Bernardo de Melo Franco
A presidente do PT vai a Caracas para prestigiar a posse de Nicolás Maduro. É difícil imaginar uma ideia tão desastrada. A não ser que Gleisi Hoffmann tenha resolvido ajudar os bolsonaristas a desgastar ainda mais o próprio partido.
Maduro foi reeleito num pleito marcado por suspeitas de fraude. Mais de metade do eleitorado não apareceu para votar. Os dois maiores rivais do presidente foram impedidos de concorrer. A oposição que restou contesta o resultado oficial das urnas.
Desde que assumiu o poder, há quase seis anos, o presidente conduz o país na direção do autoritarismo. Já esvaziou o Parlamento, perseguiu juízes e mandou prender adversários políticos. Também pressionou o Conselho Nacional Eleitoral a anular um referendo que ameaçava revogar seu mandato.
Em relatório recente, a Human Rights Watch afirmou que a "repressão implacável do governo tem resultado em milhares de detenções arbitrárias, centenas de casos de civis julgados por tribunais militares, casos de tortura e outras violações".
Ontem a entidade denunciou novas torturas contra militares e civis acusados de conspirar contra Maduro: "Os abusos incluem espancamentos brutais, asfixia, corte nas solas dos pés com uma lâmina de barbear, choques elétricos e privação de comida".
Apesar das reservas de petróleo, a Venezuela mergulhou num colapso econômico que combina hiperinflação e desabastecimento. Segundo as Nações Unidas, cerca de cinco mil pessoas deixam o país todos os dias. Mais de três milhões fugiram desde 2014. No Brasil, o êxodo provocou uma crise humanitária em Roraima.
O PT poderia ter aproveitado a derrota eleitoral para se afastar do velho aliado. Para isso, não precisava se juntar a governos de direita. Bastava reconhecer que o regime venezuelano se degenerou e defender uma transição pacífica de poder.
Ao viajar para a festa de Maduro, Gleisi indica que seu partido continua a habitar o mundo da lua. Não deixa de ser uma semelhança entre o petismo e o nosso novo chanceler.
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