sexta-feira, 18 de maio de 2012

O LIVRO "DIÁRIO DE UM COMBATENTE" CHEGA AO BRASIL NO 84º. ANIVERSÁRIO DE CHE GUEVARA.



LANÇADO NO ANO PASSADO EM CUBA E NESTE MÊS NO BRASIL, DIÁRIO INÉDITO DO GUERRILHEIRO CHE GUEVARA QUE RELATA PASSAGENS DE SUA VIDA E DA LUTA QUE LEVOU AO PODER FIDEL CASTRO, EM 1959.


"DIARIO DE UM COMBATENTE", abrange os fatos desde a chegada do iate Granma, em 2 de dezembro de 1956 a Cuba, até a vitória da revolução, em 1 de janeiro de 1959. Foi apresentado em ato do qual participaram a viúva do Che, Aleida March, e sua filha Aleida Guevara. O CHE NOS FAZ FALTA EM CUBA, COM SUA CAPACIDADE DE TRABALHO, DE PLANEJAR, DE CONVENCER AS PESSOAS. LEMBRAMOS QUE, EM TRÊS ANOS, INAUGUROU MAIS DE 30 FÁBRICAS E PROJETAVA OUTRAS 30, disse Oscar Fernández Mell, quem o acompanhou como médico e guerrilheiro durante toda a campanha em Cuba e no Congo (1965). Fernández Mell, de 80 anos, recordou que a época em que Che foi presidente do Banco Nacional - nos primeiros cinco anos da revolução - foi a "mais frutífera e gloriosa" da instituição. A pesquisadora María del Carmen Ariet explicou que Guevara foi um forte crítico dos países do bloco soviético, conforme o refletido no livro "Apuntes Críticos a la economía política", publicado em 2006. O presidente de Cuba, Raúl Castro, quem substitui o irmão Fidel, desde julho de 2006, impulsiona um programa de reformas para tornar eficiente o esgotado modelo econômico cubano, de inspiração soviética, tentando descentralizá-lo e terminar com o paternalismo estatal. O diário, é encerrado com a batalla de Santa Clara (280 km a leste de Havana) no final de dezembro de 1958. Fernández Mell aproveitou para refutar o que chamou de "DESVIO" HISTÓRICO, que atribui a Guevara "CENTENAS" de fuzilamentos de militares e policiais da ditadura de Fulgencio Batista (1952-58) na fortaleza de Cabaña, em 1959, depois do triunfo da revolução. O LIVRO FOI PREPARADO PELO CENTRO DE ESTUDOS CHE GUEVARA. Em dezembro DE 2011, o Centro publicou "El Pensamiento Filosófico", notas trabalhadas por Che durante 17 anos para a composição de um dicionário filosófico.

CENSURAR DIÁRIOS DE CHE É "ENGANAÇÃO", DIZ BIÓGRAFO

FLÁVIA MARREIRO
 
A supressão de trechos do diário de Che Guevara durante a guerrilha em Cuba, feita pelo centro de estudos sobre o argentino em Havana para a publicação de um livro, é uma "ENGANAÇÃO HISTÓRICA". Quem diz é o biógrafo de Che, Jon Lee Anderson, que teve acesso aos cadernos disponíveis - há tomos oficialmente desparecidos - para escrever o seu "Che Guevara - Uma Biografia", cuja primeira edição apareceu em 1997 e agora foi relançada em edição revista pela Objetiva. Ao menos dois trechos dos diários foram retiradas do "Diário de um Combatente", lançado no ano passado em Cuba e neste mês no Brasil, pela editora Planeta. São duas passagens em que Che executa pessoas durante a campanha para derrubar Fulgencio Batista em 1959. A edição foi preparada pelo Centro de Estudos Che Guevara em Havana, dirigido pela viúva do guerrilheiro, Aleida March, e cobre o período de dezembro de 1956 ao começo de dezembro de 1958 (não há os cadernos para o período de agosto de 1957 a abril de 1958). Um dos trechos censurados foi a execução de Eutimio Guerra, acusado de traidor pelo grupo de Che e Fidel Castro. "É lamentável. À lupa da história, a execução de Eutimio foi um momento superimportante. [...] Foi o tiro que demonstrava que a revolução era para valer", disse Anderson à Folha. "Não sei o que temem. Foi um crime? Não foi um crime. Isso é o que faz em uma guerra. Não é bonito, ninguém gosta, mas acontece. A partir desse momento, se endurece a revolução e aí se começa a usar a lógica clássica, severa das guerrilhas, de Cuba aos vietcongs. É assim." UMA NOTA DE "DIÁRIOS" AVISA QUE TRECHOS SERÃO SUPRIMIDOS POR CONTER JUÍZOS DE VALOR "CIRCUNSTANCIAIS" FEITOS PELO GUERRILHEIRO, NO CALOR DA BATALHA E ENTRE ATAQUES DE ASMA ENTRE 1956 E 1958. "Cuba não é como outros países. Um punhado de pessoas decide o que os demais vão saber", segue. "Esperava-se que 53 anos depois pudessem ser consequentes com a sua própria história. O bonito dos diários de Che Guevara é que mostram ele antes de ser homem público." O jornalista da "New Yorker" diz que "não sabia o que esperar" da edição preparada pelo centro cubano, mas diz que a operação de retirar trechos não chega a surpreender.Ele conta que até meados de 2000 os cubanos jamais haviam visto uma foto de Che Guevara morto na Bolívia, em 1967.


A SEGUIR, OS PRINCIPAIS TRECHOS DA ENTREVISTA QUE O ESCRITOR CONCEDEU AO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO  POR TELEFONE,  SEXTA-FEIRA  QUE PASSOU, DIA 11.05.2012.


FOLHA - "Diario de um Combatente" (Planeta, 2012), editado em Cuba e agora no Brasil, suprime algumas passagens, como a execução de Eutimio Guerra, acusado de trair os guerrilheiros, na comparação com o que o sr. cita dos cadernos em seu livro. Era esperado esse saneamento?

JON LEE ANDERSON - A verdade é que eu não sabia o que esperar. Até certo ponto, sim, era de se supor algo. É lamentável [as supressões]. À lupa da história, a execução de Eutimio é superimportante tanto para a radiografia, para a história da Revolução Cubana, a parte da guerrilha, como na parte que me concernia, que era a vida de Che Guevara. Era o primeiro traidor, foi desmascarado. Havia que justiçá-lo e fizeram. A morte dele, na prosa de Che publicada nos primeiros anos da revolução, serviu de parábola para a revolução. Neste texto, estava ausente o autor da morte de Eutimio. No que corresponde à parte interna da guerrilha, era o momento de dar o toque de seriedade, de assustar os guerrilheiros. Havia deserção, traição. Foi o fim de uma fase da guerrilha. Eram 17 homens na guerrilha, nada mais. Acabavam de receber Herbert Matthews [jornalista do "New York Times" que entrevistou Fidel quando o regime Batista dizia que ele estava morto], num golpe propagandístico que lhe serviu muito à incipiente revolução. Eles sabiam que estavam minados por dentro, que estavam praticamente liquidados. E, então, para além de saber se foi Che que atirou ou não, não sei o que temem. Ou seja, foi um crime ou não? Não foi um crime. Isso é que se faz nas guerras. Isso se contempla nas guerras. Não é bonito, ninguém gosta, mas é contemplado. É assim. A partir desse momento, endurece-se a revolução e aí se começa a usar a lógica clássica, severa das guerrilhas, de Cuba aos vietcongs. A morte de Eutimio Guerra, até certo ponto, era o tiro que mostrava que a revolução era pra valer.
FOLHA - Qual a importância dessas anotações?

ANDERSON - Quando tive acesso ao "Diário de um Combatente", ele estava sendo preparado para a publicação em Cuba. Esperava-se que, 53 anos depois, eles pudessem ser consequentes com sua própria história. O bonito desse diário é que é Guevara antes ser homem público, recém-convertido em guerrilheiro, havendo sido o estudante aventureiro, etc. Aí estão suas dúvidas sobre ele mesmo, sobre Fidel, sobre a revolução. Já sabemos como terminou a história, mas é tudo muito mais convincente e real se temos nas mãos um documento como esse. Nem tudo era bonito e polido. Não há que tirar nada de lá: lá está o Che sexual, severo, que duvidava, não completo nem como homem nem como revolucionário.
Há um fragmento sério que nunca foi encontrado. Mas o que eu pude ver era chave para entender, por um lado, o fortalecimento da corrente esquerdista, socialista da revolução cubana, o isolamento dos grupos mais burgueses. Por outro lado, a versão oficial foi escrita depois com a ajuda do próprio Che. Não é que haja contradições no essencial, mas há sutilezas, ingredientes. E como sabemos nós os escritores, tudo está no detalhe. É quase o único documento que tem detalhes. Há textos complementares que me ajudaram muito, os relatos um pouco menos oficialistas. Foram complementares.
FOLHA - Se já estava em seu livro, se já era de conhecimento público, por que censurar algumas partes?

ANDERSON - Não sei. Olha, Cuba não é como os outros países. Um punhado de pessoas decide o que os demais vão saber. Vivendo em Cuba, ouvia-se falar que havia um assassino em série. Como há um serial killer? Fiquei com medo. Era uma gangue que ia matando outros garotos, lançando-os fora dos ônibus e isso nunca vinha a público. Essa lógica valia para isso e valia para outras coisas.  Você me faz uma pergunta lógica. A única explicação, a única resposta é a síndrome de bolha, de isolamento. Por mais que vivamos numa época de internet e tudo mais, obviamente a maioria dos moradores da ilha não tem acesso a isso. Por isso, os governantes pensam que ainda podem fornecer pílulas de informação, com base na decisão de comitês. Até o ano 2000, nenhum cubano na ilha tinha visto imagens do Che morto. Não se podia trazê-la à ilha, não se podia mostrar. Não estava publicado em nenhuma parte, mas pude saber disso no meio da apuração. Amigos cubanos iam à minha casa e um deles ficou chocado a ver a foto [de Che morto]. Todo mundo já tinha visto a foto, escrito ensaios sobre ela 35 anos antes e nenhum cubano tinha visto. Por quê? Perguntei há várias pessoas, inclusive a gente séria do governo, revolucionária entre aspas, e o que eles diziam era: se não o vê morto, segue vivo. Até esse extremo chegaram em algum momento para tratar de moldar a opinião. Todos os governos fazem isso. Cuba não é uma exceção. O que acontece é que por ser ilha e uma sociedade tão controlada há mais de cinco séculos, dizem: "Está no livro de Anderson, mas se nos perguntam diremos que era uma mentira e pronto". Quem vai comparar? Uns poucos. E que importa? Para o grande público, é o que vale.
FOLHA - Uma nota do livro explica que "julgamentos de valor circunstanciais" de Che também foram retirados da publicação. O que diz?

ANDERSON - Então as opiniões circunstanciais não importavam... Por que não importava? Porque logo a história mudou? Se estão polindo, tirando comentários circunstanciais, é uma enganação histórica, simplesmente. Incrível.
FOLHA - Por que o sr. resolveu fazer uma edição revista de "Che Guevara: uma Biografia"?

ANDERSON - Fiz há dois anos e foi saindo em diferentes idiomas. É uma nova edição, pelo menos em inglês, com aperfeiçoamento do texto desde meu ponto de vista. Explico: quando fiz o livro, tiraram-no das minhas mãos e ele foi diretamente para as ruas praticamente sem edição. Quando digo sem edição, é que não tive tempo de corrigir. Estava um pouco consternado. Vendia como pão quente e as várias editoras foram publicando à sua maneira e com más traduções. Não foi o caso do Brasil, porque eu gostei muito da edição brasileira. Mas o texto em inglês seguia me incomodando, ainda que ninguém o criticasse muito. Sempre pensei que ele estava um pouquinho grande. Essa noção de voltar a editar eu sempre tive, antes de mais nada para eliminar umas cem páginas, porque pensava que era grande demais. Voltei a olhá-la, com essa ex-editora minha na "New Yorker", muito boa. A verdade é que não saiu menos texto, senão algo mais. A versão em inglês tem umas 60 páginas a mais, uma coisa assim. Não é que acrescentei tanto. Fizemos algumas mudanças, ajustes estilísticos. Voltamos a olhar tudo, notas de rodapé, atualizá-las, revisar o tom que havia usado em um momento dado. Usamos já um tom menos noticioso e mais para histórico. Além do mais, tive certos esclarecimentos, mais testemunhas em dois, três casos ou mais. Algumas pessoas eu não tinha chegado a conhecer, que citava de segunda mão, e logo se apresentaram. Nesses casos, pude mudar. Foi como uma lipoaspiração, uns retoques. Tirei um pouco de barriga e ajeitei o nariz. A verdade é que tive de convencer os editores, e nem todos publicaram de novo, porque é um custo voltar a traduzir. Muitos estão muito bem com a edição que têm e não entendiam minha insistência em publicar algo não tão distinto, mas melhorado. Brasil, Inglaterra e EUA tem a versão melhorada. Eram doze anos depois de lançado, poderia ter esperado 20, mas fiz agora.
FOLHA - Como vê a situação da Venezuela com a doença de Chávez? E Cuba?

ANDERSON - Não quero ser mais um que lança rumores, mas há indícios: o câncer que voltou a se apresentar, sua preocupação pública [de Chávez], o silêncio, esse fato de ter nomeado esse conselho [de Estado] demonstra a seriedade do assunto, além do hermetismo ao redor da questão. Tudo indica que ele está muito doente, e que estamos diante de uma conjuntura importante na história venezuelana. Se ele deixa o poder ou morre, já não é Chávez. E se isso acontece, é o fim do chavismo e da revolução bolivariana? Há o presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, que poderia ser um sucessor de Chávez. Tenho uma impressão que houve um acordo entre Chávez e Diosdado, como Blair e Brown. Diosdado é um tipo tão cinzento que não se sabe como medi-lo. Tenho entendido que é revolucionário com r minúsculo, daí poderia sair uma linha mais pragmática ou mais corrupta, talvez, à diferença do [vice-presidente] Elias Jaua e do [ministro da Economia] Jorge Giordani, que são mais "socialistas utópicos". Maduro é mais como Chávez, é um homem simpático, brincalhão como Chávez. Não sei é se consegue unir a todos, se é visto pelos chavistas como alguém que tem estatura para substituir Chávez. Se Chávez não chega à eleição, quem sabe como vai reagir o povo venezuelano? Em quem vão depositar as esperanças? [O candidato da oposição, Henrique] Capriles quer mover seu partido de centro-direita para um campo onde possa ganhar. Quem sabe, vamos ver. Mas há uma situação criada: depois de uma década de chavismo, o que há é uma população pobre, muito ideologizada e com expectativas muito altas em uma sociedade com problemas de segurança, de bem-estar e educação ainda a suprir. Não vai ser bonito. E sem falar da ilha... Se é Diosdado quem assume não sei se seguirá a mesma política.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Altamir. Comparar a chamada revolução cubana ao Vietnã, é brincadeira. Batista estava caindo de podre, e o movimento cubano foi, no dizer do historiador comunista Hobsbawn um fato "cinematográfico" feito por pessoas jovens. Daí a simpatia do movimento pela intelectualidade de esquerda européia e latino-americana de uma maneira geral. Seria subconscientemente, a manifestação do "poder jovem", tão em voga diante dos movimentos da juventude nos anos sessenta. Aqui no Brasil,a influência do voluntarismo da chamada revolução cubana foi nefasto, pois na A. Latina, muitos jovens esquerdistas embarcaram nesta canoa furada. Inclusive o Che, vítima de sua própria armadilha, que era a teoria da formação dos famosos "focos revolucionários". Na política ,isto foi muito nefasto, porque, dentre outras coisas, aumentou a influência dos setores duros do regime, proporcionando um maior fechamento político com a edição do AI 5, e da escolha de Médici para presidente, tornando mais dura a ditadura, que era mais branda, convenhamos. Saudações democráticas, Rafael Brasil.

Lucinha Peixoto disse...

Parabéns pela postagem. Embora discordemos nas entrelinhas sobre o Che, temos que admitir que o assunto é complexo.

Não estou em condições, no momento de fazer um comentário maior, e muito menos voltar àquele nosso saudável debate, infelizmente.

Lucinha Peixoto (Blog da Lucinha Peixoto)

Altamir Pinheiro disse...

Prezada Lucinha Peixoto,

PELO MEU ÂNGULO(QUE NÃO É OBTUSO), SINCERAMENTE, NÃO VEJO COMO UM ASSUNTO COMPLEXO FALAR SOBRE O HUMANISTA E ROMÂNTICO GUERRILHEIRO CHE GUEVARA. MUITO PELO CONTRÁRIO, EU ACHO ATÉ APAIXONANTE!!!