões eram tomadas pelas convenções com os delegados oficiais. O PT colocou em seu estatuto que as decisões seriam pelo pleno do partido e a convenção oficial referendaria a decisão tomada pelo pleno do partido. Foi assim até que se transformou em um partido convencional como qualquer outro, mas isso é recente. É possível, mesmo na atual legislação, ter uma política mais aberta, democratizar a democracia. E os partidos políticos têm que dar a sua contribuição.

VALOR: SE O MOVIMENTO DECIDIR PELA CRIAÇÃO DE UM PARTIDO, COMO ELE SERIA DIFERENTE DOS OUTROS?

MARINA: Sou a favor, e boa parte do grupo também, das candidaturas livres. No Brasil, sem reforma política, não se consegue isso, mas dá para antecipar. O partido tem um programa e princípios, e quem está vinculado a eles poderia, mesmo não sendo orgânico do partido, ter uma legenda. Do mesmo jeito que se tem 30% para mulheres, se poderia ter, também, 30% para candidaturas respaldadas pela sociedade desde que coerentes com princípios e valores. É possível antecipar a ideia das candidaturas livres resguardando 30% de vagas para personalidades, ou pessoas de movimentos sociais, que queiram articular programaticamente uma lista de apoio e ser homologado pelo partido. Porque, para concorrer, é preciso ter uma homologação institucional. O ativismo autoral está em manifestações apartidárias contra a corrupção ou como a “ocupe Wall Street”

VALOR: E NO FINANCIAMENTO?

MARINA: O financiamento público de campanha hoje não é possível. Mas é possível um financiamento popular de campanha? Em vez de poucos contribuindo com muito ter muitos contribuindo com pouco? Há duas propostas sendo debatidas. Uma, que seria só pessoa física, sem limite de contribuição. Advogo a ideia de que poderia ser empresas e pessoas físicas, com teto de contribuição. Teríamos que discutir este teto.

VALOR: DEFENDERIA A REELEIÇÃO?

MARINA: Sou contra a reeleição para cargos executivos, que no meu entendimento é um atraso na realidade do Brasil. Poderia até ter mandato de cinco anos, mas sem direito à reeleição, porque as pessoas não fazem o que é necessário e estratégico para o interesse do país, mas fazem o que é estratégico para o interesse da sua própria reeleição. Esta é uma visão minha, não do grupo.

VALOR: A LEGISLAÇÃO PERMITE TODAS ESTAS MUDANÇAS?

MARINA: Com certeza. Se você estabelecer que o financiamento da campanha vai ser só de pessoa física, isso está no estatuto do partido. Se disser pessoa física e empresa, com um teto, se está no estatuto do partido, não há problema. Se alguém consegue uma lista de assinaturas o endossando, proporcional à realidade de seu município ou sua região eleitoral, por exemplo, e se essa sua plataforma é coerente com os valores do partido, pode-se homologar a filiação sabendo que esta pessoa não quer ser um militante orgânico do partido, mas é alguém que representa a sua causa. E que a sua filiação é puramente uma exigência da atual legislação, que não permite candidaturas livres.

VALOR: A SUSTENTABILIDADE SERIA O EIXO DO PARTIDO?

MARINA: A questão da ficha limpa seria algo a priori e o compromisso com a sustentabilidade seria algo no vértice de tudo. A ética na política teria que ser condição “sine qua non”, não pode ser uma bandeira. Mas, por exemplo, poderia ser um partido que tenha uma presidência por um tempo, que não seja por um tempo eterno. A cada ano, teríamos outro presidente para evitar cristalizações. O PV na Alemanha, por exemplo, tem um homem e uma mulher como presidentes. Tem coisas que já dá para fazer. Pessoas como o economista José Eli da Veiga, o cineasta Fernando Meirelles, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca não sei se vão se filiar, mas são pessoas que têm o direito de participar, de votar, de apresentar propostas. São protagonistas do processo político. Tem que ter mecanismos novos porque senão vai ser mais do mesmo. O que está se discutindo é outra coisa, é uma visão de país, de mundo, do que o século 21 exige de nós. É um esforço, ninguém tem a resposta. As coisas estão sendo produzidas nos espaços da polarização, que é estagnante.

VALOR: OUTRA NOVIDADE?

MARINA: Um partido político hoje tem que ter um pacto de não agressão. Eu posso fazer uma critica à presidente Dilma [Rousseff] ou ao [ex-]governador [José] Serra e não precisa ser no diapasão destrutivo que virou a política. Viramos a cultura da acusação e da queixa.

VALOR: HÁ QUANTO TEMPO ESTA DISCUSSÃO VEM ACONTECENDO?

MARINA: Estou repensando a ideia do partido. Não poderíamos fazer de forma só para participar da eleição de 2012. Isso aconteceu, o amadurecimento desta ideia, ao longo de dois anos. Há muitos que querem mais do que um partido, algo que seja um projeto de país. Isso não é uma decisão que será tomada agora, isso está em discussão desde que nos separamos do PV.

VALOR: MAS DÁ TEMPO DE PARTICIPAR DA ELEIÇÃO DE 2014?

MARINA: Não sei se dá tempo. Me perguntaram se poderia ser mais fácil ir para um partido já existente ou fazer uma fusão. Poderia ser mais fácil, mas não o mais coerente. É preferível correr o risco de tentar manter a coerência. Se não for possível, paciência. Tentou se fazer algo que faça diferença e não um processo puramente eleitoral.

VALOR: COMO A SENHORA VÊ O BRASIL HOJE? A CRISE ENERGÉTICA, POR EXEMPLO?

MARINA: Infelizmente o Brasil não foi capaz de criar uma agenda do século 21. O Brasil tem condições de dar energia diversificada e distribuída, mas não tem levado isso a cabo, e aposta em modelos que estão falidos, centralizados, dos grandes empreendimentos. Ser o país detentor da maior área de insolação do planeta e não apostar em energia solar, dá uma tristeza. Temos um modelo que não se abre aos diversos segmentos da economia.

VALOR: COMO A SENHORA VÊ A DISCUSSÃO DO PIB, DO QUANTO O BRASIL CRESCEU. PODERIA TER SIDO MAIS?

MARINA: A gente não pode tratar o Brasil como se fosse uma ilha separada do mundo. O Brasil faz parte desta velha economia e está em crise junto com ela. Uma crítica que eu faço é que não se aproveita a crise para ir rumo à nova economia, mas não posso imaginar que o Brasil é uma bolha de prosperidade separada do mundo. Tanto estão errados os que estão dentro do governo e venderam a ideia de que o Brasil está imune à crise, como se a presidente Dilma pudesse fazer uma mágica e nos colocar em uma ilha de prosperidade separada do mundo. Poderíamos fazer investimentos em outra direção. Mas a presidente Dilma não tem uma varinha de condão para fazer essa mágica.

VALOR: E QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PASSOS DO MOVIMENTO?

MARINA: As pessoas estão conversando entre si. Parlamentares, ex-PV, ex-PT, pessoal da academia, da juventude, gente que quer partido, gente que não quer. Todos estão conversando. No início de fevereiro a ideia é ter este encontro, como uma preliminar. Feito isso, os grupos podem criar um instrumento para a política institucional. E aí há grupos se antecipando para levar propostas para a segunda parte da reunião, por causa do calendário eleitoral.

VALOR: QUAL É A SUA POSIÇÃO?

MARINA: Acho que amadurecemos sim. A própria forma como as coisas estão acontecendo fez uma boa decantação daquelas ideias de que se tratava de só mais um partido e que precisávamos ter alguma coisa para estar nas eleições de 2012 de qualquer forma. Agora está claro que se trata de algo maior do que um partido. É um movimento.

VALOR: SE O PARTIDO SAIR, SERÁ DE ESQUERDA?

MARINA: Na campanha, quando me perguntavam e ao Alfredo Sirkis [deputado federal do PV do Rio] se estávamos à esquerda ou à direita, dizíamos que estávamos à frente. Uma frente da sustentabilidade na política, na economia, nas instituições. É importante criar um caldo de cultura política para terminar com esta estagnação da política.

VALOR: E OS LÍDERES EVANGÉLICOS, COMO ESTÃO NESTA DISCUSSÃO?

MARINA: Ninguém está participando como líder religioso, mas como cidadão. Ninguém vem em nome de sua ONG, mas como cidadão. Estamos vendo a política como um processo novo e vivo, 2010 não tem como ser repetido. É um novo processo.

Fonte: Valor Econômico

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

VALE A PENA VER DE NOVO: PARA RENAN, 2007 FOI O ANO QUE NUNCA TERMINOU!!!

“RECORDAR É VIVER” E “A FALTA QUE VOLTAIRE FAZ”.




Nos meados do ano de 2007, a revista Veja denunciou que a jornalista Mônica Veloso, com quem o presidente do Senado Renan Calheiros teve uma filha, recebeu de empreiteiras, uma pensão de 16.500 reais, o que ele rebateu dizendo que o dinheiro usado no pagamento das contas era de rendimentos agropecuários, apresentando notas fiscais contraditórias sobre as quais a perícia da Polícia Federal não pode assegurar a legitimidade. Em discurso, Calheiros admitiu ter pedido ao lobista de empreiteira para intermediar os pagamentos da pensão e na tentativa de comprovar que o dinheiro em questão, não era da construtora, apresentou novos documentos que somente agravaram sua situação deixando claro que teria usado empresas de fachada para justificar seus rendimentos com venda de gado. Com novas denúncias de participação em veículos de comunicação alagoanos, adquiridas por meio de “laranjas”, o senador acusou a revista Veja de não ter ética ou “qualquer critério jornalístico” e que estaria tentando desonrar o seu mandato. Cada vez mais enrolado e insistindo em se manter no cargo a qualquer custo, o Senador fez por alguns meses, a festa de cartunistas, chargistas, humoristas e fotopiadistas do Brasil, até renunciar à Presidência do Senado.



“Mal completados vinte anos, chegou a Paris François Marie Arouet, que ainda não se assinava Voltaire. Logo escandalizava a capital francesa com acres comentários a respeito dos costumes e da política.



 Naqueles idos, a França era governada por um Regente, Felipe D`Orleans, tendo em vista a morte de Luis XIV e o fato de que Luis XV, seu bisneto, era ainda uma criança.



Cioso das dificuldades que envolviam o tesouro real, o Regente determinou que fosse posta em leilão metade das cavalariças a seu serviço, quase mil cavalos.



O irreverente jovem escreveu que melhor faria o governante se tivesse dispensado não a metade, mas a totalidade dos jumentos que povoavam a corte.



 Pouco depois, passeando no Bois de Boulogne, o Regente defrontou-se com o detrator e foi sutil: “Monsieur Arouet, vou proporcionar-lhe uma visão de Paris que o senhor jamais imaginou pudesse existir.” E despachou Voltaire para uma cela na Bastilha, onde ele ficou por nove meses.



Depois, arrependido, o Regente mandou soltá-lo e, como compensação, deu-lhe uma pensão vitalícia. Por carta, o jovem agradeceu porque sua alimentação estaria garantida até o fim da vida, mas disse ao Regente que não mais se preocupasse com sua hospedagem, que ele mesmo proveria.



 Perdeu a pensão e teve de exilar-se na Inglaterra, para não voltar à Bastilha.




Conta-se essa história não apenas em homenagem ao extraordinário Voltaire, que viveu até quase os noventa anos polemizando e batendo de frente com o poder e os poderosos, mas porque, na política brasileira, através da História, sempre encontramos seus discípulos.



Falamos daqueles que não se curvam nem perdem oportunidade para opor-se aos detentores do poder, mesmo às custas da própria tranquilidade e bem-estar.



Seria perigoso começar a citá-los, sob o risco de graves esquecimentos, mas do padre Antônio Vieira a Evaristo da Veiga, nos primórdios da nação, até o Barão de Itararé, Carlos Mariguela, Luis Carlos Prestes, Gregório Bezerra, Agildo Barata, João Amazonas e mesmo Carlos Lacerda e Leonel Brizola, nos tempos modernos, algum erudito poderia dedicar-se à sua exegese.




Seria excepcional contribuição apontar quantos se insurgiram contra a prepotência, cada um à sua maneira, tanto faz se pelo humor, pela agressividade, a veemência e até a violência. Todo esse preâmbulo se faz para uma conclusão: no Brasil de hoje desapareceram quase por completo os Voltaires caboclos. Usando uma lupa, pode-se citar os irmãos Millor e Hélio Fernandes.




Porque instalou-se no país uma pasmaceira, de alguns anos para cá, a ponto de transformar até mesmo os líderes do PT em dóceis beneficiários de pensões concedidas pelo Regente.




Não se encontra quem se insurja, ainda que através do humor, contra a verdade absoluta da globalização e do neoliberalismo que assolam o país e o planeta, transformando o cidadão comum em mero apêndice dos ditames das elites. Substituíram a liberdade pela competição.



O trabalho pela prevalência do capital.




 O livre arbítrio pela acomodação. A independência pela submissão.



Convenhamos, tanto faz se o Regente tenha vindo da realeza ou dos porões. Desde que ele se acomode e dite as regras dessa nova escravidão, todos o reverenciam.




FONTE: Blog PORISSOPECOSEUVOTO/Com adaptações pelo Blog Chumbo Grosso..

BLOGUEIRA CUBANA RECEBE PASSAPORTE E PODE VIR AO BRASIL

YOANI SÁNCHEZ COMEMORA RECEBIMENTO DE PASSAPORTE

A BLOGUEIRA CUBANA YOANI SÁNCHEZ INFORMOU NESTA QUARTA-FEIRA, VIA TWITTER, QUE RECEBEU SEU PASSAPORTE, DUAS SEMANAS DEPOIS DE ENTRAR EM VIGOR UMA REFORMA MIGRATÓRIA QUE ELIMINOU A OBRIGAÇÃO DE PEDIR PERMISSÃO PARA FAZER VIAGENS AO EXTERIOR. O PRIVILÉGIO, NO ENTANTO, NÃO FOI CONCEDIDO AO DISSIDENTE ANGEL MOYA, QUE AFIRMOU NESTA QUARTA-FEIRA TER SEU PEDIDO DE PASSAPORTE NEGADO.

Incrível. Me ligaram na minha casa para me dizer que meu passaporte já estava pronto. Acabam de me entregar - comemorou a dissidente. - Estou feliz e triste. Por um lado tenho o meu documento para viajar, mas vários amigos como Angel Moya não conseguiram - complementou. Moya contou que foi ao escritório de imigração nesta quarta-feira para apresentar a documentação para solicitar um passaporte, mas lhe informaram que seu pedido não poderia ser atendido devido a razões de “INTERESSE PÚBLICO” não especificadas. Ele é um dos 75 ativistas antigoverno que foi preso em uma operação em 2003. A REJEIÇÃO SUGERE QUE CUBA VAI LIMITAR O DIREITO DE SEUS CIDADÃOS DE VIAJAR PELO MENOS EM ALGUNS CASOS. Outros opositores do governo, no entanto, foram informados de que terão permissão para obter passaportes, e os pedidos estão sendo processados. Também nesta terça-feira, a blogueira dissidente Yoani Sánchez usou o Twitter para reclamar da demora da entrega do passaporte: - O longo letargo da burocracia em Cuba. O PASSAPORTE AINDA NÃO ESTÁ PRONTO E DIZEM QUE VAI CHEGAR NA SEMANA QUE VEM - afirmou. A reforma migratória entrou em vigor em 14 de janeiro. A permissão para sair da ilha é exigida desde os primeiros anos do regime de Fidel Castro. Autoridades podiam aceitar ou negar, ao custo de US$ 150, um valor alto em um país no qual o salário mensal médio equivale a US$ 20 (O GLOBO).

#Luto Santa Maria - Rio Grande do Sul - Brasil


“Minhas condolências as famílias e amigos dos familiares falecidos no incêndio de uma discoteca no Brasil. Uno-me a dor de todos vocês”
 

O APOIO DO PT AS VÍTIMAS DE SANTA MARIA SÓ EXISTE NO CINISMO...



A COBIÇA CEGA E O ESTADO SURDO



JOSÉ NÊUMANNE


O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), resultou da associação perversa e criminosa da cobiça cega de um capitalismo de vale-tudo, sem código de conduta nem esteio moral, com um Estado estroina, corrupto, incompetente e incapaz de garantir ordem, paz, segurança pública, a vida e a integridade física de seus cidadãos. Não se trata de um fenômeno exclusivo do subdesenvolvimento endêmico do qual países emergentes como o nosso parecem nunca sair, principalmente no que concerne ao espírito e às mentalidades. O mundo inteiro foi assaltado pela brutalidade da busca incessante da fortuna fácil e do desprezo ao trabalho e à conduta moral que deveria reger a vida em sociedade neste século 21, depois da visita à Lua e do telefone portátil, que conecta seu usuário com as notícias do dia, as cotações do mercado de capitais e as manifestações mais escabrosas da miséria humana. Incêndios em boates são comuns e ocorrem em ambientes fechados e abarrotados de material inflamável, produzindo assim vítimas de morte às centenas e crônicas de grosseria e insensibilidade, antes, e de comoção e solidariedade, depois. No Brasil, a peculiaridade apresenta-se em algo que os comentaristas de arbitragem de futebol e os membros da Academia de Cinema de Hollywood chamariam de
“O CONJUNTO DA OBRA”. O incêndio da boate gaúcha ocorreu numa cidade que homenageia o espírito que se identifica com o afeto materno, a mãe do Salvador, que reúne em sua aura toda a luz da generosidade, do altruísmo, da capacidade de renúncia e da piedade que um mortal é capaz de sentir e expressar. O momento também é peculiar nosso: A MAIOR SECA DOS ÚLTIMOS 30 ANOS NO SEMIÁRIDO NORDESTINO TORNA A ESCASSEZ AINDA MAIS CRUEL, AS FAMÍLIAS DESABRIGADAS PELAS ENXURRADAS NA SERRA E NA BAIXADA FLUMINENSES AINDA NÃO TÊM UM TETO PARA ABRIGÁ-LAS E O SANGUE DE POLICIAIS E INIMIGOS DA LEI CONTINUA EMPOÇADO NO ASFALTO PRECÁRIO DAS VIELAS DA PERIFERIA DA MAIOR CIDADE DA AMÉRICA DO SUL. Às vésperas do carnaval, intempéries naturais, brutalidades pessoais e deficiências institucionais reduzem a expectativa de vida de seres humanos e animais numa tragédia que se repete e se amplia indefinidamente. Nunca se saberá quantas das mais de 230 vidas ceifadas pelo fogo na boate Kiss seriam poupadas se seus proprietários houvessem obedecido às normas de segurança de edificações às quais acorrem multidões para ouvir, cantar, dançar e se divertir. Quem permitiu que aquele bando de jovens em busca da felicidade efêmera de uma balada arriscasse a vida em meio a fiações e equipamentos eletrônicos capazes de gerar faíscas que se transformariam em labaredas no material inflamável é um assassino serial em potencial e como tal deveria ser tratado depois de contados os cadáveres carbonizados e os prejuízos materiais. Quantos dos jovens imolados deixariam de ser incinerados se não tivessem sido barrados por agentes de segurança empenhados apenas em garantir o pagamento das comandas de consumo, em vez de permitirem a fuga de uma multidão empurrada para fora do lugar pelas chamas? Neste crime se acumpliciam donos e empregados, brutos adoradores do bezerro de ouro, que levam mais em conta a dívida do que a perda da vida. NESTA PÁTRIA DA IMPUNIDADE, MADRASTA MALVADA, QUEM ACREDITA QUE ALGUÉM SERÁ PUNIDO? Quem já o foi? Os rústicos proprietários dos barcos apinhados de passageiros que naufragam no caudal da Bacia Amazônica ou nos fios de água do Velho Chico? Quem pagou pela plateia queimada no circo de Niterói, a maior tragédia de nossa história? Quem respondeu pelo afundamento do Bateau Mouche na Baía da Guanabara ou pelos prédios que desabam em reformas mal feitas no centro do Rio? Uma Justiça leniente acaba o serviço macabro que começa na cobiça, sua colega em matéria de cegueira crônica. No meio do caminho entre o fogo dos sinalizadores e a falta de uso do martelo do juiz FIGURA A INCAPACIDADE DO ESTADO BRASILEIRO ─ MUNICÍPIOS, ESTADOS E UNIÃO ─ DE PRODUZIR LEIS ADEQUADAS PARA PROTEGER O CIDADÃO QUE TRABALHA, MORA OU SE DIVERTE E, SOBRETUDO, DE FAZER COM QUE AS EXISTENTES, MUITO NUMEROSAS E POUCO EFICAZES, SEJAM CUMPRIDAS. Os decibéis dos equipamentos eletrônicos da balada da Kiss não perturbaram o sono dos fiscais de Santa Maria, cujo gestor municipal fez vista grossa à desobediência das próprias posturas pelo estabelecimento comercial do qual nunca se omitiu de cobrar impostos. Municípios e o Estado do Rio não gastam um centavo do que recebem da União para prevenir enchentes em seu território, mas voltam a prometer a cada verão trágico novas providências, que nunca serão tomadas nem deles cobradas nas eleições. A PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF FOI A SANTA MARIA E CHOROU COM PENA DAS FAMÍLIAS QUE O ESTADO ABANDONA AO DESAMPARO. ASSIM COMO O IMPERADOR DOM PEDRO II JUROU QUE VENDERIA O ÚLTIMO DIAMANTE DA COROA PARA NÃO DEIXAR UM CEARENSE MORRER DE FOME. FÊ-LO MAIS DE CEM ANOS ANTES DE OS SERTANEJOS CONTINUAREM PERDENDO TUDO, ATÉ A PRÓPRIA VIDA, POR CAUSA DA SEDE IMPLACÁVEL. AS IMAGENS DAS RUÍNAS DA OBRA INACABADA DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO SEM QUE UMA GOTA DE ÁGUA FOSSE LEVADA À CAATINGA MAIS PRÓXIMA SÃO A DENÚNCIA MAIS DESLAVADA DA HIPOCRISIA GENERALIZADA DE GESTORES PÚBLICOS QUE, DESDE O IMPÉRIO ATÉ HOJE, GARIMPAM VOTOS VALIOSOS NA MISÉRIA QUE OS DONOS DO PODER SEMEIAM EM SUAS POSSES E COLHEM NA MÁQUINA PÚBLICA QUE, ELEITOS PELOS SÚDITOS, PASSAM A PILOTAR. Os maganões da República mantêm-se no poder enganando OS SOBREVIVENTES DA SECA DO SEMIÁRIDO, DAS ENXURRADAS DA SERRA FLUMINENSE E DESTE INCÊNDIO EM PAGOS GAÚCHOS. O Estado brasileiro ─ as elites dirigentes que se apropriam do dinheiro público no poder em municípios, Estados e na União ─ é cúmplice da cobiça assassina dos empresários sem lei. Só nos resta rezar por suas vítimas e amaldiçoar os algozes da cobiça cega e do Estado surdo. Já que terminarão impunes, que lhes seja reservado o fogo eterno do inferno.