quinta-feira, 5 de junho de 2008

HOSPITAL DE MARIA GORDA
Altamir Pinheiro


Na minha mocidade eu fui freqüentador assíduo de cabaré. Adorava “relaxar e gozar” no inferninho de Marta, digo, de Maria Gorda. Meu Quartel General ficava na famosa rua da madeira e onde eu gostava de me arranchar era na Boate Califórnia, descendo ali em Mané Galego e dobrando à direita ia esbarrar na pensão de Dona Maria Gorda. Pense na figura! Pense na coitera! Pense na cuviteira! Gente de primeira qualidade! Que Deus a tenha em um bom lugar! Pois bem, com a luz negra refletindo na camisa branca, naquela boate de radiola de ficha, o som as alturas de Evaldo Braga e com um copo de cuba-libre na mão, tanto eu relaxava e gozava como também toda semana pegava uma blenorragia. E sabe quem me curava? Com cachetes tetrex? Era o seu Luiz da Farmácia. Isso mesmo! Ele era o meu médico, e dos bons. Já, para Izaías, Bartolomeu e Gedécio ele não passa de um Charlatão ou Ex-charlatão. Bem, cada um com sua concepção. Para mim ele continua sendo um excelente doutor, quem quiser que o chame de charlatão. Eu não! O tratamento dele era uma espécie de terapia de choque: três tetrex de 500mg era tiro e queda para o pus estancar e se retrair para a uretra e só dar o ar de sua graça no famoso teste do caldo de cana. Na verdade, existiam vários fatores para eu ser um viciado em cabaré, e um deles é que, o bom da gandaia é que as putas não pedem manhosamente nem carinhosamente para levá-las a sério, preferem ser levadas para a cama. E naquele ambiente, onde de noite todo gato é pardo, tem cada boazuda de deixar o camarada fora de órbita. – claro que têm as catraias – Mas, essas é para quem tá bêbado ou liso. Eu mesmo, lá em Maria Gorda, era enrabichado por uma galega ao molho pardo de sete palmos de altura, possuidora de um corpo escultural desses que “A morte mata e adispois fica cum pena”.
Deixemos o baixo meretrício de lado e vamos ao que nos interessa: quem passa ali na Avenida Simoa Gomes, enquanto fica a contemplar o verde do Parque dos Eucaliptos, ao chegar mesmo de frente ao Bar da Galinha é acometido de um choque térmico oftamológico impressionante, ao se defrontar com o prédio da antiga Casa Santa Terezinha e de imediato fica estonteado com o impacto das cores agandaiadas com que pintaram o Hospital Municipal de Garanhuns. Nem todo cabaré que se preze, tem cores tão chamativas quanto aquele prédio público. Jamais Maria Gorda seria tão espalhafatosa ou escandalosa para caiar a Boate Califórnia com aquelas cores apapagaiadas.
Dando uma de João-sem-braço, sem querer querendo, de pouquinho em pouquinho o senhor prefeito vem colorindo a cidade e fazendo sua propaganda política colorida para a campanha que se avizinha. Quer dizer, ao pintar os prédios públicos daquela cor, sua administração tornou-se num bordão publicitário. Pelo andar da carruagem, só se pode deduzir de duas, uma: ou esse cara tem um péssimo gosto, é um cômico, um humorista ou as três coisas juntas. Ou então sorrateiramente, na calada da noite, vai fazer do colorido prédio do Hospital Municipal de Garanhuns o seu Comitê da campanha de sua reeleição. Só que eu tenho uma idéia melhor: Seria muito mais prático, cômodo e proveitoso, como também todo mundo ia pra galera se transferisse o puteiro de Maria Gorda para aquelas amplas instalações. Já pensou! Seria de muitíssima utilidade. Haja vista que ao invés de aquilo servir de alívio para sanar as dores de milhares de pacientes como os velhinhos, as mulheres buchudas e as crianças de nosso município, ficaria de bom tamanho para aliviar os instintos machistas de uma ruma de tarados Que infernizam a vida dessas mocinhas que estudam nos colégios noturnos. Caso isso viesse acontecer à alma de Maria Gorda ficaria eternamente grata.

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