quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

DILMA APAGÃO, QUE VIVE DIZENDO PRA DEUS E O MUNDO QUE É ENÉRGICA, DEIXOU FALTAR ENERGIA...



 

Gabriel Garcia

Em meio à seca causada pela falta de chuva e de um plano adequado de investimentos, o Brasil vive ou não uma crise energética? Há ou não racionamento? O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, ADRIANO PIRES, é categórico: “O BRASIL PASSA PELA PIOR CRISE ENERGÉTICA DA HISTÓRIA”. Enquanto o governo nega solenemente o risco de racionamento, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pede para as distribuidoras reduzirem o fornecimento de energia e uma constante onda de apagão vem deixando o país à luz de velas. Segundo o especialista, a crise negada pelo governo quebrou dois mitos relacionados à presidente Dilma Rousseff: DA CONHECEDORA DA ÁREA ENERGÉTICA E DA GESTORA EFICIENTE. Ao comentar sobre o aumento do preço de gasolina no Brasil, Adriano diz que o país “CAMINHA NA CONTRAMÃO DO MUNDO”. Em entrevista, defendeu a demissão da diretoria e do Conselho de Administração da Petrobras, que, segundo ele, estão DESMORALIZADOS PERANTE O MERCADO, e criticou o modelo de partilha adotado para exploração de petróleo no governo Dilma.

O BRASIL VIVE OU NÃO UMA CRISE ENERGÉTICA?

O Brasil passa pela pior crise energética da história. Uma crise energética que traz dois problemas graves: o financeiro, criado quando o governo renovou as concessões, obrigando as empresas a reduzirem tarifas em um momento em que o custo estava crescendo no mundo inteiro, e o INCENTIVO EXAGERADO AO CONSUMO, causando problemas de abastecimento.

QUAIS SÃO OS MOTIVOS DA CRISE ENERGÉTICA?

Três fatos explicam a crise. PRIMEIRO, o governo baixou a tarifa no momento em que o custo crescia, incentivando o uso perdulário e criando um buraco enorme nas distribuidoras, que tiveram que ser socorridas com dinheiro do Tesouro Nacional. SEGUNDO, o governo atrasou as obras de geração e transmissão e resolveu fazer leilões de energia, privilegiando preço baixo e não dando as taxas de retorno que o mercado pedia. TERCEIRO, houve o imponderável, a falta de chuva. O governo optou pelo populismo tarifário, pelo calendário eleitoral.

O QUE GOVERNO PRECISA FAZER?

Ele não deveria ter baixado a tarifa, deveria ter implantado o modelo de bandeira tarifária há dois anos e feito um grande programa de uso eficiente de energia. Reconhecendo que errou, deveria chamar os agentes do setor elétrico e conversar. Não dá para tomar decisões de forma unilateral, como é o caso do tarifaço. Aumentar tarifa é necessário, mas não resolve tudo. Isso vai ocasionar inadimplência no setor e vai incentivar o furto de energia.

POR QUE NÃO FUNCIONOU A POLÍTICA DE REDUÇÃO DE CUSTOS DE TARIFA DO PRIMEIRO GOVERNO DILMA?

Não funcionou porque não se pode, por decreto, revogar a lei da oferta e da procura. A lei da oferta e da procura na economia é igual à lei da gravidade na física. Ela baixou a tarifa em um momento em que a demanda estava crescendo mais do que a oferta. Dilma não acreditou no mercado, que agora está punindo o país e o consumidor.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE A ATUAL CRISE ENERGÉTICA E A DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE?

AS DUAS CRISES TÊM MUITA SEMELHANÇA, OCORRERAM POR FALTA DE planejamento. Não se pode olhar para o setor de energia num país como o Brasil e planejar simplesmente torcendo para que chova. Não se pode usar como um único instrumento de planejamento a chuva. Foi um erro comum nos dois casos.

O OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO PEDE AGORA QUE DISTRIBUIDORAS REDUZAM FORNECIMENTO DE ENERGIA. ISSO AGRAVA A SITUAÇÃO?

Em 2001, o governo reconheceu que faltou planejamento, criando um comitê gestor da crise. Chamou todo mundo para conversar e convocou a população para economizar energia. Isso acabou refletindo na queda de demanda de energia. Não houve falta de energia, apagão ou blecaute. O país está vivendo agora uma situação idêntica, mas o governo não reconhece. Ao aumentar a tarifa, tenta reduzir o consumo de energia. Outra vez, tenta, via aumento de preço, reduzir o consumo para evitar o apagão físico. A presidente Dilma deveria ir para a televisão em rede nacional, da mesma maneira que ela foi para falar que reduziria a tarifa em 20%, e pedir à população para economizar energia.

A PETROBRAS PERDE VALOR DE MERCADO E O MINISTÉRIO PÚBLICO DIZ QUE A CORRUPÇÃO NA ESTATAL NÃO FOI ESTANCADA. É POSSÍVEL REESTABELECER A CREDIBILIDADE SEM TROCAR A DIRETORIA?

A diretoria da Petrobras já deveria ter sido trocada por ter atingido um nível de desgaste muito grande. As ações dela vivem um efeito sanfona, aumentando e caindo bruscamente. A empresa precisa de um choque, de ser refundada. É preciso trocar a diretoria e o Conselho de Administração e contratar uma consultoria que ponha em prática uma nova governança.

HÁ SALVAÇÃO PARA A PETROBRAS?

Há salvação. A Petrobras ainda é uma grande empresa. PRIMEIRO, tem um quadro de funcionários de alta qualidade, que não pode ser confundido com o que está acontecendo. SEGUNDO, a empresa tem a quarta reserva de petróleo do mundo. TERCEIRO, detém alta tecnologia. Se o governo deixar de usá-la como instrumento para ganhar eleição, a Petrobras voltará a ser a empresa orgulho dos brasileiros.

DE QUE FORMA O PREÇO INTERNACIONAL DO BARRIL DE PETRÓLEO AFETA O PRÉ-SAL?

O preço do barril baixo afeta o pré-sal e todos os investimentos que as empresas fizeram no chamado petróleo não convencional. É o risco normal de uma petroleira. O problema da Petrobras é a confusão que estamos vivendo. A gente tem uma empresa que a auditoria não assina balanço, que está sendo julgada por órgãos de controle dos Estados Unidos, que não consegue cumprir meta de produção. O governo precisa mudar a política de petróleo no Brasil, revendo o modelo da partilha. Temos que acabar com os 30% obrigatórios à Petrobras e com o monopólio da Petrobras na exploração dos campos. É preciso ter uma regulação célere. Tem que mudar a regulação para atrair investimentos.

POR QUE O PREÇO DA GASOLINA CAI NO MERCADO INTERNACIONAL E NÃO CAI NO BRASIL?

Porque o BRASIL SEMPRE CAMINHA NA CONTRAMÃO DO MUNDO NA ÁREA DE ENERGIA. Quando a energia estava subindo no mundo inteiro, no Brasil, por populismo, baixamos o preço da energia. Agora que o mundo todo está baixando o preço da energia em função da queda do barril de petróleo, estamos subindo o preço da energia. O governo tenta ressarcir a Petrobras das perdas dos últimos quatro anos. Quem paga a conta somos nós consumidores. No Brasil é assim. Quando o barril está caro, a Petrobras subsidia o consumidor. Quando o barril está barato, é o consumidor quem subsidia a Petrobras. A presidente Dilma quebrou dois mitos: O DE QUE ERA UMA BOA GERENTE E ENTENDIA DE ENERGIA. AO MESMO TEMPO, ELA DERRUBOU DOIS ÍCONES DO SETOR DE ENERGIA BRASILEIRO: A PETROBRAS E O ETANOL (A manchete não faz parte da entrevista original).

 

 






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